Eduardo Soveral
"numa luta animal
ferido na raiva do silêncio
confundido no pulsar do irreal
trago em mim o desejo imaginário
de um eco de passos que não há
de uma abstracta beleza que exijo
e não atinjo
os mortos ocultos
tropeçando nas sílabas do escuro
espiam-me sem ruído
e esperam que a denúncia das sombras
calcinadas de aventura
tombem meus intentos
no nome que inventei
e que perdi
mas este sangue não tem nome
mas este sangue não tem fim
coisas assim
são destroços
resíduos
restos
excrementos
horas tardias que ninguém escuta
justiça que sei não terminar
num perguntar de olhos
demasiado jovens para a morte
das ideias vacilantes e guardadas
nervosas inquietas exigentes
cresce um orvalho vivo
qual esforço inútil quase frágil
que não serve não deseja e não beija
o trajecto nervótico e felino
do tapete ondulado
onde principia este espanto escrito
de me sentir cada vez mais cansado
sob o peso destas lágrimas que são luz
o resto adormece e vive
aos poucos
num dizer de vozes frias e remotas
na espera de qualquer coisa
que de intolerável
espreita e se desfaz
... ... ... ... ... ... ... ... ..."
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