by Ponto Final |
Testemunha privilegiada dos protestos em Hong Kong, Macau poderá também ter em breve o seu despertar político, defende académico americano em artigo publicado na revista The Diplomat.
Apesar da consciência política não ser muito evidente no seio da população de Macau, a RAEM não está imune aos ventos democráticos que sopram do outro lado do Delta do Rio das Pérolas. E a influência de Hong Kong dá uma energia reforçada ao activismo político e laboral em Macau, preparando o terreno para a eclosão do seu próprio movimento pró-democracia.
Esta tese é defendida pelo académico norte-americano David Gitter, da escola de Assuntos Internacionais da Universidade George Washington, em artigo publicado na revista The Diplomat.
No texto, recorda-se que a indignação popular manifestada a propósito do diploma do regime de incompatibilidades levou para as ruas de Macau cerca de 20 mil pessoas, obrigando o Chefe do Executivo Chui Sai On a ceder. O artigo, citando uma funcionária de um casino, sustenta que a população de Macau via antes os manifestantes pró-democracia em Hong Kong como agitadores, mas que começa a ter a percepção de que o activismo político pode conduzir a uma melhor governação e que “a mudança é possível se estivermos unidos”.
O texto cita também um dos organizadores do protesto, Sulu Sou, que embora tenha considerado a cedência do Governo uma vitória, não deixou também de defender que o problema da legislação impopular advém do “sistema político não-democrático que temos”.
Continuando a descrever acções que, na sua perspectiva, são sintoma de mudança política, o académico americano lembra que o referendo não-oficial promovido em Junho mostrou que 95 por cento dos votantes quer ver eleições directas em Macau, e sublinhou que a carência de recursos humanos e consequente crescimento do poder negocial dos trabalhadores da indústria do jogo fazem prever nos próximos tempos uma intensificação das manifestações laborais, como indica um relatório da Morgan Stanley.
A conjugação de todos estes factores, numa altura em que continua por resolver o impasse político em Hong Kong, “pode muito bem criar condições favoráveis à realização de manifestações políticas de massas, com apoio das associações laborais”. O académico norte-americano recorda, a propósito, que o operariado apoiou as manifestações estudantis na China em 1989 e que agora em Hong Kong “10 mil trabalhadores de todos os sectores mostraram-se solidários com o movimento Occupy Central, emprestando maior legitimidade à sua causa política”. David Gitter defende que “os trabalhadores de Macau podem eventualmente sentir-se inspirados a fazer o mesmo, ao serem testemunhas do modo como os seus compatriotas de Hong Kong se juntam aos milhares no apoio às liberdades políticas”.
O académico da Universidade George Washington considera ainda que por agora os cidadãos de Macau vão manter-se na expectativa, enquanto não se decide o futuro político de Hong Kong. “Ainda assim, Pequim e o mundo não devem simplesmente descartar a população de Macau como tendo uma orientação apolítica, já que pode bem cedo apostar que é tempo de fazer a democracia chegar”, conclui.
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