Maria Caetano
As pessoas do primeiro sistema sabem aquilo com que podem contar. As pessoas do segundo sistema não. Habituamo-nos a esperar o provável exercício e respeito do Estado de Direito, pelas autoridades de segurança, pelos tribunais, último garante de que a lei nos defende de injustiças, violações e ilegalidades. Estará na altura de começar a esperar o pior, por via de má-fé, pressão, alimentação de equívocos, transposições oblíquas e desonestas da letra da lei ou de um acórdão de um tribunal.
Aparentemente, em tempo de guerra não se limpam armas, nem consciências, nem imagem. Mais do que estar com a razão, importa estar com quem manda e pode, cada vez mais pela arbitrariedade flagrante, dispor de nós a cada momento, dos nossos negócios e da nossa situação.
De modo que qualquer traição ao próprio e às evidências surge bem defendida, hoje, com a possibilidade de se estar no círculo próximo de influência, numa espécie de assessoria à governação por via da qual se será bem sucedido a encarreirar as coisas por dentro e com muita harmonia. Os assessores podem sempre alegar que não é uma rendição, é diálogo, e sentirem-se próximos das decisões. Os restantes são “radicalizados” condenados ao fracasso.
Confere. Vai conferindo. Mais vale vergar do que quebrar. Mas não vem proveito ao mundo nem a Macau, nem qualquer alegado exercício de influência subtil é real, como constataremos todos mais cedo ou mais tarde.
A desonestidade do ciclo que estamos a viver é óbvia para tantos. A indiferença que alguns julgam existir perante as condições políticas em que Macau se encontra não é livre de censura ou aversão. A vida prossegue, mas com desdém cada vez maior pela classe dirigente, pelos seus assessores, nomeados e tácitos.
Apenas alguns se deixam deter, teimosamente, numa acção que, mais que qualquer coisa, denuncia. Os resultados positivos são esses, sim, os de uma chamada de atenção. E que mal tem isso? É demagógico, populista? Que todos os males sejam esses. Na verdade, não há demagogia em extremar as condições que testam a sanidade do sistema. Há um compromisso com a saúde, expondo as maleitas que é necessário prevenir e curar. Os panos quentes nada tapam.
Aquilo que aconteceu ontem, a detenção de cinco dos promotores do chamado referendo civil com base em pressupostos desconexos e desonestos, é a todos os títulos de lamentar e denunciar. Quando a ilegalidade é cometida por quem tem de zelar pelo cumprimento da lei, temos medo. E o objectivo talvez seja esse, o de amedrontar.
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