sábado, 14 de maio de 2016

Confissões (1) *

* Do livro de M.A., Entre Vistas nos Arredores das Montanhas Azuis (Austrália), conversa com um emigrante português, em Sidney

"- ...corri o risco do desemprego, mas apareceu-me logo um trabalho muito melhor: a manutenção de um motel.Aí já tinha que saber de tudo um bocadinho: um bocadinho de electricidade, um bocadinho de persianas ...

- E sabia?...

- Nada!...Mas já falava inglês, o que me ajudava muito. Comecei então, com apoio do manager do motel, que era um tipo formidável, a trabalhar numa nova decoração dos respectivos interiores. "Agora vamos fechar um quarto para decorar", disse-me. "Quero uma decoração francesa, um quarto à francesa ..." Eu sabia que as cores da França eram o vermelho, o branco e o azul ... Fácil: metia-lhe as paredes com umas riscas em azul e branco e o tecto a vermelho. O francês gosta muito de tectos quentes e, por vezes, com um espelho pendurado ...
Aquelas coisinha assim ... E depois vinha então boss e elogiava "Oh, muito bom!
Oh, muito bom!... Nós arranjamos aqui um motel internacional. Eu hei-de trazer-te as cores de outras nações ... Vamos fazer quartos típicos ..." Está bem! Não há complicações!..." Uma vez o patrão abalou para a América e disse-me: "quero um quarto espanhol..." Foi uma beleza!... Pintei as paredes e o tecto de vermelho, e as camas, e até a sanita, de preto ... O que me deu mais trabalho foi encontrar pandeiretas e castanholas para pôr nas paredes ... Tive que falar com uns espanhóis, mas consegui resolver o problema. Lá pendurei as pandeiretas ... Abria-se a porta e aquilo era um vermelho!... O gajo, o boss na semana em que viu a coisa assim, fez questão em entregar-me, em mão, um envelope com uma gorjeta de 50 dólares!..."

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