sexta-feira, 22 de outubro de 2010

"O POETA" - livro a haver (2/3 páginas, de umas 150...) - II

Foto Mónica Ponce
"(...) Porém, tudo se passava com o ar mais natural do mundo, ainda que em mágica constante, fazendo a aldeia sair duns miseráveis trapos a properidade em que, à primeira vista, ninguém acreditava. Com efeito, havia como que uma camuflagem permanente que encobria uma profunda e arreigada ganância feita, em especial, a partir daquilo que a cidade rejeita. À indústria do novo dos teares da Covilhã e do Tortosendo, respondia o Dominguizo com o armazenamento e a escolha do que os grandes centros dizem não querer. Na verdade, a aldeia alimentava-se dos dejectos multicores que a vila e a cidade transformam dia e noite.
Era a modos que uma próspera estação de tratamento de esgotos-têxteis.

Nem se percebe bem que tenha igualmente ligado a sua vida à emigração. Há quem relacione esta, finado o período manual, com as crises por que, às vezes, passa a indústria dos tecidos que, a poucos quilómetros, lhe serve de base, mas entendem outros que os homens emigram mais por força de um certo materialismo fecundado na luta dos negócios de farrapos do que a pretexto de qualquer outro argumento de ordem económica.

Diz-se, porém, que a razão talvez esteja do lado dos que atribuem as saídas à dureza no amanho das terras a que, alguns se dedicavam e a que só ti Jaquim Badaladas e outros dois ou três homens de mais de sessenta anos permanecem fiéis. A fundo a fundo, ninguém no povo, contudo, é capaz de dissertar sobre a emigração. Nem interessa. O que se sabe é que o campo se despovoou sem que os farrapos lhe conseguissem absorver os excedentes humanos.

Depois...depois os que ainda eram pobres de pedir deixaram de o ser..."(...)

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