Morre-se do mal da pressa - disse-me, no outro lado do mundo, na Austrália, um português já entrado na idade com quem tive larga conversa. É isso, morre-se do mal da pressa. As gerações sucedem-se e, mais do que continuar, querem fazer, ser, estar, estar como se não tivesse havido passado. Em regra, diz-nos o que se observa, em vez de agarrarem o que encontram, preferem "dar ouvidos" aos novos materialismos. Incapazes da pedra sobre a pedra que encontraram, assaltam-nas as contemporaneidades que lhes ditam as televisões, a NET, as más companhias que vão encontrando na vida, toda ela, em regra, orientada no sentido do consumo, consumo, consumo ...
Talvez, no fundo, isso seja o preço a pagar pelo pão que se come. O equilíbrio é coisa quase impossível. A uma colecção de livros do Eça, sobrepõe-se, hoje, já, em muitos casos, um braçado, por exemplo, de revistas com fotografias de ídolos de ocasião. Ao duradouro, o supérfluo; à amizade, à recordação expressa num objecto, a imagem passageira do que uma televisão "vendeu" - e "toda a gente tem..."
Vive-se à pressa, de facto, mas é dela que se começam a encher os hospitais e os cemitérios. Embora, para os objectos de eventual valor material haja sempre a possibilidade de os vender a bom preço - para, a seguir, comprar o que a TV anuncia e "toda a gente quer ter" ...
Desumanizam-se os vivos que, sem darem por isso, acabam por morrer, de facto, do mal da pressa, do mal da ignorância que já os Eças, os Ramalhos e tantos outros, um pouco por todo o lado, haviam anunciado - mas ninguém leu. Ou fez o possível para não ler - ou ler só para passar no exame do Secundário...
Vive-se como "vivem" os penicos de plástico: cumprindo discutíveis utilidades.
Sem comentários:
Enviar um comentário