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"Também há muito de Macau, da vida que lhe corre nas artérias, nos contos e romances de Henrique de Senna Fernandes. De uma Macau onde, conta o filho Miguel de Senna Fernandes, não lhe foi fácil ser aceite: “Macau era uma sociedade muito fechada, estereotipada, muito estratificada. O território era muito pequeno. Ele dizia que era ‘uma aldeia com muito requinte’”, conta o advogado e encenador.
Miguel recorda a presença da Rua Central num texto do pai, que surgiu “no prefácio de uma colectânea com esse mesmo nome: Rua Central”, e lamenta a transposição para a Macau actual. “Estamos a falar das zonas antigas da cidade. Hoje há uma descaracterização, à custa da demolição de referências arquitectónicas. E a Rua Central era uma referência da cidade, ligava duas igrejas, a de São Lourenço e a Sé. A Central era a zona chique, até porque São Lourenço era o bairro aristocrata. Hoje está horrível. O que continua de pé é aquele mural que ladeia o Teatro D. Pedro V, que é a Rua do Teatro”, lamenta Senna Fernandes, para, logo de seguida, regressar aos textos do pai, e, inevitavelmente, a uma Macau hoje transmutada. “Ele descreve tão bem, uma pessoa parece que cheira. Ele conseguiu captar a alma, algo que era identitário desta cidade”.
Da Rua Central de Henrique de Senna Fernandes já pouco permanece, mas o que ainda resta recebeu, na semana passada, como que um livre conduto para a sobrevivência. O Conselho do Património Cultural deu parecer positivo a um pedido de assistência para a realização de trabalhos de reparação de dois edifícios, situados no cruzamento entre a Calçada de Santo Agostinho e a Calçada do Teatro. Na altura, a chefe do departamento do Património Cultural do Instituto Cultural, Substituta, Leong Wai Meng, explicou a importância dos imóveis em questão, com mais de 130 anos: os edifícios são as únicas construções da época ainda intactas. Os membros do conselho confirmaram o valor arquitectónico dos edifícios e mostraram-se a favor do IC fornecer apoio para as obras." S.G
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