O relato é do historiador José Hermano Saraiva:
"Denunciar contra a fé (séculos XVI e XVII), era considerado um dever religioso, e isso numa época de religiosidade profunda: o dever religioso sobrelevava qualquer outro. O crente era, em consciência, obrigado a denunciar qualquer facto ou aparência de facto que em sua opinião, revelasse judaísmo ou desrespeito pela fé. Houve denúncias por coisas insignificantes (por exemplo, o contramestre de uma nau, desesperado contra a falta de vento, disse um palavrão contra um santo) e houve denúncia de má-fé, inveja, vingança, ciúme. Mas o que mais se conta é essa inclusão do dever de denúncia no número dos deveres para com Deus; a denúncia deixou de ser uma vileza odiosa e sórdida e foi proclamada como piedosa virtude. Todo o País era religioso, e por isso durante dois séculos todo o País serviu de policia a si mesmo. Foi a operação policial de maior duração e de maior envergadura que a nossa história regista e durante ela toda a gente viveu entre o dever de denunciar e o terror de ser denunciado."
Apontamento à margem:
Estamos cá, no mesmo território, com o mesmo berço, apenas aparado nas pontas, mas capazes de novas PIDES - entre ditos amigos, vizinhos, familiares.
Quiçá, agora, não tementes a Deus, mas às consequências judiciais, ao parece mal ... Mas somos a mesma gente da PIDE religiosa dos séculos XVI e XVII.
Agora a fingir-se Papa Francisco, porque a comunicação social dá uma ajuda...
E, apesar de tudo, há quem prenda ministros ...
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