domingo, 27 de março de 2011

Dia T - T de Teatro

Carta de Soror Mariana Alcoforado para ler baixinho, como quem reza, no silêncio da casa, a um canto, só ...

"Escrevo-lhe pela última vez, e espero fazer-lhe saber, pela diferença dos termos e do tom desta carta, que, finalmente, me persuadi de que já não me amava e que, portanto, também devo deixar de o amar. Vou, pois, enviar-lhe, pelo primeiro portador, tudo o que ainda me resta de si.

Não receie que eu lhe escreva; nem sequer porei o meu nome na encomenda. Encarreguei de tudo Dona Brites, a quem eu tinha acostumado a confidências bem diferentes desta. Os cuidados dela ser-me-ão menos suspeitos do que os meus; ela tomará todas as precauções necessárias, a fim de que eu possa ficar certa de que recebeu o retrato e as pulseiras que me deu.

Quero, no entanto, que saiba que, de há alguns dias a esta parte, sinto vontade de queimar e destruir estes testemunhos do seu amor que me eram tão caros; mas mostrei-me tão fraca consigo que nunca acreditaria que eu pudesse ser capaz de tais extremos. Desejo, pois, gozar de toda a dor que tive ao separar-me deles e causar-lhe também a si algum despeito.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 

Bem vejo que estou ainda mais ocupada do que devia com as minhas censuras e com a sua indiferença. Mas lembre-se de que prometi a mim própria um estado mais sereno e que lá hei-de chegar! Ou, então, tomarei contra mim alguma resolução extrema, de que tomará conhecimento sem grande desgosto.Mas nada mais quero de si.

Sou uma louca em voltar a dizer o mesmo tantas vezes!  É preciso que o deixe e que não volte a pensar em si. Julgo mesmo que não voltarei a escrever-lhe.Tenho alguma obrigação de lhe dar contas dos meus actos?"

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