Lembro-me de berlindes e de brinquedos que outros tiveram
Lembro-me das mãos sapudas do sr. Leitão, que na Escola Primária nº 72, em Lisboa, aqui bem próximo da ruadojardim, tirava pão a uns para dar a outros que o não tinham
Lembro-me da casa que não tive, mas sonhei.
Lembro-me, militar sem vocação, da biblioteca "aldrabada" do senhor capitão, ali no Campo Pequeno, em Lisboa, poiso da reserva de coronéis "na reserva" a fingir ...
Lembro-me das botas da tropa - sem sebo que lhes valesse, e da fuga que fiz, escondido na carroça do quartel, como se fosse ajudante do respectivo carroceiro titular, em Sacavém, que era uma espécie de quartel-general da região dos brincalhões em tempo de paz
Lembro-me do primeiro chefe a que tentaram "submeter-me" ...
Lembro-me do sr. Costa, "próximo da administração", que me propôs o primeiro aumento salarial (150$00 - numa altura em que "ele" ganhava, salvo erro, 4 000$00) pago por fora, com a minha assinatura num papel amarelo, numa altura em que, "oficialmente", o meu vencimento eram 350$00/mensais
Lembro-me dos brinquedos de lata que me deram e dos berlindes com que ganhei fama de campeão.
Lembro-me do dia em me perguntaram se tinha passaporte e da greve da PANAIR DO BRASIL que impediu o meu baptismo de voo entre Lisboa e Zurique (ver foto, em Hendaya, à espera do combóio, que foi recurso urgente para chegar a horas à Suiça, para uma visita de estudo paga pelo Diário de Notícias)
Lembro-me de estar à beira de ser adjunto da administração do jornal O Século e das viagens que, ao estrangeiro, fiz a títulos vários
Lembro-me de um cruzeiro ao Brasil, no Infante D. Henrique
Lembro-me dos colaboradores que ajudei a promover n'O Século
Lembro-me do 25 de Abril-esperança e da sacanice de muitos ...
Lembro-me do Algarve, a beber, do Norte África, os seus calores e da reles vida de alguns que por lá pairavam
Lembro-me dos 14 empregos que acabei por somar no fim da "carreira" e do quase "épico" Jornal Novo, a que todo me dei
Lembro-me das equipas de trabalho de que, nos jornais, fiz parte
Lembro-me de "porcas misérias" para me pagarem, enquanto, nas ruas ainda se festejava uma "revolução do povo"
Lembro-me de ouvir falar em minha casa - primeiro de Design, depois de Arqueologia
Lembro-me das pinturas que, em casa, a meu lado, fizeram obra e foram exposições várias
Lembro-me de, em Volta ao Mundo, durante 90 dias, só por carta, saber da família
Lembro-me de viagens (muitas) ao estrangeiro apenas para conhecer ...
Lembro-me de aeroportos e de rostos exóticos
Lembro-me de ter sido roubado em Joanesburgo
Lembro-me de ter cumprimentado chefes estrangeiros de que ouvi palavras bonitas em amáveis recepções
Lembro embaixadores em dias de festa, em Lisboa
Lembro a palavra irmão da boca de quem o não era ...
Lembro sarampos e parvoíces várias que nada me fizeram crescer
Lembro camas hospitalares - e sorrisos como que toma SOLUÇÕES ...
Lembro diplomas, mais alheios do que próprios - mas próximos ...
Lembro-me do calor das mãos de quem ajudei a atravessar ruas e avenidas
Lembro-me de calos e suores que foram pão
Lembro cemitérios que ... que não esquecem ...
NÃO ME LEMBRO de heranças em metal que se veja,
mas sei que, somado, AQUI ESTOU - rico do que me deram, rico de sonhos, rico das gargalhadas que ouvi, rico do futuro que, nos livros por mim escritos com vontade, com verdade e suor, acompanham os óleos ou simples desenhos que, a meu lado, foram concebidos, não para que dinheiro abundasse, mas para que a ALEGRIA DE SER E ESTAR não recuasse.
E, se é imodéstia lembrar o lembrado, talvez seja também, de certo modo, mais do que uma ADENDA, um desafio aos que deste banco de jardim se aproximam ou ouvem falar. Sem obrigação do GOSTO "doutras paragens".
SIM ao bem-haja que me ensinaram em terras do risonho luso interior e ...e no Carnaval do Rio, ou, no Infante D. Henrique, o Cruzeiro ao Brasil, para não mais esquecer.
Não falo de invejas. que é coisa feia.
Não falo de incompreensões antigas ou contemporâneas, mas atrevo-me a sugerir visitas aos srs. padres - que são pessoas sempre disponíveis.
A Liberdade é conceito e prática que admiro.
Tenho, não digo medo, mas repugnância de ratos. Mas receio, RECEIO, a má fé.
E a desconfiança permanente. Que é doença.
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