sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Bloco de notas - para não esquecer


O arremesso é fácil: não te lembras. E a gente que já nasceu há muitos anos, fica sem saber se há-de agradecer a eventual vantagem, ou rejeitar o indesejável tiro ... E, mesmo que não queira, tem que começar por perguntar a si próprio quem recorda o não te lembras para ver se ele representa, ou não, o último arremesso da razão perdida, eventual esconderijo não se sabe bem de quê, ou um sereno aviso de quem acha que ainda tem a memória toda ...

Releio Vergílio Ferreira: "... Só na memória o prodígio é eterno porque só é eterno o impossível. Foi bom por isso talvez resgatar na imortalidade a tua mortalidade. Porque vens ainda, imagem do meu desassossego? Não voltes mais. Há já tanto para ser em inquietação ..."

Releio Miguel Torga:

"Com que saudade te recordo agora,
Lirismo antigo!
Odes de juventude
Cantadas com saúde
E alegria
O sol do meio dia
A pino no poema ...
Tão pura cada imagem!
Tão viva a pulsação de cada verso!
Nunca em nenhum momento
O desalento
Deste triste reverso
Da inspiração.
Esta morte acordada
A olhar, calada,
A tampa do caixão."

O que se sabe é que os mais velhos vão ao médico para lhes pedir Fósforo, enquanto os mais novos tentam fixar tudo para o académico 20 que, às vezes, é apenas uma questão de memória, de eventual fadiga  - por compensar.

Mas estamos a falar de memória e, pela parte que me toca, não quero esquecer a consulta com o Dr. ... que espero tenha anotado a última vez em que me fiz sua factura. Porque isto de escrever aqui é bom, é memória em comprimidos, mas ...
mas já me esqueceu o que mais queria registar a propósito ...

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