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"Vasco Callixto (Amadora, 12 de Janeiro de 1925) é um jornalista e escritor de turismo, tendo-se
especializado também na investigação nas áreas do automobilismo, do desporto automóvel e da história da aviação em Portugal. Vasco Callixto é colaborador da imprensa portuguesa desde a década de 1940, e tem publicados cerca de 50 livros. A primeira destas obras, "Fala a Velha Guarda", data de 1962, e é constituída por um conjunto de entrevistas aos mais antigos automobilistas portugueses. Em 1963, sairia o 2º volume deste trabalho.
A publicação de livros de viagens iniciou-se em 1965, com "Pelas Estradas da Europa", e essa é a vertente mais prolífica da obra de Vasco Callixto. Em títulos como "Viagem às Terras do Sol da Meia-Noite" (1966), "Viagem até às Portas da Ásia" (1969), "Viagem Transafricana" (1972), "Viagem a Macau" (1978), "Viagem à Índia" (1985), "Por Estradas da Venezuela" (1989) ou "Uma Volta ao Mundo em Português" (1996), o escritor relata de forma detalhada as viagens que efectuou, realçando sempre a presença portuguesa no mundo."
- Em que ano, e com que destino final, fez a primeira grande viagem de automóvel?
- Se não ultrapassarmos as fronteiras, a primeira grande viagem foi feita num FIAT 500 até Trás-os-Montes e ao Porto, para conhecer o norte do País, em 1952. Se ultrapassarmos as fronteiras, foi em 1961, neste caso já com um Volkwagen Carocha, que foi Lisboa-Paris-Berlim, Wolfsburgo e regresso pela Suiça, e por Barcelona, salvo erro.
- Qual foi a viagem que o levou mais longe das nossas fronteiras?
- De automóvel, foi ao Cabo Norte, que totalizou Lisboa-Cabo Norte, Cabo Norte-Lisboa, 13 500 km. Está relatada no meu livro Viagem às Terras do Sol da Meia Noite, editado em 1964 e reeditado, cinquenta anos depois, em 2014.
Sem ser de automóvel, a maior viagem que fiz com a minha mulher, aliás sempre com ela, foi a volta ao Mundo que fizemos em 1995, quando ambos entrámos na casa dos 70. Foi uma viagem admirável, em que pouco andei de automóvel, mas que nos levou a recordar a aposta de Phileas Fogg, porque fizemos a viagem no mesmo dia de Oriente para Ocidente. Saímos de Tóquio num domingo ao fim da tarde e chegámos a Honolulu nesse próprio domingo de manhã. De maneira que ficámos com um dia a mais. É uma sensação original, que nos causou uma estranheza, principalmente por ficarmos uma noite sem dormir ... Porque chegámos a Honolulu num belo dia de sol, as praias convidavam a ... a não dormir. Mas a volta ao mundo levou-me também ao encontro das comunidades portuguesas e da presença portuguesa em diversos locais, desde Malaca, desde Singapura e, no próprio Japão, em todos os locais, desde a ilha onde desembarcaram os primeiros navegadores portugueses; e em Honolulu, onde há, ao contrário do que muita gente pode pensar, muita presença, não só de portugueses residentes, mas de passado português.
Tudo isso contribui para serem viagens admiráveis e que eu dizia que para recuperarmos, para pormos em ordem o nosso dia a mais, bom seria fazermos uma viagem em sentido contrário, mas não a chegámos a fazer ...
Tudo isso contribui para serem viagens admiráveis e que eu dizia que para recuperarmos, para pormos em ordem o nosso dia a mais, bom seria fazermos uma viagem em sentido contrário, mas não a chegámos a fazer ...
- Quais as três viagens que mais gostou de fazer e porquê?
- No meio de tantas será realmente difícil, mas a viagem ao Cabo Norte, em 1964, relatada em livro, marcou-nos profundamente, primeiro porque foi a quarta viagem que fizemos de automóvel, que nos levou a uma Europa que os próprios europeus pouco conhecem, ou pouco conheciam na altura, e ainda hoje muita gente não vai até lá, ou seja, atravessar o Circulo Polar Ártico e ir visitar as zonas árticas, até ao Cabo Norte, ao ponto mais setentrional da Europa, e a sensação extraordinária de não anoitecer. Foi, de facto, uma viagem inesquecível.
Claro que há outras: 8 000 quilómetros ao volante na Austrália foi também uma sensação muito singular, acompanhado de minha mulher, nesse caso, também de uma prima nossa. Conduzi pela esquerda até ao centro da Austrália, até às zonas desérticas, ao chamado Outback, o Centro Remoto, onde se rodavam 200 quilómetros sem ver nenhuma casa e sem encontrar nenhum outro veiculo. São viagens que marcam ...
- Quantos quilómetros fora de Portugal, marca o seu conta-quilómetros pessoal?
- É muito difícil responder. Eu fui assinalando nos livros os quilómetros das viagens grandes feitas anualmente e, no último livro, não tenho isso assinalado, não me ocorre lá muito bem ...
- Mas é na ordem dos ...
- Dos 300 000 quilómetros ou ...
- Um episódio inesquecível?
- Há muitos ...
- Seleccione ...
- Há muitos e escolher um não é fácil. São diversos e sob diversos pontos de vista, mas foi bastante emotivo, por exemplo, na India, encontrar descendentes de portugueses do século XVI e ver neles o orgulho de se considerarem portugueses (não oficialmente, claro), por falarem alguma coisa português, do tempo dos seus tetra-avós. Acho que deverá ser um orgulho para todos nós.
- Que viagem vai ficar eventualmente por fazer?
- Indiscutivelmente, a viagem a Timor. Tive muita pena de estar perto de Timor, em Singapura, na Austrália, em Macau, e, nessa altura, não ser possível entrar em Timor por causa da guerra civil. Hoje tenho realmente muita pena. No ano passado, tive o prazer de proferir uma conferência no Museu do Ar, recordando os 80 anos da primeira viagem aérea a Timor, em 1934. Nessa altura, num contacto, embora breve, que tive com a embaixada de Timor Leste, em Lisboa, ainda alimentei a esperança de, aos 90 anos, ir a Timor, mas tudo se desvaneceu porque a embaixada, embora tenha tido uma presença na conferência (a conferência foi em Novembro), até hoje, nunca mais houve uma palavra ...
- Se pudesse, que viagem repetiria e porquê?
- Repetiria muitas delas, indiscutivelmente, e a viagem ao Cabo Norte gostaria de repetir, pelas razões que já apontei, mas outras também ... Uma viagem que não cheguei a fazer foi aos Estados Unidos Costa a Costa, embora tenha percorrido a Costa Leste e a Costa Oeste, mas o Costa a Costa também não aconteceu ... Mas gostava, por exemplo, de voltar a conduzir no Brasil, onde fiz três viagens. Foi um prazer voltar ao Brasil por via marítima, em 2006, mas não foi para conduzir ...
- Três pessoas inesquecíveis encontradas, além-fronteiras, e porquê?
- Há uma pessoa, recentemente falecida, que conheci nos Estados Unidos, foi o Dr. Manuel Luciano da Silva, médico de profissão, médico português da região de Sever do Vouga, que foi para a América muito jovem, onde exerceu medicina, mas que se dedicou profundamente aos estudos da presença portuguesa na América, mais concretamente, no território dos Estados Unidos, e que defendeu que o Miguel Corte-Real foi o primeiro português a pisar solo daquele país e com a descoberta até de um rochedo próximo da povoação que lhe deu o nome de Dighton, onde apareceram gravações que se pretendem tenham sido de Miguel Corte Real. Esse Dr. Miguel Luciano da Silva defendeu sempre essa teoria e, mais tarde, o Manuel de Oliveira baseou-se no que o Dr. Luciano da Silva para fazer o filme Colombo, O Enigma, que tive o prazer de ver no dia dos 99 anos de Manuel de Oliveira.
O Dr. Manuel Luciano da Silva não só nos recebeu esplendidamente na sua casa, em Rhode Island, nos Estados Unidos, como nas suas visitas a Portugal. Era uma pessoa da minha idade, que, se fosse vivo, tinha hoje 90 anos, mas faleceu, salvo erro, há dois ou três anos.
Outras pessoas, assim de momento, de momento ... Poderei apontar, por exemplo, Eduardo de Carvalho, em 1995, antigo adido cultural da nossa embaixada em Tóquio, um jovem à minha vista, mas que nos preparou da melhor forma a recepção que nos dispensaram em todo o Japão as associações luso-nipónicas. Foram extraordinárias e só assim podemos, realmente, visitar todos os locais onde a presença portuguesa se acentuou, desde a ilha do desembarque até à ponta mais oriental do Japão, onde fui encontrar um cartaz a referir o sol nasce no Cabo Inubo e põe-se no Cabo da Roca, em Portugal. É uma coisa que praticamente será desconhecida em Portugal. Devo ao Dr. Eduardo Carvalho toda essa recepção que os japoneses nos dispensaram.
Foi também excelente o Dr. António Gomes da Costa, creio que ainda se mantém como presidente do Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, que é uma jóia manuelina em pleno Rio de Janeiro, mas que a maior parte dos portugueses que foi ao Rio não conhece. E tive o prazer de ele me revelar, com grande surpresa minha, que a maior parte dos meus livros estava lá, no Gabinete Português de Leitura. Depois enviei-lhe alguns que estavam em falta.
- Do que eu não lhe perguntei, há alguma coisa que quisesse que ficasse registada nesta conversa?
- Desde menino e moço, foi sempre um prazer viajar ... Aliás, comecei a conhecer Portugal de bicicleta aos 14/15 anos, acompanhado do meu irmão, que era mais velho do que eu quatro anos ... Da bicicleta passámos depois para um FIAT 500. Esses tempos são também inesquecíveis. O tempo da juventude, as viagens de bicicleta marcaram-me bastante e até porque depois, quando casei, também andei de bicicleta com a minha mulher.
De todas as viagens há quase três meses que a minha mulher é uma saudade, porque foi sempre a companheira de todas as andanças. Hoje sinto profundamente a sua falta ... Mas a vida é assim ... Como o meu filho diz: "ninguém é eterno"... Ela foi-se embora, fiquei eu ... Hoje, ainda gostando de conduzir, vou viajando ... Voltas mais pequenas.
De todas as viagens há quase três meses que a minha mulher é uma saudade, porque foi sempre a companheira de todas as andanças. Hoje sinto profundamente a sua falta ... Mas a vida é assim ... Como o meu filho diz: "ninguém é eterno"... Ela foi-se embora, fiquei eu ... Hoje, ainda gostando de conduzir, vou viajando ... Voltas mais pequenas.
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