sábado, 31 de julho de 2010

Memórias do meu cata-vento ( IV )

GENTENOSSA
Ao Dr. Carlos Lemos, Cônsul Honorário de Portugal, em Melbourne

Martha Teles, pintora

Registei nas "Memórias (...):

"Nasci e vivi na Madeira e era adolescente no tempo da Guerra 39/45. Conheci um oficial miliciano do Continente, casei pela Igreja aos quinze anos. Fomos para Moçambique com a nossa filha, mas separei-me do meu marido aos dezanove. Impossibilitada de reconstruir a minha vida sentimental por causa da Concordata, obtive o divórcio aos quarenta e tal anos, já depois do 25 de Abril, que me levou, primeiro à Dinamarca, e, mais tarde, a outros países, onde se respirava um clima político diferente.

Acontece que a minha filha que, entrementes, tinha já catorze anos, pelo facto de ter muitos amigos em Portugal, não gostava de viver na Escandinávia, e fomos para Paris (onde estive dois anos com bolsa da Gulbenkian).

Tratava-se de uma capital europeia... mas de novo não conseguimos fixar-nos. Procurei, então, um país onde, vivendo em democracia, se falasse, pelo menos, em parte, a língua francesa, que dominava melhor do que a inglesa.

Rumámos para o Canadá. Concretamente, para Montreal, a que minha filha se adaptou, embora, mais tarde, tenha ido viver para Toronto, e casar com um português.

(...) Acabamos (...) por ter como que duas nacionalidades: a que nos dá o sol e dificuldades, e a que, na circunstância, nos gela, mas nos compensa com o rigor, a disciplina, o horror à sujidade. Às vezes, temos a sensação de que pertencemos a dois países e não pertencemos a nenhum. Ou melhor, sinto-me canadiana em Portugal e portuguesa no Canadá (...). 

sexta-feira, 30 de julho de 2010

"Jihadist tours"

Não sei quem tem, política e humanamente, razão. O que sei é que a coisa é assustadora... Ao pé "disto" (o "Shiitemilitia da Disneylândia"), a Mocidade Portuguesa, de que tanto se falou, afigura-se-me, apesar de tudo, agora, uma espécie de jardim de infância saloio...
 
Dez anos depois de Israel ter retirado, o sul do Líbano está solidamente controlado pelo Hezbollah, que organizou, em Maio passado, diz-se na NET, um "viagem de campo" para 500 jovens (homens e mulheres, cristãos e muçulmanos) que incluiu uma ... uma "workshop" (uma "WORKSHOP") sobre como lidar com as armas e a reconstituição de batalhas fronteiriças contra Israel."

Pobre Juventude do meu tempo, deixa-me dizer-te que, às vezes até percebo o teu dia-a-dia rabugento e intelorante... Com "mestres" assim ... não há FAMÍLIA, nem povos que resistam.

Palavras de sensatez, cartas a netos, precisam-se! Em vez de...
em vez de ÓDIO!...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Memórias do meu cata-vento ( III )

GENTENOSSA
À Prof. Doutora Maria Beatriz Rocha-Trindade, Investigadora

Renato de Sá, farmacêutico, fundador do Centro de Cultura Latina, em Goa

Recordo:

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Fundei o Centro de Cultura Latina, em Goa, em Março de 1964, primeiro porque via que a língua estava a ser, não direi maltratada, mas objecto de uma certa oposição por parte das autoridades locais. Esta oposição começou com a chamada reforma do ensino, feita por uma comissão, já em1962, anulando-a, em primeiro lugar, como veículo da instrução que era desde a Primária até ao Curso Superior. Isto foi cortado. Bem, em virtude destas medidas um bocadinho ásperas, que até procuraram intervir na folha oficial,  fundei este pequeno Centro. Com que finalidade? Dotá-lo com obras de autores portugueses, porque eles não estavam totalmente banidos na instrução derivada da Universidade de Bombaim.

O Português estava cortado oficialmente em Goa, mas a Universidade de Bombaim mantinha a cadeira nos bacharelatos de Letras e Ciências. Para reforçar este trabalho, criei o dito Centro onde  podem ler-se autores como Guerra Junqueiro, Ramalho, Eça e outros.

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Eu, na minha modesta casa, tenho a família com quem convivo falando português.

 Tenho duas filhas que fizeram os cursos de inglês, devido à suspensão do Português no liceu. Mas ambas mantiveram a cadeira da língua de origem, tanto no bacharelato de Letras, como no bacharelato de Ciências. A que está em Lisboa, é uma delas: é professora de Português no Colégio da Imaculada Conceição, das Irmãs Franciscanas de Maria. É uma pequena minha formada há quatro anos e já é professora há três. É a prova de que a língua vive, e tem alunos. A língua portuguesa não morrerá em Goa - se a apoiarem."

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Urgente: reler a "Peregrinação"

1. A conclusão é tão fácil quanto preocupante: dos que tenho a jeito, não há nenhum manual "da especialidade" que, pelo menos, nos últimos cinquenta anos, não coloque Portugal, Espanha e Grécia  (e, por vezes, Itália) na cauda do progresso económico europeu.

Isto é, pelos modos, somos todos potenciais Vesúvios de coisas boas, mas a Vontade, na nossa sina comum, está extinta... E não há "erupção" que nos valha - como nos Descobrimentos. Calhando, no que nos respeita, ainda não reparámos que, por exemplo, do outro lado do mar estão, por exemplo, os Estados Unidos...

2. Internamente, mas aproveitando a livre circulação europeia, temos, entretanto, uma solução individual que não se aconselha, mas que, em termos de sobrevivência, pode tornar-se "interessante"... E ela é: fazer dívidas em Alhos Vedros e, atingido o limiar do "impossível", aproveitar a abertura de fronteiras para ir fazer, por exemplo, calotes para Ciudad Rodrigo, que, esgotado, poderá forçar a ida para... Em desespero de causa, para os arredores de Atenas, onde, embora o golpe não deva ser um estranho, a coisa pode ainda funcionar, com a vantagem para nós, no caso, que contaríamos com o alibi da estranheza linguística (como é óbvio, não se sugere Itália para, de uma vez, afastar o fantasma das semelhanças verbais)...

Conclusão: com um pouco de imaginação e audácia é só, no caso português, reler Fernão Mendes Pinto e...e já está...

terça-feira, 27 de julho de 2010

Memórias do meu cata-vento ( II )

GENTENOSSA
À Drª Manuela Aguiar, ex-secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, que os emigrantes sempre me disseram conhecer bem


Prof. Lima-de-Faria, "Poeta da Ciência"

Disse-me:

"... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 


Um dia entrei no gabinete de Müntzing e perguntei-lhe que tipo de experiência pensava ser impossível. Respondeu-me que os cromossomas acessórios do centeio, com que ele se ocupava, apareciam no estado de meiose (o paquiteno), em que mostravam a melhor estrutura, mas o seu estudo neste tecido era tão difícil que várias pessoas o tinham tentado sem resultados.


O certo é que eu, ao fim de três meses, consegui desenvolver uma técnica nova que permitiu isolar estes cromossomas com uma nitidez e exactidão até aí desconhecidas. Tal resultado provocou sensação e abriu-me as portas para futuras investigações nesta área. Publiquei logo uma série de trabalhos, que ficaram clássicos, sobre a estrutura e outros aspectos da estrutura dos cromossomas, que me levou a licenciar em Genética (1951), e depois, em Lund, ao grau de doutor naquela especialidade, com a mais alta classificação.


A partir daí, fui bolseiro da Rockfeller Foundation, nos EUA, professor extraordinário na Suécia, bolseiro da International Atomic Energy Agency; convidaram-me para "visiting professor" na Medical School, da Duke University, ocupei o lugar de catedrático na Columbia University, em Nova Iorque, fui 1º "visiting professor" na European Molecular Biology Organization, em Edimburgo, até que, depois de andanças várias na Suécia, me acabei por fixar, criando, com a ajuda da Fundação Wallenberg, um instituto próprio, com os melhores instrumentos necessários à investigação, ao nível molecular.


O que é dramático é que estou convencido de que foi a excelente preparação inicial em Portugal que me permitiu realizar o que realizei na Suécia, mas, ao mesmo tempo, consciencializei-me de que, se tivesse ficado no meu país de nascimento, não teria concretizado, dadas as condições então extremamente adversas à investigação científica.


Penso, entretanto, que os portugueses que emigram são pessoas com uma capacidade de empreendimento e de actividade acima do normal, e, por isso, os que sobreviveram, fizeram-no à custa de um esforço, muitas vezes, difícil de avaliar.


Minha mãe, quando eu era criança, lembrava que um homem só o é quando se torna pai, escreve um livro e planta uma árvore. A minha contribuição é: cinco filhos, mais de cento e trinta trabalhos científicos publicados e umas dezenas de árvores plantadas nos meus pequenos jardins.


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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Placas toponímicas

José Picão Tello, que foi tesoureiro da Caixa Geral de Depósitos, em Elvas, quis-me, a certa altura, a trabalhar seu lado.

Fiz-lhe saber que não podia aceitar, mas vim a tê-lo como padrinho de casamento, com direito a notícia no "Linhas de Elvas", onde ele era jornalista "free-lancer" respeitado.

Perdi-o no dia 3 de Março de 1989, depois de, em Lisboa dos seus pesadelos (Elvas era tudo), ter ido à Clínica de S. Lucas dizer-lhe, dizer ao crítico tauromáquico (D. Pepe) que também era, que soubera da sua valentia ao..."pegar bem de caras (a doença) o touro que lhe havia calhado em sorte"...

Menti. Faleceu pouco tempo depois na Elvas dos seus amores.

E aqui estou, enquanto é tempo, a registar "no satélite" o seu melhor, a sua, por vezes ácida, mas contagiante boa disposição - que fazia questão de manter sempre, não muito longe do Aqueduto que o viu partir.

Recordo-o. Recordo-o porque, de vez em quando, me apetece restaurar placas toponímicas (há uma com o seu nome na cidade)... e, no caso, olhar a salva, agora minha!, sem valor material, que, em cerimónia própria, lhe foi entregue por João Carpinteiro (1987), presidente da Câmara Municipal de Elvas, no seu 85º aniversário, por "uma vida ao serviço do jornalismo".

Obrigado, Rita! *


* Rita foi a sua digna, fidelíssima e respeitável empregada doméstica a tempo inteiro, que, falecida D. Maria Vitória, companheira de uma vida de José Tello, ficou com o usufruto da casa onde viveu o jornalista e da qual a família terá oportunamente retirado o recheio que, por bem, entendeu retirar - deixando a salva da homenagem...

domingo, 25 de julho de 2010

Memórias do meu cata-vento ( I )

GENTE NOSSA
A João Botas, jornalista da RTP, autor do blogue "Macau Antigo", que foi um dos primeiros a dar sinais de vida a propósito da ruadojardim7 

Manuel Escórcio, cantor de ópera

Escrevi:

"Os registos dão-no como nascido em Lourenço Marques, em 1949, e, dezasseis anos depois, residente na África do Sul, onde, no Colégio Heidelberg, da Cidade do Cabo, completa, primeiro, os estudos liceais, depois o bacharelato em Teologia, no Seminário da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Começa os estudos musicais no mencionado Colégio, tendo estudado Canto com o professor George van der Spuy, no Conservatório de Música da Universidade de Stellenbosch, onde também completa o bacharelato em Música.

Em 1977, é convidado a reger a cadeira de Canto, do mesmo Conservatório, lugar que mantém durante dois anos.

É Master of Music, pela Universidade do Cabo, e possui várias licenciaturas por universidades inglesas e sul-africanas. Foi Prémio da Rádio Sul-Africana, em 1977; no mesmo ano, Prémio Nederburg de Ópera, para o melhor cantor de música de câmara no VII Concurso Internacional de Canto do Rio de Janeiro; escolhido como o melhor cantor da Academia de Música de Verão, em Salzburgo.

Que sei eu?!... Actuou sob a batuta de nomes grandes da chefia de orquestras e apareceu ao lado de gente importante do Belo Canto, ali, acolá, excepto aqui no S. Carlos.

Fez de Conde Almaviva, no Barbeiro de Sevilha; de Camille de Rodillon, na Viúva Alegre; de Ernesto, no D. Pasquale; de Nemorino, no Elixir de Amor; de princípe Tamino,na Flauta Mágica; de Ferrando, na Cosi fan tutte; de Jacquino, em Fidélio, de Beethoven.

Não faz de português. É português. E se canta, existe. Mesmo que as nossas descobertas ainda não tenham chegado a tanto..."

sábado, 24 de julho de 2010

Actualizar "Rumo à Vitória", de Álvaro Cunhal *

"Os portugueses não podem discordar do governo sem que lhes tirem o pão, a liberdade ou a vida. Não podem vir à rua manifestar as suas aspirações sem logo tropeçarem com tropa e metralha. Não podem organizar-se em partidos políticos ou quaisquer outra organizações de carácter político, sem logo sofrerem a acusação de "actividades subversivas". Não podem ter sindicatos para defender os seus direitos. Não podem reclamar uma melhoria da situação económica sem logo sofrerem intimidações, arbítrios e violências. Não podem fazer greve sem verem mobilizado um aparato repressivo como se de uma revolução se tratasse. Não podem desenvolver qualquer movimento de natureza cultural, desportiva ou recreativa, sem se sujeitarem ao controle e despotismo (...). Não podem escrever as suas opiniões na imprensa ou em livros, sem os cortes do lápis azul da censura, as apreensões e os julgamentos. Não podem intervir na vida política sem se verem tratados como "inimigos da Pátria". Não podem sequer circular tranquilos para a sua vida corrente sem serem alvo de rusgas, pedidos de identificação, revista de bagagem e bolsos, suspeições, devassa da vida pessoal, vexames e até agressões por parte das "forças da ordem".

Mas têm o, esse, e a Crise, bem sei...

*Depois de amanhã é DIA DOS AVÓS, dizem. Devo, portanto, actualizar, sem negar o passado. A propósito, quando é que os não-fascistas publicam as "Cartas do meu avô", que não visam o lucro e não têm "cunhas" ?

Afundar a Crise

Tenho um projecto experimental para, sem dor, piorar a Crise e resolver o essencial - A PARTIR DO CAOS.


É fácil. Imagine-se uma sala de estar (pintada com cores tranquilas) permanente e suavemente perfumada, em casa de cada portuga aderente, com:


- ambiente climatizado;

- cadeirão, com bons estofos, adequado às características físicas de cada um, ligado à rede de esgotos, permanentemente, e silenciosamente, higienizado, mas com, para os devidos efeitos, um (indispensável) buraco no sítio do (s) ...buraco (s). Com limpeza automática das partes...


- "écran", com colunas para som ambiente e imagens a gosto;

- dúzias de telemóveis de última geração devidamente operacionais;

- auscultadores ligados ao que houver de melhor na loja...


- computador à mão de semear (com Internet, claro);

- purificador de água a jeito;

- pequeno frigorífico cheio, a curta distância do cadeirão;

- micro-ondas perto do frigorífico.

RECOMENDAÇÃO:  não fazer nada útil para ninguém antes de sentir no pêlo que tem que optar entre um CAOS alegre e outras soluções... 

NOTA: este "post" foi-me "inspirado" um dia destes, aí pelas quatro da tarde, numa carruagem do metropolitano de Lisboa, meia de gente, sem o ar preocupado da que quer trabalhar e nãooconsegue.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Grão a grão (IV)

Queridas e queridos Frequentadoras / es deste "blogue" (e, com muito respeitinho, Senhor Ministro das Finanças)

Ironia ou não, coincidiu com a minha ida à exposição ("em americano") The Philosophy of Money, patente no Museu da Cidade (de Lisboa), o seguinte facto: achei mais um cêntimo! Isto é, nos últimos meses, já vou em DEZ... - que espero não ter que declarar...

 Não estou rico, claro, mas encontro-me em condições (quase científicas) de afirmar que os portugueses só perdem o que têm, isto é, pouco...

Cores...

"Se de uma parede branca disseres que ela é cinzenta, é possível que ela não passe a ser dessa cor. Mas passa pelo menos a ser branca, porque ninguém tinha talvez reparado na cor que tem."


in "Pensar", de Vergílio Ferreira

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Árvores sem ramos?...

Tema: justas ou injustas causas de despedimento de quem trabalha. Ok! Discuta-se. E, já agora, como é nos chamados cargos políticos?

É complicado, dir-se-á. De acordo. Mas é necessário reflectir. Tomemos, por exemplo, o caso das vereações, que tanto dão, ou deveriam dar, ao país.

 Além da opinião inicial dos respectivos presidentes, quem controla, por exemplo, os que foram colocados ao serviço de milhares de pessoas por um eleito (inequivocamente) que pode acabar, sem querer, digo eu, por "esconder" do "patrão Zé" faltas de aptidão menos visíveis da opinião pública?

Têm a confiança dos respectivos presidentes, dir-se-á. É curto.

Têm a cobertura do partido, argumentar-se-á. É curto.

Os trabalhadores por conta de outrém, quando "não servem" - RUA!

E aqueles "que nos disseram" que eram bons - para, à partida, um período (quase garantido), pago pelo Zé, e a quem, às vezes, ninguém vê obra ao longo de ANOS?...

Não sei como resolver. O que sei é que todos conhecemos insucessos de gente que vive dos votos, mas, votado, não é devoto... a não ser de seguidismos... 

 É preciso é sacudir a comodidade, eventualmente instalada, dos que apenas se deixaram instalar... E se a obra autárquica é uma conquista dos "novos tempos", é preciso perguntar se ela se deve a determinados, no caso, vereadores (do "aparelho") ou aos técnicos competentes e interessados que a autarquia garantiu, às vezes, há décadas, nos seus quadros...

Bem sei que joga contra determinadas vereações o eventual protagonismo do respectivo presidente*, mas...mas, de qualquer modo, enquanto pagante, o que eu gostava era de sentir mais a árvore autárquica...A verdade é que, sem bons ramos, de pouco serve um bom tronco...

* É claro que também pode haver presidentes "sustentados" por vereadores, mas isso é outra história...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Estado Social ou Estado Sucial?

A/c de Quem Manda e dos que Querem Mandar

Cercam-nos por todos os lados. Pensa-se na eventual distribuição equilibrada do Rendimento e logo há quem nos lembre o Comunismo e os limites que põe: à liberdade de expressão, à liberdade de movimentos, etc, etc.

Fala-se Capitalismo e, de imediato, surgem os que , enfaticamente, chamam a atenção para o poder do dinheiro, as grandes fortunas, a Crise.

Em ambos os casos, há quem refira a existência secreta de máfias... Mas isso é outra conversa.

Entretanto, em Portugal (cada vez mais obrigado a viver na expansão que ajudou a criar...) aparecem uns a proclamar a bondade do Estado Social, enquanto outros dão a entender que a ideia tem os dias contados...

Porra para isto! Entendam-se.

Pelo meu lado (socorro-me da sabedoria popular), voto

"SOL NA EIRA E CHUVA NO NABAL".

Abram as urnas (dos votos, claro).

Disse.

Digam!... É urgente.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Um caso de espionagem sexual

Quando Tó foi a ministro, já Lú secretariava Bo, empresário de olho-vivo, casado com a professsora Maria.

Ambos os casais eram tu-cá-tu-lá, onde quer que estivessem: nos jantares das palmadinhas nas costas e do chique, nos concertos bem vestidos e nos intervalos de tudo onde imperasse o novo-riquismo, mesmo o das cuecas rotas.

E assim foram andando as coisas, até que o que consta é que Tó, cada vez mais ocupado pelo bem-público, deixou de, em casa, corresponder aos atiçados (Tó não perdia pitada...) apetites sexuais de uma Lú teia-aranhada.

Isto acontece, aliás, exactamente na mesma altura em que a senhora professora começa a dar-se mais ao ensino e a esquecer-se do fantasma de Lú, secretária de um Bo sedento, em particular, de aproximação aos ministeriais segredos e carente de mamas mais disponíveis que lhe sossegassem a vidinha...

Finalmente, deu-se o inevitável: desfizeram-se alianças, deixou de haver ministeriais amizades, com eventuais segredos contados entre lençóis...

A Comunicação Social, à data, apercebeu-se do caso... Chamaram-lhe filha da puta. À Comunicação Social. E foi tudo. Para a pequena história da minha terra. Com conhecimento do Bolhão, sem dúvida.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

No Jardim, ao sol



Quem me quiser ler tem que sentir-se a meu lado, neste banco de jardim onde, quase todos os dias, oiço o mundo e o retransmito tal qual o amo ou não. Como os pássaros, cada um com a sua voz (a propósito, o primeiro texto que me lembro de ter escrito, era miúdo, intitulava-se "Deixai cantar a passarada"...).


Eu sei que as pessoas que andam por aqui, na NET, estão sempre à espera do escândalo, da pouca vergonha, do insólito, do Sócrates agora, ou de outro que venha e não seja "da cor..." De uma maneira geral, adoram broncas, revelações "secretas", mexericos, merdelhices...


Pois, meus amigos, eu, embora alfacinha, chegada a oportunidade, tenho de tudo, como no Mercado do Bolhão. Com a diferença que o conto a partir do meu local de trabalho actual - um banco de jardim. Rodeado de pássaros e flores. Flores, em princípio, bem cheirosas e pássaros que fazem o que sabem... 


Assim me tento dar a entender. Ao sol, faço saber...


Apareçam. Mas, vamos combinar: se não aparecerem, fica dito que deixo as minhas mensagens escritas nas margens do jornal (tenho dificuldade em me libertar deles...) que possa ter acabado de ler e que costumo pendurar, quando me venho embora, no galho de uma das árvores, mesmo atrás do banco verde... Verde, sim.Ao pé do coreto. Aquele às riscas feitas de tábuas... Isso, nesse!... A menos que prefiram que vos envie as minhas "novidades" por pombo correio... Também conheço vários...Diferentes daqueles que, noutros tempos, não gostavam de mim, claro,e de que me ri muito quando me mudei aqui para o jardim, já lá vai mais de uma década.Um dia hei-de mostra-vos a fotografia que tiraram à gargalhada que dei nessa altura.
Verdade!...


É tudo. Até breve!

domingo, 18 de julho de 2010

Discretamente, ao almoço... *

 Traseiras são retaguardas, partes posteriores... Não são, portanto, fachadas. Óptimo! Mais fácil é a sugestão. Faço-a, para já e por isso, às gentes que vivem nas Traseiras do Litoral, que conheço razoavelmente.

Coisa simples: cada vez que, aí, num Centro de Dia, algum utente faça anos, haja alguém da respectiva direcção ou paróquia, por exemplo, que lhe vá fazer companhia ao almoço - ou, para tanto, o leve a jantar a sua casa. Discretamente. Amén.

* Reencamimhe-se.

A nossa terra, segundo Torga

"...Temos de conhecer a nossa
terra. Mas conhecê-la por dentro,

sem preconceitos de nenhuma
ordem. Amá-la, sim, mas

objectivar-lhe tanto quanto possível
os defeitos e as virtudes, para que o

nosso afecto seja fecundo e
progressivo. (...) Uma radiografia

profunda, que revele a solidez do
esqueleto sobre o qual todo o corpo

se mantém."  


Miguel Torga in "Diário" V

sábado, 17 de julho de 2010

"Novos" Postos de Transformação da EDP ( II )

Ilustração prometida. Melhor: explicitação mais documentada da ideia, antes que alguém se lembre de a arquivar com o eventual argumento, dito em voz baixa ou não, do "tenho mais que fazer... Este tipo é parvo..."

De uma forma completamente aberta (o objectivo final, sem descaracterizar, é ALEGRAR "monos..."), assim:



a) Pintar cada face do Posto  de Transformação de sua cor - no mínimo;

b) Aproveitar o espaço para publicidade ou saudação local aos passantes (turistas?);

c) Colocar painéis gigantes com fotografias da região (pagas, por exemplo, por quem tem interesses no turismo local);

d) No caso do Dominguizo, terra de farrapeiros, eventual decoração com aplicações esteticamente "arrumadas" de "coisas velhas e duráveis" (em metal, plástico, etc), na face mais visível à distância, por exemplo. E pintar de forma alegre as outras;

e) O já referido no "post" de 15 do corrente, isto é, a decoração pictórica baseada num trabalho de equipa entre "graffiters" e autoridades e artistas locais (ver fotos).

in Oeiras Actual - BOLETIM MUNICIPAL (Maio 2010)

" (...) O Centro de Juventude de Oeiras foi palco da "Oeiras Grafitta", onde, a par de um workshop de dança e de uma mostra de grafitti com vários artistas, que pintaram

em simultâneo seis painéis subordinados ao tema Juventude (...). Este contou com a presença de Nomen, um conhecido "writer" nacional, que veio mostrar ao público a

sua arte e as suas aptidões através do grafitti." 



Alô, Sras. Editoras e Avós

Vós que me convidais para tudo, aceitai debruçar-vos, sem compromissos, sobre um original escrito com a razão e o coração - ou dizei-me, sem falsos "Facebooks", que não vos interessa porque os vossos verdadeiros objectivos de Comunicação, nomeadamente, não passam pelas novas gerações... 

in CARTAS DO MEU AVÔ

"11 de Agosto de 2006

Os avós sabem tudo. Sabiam... Quando tu começaste a ouvir-me, eu sabia tudo. E aceitava baboso, aquele espécie de orgulho infantil com que condecoravas os meus saberes. Depois (é normal), depois, com a tua ida para a escolinha, fui eu que comecei a (re)aprender. Primeiro, aquelas cantigas, aquelas amizades de bibe, a inocência perdida a dar-se de novo como quem ensina um caminho; mais tarde, a fraternidade do abecê, com todas as letras irmãs no inesgotável do dicionário. E assim por diante...

Agora já sabes que eu não sei tudo. Mas também sabes que sei coisas diferentes das que tu sabes... Eventualmente, com novos sentidos. O meu comunicar tem  sido, pois, feito de ângulos, ângulos de visão - que pretendem ajudar (-te). Vejamos uma "banalidade": a fome é factor de guerra (um faminto não gosta de mim se eu o não for); outra "banalidade": a cultura é factor de aproximação (os ignorantes dificilmente fazem amizades entre os que o não são); outra "banalidade" ainda, uma evidência: não é fácil casar uma católica da Opus Dei com um muçulmano radical (este século XXI retoma o assunto).

Portanto, minha querida (conversa de avô...): se queres abrir ângulos, estuda, estuda muito e sempre - o que aproxima, o que, sem demagogia, combate desigualdades, o que, sendo fé, não é intolerância cega, o que, sendo política, não é desamor.

Vergílio Ferreira, a falar-me, a dizer-nos (-te), coisas... "Demora-te ainda um pouco, demora-te ainda um pouco. Há tanto ainda para ver, que pensar, que admirar... Mesmo no último instante, abre ainda os olhos - e vê. A vida é tão espantosa. Não terás tempo de o saber. Demora-te um pouco. Há muito ainda que amar."

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Um abraço. Parabéns pela tua licenciatura em Arqueologia!

M.A.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Aumentos III



I - O Banco de Portugal adianta que as poupanças dos portugueses atingiram o valor mais baixo dos últimos meses e ...

II - ... e é autorizado a ser a excepção e aumentar 1% os seus funcionários...

III - Entretanto, os hospitais públicos vão ter que poupar na  hidratação dos doentes com água engarrafada.
"A saúde está primeiro, beba água do Vimeiro", anunciava-se no "antigamente".

Sócrates ou Sócatres?

É Sócrates. Haja Deus! Se fosse como diz a maioria (Sócatres), poderia precipitar raciocínios...

Vejamos:

- segundo o Dicionário Prático Ilustrado, "que está sem companhia"

CATRES - no citado dicionário, "leito (s) tosco (s) e pobre (s)"

Ainda bem que é SÓCRATES, nome de filósofo grego.

 Uff!...

Histórias da História

Quando cheguei a Kinshasa não tinha pensado em entrevistar quem quer que fosse, mas o Comendador Jaime Viana insistiu e, quase na véspera de comemorações nacionais zairenses, documentei-me e ("em Roma sê romano") entreguei no Gabinete de Mobutu Sese Seko as perguntas (bilingues) que, "apalpado o terreno", entendi oportunas. Doze. Estas, que acabo de rever em papelada antiga:

"-Senhor Presidente, em breves palavras, quem foi M. Joseph-Desiré Mobutu e quem é hoje M. Mobutu Sese Seko Nkusu wa Za Banga? Onde está "De Banzy"?

(esclareço a pergunta: Mobutu Sese Seko Nkuku Ngbendu wa Za Banga quer dizer "O Todo Poderoso Guerreiro que, Por Sua Força e Inabalável Vontade de Vencer, Vai de Conquista em Conquista Deixando fogo em seu Rastro". De Banzy, isto é, "Como Editor.")

"-Soldado, jornalista e político. Católico. Amigo de França e da Bélgica. E de Portugal também. Vinte anos no poder num continente em crise. O que é o mobutismo, senhor Presidente?"

"-Ao que se sabe, V. Exa. considera-se um político "nem de direita, nem de esquerda". Podemos concluir que é um não-alinhado, ou um homem de centro, no conceito europeu destas palavras?"

"-Apesar da instabilidade reinante em África, no Zaire, com os seus 30 milhões de habitantes, parece ter sido conseguido um clima de segurança. Por outro lado, em determinado momento, falou-se de liberalização económica. Passados 20 anos de regime, o que é o Zaire de hoje e que perspectivas de bem-estar e progresso se prevêem?"

"-Particularmente em momentos difíceis, a França e a Bélgica têm sido solidárias com o Zaire. É patente o auxílio da China que, na expressão de V.Exa., coopera "desprovida de cálculo". Que pensa da presença cubana (em Angola, em particular) e da penetração soviética no continente africano?"

"-É conhecido o apetite internacional em relação às riquezas naturais da África do Sul. Na opinião de V.Exa., como resolver a questão do "apartheid" sem transformar aquele país num mar de sangue e num potencial, ainda que disfarçado, feudo soviético-cubano?"

"-Na opinião de V.Exa., que fazer para alcançar uma certa unidade africana, aberta ao exterior, mas liberta de tutelas neo-colonialistas?"

"-A democracia política é possível em África?"

"-Em que medida a experiência africana do povo português tem sido útil ao progresso do Zaire?"

"-V.Exa. quando, em finais de 1983, esteve em Portugal, apelou ao regresso dos portugueses ao Zaire. Entretanto, hoje na porta da embaixada zairense, em Lisboa, lê-se que, de momento, estão encerradas as inscrições para a emigração para este país. Que aconteceu neste domínio ao longo dos últimos dois anos? Houve respostas ao convite feito por V.Exa. em Portugal, aos portugueses?"

"-No plano das relações comerciais, que resultados práticos dos encontros, em Lisboa e no Porto, com centenas de empresários portugueses?"

"-Conhecida, nomeadamente, a sua sua cultura afro-europeia, uma vez retirado da vida política, em que país da Europa gostaria V.Exa. mais de viver: na Bélgica? em França? Ou, por exemplo, em Portugal?"

A resposta não se fez esperar: o Presidente "teve em consideração o (...)" mas "dará nos jardins do palácio uma conferência de imprensa (...) para a qual tem a honra de convidar V.Exa."

Lá fui.

Contudo, contudo... não houve, não houve conferência de imprensa... Ou melhor, houve... dada pelos pavões do presidencial jardim que, amestrados ou não, sobrepuseram os seus repetidos "cânticos" à voz de fundo do ilustre anfitrião... Saímos, assim, en-canta-dos...



Quanto ao meu eventual "feitio perguntador", "engoli-o", com o local desapontamento do "embaixador" Jaime Viana (descanse em paz, Amigo!), quando lhe falei das canoras respostas que, apesar de tudo, tanto divertiram os da comunicação humana presentes.

Acontece...

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Actualidade 3

1.Conversa de um motorista da Carris (em Lisboa,  claro), não percebi com quem, ao telemóvel, enquanto conduzia o 50: "hoje estou a prestar serviço camarário: estou a transportar lixo..."

2.Numa das melhores perfumarias de Lisboa, a pergunta à empregada com 11 (onze) anos de casa:

-"Quando sair, que cheiro espera encontrar lá fora?...
- "Com a sua licença, a... a merda..."

3. No Parlamento - hoje (Estado da Nação):  "obviamente, demita-se!..." - nova versão. 

"Novos" Postos de Transformação da EDP-sugestão ( I )

Alô, senhores Autarcas, alô, senhores Autarcas!... Alô, EDP!...

 Sugestão à Senhora D. EDP e/ou às Sras. D. Autarquias

 Que lancem um desafio (em forma de concurso, digo eu) aos "grafitters" para, com projectos previamente aprovados, "copiarem" a qualidade de trabalho que está patente, por exemplo, em Lisboa, na zona alta do Elevador da Glória,* e pintarem, para já, de alto a baixo, os quatro lados dos Postos de Transformação do concelho da COVILHÃ (a título experimental), já que é aqui que fui buscar a "lembrandura"... Para começar, obviamente.

Reencaminhem a sugestão, antes de falar em impossibilidades. Necessário é não perder de vista a QUALIDADE do a fazer. E transformar os POSTOS DE TRANSFORMAÇÃO em bandeiras de ARTE POPULAR, sem demagogia, claro.

Com eventual acompanhamento dos possíveis artistas das diferentes localidades... Na freguesia do Dominguizo (Covilhã) sei eu que os há (não é verdade, Amigo José Minhoto?) Mas não será por aí que "a coisa" não vai para a frente: Portugal é um país de artistas... É preciso é convocá-los. A sua ajuda no necessário enquadramento é muito importante.


(a ilustração deste "post" fica a aguardar...Contudo, a descrição, actualizada, do visual de um deles está uns decímetros acima...)

* Neste local lisboeta há uma série de "quadros" num espaço a que já chamaram museu de "graffitis". Da responsabilidade da Junta de Freguesia da Encarnação?

 Entretanto, no Centro Cultural de Belém - Museu Berardo estão, nesta altura, em exposição trabalhos dos gémeos "grafitters" Otávio e Gustavo Pandolfo, de S. Paulo-Brasil, que revelam, de forma exuberante, Q U A L I DA D E - que não tem nada a ver, obviamente, com a porcaria que, de uma maneira geral, por aí se vê... E que é preciso dominar ... pela POSITIVA.Com iniciativas positivas. Aplicando "novas" pedagogias... Eventualmente, contagiantes.

A "cabine"

Frente à casa que, nas Traseiras do Litoral, a vontade e o trabalho de décadas, os meus pais me deixaram, há, desde "sempre", um posto de alta tensão herdado pela actual EDP, que, avisando para os perigos que lhe são inerentes, mais parece um gigante em cujo rosto, com alguma atenção, é possível, acreditem, observar traços bem vincados da nossa história das, pelo menos, últimas décadas:


- nos restos dos "slogans" clandestinos que "animaram" a nossa vida política;

- nos vestígios de gravações amorosas que se lhe adivinham;

- na ferrugem das portas e no que aí, na pintura sobrante, sugere mensagens esboçadas;

- nos rasgos deixados pelos carros que o roçaram, nas épocas dos carros de bois e na dos a gasolina e gasóleo de alguns "boys"...


- nos cabos, agora novos, que propõem melhor energia - contra a energia que tiram...


- nas trevas que sempre ameaçaram;


- nas garantias, quase centenárias, que tenta dar, a horas certas, no que respeita ao acordo com a luz ... do dia;


- na referência que constitui, nomeadamente, para quem visita a terra e vem de longe;


- na majestade do seu porte erecto, visível a, pelo menos, uma légua de distância;


- na largueza de horizontes que a sua imponência e...e alta tensão impõem, seja qual for o Poder Local;


- no erro de ortografia que, apesar de estar patente à beira de uma escola, a não tem contaminado: "Alta tenÇão";


- no Perigo de Morte que nunca passou de aviso. Que se saiba...


- no facto, quase ímpar, de não precisar de mudar de fachada para cumprir a sua função pública;


- na janela sempre fechada, onde ninguém aparece a ver-me espreguiçar;


- na modéstia da sua vulgaridade exterior;


- no respeito que passou, de há uns tempos a esta parte, a impor aos responsáveis pela "vegetação" circundante, em particular, nos verões quentes...


- no "ex-libris" que é e deu luz a quem ma deu...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Pensar Tomás de Kêmpis - hoje

Leio "Imitação de Cristo" e tento conjugar o verbo acreditar na primeira pessoa do presente do indicativo. Contudo...

"Todos somos fracos, mas a ninguém se tenha por mais fraco do que tu."

Propõe-se o desrespeito pelo Equilíbrio e o esmagamento da personalidade?

"Todos os homens, naturalmente, têm sede de saber. Mas de que aproveita a ciência sem o temor a Deus?"

Quem não acredita não pode ser útil ao seu semelhante?

"Não tenha demasiado desejo de saber, porque dele advém muita distracção e engano."

Apologia da ignorância?

"O verdadeiro sábio é aquele que faz a vontade de Deus e não a sua."

Que pretendeu o Criador ao "fazer-me existir?..."

"Nada perdes em te considerar inferior a todos; mas perderás muito, mesmo muito, mesmo que abras uma só excepção."

Esmagamento psíquico?

"Foge quanto puderes do tumulto dos homens, pois o bulício da vida em sociedade traz embaraços..."

Como? Bicho?...

"Muitas vezes fracassaram gravemente, por muita confiança em si mesmos, os que eram tidos por melhores na opinião do mundo."

Bravo!

"Para que querer ver o que te não é lícito possuir?"

Porque admiro a Obra e, com o espírito crítico que me deram, tudo o que dela o Homem fez.

"Miserável és, onde quer que estejas e em qualquer parte onde vás, se não te convertes a Deus."

Guerra Santa?...

"Castiga agora o teu corpo pela penitência, para que possas ter uma confiança certa."

Sempre em penitência? Só em penitência???

"Quem se lembrará de ti depois de morreres? Quem rezará por ti? Faz agora, caríssimo, o que puderes, pois não sabes quando morrerás e ignoras também o que sucederá depois da morte."

Boa, Tomás de Kêmpis!

"Se começas a ser tíbio começarás a sentir-te mal. Mas, se procurares ter fervor, acharás grande paz e sentirás mais leve o trabalho (...)"

Isso, Tomás! É isso!!!

"Alegrar-te-ás à noite, se gastares com bom fruto o dia."

Depende... Estou a ler-te, Tomás de Kêmpis, no século XXI... Mas compreendo-te: dizem-me que viveste no século XV... Se vivesses agora, gostaria de saber o que pensas de uma certa vida nocturna... Adiante.

"Mais útil é o homem pacífico do que o letrado."

Não estavas a fazer a apologia da ignorância, pois não, caro Tomás?...

"Onde estás, quando não estás contigo?"

Quiseste-me falar de Deus, eu sei. Mas talvez te tenhas esquecido de referir o meu semelhante... E agora o problema é, além do mais, o egoísmo.

"Tem boa consciência e terás alegria perpétua."

Perpétua? Ainda um dia destes, apesar de tudo, as coisas não me correram bem...

"Prepara-te mais para sofrer do que para ser consolado."

Que vida triste, meu Deus!

"Nem tudo o que é alto é santo, nem tudo o que é doce é bom, nem tudo o que é desejo é puro, nem tudo o que o homem ama é amado por Deus."

Então, Senhor, para que me criaste? Queres que viva infeliz?

"Como me atreverei a chegar a Vós, eu que não sinto em mim bem algum que possa dar-me confiança bastante para ir a Vós?"

E se eu, ao longo da vida toda, me confessar regularmente? Para Ti, Criador, o perdão é inacessível? Fizeste-me apenas para sofrer?

"Ai dos ricos, que têm neste mundo as suas consolações, porque, quando os pobres entrarem no reino de Deus, eles ficarão chorando do lado de fora."

Senhor, diz-me sem ironia, de que lado está, em Portugal, por exemplo, o cristão Belmiro? E a ateia Intersindical?

"Os santos dar-se-iam por muito contentes, se os homens soubessem contentar-se e permanecer nos limites da sua franqueza, reprimindo a liberdade dos seus discursos."

Escrito no século XV!

"Se queres ser perfeito, abre a mão de tudo o que tens."

Deus me livre, diria agora que a Crise está aí...

"A natureza queixa-se facilmente do que lhe falta e do que lhe é penoso."

E peca por isso, Deus meu? Se são tantas as virtudes necessárias para Estar, será que nos Fizeste para desejar não Ser?...

"Os dias deste mundo são poucos e maus, cheios de dores e misérias."

Mas, Senhor, não me perguntaste se eu queria Estar... Disseste-o, por acaso, a meus pais? Ou quiseste-me na dor para oferecer o Paraíso, com gente a chorar à volta do meu cadáver, apesar de, eventualmente, rodeado de imagens significando Amor Eterno?

"Ira-te contra ti mesmo e não sofras que a soberba te domine. Mostra-te todo pequeno e humilde que todos possam andar sobre ti, como se anda sobre a lama das ruas."

NÃO! Não me Criaste para isso, Senhor! NÃOOO!

Festa na aldeia


Durante 50 anos o sr. prior terá "impedido" (diz-se) o "profano" das festas populares, algures, nas Traseiras do Litoral. Era pública a excepção: chegada a altura, limitava o seu ámen a um fungagá junto às paredes da igreja, onde mandava (e, com certeza, vai continuar a mandar) montar, em data certa, uma banquinha para o peditório que religiosamente era escriturado por um amigo de sacristia que sempre o acompanhava (há quem diga que se tratava (trata) do registo dos "fiéis donatários...", mas devem ser más línguas...)

O que é certo e merece apontamento é que, há dias, sabe-se lá porquê, as coisas mudaram mesmo e...e, pela primeira vez (que o pessoal se lembre), houve um "sim" ao tal profano ("é para onde lhe atira o rato...", comenta-se à chucha-calada) - exactamente à roda da igreja de todas as faladas proibições.

Milagre! terão dito alguns. Com razão, digo eu que, sem querer ser ateu e estando lá por acaso, fiquei com a sensação de que a alegria do povo era tanta, e a música tão convidativa, que não foi difícil imaginar, no interior da igreja, rodeada de tendas as mais diversas, Filho e Mãe, apesar de tudo, às escondidas do senhor prior, a não resistirem a um discreto pèzinho de dança, na sacristia, enquanto cá fora, pelos modos, alguns (poucos) mais ortodoxos fiéis apenas às velhas práticas, se entretinham a resmungar pelos cantos.

No meio de tudo e não menos surpreendente, terá sido ainda a comovente ideia de reiniciar homenagens a quem do seu ganha-pão terá feito prosperidade geral - o Farrapeiro ("...ai, minha mãe, tanta terra que engulo nos farrapos..."), agora pretexto para a festança de três dias, com beneplácito camarário e...e religioso. Divulgada sem chama, mas, finalmente, bem conseguida, quiçá, por um dos que menos se vê.

Parabéns! Inauguraram-se candeeiros no adro (onde continuam a faltar as prometidas flores, faz-se notar) o comércio local, e não só..., amealhou mais uns centimositos, houve saúde nos convívios, comes e bebes, música para vários gostos à volta da igreja que, materialmente, até ganhou obras na estrutura e, em parte, telhado novo contra as intempéries.

Milagre!

Foi milagre, senhor Prior!

terça-feira, 13 de julho de 2010

Porque sim...

Antigamente, reza a memória dos mais velhos, era tradição, numa aldeia das Traseiras do Litoral, pela calada da noite de S.Pedro, os jovens irem a todos os vasos com flores que encontravam a jeito para, de
   seguida, os irem pôr à porta das raparigas que gostariam de levar ao altar.
   Perdeu-se, entretanto, o que teria uma dose de amor e ternura para agora ser transformado na coisa sem    romantismo e incómoda que é, pela calada da noite, levar vasos distraidamente deixados a jeito para as redondezas da igreja local.

Resultado: quem se lembra do que pode acontecer, retira para lugar seguro as flores que emolduram a sua casa  e a "rapaziada" exercita o seu "heroísmo", actualmente, sem nexo. E lá "cumpre" uma irreverência - porque sim...

Bom seria que, em vez disso, fosse com o senhor presidente da Junta falar com o senhor presidente da Câmara para mandar florir o dito adro, conforme prometido (há uns 3 anos), "aqui ao lado", em presidencial cantinho camarário.








Se já não há noivas, alegrar-se-iam as que já foram ou, livremente, escolheram "juntar-se"...

"Já não sou eu..."


Na aldeia, às vezes, o que perdura... Numa frase, a saudade da escola que, durante mais de 30 anos, asseou e encheu de flores do seu quintal:


"... já não sou eu que toco a campaínha..."

Adélia

EUROCRUZalhada (2010 d. C.)

Recuemos, ou avancemos, com Oliveira Martins * :


"Quando as nações, depois de uma lenta e longa elaboração, atingem esse momento culminante em que todas as forças do organismo colectivo se acham equilibradas e todos os homens compenetrados por um pensamento, a que se pode e deve chamar alma nacional - porque o mesmo carácter tem nos indivíduos aquilo aque chamamos alma -, é então que se dá um fenómeno a que chamaremos síntese da energia colectiva. A nação aparece como um ser não apenas mecânico, quais são as primeiras agregações; não somente biológico, como nas épocas de mais complexa e adiantada organização; mas sim humano - isto é, além de vivo, animado por uma ideia. Nestes momentos sublimes em que a árvore nacional rebenta em frutos, o génio colectivo já definido nas consciências realiza esse mistério que as religiões simbolizaram na encarnação dos deuses. Encarna , desce seio dos indivíduos privilegiados: e dessa forma, adquirindo o que quer que é forte que só no coração dos homens existe, actua de um modo decisivo e heróico."


"Espanha equilibrada (?)", a quanto te atreverás EURO? Acaso vais obrigar a "casamentos de conveniência"?


Começaremos por uma "jangada de pedra"?









Temos "Uma Ideia"?


* in História da Civilização Ibérica

Versos à espera da juventude

Às vezes, eram umas doze, quinze ou mais mulheres que, da aldeia, desciam à beira do Zêzere, para tocar a roda e irrigar lodeiros até que o sol, na sua função de relógio público, aconselhasse regressos.

Assim era, aliás, também quando se tratava de lavar roupa. Neste caso, porém, a azáfama refinava: ensabuar, corar, lavar, secar e encher alguidares com os asseios, era a função - paga, como as demais, há 50 anos, a 7$50 por dia (razoavelmente, diz-se).

Tudo a tempo de um regresso com luz suficiente para que na aldeia, quem assomasse à janela, visse no cimo dos alguidares as melhores e mais bonitas das peças lavadas e enxugadas em mais uma jornada a intercalar a tarefa principal de escolher, em armazéns próprios, farrapos, isto é, "amassar" pão para muitos e fazer a prosperidade de alguns...

E cantava-se, dizem-me antes que se perca:

Dominguiso não entristece
Antes parece mais belo ainda
Não há terra como esta
Sempre modesta, sempre tão linda

Em dias de romaria
Tens alegria, tens devoção
E no ar a passarada
Canta a desgarrada
Com todo o afã

Logo de manhã
Com todo o afã
Lá vão ranchos a passar
E alegremente acaba com a gente
Tudo vai a trabalhar

Aldeia de sonho
Recanto risonho
Das canções e do luar
Em noites de estrelas
Lá pelas vielas
Uma aldeia sem par

Viva o Dominguiso
Que é terra de flores
Viva o Dominguiso
Terra de amores

Viva o Dominguiso
De gente pura e sã
Viva o Dominguiso
A seguir à Covilhã

S. Sebastião, por sinal
Ficou mesmo em Portugal
Ao fundo do Dominguiso (bis)
Lá no meio do olival.

Venha quem acrescente, canto eu, que sou do tempo de
minha mãe, que era do tempo de
minha avó, que era do tempo
da ... 













Venha quem acrescente, neste tempo de pesquisa...