domingo, 19 de dezembro de 2010

A viagem

D. Política, adiposa, quezilenta, palavrosa, frustrada, egocêntrica - e velha -, entrou no autocarro que dizia S. Bento e zumba!, sentou-se no primeiro lugar que encontrou, bunda esmagada contra mais do meio estofo que lhe cabia por direito de tarifa. Depois, depois meteu conversa com toda a gente e começou a perorar acerca de concertação social, para o povo que, sujeito aos solavancos do percurso, ía de pé, como na véspera e na antevéspera e na véspera da antevéspera, e quase sempre.

Apesar de tudo, estabeleceu-se o diálogo. Ou melhor, gerou-se uma espécie de diálogo, feito de monólogos cruzados: de um lado, a velha, mais assento do que o resto, do outro, pelos modos, os do antigo bilhete operário, privados de lugar onde poisar ossos e arranjar pachorra para ouvir falar, a caminho de casa, de concertação social, e, nos corredores, do emprego, de despedimentos - sem conserto.












E foi toda a viagem assim. Como de costume.

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