Após dois incidentes envolvendo jornalistas que tentavam entrevistar Chui Sai On e Li Gang, o Chefe do Executivo anunciou que vai definir regras de diálogo com os meios de comunicação.
Inês Santinhos Gonçalves
O Chefe do Executivo anunciou ontem, à margem do Fórum Internacional sobre o Investimento e Construção de Infra-estruturas, que o Governo “vai tentar definir regras de diálogo com os meios de comunicação no futuro para garantir a segurança dos jornalistas”. Apontou como exemplo as suas próprias declarações, que foram preparadas antecipadamente, com o local escolhido a priori.
De acordo com o canal de língua chinesa da Rádio Macau, Chui Sai On aproveitou a ocasião para sublinhar o seu respeito pelos meios de comunicação e disse ter já pedido às autoridades que investiguem o que aconteceu no caso da jornalista da MASTV que foi puxada pela mochila enquanto tentava endereçar-lhe uma questão.
Chui Sai On justificou o porquê de, nessa ocasião, não se ter disponibilizado a falar com os jornalistas: por motivos de trabalho não teve tempo para parar e ser entrevistado, de acordo com a descrição da Rádio.
Uma das sugestões apresentadas pelos jornalistas, muito críticos da eficácia do sistema de porta-voz, foi a de que o Governo se reunisse semanalmente com os jornalistas para uma conferência de imprensa, tal como acontece noutros países. No entanto, Alexis Tam, chefe de gabinete de Chui Sai On e porta-voz do Executivo, levantou dúvidas sobre a proposta: “Macau é uma sociedade muito pequena e o Governo também não é muito grande. A maneira mais eficiente para os meios de comunicação encontrarem respostas dos funcionários do Governo é falarem directamente com eles”. Segundo a Rádio, Tam mencionou também que “os funcionários do Governo têm de comunicar mais com os meios de comunicação”.
Mais tarde, em comunicado, o gabinete do porta-voz veio salientar que Alexis Tam “não concorda com a opinião de alguns jornalistas de que a utilização excessiva de comunicados de imprensa serve como ‘escudo’, evitando, assim, o contacto directo com os jornalistas”.
Em nota de imprensa, o Gabinete de Comunicação Social explicou que “houve inúmeras situações em que não foi possível atender aos pedidos dos órgãos de comunicação social por motivos de agenda”. “Desta forma Chui Sai On disse esperar mais diálogo com a comunicação social para realizar um trabalho com base no apoio mútuo e na compreensão e destacou a importância das medidas de segurança, em todas as ocasiões”, pode ler-se na nota.
Jornalistas reagem
Em reacção a estas declarações, a Associação de Jornalistas de Macau emitiu um comunicado declarando que “se o Governo quiser sinceramente comunicar com os jornalistas e quiser melhorar a transparência pode fazê-lo, mesmo que não tenha uma conferência de imprensa semanal”. O problema, diz, “é que agora só há uma forma [de comunicar], o sistema de porta-voz do Governo. Muitas reuniões e eventos não são anunciados pelo Governo. É muito difícil para os jornalistas comunicarem com o Governo, até porque nem se encontram com eles nas conferências [públicas]”.
Quanto ao caso em concreto da jornalista da MASTV, Ma Weng Fei, a associação considera que “a responsabilidade é totalmente do Governo”. “Através da foto é muito claro quem foi a pessoa que puxou a mochila. Essa pessoa tinha um emblema do Governo”, dizem.
Perante a falta de concretização das regras anunciadas por Chui Sai On, a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau alerta para a necessidade de se criarem “verdadeiras assessorias de imprensa”, com profissionais com formação na área “que dessem respostas adequadas em tempo útil. Não se pode esperar várias horas ou dias por uma resposta”, disse Gilberto Lopes, vice-presidente da associação.
Reconhecendo que o Chefe do Executivo “mostrou interesse em estabelecer melhores canais de diálogo com a criação do gabinete de porta-voz”, o mecanismo não é ainda suficiente. “Estamos ainda longe da situação adequada à realidade de Macau”, defende Lopes.
A associação apela ainda a “uma maior sensibilização de parte a parte, também para os jornalistas mas sobretudo para os titulares de cargos públicos, para a necessidade de prestarem declarações em eventos públicos, ou pelo menos de informarem que não vão prestar declarações”.
Uns andam, outros correm
Para Agnes Lam, professora de Jornalismo da Universidade de Macau, “trata-se de uma questão de transparência”. “Se o Governo tivesse uma conferência de imprensa regular e respondesse com brevidade às perguntas, não teria os jornalistas a correr atrás dos dirigentes”, comenta.
Lam gostava que estas regras a definir pelo Executivo passassem por um mecanismo mais eficaz de respostas aos meios de comunicação. “Se há algo a que o Chefe do Executivo não quer responder, outra pessoa pode fazê-lo. O caos cria-se pela falta de transparência”, acusa.
O politólogo Eilo Yu concorda. “Há um problema de comunicação”, afirma. O professor da Universidade de Macau espera que as novas regras venham melhorar a relação do Governo com os jornalistas e, assim, com a população. “Têm de dispensar algum tempo para falar com os jornalistas ou ter representantes para o fazer. Estabelecer regras pode ajudar, se não os dirigentes vão continuar a andar e os jornalistas a correr atrás deles”, declara.
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