Do lido, o sublinhado (81) - O MEU IRMÃO, de Reis Cabral (4)
"
Viver sem retribuir é inútil, mesmo que a retribuição seja insignificante: a senhora que aprende ponto cruz no You Tube porque ninguém a ensinou, o professor que tenta decifrar um incunábulo, o empregado que aumenta a dosagem e a pressão da máquina para tirar melhor o café da cidade, o revisor de provas que não quer perder uma gralha e para isso cansa os olhos porque elas voam e pousam sempre em palavras diferentes, o motorista do autocarro que faz as curvas com suavidade, o calceteiro que martela a pedra estritamente dentro do desenho, enfim, algum gesto que distinga pela excelência, mesmo em circunstâncias corriqueiras."
Sem comentários:
Enviar um comentário