segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Macau: fronteira aberta 24 horas

Do turismo ao jogo, os especialistas são unânimes: o alargamento dos horários é uma boa notícia, mesmo que o início seja um pouco caótico.
Patrícia Silva Alves
Falta menos de um mês para que Macau tenha uma fronteira aberta 24 horas por dia e, para os especialistas ouvidos pelo PONTO FINAL e outros meios, estas são boas notícias, ainda que seja necessário um período de adaptação.
É o que defende, por exemplo, Anthony Wong. O investigador do Instituto de Formação Turística defende que a Ilha da Montanha ainda não está apta para ser, no imediato, a principal porta de entrada dos turistas em Macau, em substituição às Portas do Cerco.
“Para já a Ilha da Montanha não parece pronta para esta nova directriz uma vez que as infra-estruturas de transporte lá são insignificantes. No entanto, se houver procura, poderá haver oportunidades de negócios. E tenho a certeza de que a Ilha da Montanha e também os fornecedores de serviços (como autocarros, táxis e shuttles) vão aperceber-se desta oportunidade muito brevemente”, defende o académico.
Para Anthony Wong esta medida de alargar o horário tanto das fronteiras para a Ilha da Montanha (passa a 24 horas) como das Portas do Cerco (mais duas horas por dia) é positiva para o sector do turismo.
“Diria que pode ser um pouco caótico no início porque é difícil estimar a procura, mas um pouco depois, as coisas vão ao seu lugar”, acrescenta o investigador que acredita que a medida é boa pois vai permitir que os agentes de turismo tenham um horário mais flexível para gerir as suas deslocações.
Quando apresentou o alargamento dos horários, na quinta-feira, o Governo não se comprometeu com uma estimativa do número de visitantes esperado, mas na sexta-feira, Maria Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, disse não acreditar que o comportamento dos turistas se altere daqui para a frente.
“O tempo que os turistas permanecem não depende da facilidade em atravessarem a fronteira. Essa consideração é simplista. A questão mais importante é a de saber se há atracções turísticas e infra-estruturas suficientes que levem os turistas a ficar”, disse a responsável. E acrescentou: “Macau tem de atrair turistas por ser um ponto turístico, pelas suas condições e produtos oferecidos e não por fechar as fronteiras e não deixar os turistas entrar.”
Joey Lao, presidente da Associação de Ciências Económicas, concorda e até defende que a medida vai ser sobretudo benéfica na resolução de questões quotidianas como o excesso de trânsito e dificuldades de circulação na RAEM e para quem trabalha em Macau e vive em Zhuhai.
“Acho que é mais positiva para os trabalhadores não residentes da China que passam a fronteira. Acho que muito provavelmente vai ajudar mais estas pessoas do que trazer turistas”, considera Lao.
Jogo e imobiliário
Para além da questão do turismo, a abertura das fronteiras vai trazer impactos inequívocos no mercado imobiliário, acredita o presidente da Associação de Ciências Económicas.
“Vai ajudar sobretudo as pessoas mais jovens que hoje são quem, à partida, tem menores probabilidades de comprar apartamentos em Macau. E não podemos esquecer que à medida que a cooperação sócio-económica entre Zhuhai e Macau se adensar e houver maior integração, isso vai encorajar as pessoas mais jovens a mudar-se para Zhuhai”, defende Joey Lao.
Quanto ao impacto do outro lado da fronteira, o economista não tem dúvidas. “Certamente que os preços [dos imóveis] vão aumentar, mas temos de esperar para ver até que nível atingem”, sublinhou.
No que respeita ao jogo, os analistas do banco de investimento UBS, saudaram a medida por considerarem que é reveladora de que o Governo Central tem a intenção de apoiar o desenvolvimento de Macau no longo prazo, numa nota a que o site GGRAsia teve acesso na sexta-feira.
Anthony Wong e Angus Chan, os dois analistas do UBS que prepararam a análise, disseram ainda que a abertura da fronteira do Cotai durante 24 horas pode ajudar os resorts do Cotai, sobretudo o da Melco Crown.
“Também esperamos que o Studio City da Melco vá beneficiar mais com o fluxo de turistas vindos da Hengqin, já que está mesmo colado à fronteira”, escreveram os especialistas.
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