- Quando me dizem que pareço gente ... |
. Quando lhe dizem que está despedido ...
. Quando lhe dizem que têm para si o lugar de estagiário ...
. Quanto se apercebe que, de um dia para o outro, às vezes, sem que tenha havido a chamada reposição de "stock", já não há o que procurava ...
. Quando o chamam a um gabinete onde, na empresa em que trabalha, nunca entrou ...
. Quando lhe lhe dizem, sistematicamente, que determinada máquina está avariada ...
. Quando no restaurante se apercebe que a sobremesa é um luxo ...
. Quando se dá conta de que aquele casaco que tinha usado anos e estava assim-assim tem que passar a estar óptimo ...
. Quando é forçado a concluir que, afinal, a sua remuneração (não actualizada) vai ter que chegar também para filhos e netos ...
. Quando, às vezes, de véspera, com hora marcada, o primeiro-ministro ou o ministro das Finanças vai fazer "uma comunicação ao país" - ainda que mascarada de entrevista (combinada) ...
. Quando percebe que deixou de ir aqui ou acolá espairecer ...
. Quando repara que anda mais gente, a pé, na rua, como se andasse nas nuvens
. Quando o assaltam ganas de partir o mealheiro que, quase por graça, manteve intacto anos a fio ...
. Quando nota que, sem motivo aparente, toda a gente discute com toda a gente
. Quando, pela primeira vez na sua vida, lhe receitam ansiolíticos
. Quando, no chamado Serviço de Saúde, lhe receitam aspirinas quando se impunham antibióticos ...
. Quando, no mesmo Serviço de Saúde, acham que os exames de rotina que fazia anualmente, "não adianta fazê-los tantas vezes ..."
. Quando, na rua, nas lojas, na família, às vezes, o tratam sem um único sorriso ...
. Quando se lembra, com frequência, do cão que, na rua, dorme a vinte metros da sua casa e verifica que, por já não os ter, passou a não lhe dar os "restos de comida" que punha num jornal velho todos os dias ...
. Quando se lembra que passou a lavar à mão a roupa que lavava à máquina ...
. Quando repara que passou do sabonete cheiroso para, com fins idênticos, o sabão azul e branco - que lhe dizem "até ser melhor para a pele" ...
. Quando teve que passar a limpar o cú a jornais ...
. Quando foi obrigado a concluir que apenas a caridade o pode "salvar" ...
. Quando percebe que, em todo o lado, passou a ser rotina a discussão, às vezes, sem se perceber como começou ...
. Quando é obrigado a reparar que o caixote público mais próximo de sua casa está sistematicamente remexido ...
. Quando dá consigo, em Portugal, a pensar nos tempos de Salazar que, dizem, quando morreu, ainda tinha na cama cobertores que eram da falecida mãe ...
. Quando vê, na televisão, graúdos, da esquerda à direita, tão bem vestidos ...
. Quando dá consigo a pensar em emigrar, mas ouve telejornais e hesita ...
. E quando se apercebe que tem que terminar aqui esta mensagem ...
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