Um edifício praticamente em ruínas e com danos estruturais ainda por apurar deverá ter o seu futuro definido em breve. A demolição, opção preferida do Governo, ganha força com o actual estado de degradação do edifício.
Rodrigo de Matos
"A porta que separa o breu do interior do Hotel Estoril do resto do mundo range ao abrir e o batalhão de jornalistas – devidamente esquipado com capacetes brancos das obras, máscaras e uma camada de repelente antimosquitos a cobrir a pele – entra em fila indiana, seguindo os focos das lanternas. Assim começou ontem uma visita guiada que, durante cerca de uma hora, revelou os mistérios do actual estado do edifício prestes a ser demolido, tão logo o Governo obtenha o “sim” na consulta pública a decorrer.
Num cenário a fazer lembrar uma aventura de Júlio Verne, todo o cuidado é pouco – um passo em falso e um buraco no chão oferece uma perigosa queda. O ar é húmido e pesado e os escombros que forram agora o soalho fazem agradecer aos guias da visita as preciosas lanternas.
Aqui e ali vão-se revelando os sinais do que chegou a ser em tempos uma luxuosa sauna: mosaicos com representações da nudez feminina, paredes cobertas de espelhos, agora rachados. A água tépida que um dia perfumou com pétalas de flores as banheiras de hidromassagem escarlate dos quartos deu lugar a uma camada de lixo e entulho.
Praticamente todas as paredes, pilares e vigas revelam partes do esqueleto de aço enferrujado que as sustenta, fazendo duvidar da segurança da estrutura. “A olho nu, relativamente ao edifício mais antigo, tomando em atenção a estrutura principal, diria que está muito perto da ruína”, opinou Costa Antunes, coordenador do Grande Prémio de Macau e engenheiro de estruturas que conduziu a visita. Assim, em breve entra em acção o Laboratório de Engenharia Civil de Macau, para avaliar e recolher os “dados científicos” que fundamentem uma decisão.
O Governo, que já se manifestou favorável à demolição do edifício para a construção de um novo, de raiz, em vez de simplesmente remodelar o actual, garantiu também que iria respeitar o resultado da consulta pública, entretanto prolongada até ao dia 20 deste mês. “Não tenho dúvidas nenhumas de que seria muito mais caro remodelar, por várias razões. Sob o aspecto estrutural, havia que reforçar isto tudo e substituir estruturas é uma construção muito mais lenta. Não sei se valeria a pena o investimento”, considera Costa Antunes.
Na antiga discoteca Diana, situada no último piso, ainda resta, embora bastante danificada, uma grande fotografia da Lady Di que decorava a entrada. Com os olhos arrancados pelo furacão do tempo, a antiga princesa de Gales não poderá assistir ao fim do hotel, que parece ter os dias contados.
Piscina sobe para o topo de um edifício multiusos
Entre as ideias actualmente em estudo para a reconversão do Hotel Estoril num centro de actividades culturais, recreativas e desportivas para jovens, está um plano que inclui a construção de um pavilhão multiusos na área actualmente ocupada pela piscina municipal, que passaria a existir no topo desse edifício.
“Pretendemos ter uma piscina coberta, que possa funcionar todo o ano e ter a maior utilização possível. Queremos uma piscina com grande qualidade, com água aquecida e sem barreiras arquitectónicas para os deficientes e que também permita ganhar mais um espaço, numa área que é de luxo, para outro tipo de utilizações”, explicou José Tavares, presidente do Instituto do Desporto (ID), durante a visita de ontem.
A piscina poderia ter cerca de dois metros de profundidade e manteria os 50 metros de comprimento. Por baixo do edifício poderiam ser feitos cerca de três pisos subterrâneos para estacionamento.
Hotel deve ser demolido, defendem membros do Conselho de Juventude
A maioria dos membros do Conselho de Juventude favorece a demolição do antigo Hotel Estoril e a construção, no seu lugar, de um novo edifício. A informação foi ontem veiculada à Rádio Macau por Loi Man Keong, do Centro da Política da Sabedoria Colectiva.
O responsável, que é também membro do Conselho de Juventude, considera que o suposto valor patrimonial do edifício não se pode sobrepor ao interesse do projecto que o Governo tem reservado para o local: “A maioria dos conselheiros entende que deve ser construído o edifício. Quanto ao mural, estamos abertos [às várias possibilidades]. Mas para se preservar, nunca se deve pôr em causa a utilização desta zona. O mural pode ser recolocado noutra zona. Todos os conselheiros pretendem que, depois, o antigo hotel seja destinado a todas as pessoas”, afirmou Loi Man Keong no final da reunião do Conselho de Juventude.
Os membros do organismo, adianta a Rádio Macau, mostraram-se ainda preocupados com o calendário para a conclusão do projecto. Durante a reunião de ontem do Conselho da Juventude, Wong Kuok Wai – representante da União Geral das Associações dos Moradores no organismo – revelou as conclusões preliminares de um inquérito realizado em Agosto sobre o destino a dar às antigas instalações da unidade hoteleira.
“Durante dois dias no mês passado recolhemos 2.500 inquéritos. Menos de 16 por cento das pessoas defendem a manutenção do edifício”, revelou Wong. Dos inquiridos, 60 por cento defendem a manutenção da actual altura do edifício e menos de 21 por cento são da opinião que a piscina se deve manter.
No âmbito do inquérito, explica Wong Kuok Wai, foram consultados residentes de várias zonas, de forma aleatória."
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