Pior cenário considerado por estudo realizado em Hong Kong e na China Continental coloca Macau, com a sua alta percentagem de território feito de aterros, sob alerta.
Rodrigo de Matos
"Um estudo recente concluiu que o nível do mar pode subir 1,2 metros no Delta do Rio das Pérolas até ao fim deste século, divulgou ontem o South China Morning Post. A verificarem-se, as previsões do relatório apontam para consequências “catastróficas” para as regiões administrativas especiais. Em Macau, o director dos Serviços de Meteorologia alerta: “Alguma coisa tem de ser feita”.
O relatório “Alterações Históricas e Cenários Futuros da Subida do Nível do Mar em Macau e Águas Adjacentes”, publicado na revista Advances in Atmospheric Sciences, refere a topografia plana e a alta proporção de aterros como as características que deixam Macau particularmente vulnerável a uma subida significativa do nível do mar. De acordo com os investigadores coordenados por Huang Gang, do Instituto de Física Atmosférica da Academia Chinesa de Ciências, os territórios costeiros do delta ficariam à mercê de tufões e tsunamis de grandes dimensões.
“Estas conclusões fazem parte de um conjunto de estimativas globais e referem-se ao pior cenário possível”, observou Fong Soi Kun, em declarações ao PONTO FINAL, explicando que têm sido feitos estudos a nível mundial sobre as alterações climáticas e as suas consequências, adoptando diferentes modelos, com resultados que também variam entre si. O responsável pela Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos considera, no entanto, que isso pode mesmo vir a acontecer, a menos que alguma coisa seja feita. “Claro que se a humanidade não tratar de cuidar melhor do ambiente, nomeadamente através de uma redução significativa das emissões de gases com efeito de estufa, então esse cenário pode mesmo tornar-se realidade”, avisa.
Novos aterros particularmente expostos a um tsunami
E se o maior tufão de sempre, ou pior ainda, um tsunami, atingisse a cidade nos dias de hoje, quais seriam as consequências? Para o arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro, as zonas baixas junto ao mar são as mais preocupantes. “A cidade antiga está relativamente protegida pela colina da Guia, mas os novos aterros, por exemplo, estão particularmente expostos à frente marítima”, explicou ao PONTO FINAL. A zona do Porto Interior, lembra também, já hoje fica inundada sempre que há um tufão mais forte quando está maré cheia.
Comentando os resultados do estudo recente, o arquitecto considera que a notícia tem “vários aspectos alarmistas” e lembra que no último século, o mar terá subido apenas poucos milímetros por ano. Ainda assim, defende, a região deveria precaver-se mais em relação a possíveis desastres naturais, nomeadamente através de um planeamento isolado para a protecção de equipamentos estratégicos como o aeroporto e a sua torre de controlo, a central de incineração, as centrais eléctricas e de combustíveis, todos eles situados em zonas de risco. “A solução não passa por construir grandes muralhas de protecção, mas por desenhar os edifícios tendo em conta a hidrodinâmica, com formas mais arredondadas, ou direccionadas para não receberem o impacto das ondas de forma directa”, explica Vizeu Pinheiro, lembrando que a cidade carece também de um plano de emergência, com um sistema de alarme e sítios bem definidos para onde as pessoas devem fugir.
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