A auto-censura e o aumento da influência do Governo Central em Hong Kong e Macau são dois dos aspectos referenciados pela Federação Internacional de Jornalistas no relatório sobre a liberdade de imprensa divulgado no sábado. Três episódios colocaram a RAEM no mapa pelas piores razões, mas é na RAEHK que os receios são maiores.
"A liberdade de imprensa em Macau, em Hong Kong e na República Popular da China deteriorou-se em 2015, concluiu a Federação Internacional de Jornalistas. O organismo divulgou no sábado um relatório em que acusa o Partido Comunista Chinês de fazer uso de todos os recursos que tem ao seu alcance para controlar os meios de comunicação social: “A Liberdade de imprensa na China, Hong Kong e Macau deteriorou-se ainda mais em 2015, com o Partido Comunista Chinês a usar de todos os meios à sua disposição para controlar a imprensa”, sublinha o relatório da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ).
O organismo tomou o pulso, pela oitava vez, à vitalidade da imprensa na República Popular da China e nas duas Regiões Administrativas Especiais chinesas, denunciando a autocensura e a crescente influência de Pequim sobre os meios de comunicação social na RAEHK. O relatório do FIJ vê a luz do dia numa altura em que o desaparecimento de cinco funcionários de uma livraria da antiga colónia britânica contribuiu para o aumento dos receios e das preocupações dos residentes de Hong Kong quando à erosão das liberdades na vizinha Região Administrativa Especial. Gui Minhai, Lee Bo e os restantes livreiros são funcionários da Mighty Current, uma editora conhecida por publicar títulos críticos dos líderes de Pequim.
O documento também prevê maiores pressões na antiga colónia britânica, que este ano vai às urnas para eleger o Conselho Legislativo e no próximo ano escolhe um novo Chefe do Executivo: “Atendendo a que Hong Kong vai a eleições no próximo ano, o partido está também a usar a sua considerável riqueza para consolidar a sua influência na região”, acrescenta a Federação Internacional de Jornalistas.
Entre os episódios de perseguição à imprensa referentes a 2015, o relatório refere o incêndio na casa do magnata da comunicação social Jimmy Lay e o ataque de que foi o grupo Next Media (a que preside), que publica o jornal Apple Daily.
O documento refere ainda os incidentes que decorrerem à margem da partida de futebol entre a China e Hong: vários jornalistas foram detidos pela polícia durante três horas, sob a acusação de produzirem “jornalismo ilegal”.
“A polícia também pediu para eles escreverem uma carta de arrependimento. Outros jornalistas queixaram-se que tinham sido identificados e levados pela polícia assim que chegaram ao estádio da cidade chinesa de Shenzhen”, acrescenta o documento.
O relatório referente à actividade da imprensa em 2015 alerta ainda para o que denomina de “jogadas de bastidores”, sobretudo no período que se seguiu aos protestos do “Occupy Central”, que paralisaram o coração da cidade durante dois meses na recta final de 2014.
Ken Tsang, um ativista pró-democracia que foi alegadamente espancando pela polícia durante os protestos – numa agressão captada pelas câmaras de televisão – disse na quinta-feira, após uma audição em tribunal, que a situação relativamente às ameaças às liberdades em Hong Kong era “terrível”.
A Basic Law da RAEHK, a exemplo que sucede com a Lei Básica do território, salvaguarda a liberdade de imprensa e de expressão. No entanto, há receios de que estas liberdades estejam a desaparecer na antiga colónia britânica, sobretudo após o veto da proposta de reforma política formulada pelo Governo Central.
Relativamente a Macau, onde a contestação às políticas de Pequim é pouco expressiva, o documento socorre-se de dois casos, um ocorrido a 15 de Março e o outro a 23 de Abril do ano passado. O primeiro reporta-se ao afastamento, por parte de seguranças, de um jornalista que tentava entrevistar responsáveis do Governo à margem da inauguração de uma exposição no MGM.
O segundo caso, denunciado pelo portal All About Macau, diz respeito ao incidente que opôs uma equipa do canal televisivo MSTV a estudantes da Universidade de Macau na sequência de um incêndio num dos dormitórios do estabelecimento de ensino superior.
A alegada apreensão, a 21 de Maio, pelas autoridades da China Continental de quase um milhar de cópias de um livro do ex-presidente da Associação Novo Macau, Sulu Sou, é também referenciada.
Apresentado pela Federação Internacional de Jornalistas no Clube de Correspondentes Estrangeiros de Hong Kong, o relatório indica que as perspectivas para 2016 na República Popular da China estão longe de ser promissoras.
As autoridades chinesas detiveram e pressionaram jornalistas, recorreram a confissões forçadas difundidas na televisão e a outros métodos de intimidação, limitando e influenciando o papel dos jornalistas, refere o documento.
AIPIM contesta relatório internacional sobre liberdade de imprensa
A AIPIM, associação que agrupa os jornalistas dos meios de comunicação lusófonos e anglófonos de Macau, lamenta não ter sido ouvida na formulação do relatório dado a conhecer no sábado pela Federação Internacional de Jornalistas e contesta a sua base científica.
“Temos de lamentar que, uma vez mais, a FIJ produza um relatório sobre liberdade de imprensa em Macau sem ouvir todas as associações representativas do sector e dos jornalistas que trabalham em Macau”, protestou João Francisco Pinto, presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM), em declarações à Rádio Macau, lembrando que o mesmo já se tinha passado em 2015.
“Penso que isto coloca em causa a qualidade do relatório e a credibilidade do que é apresentado neste estudo”, acrescentou.
No relatório, a FIJ refere que “a liberdade de imprensa em Hong Kong e Macau continuou a registar uma tendência de declínio, com os jornalistas e profissionais dos média boicotados por várias fontes, incluindo o Governo”.
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