Macau e Lisboa beneficiam de relações privilegiadas, reconheceram ontem Lionel Leong e Leonardo Mathias. Os secretários da Economia da RAEM e de Portugal querem transformar o privilégio em proveitos económicos. O reforço da cooperação tem como grande finalidade uma maior projecção de Portugal na China e de Macau no espaço dos países de língua portuguesa.
Isadora Ataíde
O secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e o secretário de Estado Adjunto e da Economia de Portugal, Leonardo Mathias, estiveram ontem reunidos para discutir o reforço da cooperação económica entre Lisboa e a RAEM, tendo em vista sobretudo a afirmação dos produtos de ambas as regiões na República Popular da China, por um lado, e no espaço dos países de língua portuguesa, por outro.
“Apresentei ao secretário Lionel Leong a agenda reformista do Governo Português na área da economia. Ele encara as políticas do Executivo português com bons olhos e fez até um certo paralelismo com as reformas na RAEM”, revelou Mathias. “Concordamos em fazer uso da relação privilegiada que mantemos para promover os nossos produtos e serviços na China e junto dos países de língua portuguesa”, sublinhou o governante português.
Leonardo Mathias diz que Portugal é um bom parceiro no que toca à potencialização de negócios e ilustra com os investimentos feitos pela EDP e pela China Three Gorges em países como o Peru, o Brasil ou a Colômbia: “Portugal pode ser uma plataforma para outros países. Queremos desenvolver um esforço complementar àquele que é feito por Macau. Temos de identificar às áreas em que podemos cooperar e identificar as iniciativas que podemos conduzir em conjunto”, destacou o secretário de Estado Adjunto e da Economia do Executivo de Lisboa.
A contracção nas receitas do jogo e a previsão de recuo do Produto Interno Bruto do território não é algo que preocupe o governante português, que sublinha que os indicadores económicos do território são notáveis a todos os níveis: “Macau tem um crescimento notável, o desemprego é mínimo, vê-se o crescimento em todas as áreas. O nosso ponto de vista não é o do desacelerar da economia da RAEM, mas sim da existência de espaço para o desenvolvimento conjunto. A nossa perspectiva é de que temos um passado, um presente e um futuro”, sublinha Mathias
Actualmente, 346 empresas portuguesas exportam produtos e serviços para Macau e os números entusiasmam o secretário da Economia do Governo de Lisboa: “É um número com reflexos óbvios para a economia portuguesa, na medida em que nos últimos quatro anos houve um crescimento de 20 por cento de empresas exportadoras para Macau: mais de 346 empresas exportam para Macau neste momento e 40 por cento das exportações são de produtos alimentares. O vinho tem uma importância particular, mas 14 por cento das exportações são de produtos agrícolas e neste domínio os produtos lácteos, com três por cento, começam a ganhar algum relevo”, assinala Mathias.
O secretário Adjunto e da Economia do governo português mostra-se convicto de que os negócios com Macau têm ainda margem para crescer de forma ainda mais substancial: “Temos de ser mais ambiciosos. Temos de ser capazes de manter esta linha de crescimento de 20 por cento ou mais. Temos de ter capacidade para impulsionar a ligação de um maior número de empresas, de forma a que possam colocar os seus produto no mercado de Macau”, defendeu Leonardo Mathias. “Temos, no entanto, de assegurar também que há um enquadramento institucional de protecção dos consumidores e que existem regras que possam garantir os investimentos dos empresários, não só em Macau, mas através de Macau, no resto da República Popular da China”, ressalvou o governante luso.
O aumento da cota de exportações para Macau é um dos desafios a que o governo de Lisboa se propõe dar resposta, mas não é o único. Leonardo Mathias quer Portugal seja entendido também como um país inovador e assume o desafio de fazer crescer a “densidade” tecnológica do perfil dos produtos made in Portugal. O secretário Adjunto e da Economia deu a conhecer ao território o programa “Portugal sou Eu”: “Macau pode ser pioneiro na adesão ao programa ‘Portugal sou eu’, uma plataforma virtual da qual fazem parte mais de 1300 empresas e com 3000 produtos qualificados”.
Durante a manhã de ontem, Leonardo Mathias participou também num seminário sobre os desafios que se colocam a operadores e consumidores nas áreas da economia e da segurança alimentar. O certame contou com a presença dos responsáveis pela Autoridade da Segurança Alimentar e Económica de Portugal e do Conselho dos Consumidores de Macau, entidades que no ano passado assinaram um protocolo de cooperação (ver caixa).
AGENDA REFORMISTA
Em véspera de mais um ciclo eleitoral em Portugal, Leonardo Mathias fez questão de apresentar na RAEM os detalhes do programa de reforma económica que o Governo de Pedro Passos Coelho tenciona aplicar. O secretário Adjunto e da Economia esteve reunido com vários empresários do território para dar a conhecer a agenda reformista do Executivo de Lisboa: “Realizamos um almoço de trabalho com cerca de 70 empresários e profissionais no qual apresentamos a agenda reformista deste Governo, que foca o desenvolvimento macroeconómico no sentido de potenciar a economia de Portugal”, explicou o secretário.
Mathias traçou um balanço positivo das reformas do actual Governo português. “O défice reduziu-se, o PIB está em estabilização, o consumo privado cresceu e as exportações aumentaram”, sublinha. Em tom de júbilo, o governante defendeu que “o Governo tem de dar continuidade a reforma, tem de avançar para a segunda fase. Estamos, sem dúvida, melhor preparados do que em Junho de 2011”, salientou.
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