Antigamente, quando ia à aldeia, lembro-me de procurar sombra numa das dez árvores que, a meu ver, eram as mais frondosas e acolhedoras da terra. Havia por lá sempre, já na altura, muitos arbustos que dir-se-iam parentes próximos do fresco que se lhes sentia à volta. Mas não era a mesma coisa. Para mim, aquelas árvores estavam ali desde sempre. E eu sabia que, se um dia morressem, morreriam de pé...
E assim se passaram anos. Anos que não as levaram todas de uma vez, não! Primeiro, se a memória não me falha, morreu aquela a que me apetece chamar "a mais alegre"...
Depois, pouco a pouco, enquanto alguns arbustos medravam, foram caindo, das dez, nove, e com elas as folhas que teimavam continuar. Até que...até que aconteceu o inevitável: mais estragada do que carcomida, desapareceu a última, a décima árvore, para não sei bem onde (não consigo encontrar tabuleta do que de si possa ter restado fisicamente)...
Para quem, como eu, se acolhido, como se diria agora, por sombras fixes, é doloroso sentir "ao que as coisas chegaram..."
Não é que, onde havia árvores frondosas, haja nesta altura ervas daninhas, não! Mas...
"É a vida...", dirias Tu, Minha Mãe, que, bastas vezes, lá me levaste pela mão. Claro que sim, claro que sim...
É, de resto, por isso que, com pedras e suores anónimos, se fez o abrigo donde, à janela, sonho agora mais do que vejo. É lá que saúdo agora os que comigo, por vezes, se acolheram a sombras, para eles, idênticas às que saudavam a minha presença - nem sei há quantos anos, quando, ao longe, se ouvia o combóio apitar.
Uma coisa aprendi: saudade é coisa com orvalho fertilizante... Mas aprendi mais: aprendi a cortar ervas daninhas e a regar flores.
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