"Hoje eu não vou sair porque o barraco está muito sujo. Eu vou limpá-lo. Varri o assoalho e as teias de aranha. Pentiei os meus cabelos. Os filhos foram na escola. Quando os filhos chegaram, almoçaram. O João foi levar almoço para a Vera. Eu disse para ele olhar a reportagem havia saido no Cruzeiro. E estava com medo da reportagem não ter saído e as pessoas que eu avisei para comprar o Cruzeiro dizer que eu sou pernostica.
O João quando retornou-se disse que a reportagem havia saído. Vasculhei os bolsos procurando dinheiro. Tinha 13 cruzeiros. Faltava 2. O senhor Luís emprestou-me. E João foi buscar. O meu coração ficou oscilando igual às molas de um relógio. O que será que eles escreveram a meu respeito? Quando o João voltou com a revista, li - Retrato da favela no Diário da Carolina.
Li o artigo e sorri. Pensei no reporter e pretendo agradecê-lo. (...) Troquei roupas e fui na cidade receber o dinheiro da Vera. Na cidade eu disse para os jornaleiros que a reportagem do Cruzeiro era minha. (...) Fui recebeu o dinheiro e avisei o tesoureiro que eu estava no O Cruzeiro. (... Eu estava impaciente porque havia deixado os meus filhos e na favela atualmente tem um espírito de porco. Tomei os onibus e quando cheguei ao ponto final a jornaleira disse que as negrinhas da favela havia me chingado, que estava desmoralizando a favela. Fui no parque buscar a Vera. E mostrei-lhe a revista.
Eu fui comprar meio quilo de carne. Quando voltei para a favela passei no Empório do senhor Eduardo. Mostrei a revista para os operários do Frigirífico.
O João disse-me que o Orlando Lopes, o actual encarregado da luz, havia-me chingado. E disse que eu fiquei devendo 4 meses. Fui falar com o Orlando. Ele disse-me que eu puis na revista que ele não trabalha.
- Que história é esta que eu fiquei devendo 4 meses de luz e água?
Ficou sim, sua nojenta! Sua vagabunda!
- Eu escrevo porque preciso mostrar aos políticos as péssimas qualidades de vocês. E eu vou contar ao reporter.
- Eu não tenho medo daquele puto, daquele fresco! Que nojo que eu senti do tal Orlando Lopes (...) Vim para o meu barraco. Fiz uns bifes e os filhos comeram. Eu jantei. Depois cantei a valsa Rio Grande do Sul."
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