O objectivo, revela um antigo funcionário da Causeway Bay Books era propiciar a libertação de Lee Bo, que se encontra sob custódia das autoridades chinesas desde Dezembro. Os livros foram destruídos no final de Janeiro. Lee Bo continua em parte incerta no Continente.
"A livraria Causeway Bay Books e a Mighty Current, editora que lhe é associada, destruíram pelo menos 45 mil títulos banidos na República Popular da China e críticos do Partido Comunista, na esperança de que o gesto possa propiciar a libertação de Lee Bo, o livreiro de Hong Kong que desapareceu da antiga colónia britânica no final de Dezembro.
A informação foi avançada por Woo Chih-Wai, funcionário da livraria, ao jornal South China Morning Post. Em conjunto com a mulher de Lee Bo, Woo ofereceu-se para ajudar a gerir a livraria após o desaparecimento dos seus quatro associados.
“Conheço Lee desde 1993 e decidi ajudá-lo no início de Novembro, quando Gui Minhai desapareceu na Tailândia e depois três outros funcionários da loja desapareceram, um atrás do outro”, contou Woo, de 75 anos, ao diário de Hong Kong.
Autor de biografias de líderes chineses e residente de Hong Kong desde que se fixou na cidade em 1979, oriundo de Xangai, Woo era a única pessoa a trabalhar com Lee na loja de Causeway Bay. A mulher do livreiro ajudava com os registos no armazém de Chai Wan.
Woo recorda o desaparecimento de Lee ao pormenor: “Era fim de tarde no dia 30 de Dezembro. A minha mulher [que também trabalhava para a livraria] recebeu um telefonema a pedir 15 livros. Deixou o escritório às 17:40 com os livros. Às 17:45, Lee deixou o escritório com os livros que lhe pediram para entregar”.
Woo e outra pessoa tinham um encontro marcado com Lee nessa tarde, mas o livreiro não apareceu: “Esperámos por Lee até às 20:25 e acabámos por cancelar o jantar, já que Lee não aparecia”, recordou.
“Olhando para trás, tudo parece ter sido bem planeado e o objectivo era garantir que Lee estava sozinho quando fosse levado”, disse o escritor ao South China Morning Post.
A editora Mighty Current tinha dois armazéns, com mais de 100 mil livros à data do desaparecimento de Lee: “Havia 45 mil cópias no nono andar do armazém, que era uma unidade arrendada cujo contrato expirou no mês passado. O resto estava no escritório do décimo andar, detido pelos Lee”, explicou.
Woo lembra-se de ver todas as cópias serem retiradas no novo andar até 25 de Janeiro, por ordem da mulher de Lee, Sophie Choi Ka-ping: “Estavam todos embalados e prontos a seguir para onde os compradores estavam. Mas depois a Sophie ordenou que fossem destruídos ao invés de vendidos”, revelou Woo Chih-wai.
“Alguém lhe disse que desfazer-se dos livros ia ajudar a facilitar a libertação de Lee, mas não parece ter sido assim”, comentou.
Cinco livreiros ligados à incómoda livraria desapareceram no ano passado durante deslocações à República Popular da China ou desaparecera de Hong Kong e da Tailândia. Meses depois, as autoridades do Continente admitiram que todos os livreiros estavam sob sua custódia.
Dois deles foram entretanto libertados sob fiança e regressaram a Hong Kong. Um terceiro deverá ser também libertado, segundo informaram as autoridades chinesas à polícia da antiga colónia britânica na semana passada.
As autoridades da China acusam-nos de estarem envolvidos num caso de comércio de livros proibidos no país, uma actividade que alegadamente realizaram sob ordens de Gui Minhai, considerado o cérebro da operação.
Gui desapareceu na Tailândia em Outubro e apareceu na televisão estatal chinesa em Janeiro, num vídeo em que afirma que fugia há 12 anos à justiça da China, que o condenou por ter causado a morte de uma mulher ao conduzir embriagado em 2004.
Quanto a Lee Bo, apareceu na Phoenix TV na segunda-feira passada a dizer que não tinha sido raptado e que tinha ido para a China pelos seus próprios meios para colaborar na investigação.
Organizações e activistas de defesa dos direitos humanos duvidam que estas confissões sejam reais e afirmam que podem ter sido feitas sob coação."
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