quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Poesia

Maria João Dias - a ex-colega, a amiga, a poetisa

com a devida vénia
não sou
a metralhadora que te puseram nos braços
e te obrigaram a agarrar
o soldado que te caiu em pedaços no colo
despedaçado pela mina que te poupou
o colete em que te quiseram curar a loucura
braços imóveis cruzados no peito
as grilhetas de condenado nos teus pés
braços pendidos até não os sentir
perder o sentido do que fazer com eles
sou
um corpo quente que se quer aninhar
no teu peito na roda dos teus braços
atear-lhes a fogueira em que me ardes
até os despertar
quero tanto um teu abraço, amor
quero tanto um teu abraço
quero tanto
tenta.

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