Carta de Soror Mariana Alcoforado para ler baixinho, como quem reza, no silêncio da casa, a um canto, só ...
"Escrevo-lhe pela última vez, e espero fazer-lhe saber, pela diferença dos termos e do tom desta carta, que, finalmente, me persuadi de que já não me amava e que, portanto, também devo deixar de o amar. Vou, pois, enviar-lhe, pelo primeiro portador, tudo o que ainda me resta de si.
Não receie que eu lhe escreva; nem sequer porei o meu nome na encomenda. Encarreguei de tudo Dona Brites, a quem eu tinha acostumado a confidências bem diferentes desta. Os cuidados dela ser-me-ão menos suspeitos do que os meus; ela tomará todas as precauções necessárias, a fim de que eu possa ficar certa de que recebeu o retrato e as pulseiras que me deu.
Quero, no entanto, que saiba que, de há alguns dias a esta parte, sinto vontade de queimar e destruir estes testemunhos do seu amor que me eram tão caros; mas mostrei-me tão fraca consigo que nunca acreditaria que eu pudesse ser capaz de tais extremos. Desejo, pois, gozar de toda a dor que tive ao separar-me deles e causar-lhe também a si algum despeito.
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Bem vejo que estou ainda mais ocupada do que devia com as minhas censuras e com a sua indiferença. Mas lembre-se de que prometi a mim própria um estado mais sereno e que lá hei-de chegar! Ou, então, tomarei contra mim alguma resolução extrema, de que tomará conhecimento sem grande desgosto.Mas nada mais quero de si.
Sou uma louca em voltar a dizer o mesmo tantas vezes! É preciso que o deixe e que não volte a pensar em si. Julgo mesmo que não voltarei a escrever-lhe.Tenho alguma obrigação de lhe dar contas dos meus actos?"
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