O responsável por este espaço toma liberdade de convocar a memória
do Padre Manuel Teixeira (que conheceu pessoalmente),
que amava Portugal e que também escreveu CAMÕES EM MACAU, sim.
"São de Eduardo Ribeiro estas conclusões: “Sobre a China e Camões, o que sabemos ou foi dito pelos biógrafos ou por quem o conheceu pessoalmente (comentador Correia e cronista Couto), ou consta de um inventário de bens do Colégio de S. Paulo, ou é referido em dois cancioneiros particulares (de Madrid e de Cristóvão Borges) e o que tudo isso atesta e abona é que Camões esteve na China. (…)
Os argumentos de investigadores negacionistas (…) não têm a força conveniente e convincente para negar o óbvio. A nenhum reconheço força para rebater os indícios espalhados por biógrafos, cronista-mor da Ásia, etc, etc, que exaustivamente listámos e avaliámos e que são testemunhos que vêm da profundeza dos tempos, do tempo de Camões.
Nem entendo como, para se defender a força da permanência da ‘lenda’, seu ‘peso’ e ‘perenidade’, se parta de uma premissa como esta: ‘Embora a mítica presença de Camões na gruta de Camões já tenha sido desmentida por factos históricos (…)’. Imobilizo-me boquiaberto. Como desmentida? Onde? Por que factos históricos? Não vi nenhuns, em lado nenhum. Bem pelo contrário!
Sejamos claros: no pressuposto de que não passa tudo de uma ‘questão de opinião’, é injusto atribuir o mesmo peso aos que ‘acreditam’ e aos que ‘não acreditam’ que Camões esteve em Macau, pois há um esmagador consenso de que os indícios são retumbantes e esmagadores a favor da presença do vate em Macau, sobretudo depois dos contributos que este modesto autor submete à apreciação dos leitores de boa fé.
A minha busca, que agora termina, indica-me precisamente o oposto: que a presença de Camões em Macau é histórica e é justamente daí que advém o ‘peso’ da ‘lenda’. E os testemunhos são tantos que, acompanhados da obra autobiográfica do próprio Poeta, têm um peso ensurdecedor e têm sido aceites por muitos, muitos, eu diria a grande maioria dos historiadores e investigadores. (…)
Se comecei, de espírito aberto, em busca da verdade, e no sentido de passar a ter opinião própria, termino interrogando-me se o caso será mesmo uma questão de opinião. A demonstração dos factos e a probabilidade das hipóteses que neles encaixam são tão impressivas, que pugno evidentemente pela historicidade de Camões em Macau. De resto sempre foi esse o esteio constante ao longo dos séculos.
O que surpreende é este empenho recente em desacreditar o que sempre se teve por certo. O que se não entranha é este rigor a desoras relativamente a um tempo em que nem tudo ficava lavrado em documento. E, como se viu, aquilo que se tinha por certo não surgiu do nada. Teve bases suficientemente credíveis porque firmado em certezas de muitos que o afirmaram e nisso acreditaram. Não é desses contos e crónicas que se faz a História?
Camões esteve na China, nas ‘partes da China’, como afirmaram o anónimo de 1584 e Pedro de Mariz e Manuel Correia e Diogo do Couto e Cristóvão Borges e os jesuítas proprietários do chão do campo dos patanes.
Diogo do Couto, como explicámos, chega mesmo a indicar o nome do capitão-mor com quem o nosso Poeta embarcou para a China (1562).
China, para os portugueses, na altura em que Camões a visitou, já tinha deixado de ser Lampacau, já só era Macau. Como Severim de Faria, meticuloso, não deixou de lembrar em 1624.
Por isso, obviamente, se Camões esteve na China, foi em Macau que esteve, aqui se mantendo, na memória do povo. (…)
E a tradição, caros leitores, quando assim ‘recordada’, é documento. Já dava os primeiros passos em 1584, quatro anos depois da morte do Poeta. Mas estava consolidada e era já pacífica no século XVII, cerca de 70 anos depois de Camões ter passado por Macau, quando até já os documentos haviam consagrado essa ‘memória’ na própria Macau, de tal forma que já o Campo de Patane era referido em documento autêntico por Penedos de Camões, como documentalmente se comprovou. A tradição, associada à toponímia do ‘chão do campo dos patanes’, é documento de monta, mesmo que nada mais houvesse.
Mas há, e muito, como vimos. (…)
A aura da certeza de que Camões esteve em Macau resulta de muitos indícios que convoquei para estas páginas; tenha eu sabido traduzi-la em palavras e ‘arrumar o turbilhão disperso das informações num quadro inteligível’.”
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