terça-feira, 30 de setembro de 2014
Aditamento ao auto-retrato inicial obrigatório
Eventual repetição, isto é, caso de ANOSOGNOSIA
(ver post com este título)
Um dia o GOOGLE, simpático, achou por bem
destacar esta fotografia pessoal. Só não disse,
entretanto, uma "coisa essencial": o fotografado
tem na pele com que, por vezes, se apresenta,
o mapa-múndi que, não raro, lhe alimenta a prosa
que, AQUI, já ultrapassou, largamente,
como se sabe, as 6000 mensagens.
O que, não sendo um bem,
pode "ter piada" enquanto mal ... Aliás, a verdade
do que se escreve tenta ser tão grande
que até se presta a estas eventuais "graças" ...
Com a colaboração dos "donos oficiais do espaço",
que, anteontem, generosos, voltaram a destacar
mais uma fotografia M.A., (Fundação Gulbenkian - auditório 1)
publicada na ruadojardim7.
A Volta à Rua em Inspirações Diversas
Helena Vasconcelos, em mais uma Comunidade de Leitores, convida-nos para, no dia 27 de Novembro próximo, iniciarmos com ela uma nova série de conversas acerca dos livros que, em tempo oportuno, teve oportunidade de sugerir pelos meios de que conseguiu dispor. Ora o primeiro é, nem mais nem menos, A VOLTA AO DIA EM 80 MUNDOS, de Julio Cortázar.
Já aqui o tenho à espera da leitura que se impõe. Mas ... mas acontece, guardadas as óbvias e devidas distâncias, que, para debate, pessoalmente, não me poderia ter acontecido melhor: não dou (aqui) a volta ao dia, claro; não vivo em 80 mundos, é evidente. Mas como, pulga (também salto de tema para tema como quem é Cortázer), gosto da ideia ... E tentarei dizer sim ao "debate" na Comunidade (que também é de leitores), sugerida por H.V..
Não sem, à partida, me atrever a citar o tal Cortázar:
"... Nos oitenta mundos da minha volta ao dia há portos, hotéis, camas para os cronópios (cronópio: palavra inventada por Cortázar que designa um indivíduo de personalidade ingénua, idealista, desorganizada, diametralmente oposto às "famas") e além disso citar é citar-se, não sou o único a dizê-lo e a fazê-lo, com a diferença de que os pedantes citam por que fica bem, e os cronópios porque são terrivelmente egoístas e querem açambarcar os seus amigos, tal como eu a Lester, Man Ray e todos os que se seguirão, Robert Lebel, por exemplo, que descreve este livro na perfeição quando diz: "Tudo aquilo que vê nesta divisão, ou melhor, neste armazém, foi deixado pelos inquilinos anteriores; por conseguinte, não verá grande coisa que me pertença, mas eu prefiro estes instrumentos do acaso. A diversidade da sua natureza impede-me de me limitar a uma reflexão unilateral."
Cá está. Com a devida vénia: imodestamente, cá estou ... na ruadojardim7 - tão diverso quanto as pessoas que daqui se aproximam. E cumprir, citando. Para que haja conversa. Embora se note, nos últimos tempos, a escassa presença de comentários ... Já acabou a censura. Já não há PIDE, que se saiba... Nem Legião.
Já aqui o tenho à espera da leitura que se impõe. Mas ... mas acontece, guardadas as óbvias e devidas distâncias, que, para debate, pessoalmente, não me poderia ter acontecido melhor: não dou (aqui) a volta ao dia, claro; não vivo em 80 mundos, é evidente. Mas como, pulga (também salto de tema para tema como quem é Cortázer), gosto da ideia ... E tentarei dizer sim ao "debate" na Comunidade (que também é de leitores), sugerida por H.V..
Não sem, à partida, me atrever a citar o tal Cortázar:
"... Nos oitenta mundos da minha volta ao dia há portos, hotéis, camas para os cronópios (cronópio: palavra inventada por Cortázar que designa um indivíduo de personalidade ingénua, idealista, desorganizada, diametralmente oposto às "famas") e além disso citar é citar-se, não sou o único a dizê-lo e a fazê-lo, com a diferença de que os pedantes citam por que fica bem, e os cronópios porque são terrivelmente egoístas e querem açambarcar os seus amigos, tal como eu a Lester, Man Ray e todos os que se seguirão, Robert Lebel, por exemplo, que descreve este livro na perfeição quando diz: "Tudo aquilo que vê nesta divisão, ou melhor, neste armazém, foi deixado pelos inquilinos anteriores; por conseguinte, não verá grande coisa que me pertença, mas eu prefiro estes instrumentos do acaso. A diversidade da sua natureza impede-me de me limitar a uma reflexão unilateral."
Cá está. Com a devida vénia: imodestamente, cá estou ... na ruadojardim7 - tão diverso quanto as pessoas que daqui se aproximam. E cumprir, citando. Para que haja conversa. Embora se note, nos últimos tempos, a escassa presença de comentários ... Já acabou a censura. Já não há PIDE, que se saiba... Nem Legião.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
António Costa e o Terreiro do Paço
António Costa ganhou o lugar de "primeiro-ministro" do Partido Socialista português. Penso que bem. Mais do que "conversa fiada", tem no seu capital político e social, nomeadamente, uma Câmara Municipal de Lisboa capaz de obra que nunca se lhe tinha visto. Mas a exigência é grande e para o caso de vir a ser Primeiro-Ministro, o mínimo que se lhe exige é que transforme Portugal como transformou o alfacinha Terreiro do Paço cinzento naquele que agora é visível e, democraticamente, passeio público para toda a gente. E, para começar, mais não se lhe pede - aqui, no banco que, no caso, é frequentado pelo Zé.Que sabe pouco de política. A que, aliás, continua, como antepassados seus, a chamar PORCA.
Desobediência civil reprimida em Hong Kong
António Costa ganha em Macau
António Costa ganha primárias em Macauby Ponto Final |
“Julgo que é o resultado que, regra geral, toda a gente estava à espera, que o camarada António Costa ganhasse as eleições, era o resultado que as últimas sondagens já vinham indicando”, disse o coordenador da secção do Partido Socialista em Macau, José Rocha Dinis, em declarações à TDM.
As urnas em Macau abriram ontem às nove da manhã para acolher o voto de 57 residentes registados para as eleições primárias do partido Socialista de Portugal, as primeiras realizadas no país. Ao longo do dia, 42 militantes e simpatizantes a exerceram o direito de voto, na Casa de Portugal.
A afluência foi considerada “satisfatória”, pelo coordenador do PS em Macau. “Acho que toda a gente fica satisfeita, uma vez que de 57 pessoas nos cadernos eleitorais votaram 42, o que significa uma votação de 73 por cento, o que é uma coisa que em Macau não é muito normal. Mostra o interesse que estas eleições tiveram junto de todos os portugueses”, disse José Rocha Dinis.
As urnas fecharam às 19 horas, os resultados foram conhecidos cerca de meia hora depois dando a vitória em Macau a António Costa, que disputa as eleições primárias contra António José Seguro. Perto de 250 mil simpatizantes e militantes socialistas encontravam-se inscritos para estas eleições em Portugal. As primárias do PS elegem o próximo líder do partido e candidato a primeiro-ministro para as eleições legislativas de Outubro de 2015.
Para José Rocha Dinis, estas eleições são sobretudo ocasião para o partido se unificar. “O importante agora é que a partir de amanhã [hoje] haja oportunidade de unir o partido, isto são eleições para que o país saia mais coeso, mais forte mais unido”, afirmou o coordenador do PS em Macau.
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domingo, 28 de setembro de 2014
Prontuaríssimo
Prontuaríssimo pretende ser uma espécie de breviário linguístico. Mais claro, com base testada - aqui e aqui ao lado: se quer escrever em órgãos de informação generalista (regionais, nacionais e/ou blogues) e tem natural expectativa de ser lido, não deixe de considerar, nos títulos e/ou subtítulos do que escreve, palavras-chave como:
. ADULTÉRIO
. BAGUNÇA
. CATACLISMO
. PELINTRA
. DESGRAÇA
. TREZE
. PAPA-HÓSTIAS
. FALSIFICAÇÃO
. SABUJICE
. SÓRDIDO
. SATÂNICO
. TRAMÓIA
. FEMEEIRO
. VENAL
Será lido de certeza. Consulte antes e depois as estatísticas e, a seguir, confirme (ou não).
. ADULTÉRIO
. BAGUNÇA
. CATACLISMO
. PELINTRA
. DESGRAÇA
. TREZE
. PAPA-HÓSTIAS
. FALSIFICAÇÃO
. SABUJICE
. SÓRDIDO
. SATÂNICO
. TRAMÓIA
. FEMEEIRO
. VENAL
Será lido de certeza. Consulte antes e depois as estatísticas e, a seguir, confirme (ou não).
O supermercado verbal do sr. Luís e uma sugestão
O supermercado verbal
O senhor Luís era um merceeiro que, nos anos 40 do século passado, vestido a rigor (bata às riscas), exercia a sua função numa loja, em Lisboa, na rua de Santo António, à Estrela. E que, à falta de uma superfície comercial que facilitasse o livre acesso dos seus clientes, directamente, a todos os produtos ao dispor, tinha "uma espécie de supermercado VERBAL". Isto é, mal o cliente se aproximava do balcão do seu acanhado estabelecimento, desatava a enumerar, com grande rapidez, os principais artigos expostos, como que a recordar existências ...
E assim andou até que começaram a aparecer os supermercados e ... e o sr. Luís, não aguentando a concorrência, deixou de gastar a saliva com que poupava passos à clientela e ... e vendia com desembaraço e agrado dos Exmos. Fregueses.
Sugestão actualizada da versão do sr. Luís
Ao sr. Belmiro & Cª com vista à dinamização/humanização do comércio a retalho
Cada vez que um cliente, no supermercado, mexa num artigo exposto, se oiça, envolta em música celestial, uma voz (suave) a recomendar, a sugerir, a compra do produto X ou Y, eventualmente, complementar do pretendido ...
O senhor Luís era um merceeiro que, nos anos 40 do século passado, vestido a rigor (bata às riscas), exercia a sua função numa loja, em Lisboa, na rua de Santo António, à Estrela. E que, à falta de uma superfície comercial que facilitasse o livre acesso dos seus clientes, directamente, a todos os produtos ao dispor, tinha "uma espécie de supermercado VERBAL". Isto é, mal o cliente se aproximava do balcão do seu acanhado estabelecimento, desatava a enumerar, com grande rapidez, os principais artigos expostos, como que a recordar existências ...
E assim andou até que começaram a aparecer os supermercados e ... e o sr. Luís, não aguentando a concorrência, deixou de gastar a saliva com que poupava passos à clientela e ... e vendia com desembaraço e agrado dos Exmos. Fregueses.
Sugestão actualizada da versão do sr. Luís
Ao sr. Belmiro & Cª com vista à dinamização/humanização do comércio a retalho
Cada vez que um cliente, no supermercado, mexa num artigo exposto, se oiça, envolta em música celestial, uma voz (suave) a recomendar, a sugerir, a compra do produto X ou Y, eventualmente, complementar do pretendido ...
Portugal: 28 de Setembro de 1974.Intentona ou inventona?
Segundo a Wikipédia, aqui ao lado:
"Maioria silenciosa é a designação pela qual ficou conhecida em Portugal a iniciativa política de alguns sectores conservadores da sociedade portuguesa, civil e militar, que decidiram organizar uma manifestação, em 28 de Setembro de 1974, de apoio ao então Presidente da República General Spínola. A manifestação visava o reforço de posição política deste militar.
O Brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho do COPCON e o Ministro da Defesa Mário Firmino Miguel reagem. O Ministro da Comunicação Social lê um comunicado do Governo Provisório na Emissora Nacional, emitido de meia em meia hora. A manifestação é interditada pelo MFA. Os partidos políticos de esquerda distribuem entretanto comunicados apelando “à vigilância popular” e denunciam as tentativas contra-revolucionárias dessa minoria tenebrosa. São levantadas barricadas populares nos acessos a Lisboa e noutras localidades. Durante a noite, grupos de militares tomam o lugar dos activistas civis. São detidas várias figuras políticas afectas ao velho regime, quadros da Legião Portuguesa e alguns manifestantes.
António de Spínola tenta entretanto reforçar o poder da Junta de Salvação Nacional, que comanda, e, em vão, estabelecer o estado de sítio. Em consequência disso, a Comissão Coordenadora do MFA impõe-lhe a demissão dos três generais mais conservadores do grupo: Galvão de Melo, Manuel Diogo Neto e Jaime Silvério Marques. Derrotado, Spínola demite-se a 30 de Setembro do cargo de Presidente da República, sendo substituído pelo general Costa Gomes. No seu discurso de renúncia, Spínola denuncia certas políticas do governo e prenuncia o caos, a anarquia e “novas formas de escravatura”.1
Com a “vitória sobre a reacção” e a derrota da direita civil, declaradas pelo então Primeiro Ministro Vasco Gonçalves, fecha-se assim o que seria considerado o primeiro ciclo do PREC. Vários apoiantes militares de Spínola fogem para o estrangeiro."
Garcia Leandro e a devolução de Macau à China
Garcia Leandro foi acusado em 1975 de ter apresentado à China a devolução de Macau. Desmentiu-o e continua a desmenti-lo. O autor da proposta, afinal, terá sido outro e até foi destituído pelo então Governador.
in PONTO FINAL
João Paulo Meneses
Não fosse Garcia Leandro teimoso e o assunto provavelmente já teria sido esquecido. Mas esquecido não significa esclarecido – e é isso que o antigo governador de Macau tem tentado fazer ao longo dos anos, não desperdiçando as oportunidades para contestar uma versão que foi amplamente difundida na segunda metade da década de 70 do século passado: que ele, em nome de Portugal ofereceu (por mais do que uma vez), a devolução de Macau à China.
Esclarecer e desmentir esta versão foi, aliás, um dos propósitos de Garcia Leandro quando publicou o seu livro de memórias macaenses (“Macau nos Anos da Revolução Portuguesa 1974-1979”).
O general conta mesmo que confrontou o professor Sonny Lo, quando este esteve em Lisboa, e que Sonny Lo reconheceu que não tinha provas do que escreveu em pelo menos duas obras: “Aspects of Political Development in Macao” (The China Quarterly, n.º 120) e “Political Development in Macau” (The Chinese University Press, 1995).
O que é que escreveu Sonny Lo? Que “Portugal offered to return Macao to China three times between 1974 and 1977”, frase que foi depois citada por Moisés Silva Fernandes.
O que o professor Sonny Lo disse, em Maio de 2009, no Centro Científico e Cultural, foi: a ter sido verdade que Portugal ofereceu Macau à China no âmbito das Nações Unidas, isso aconteceu apenas numa base informal.
O PONTO FINAL contactou o professor Sonny Lo para tentar esclarecer melhor esta questão e o investigador reafirmou a falta de provas, mas introduzindo uma cambiante: a sua fonte de informação foi outro académico de Hong Kong, Hungdah Chiu, que o escreveu na publicação "Introduction," in Hungdah Chiu et al, “The Future of Hong Kong” (New York: Quorum Books, 1987), p. 8.
Sonny Lo assume poder estar errado, já que não tinha informações sobre as negociações entre Portugal e a China e não tem provas de que assim tenha acontecido, insistindo na hipótese de uma proposta meramente verbal.
Infelizmente não foi possível obter outras informações por parte de Hungdah Chiu, que morreu em Abril de 2011. Ainda antes dessa data foi contactado igualmente pelo PONTO FINAL, mas há muito que já não era possível obter informações, por motivos de saúde.
Os esforços de Garcia Leandro encontraram, ao longo destes anos, uma enorme adversidade: uma notícia do New York Times, com data de 1 de Abril de 1975, garante que foi o próprio a fazer essa oferta, no dia 10 de Junho do ano anterior, a Ho Yin (pai de Edmund Ho).
Embora as notícias (e os desmentidos...) sobre a hipotética devolução de Macau tenham começado logo a 1 de Junho de 1974, com uma noticia de primeira pagina do Hong Kong Standard, foi essa noticia do jornal norte-americano que mudou a forma como o processo decorreu.
Face à noticia assinada por David Binder, o então Governador de Macau não esteve de modas: disse que só podia ser uma “brincadeira do Primeiro de Abril”. Ho Yin apoiou-o, desmentindo que alguma vez tivesse proposto a entrega de Macau. E Almeida Santos considerou o artigo do NYT uma “mentira” e “especulação mal intencionada”, que tinha em vista atrapalhar os esforços de Lisboa no processo de descolonização em África, segundo escrevia Ricardo Pinto no PONTO FINAL em 2009.
Como afirma Moisés Silva Fernandes (“Contextualização das negociações de Paris sobre a normalização das relações luso-chinesas 1974-1979”, 2010), “apesar dos categóricos desmentidos do ministro Almeida Santos, da Administração portuguesa de Macau e do Governador Garcia Leandro, a versão do New York Times foi aquela que acabou por prevalecer nos meios académicos ocidentais e chineses”. O historiador português elenca aliás, neste artigo, a lista dos vários autores que ao longo das décadas seguintes insistiram na ideia da entrega (ver texto nestas páginas).
Duas conclusões parecem claras nesta altura: que a proposta, mesmo informal, chegou aos ouvidos chineses mas que não foi feita por um responsável político português, e portanto não tinha valor oficial (o que descarta Garcia Leandro).
Mas, então, quem o fez?
Todos os caminhos vão dar ao representante do Movimento das Forças Armadas em Macau, no momento da Revolução de 1974, capitão-tenente Augusto António Catarino Salgado, principal rosto da oposição à continuidade de Nobre de Carvalho como Governador e destituído de funções por Garcia Leandro, quando este sucedeu a Nobre de Carvalho.
O comandante naval Catarino foi um dos fundadores da CDM, a primeira associação cívica criada em Macau e era visto como o líder da facção mais revolucionária dos militares colocados em Macau.
O papel de Catarino Salgado no período de 1974/75 em Macau não está bem estudado, até pela indisponibilidade deste militar da Marinha para o esclarecer. Mas um dos raros historiadores que com ele falou, garante ao PONTO FINAL que sim, que Catarino Salgado fez essa proposta em Macau.
O académico em causa é Josep Sánchez Cervelló, autor do importante livro "A Revolução Portuguesa e a Sua Influência na Transição Espanhola", que entrevistou Catarino Salgado.
Ao PONTO FINAL, o decano da Universitat Rovira i Virgili na Catalunha garante que foi o “primeiro a falar desta questão na minha tese de doutoramento”, revelando que no Arquivo Militar de Lisboa “há uma gravação que fiz ao comandante Catarino Salgado em 8 de Junho de 1986, que fala nisso. De todas as entrevistas que fiz durante dois anos deixei lá uma cópia”.
Catarino Salgado morreu há seis meses e com ele alguns dos factos que seriam importantes para compreender o que se passou. Outro camarada de armas de Catarino Salgado em Macau, o comandante Guerra da Mata, também já faleceu.
No seu livro " A Revolução Portuguesa e a Sua Influência na Transição Espanhola”, Cervelló refere um documento do MFA, de Setembro de 1974, em que a entrega de Macau à China era um dos dois cenários apontados. Não só esse documento tem sido ignorado pelos investigadores, como um outro facto relatado por Cervelló nunca mereceu a devida atenção: Catarino Salgado contou-lhe que "veio incógnito um representante chinês, nós soubemos e tentámos falar com ele, e ao cabo de inúmeras perífrases conseguimos arrancar-lhe a seguinte resposta: 'se nós quiséssemos irmo-nos embora, que fossemos, mas por que queríamos partir se estávamos ali há quatrocentos anos'".
Mesmo que todos os caminhos apontem para Catarino Salgado, parece difícil que alguma vez o assunto venha a ser completamente esclarecido, por falta de interesse de quem tinha obrigação de investigar a história. Garcia Leandro continuará a dar o seu contributo, como aconteceu com um texto que enviou recentemente para o Provedor dos Leitores do Diário de Notícias, mas será caso para dizer que um erro (ou vários, se considerarmos o protagonista, o local e mesmo as datas) muitas vezes repetido, ainda por cima por académicos prestigiados, que se basearam muitas vezes em notícias de jornais, se transforma em verdade.
Uma história mal construída?
Moisés Silva Fernandes (“Contextualização das negociações de Paris sobre a normalização das relações luso-chinesas 1974-1979», 2010, pág 59) inventariou a lista dos académicos que se agarram à tese do New York Times:
- James C. Hsiung defendeu num artigo publicado numa revista científica que “[h]aving first declined Portugal’s offer to return Macao in 1974, Peking then signed an agreement the following year that allowed Portugal to continue to retain the enclave after nominally surrending its sovereignty back to China (p. 47).
- Baseado no mesmo artigo, Zhiduan Deng asseverou num capítulo de um livro que “[i]n 1974 Portugal offered to return Macao to Beijing. This was declined by the Chinese leaders. In the following year, Beijing signed an agreement with Lisbon allowing Portugal to continue its rule over Macao” (p. 292).
- Hungdah Chiu, por seu turno, argumentou, baseando se num despacho da agência
noticiosa norte americana Associated Press. proveniente de Lisboa e publicado no diário The Sun, de Baltimore, em 2 de Fevereiro de 1977, que “the PRC had rejected the Portuguese offer to return Macao to China three times” (p. 8).
- Norman MacQueen argumentou que “[a] report at the end of March 1975, purportedly
from western diplomatic sources, suggested that Peking had been asked directly to accept Portuguese withdrawal and had firmly refused to do so” (p. 168),
- Sonny Lo Shiu hing defendeu que “Portugal offered to return Macao to China three times between 1974 and 1977” (1989, p. 841).
- Finalmente, Julian Weiss afirmou que “Portugal tried twice – in 1967 and 1974 – to turn Macao over to China but the Chinese refused for a variety of strategic reasons” (p. 190).
O que se deduz desta lista, que não é exaustiva, já que outros autores (sobretudo com origem em Hong Kong) repetem sistematicamente a mesma informação, é que nenhum cita uma fonte primária (documento escrito, depoimento, etc.), essencial para a construção da história, já que isso demonstra um conhecimento pessoal directo dos factos. Todos se limitam a fontes secundárias, sendo que, ainda por cima, algumas das fontes primárias ainda se encontram vivas. A começar por Garcia Leandro.
J.P.M.
sábado, 27 de setembro de 2014
Hoje é DIA-MUNDIAL-DA-BOA-VAI-ELA
Em Dia Mundial do Turismo, uma sugestão HONESTA: se viajar em serviço, não se esqueça de que, se estivesse no seu local de trabalho fixo, em princípio, cumpriria um horário que o ocuparia, por exemplo, das 9 à 19 horas, com intervalo para almoço.
Quando se deslocar não se esqueça disso e ... e cumpra-se como cidadão, aumentando a sua cultura (antes das 9 e depois das 19, pelo menos) - que tem a ver com a sua eventual promoção ... mais do que meramente social... Com benefício para toda a gente.
O meu mapa de "peregrino" dá-me, nesta altura, modestamente, como presente, a nível mundial, em cerca de 120 destinos concretos para lá das lusas fronteiras. Cumpri (-me) ou, pelo menos, tentei: primeiro, trabalho, mas, depois, se possível ... boa-vai-ela ...
Não se pode é dizer nada aos colegas que gostam de viajar - mas não viajam ... E acabam por "cumprir" com óbvias dificuldades culturais evitáveis ...
Como se fosse uma crónica: JOVENS MÚSICOS 2014
Todos os anos, por esta altura, a Música está em festa nas salas, nos átrios dos alfacinhas auditórios da Fundação Calouste Gulbenkian, com o diversificado e mobilizador Festival Jovens Músicos.
Os da ruadojardim, apesar de tudo, habituados ao Coreto que, de vez em quando, lhes anima o estar, apareceram lá - e "misturaram-se" com os da festa.
Foi um encontro de e para a juventude de todas as idades. Com gente cheirosa e de ouvidos lavados, creio, na sua maioria.
Houve música de clarinete, de trompa, de violino, de piano e de guitarra. E, novidade, de harpa e acordeão. E deram-se prémios e falou-se, debateu-se o que havia a debater, um pouco como no Jardim, mas com mais saberes, para além dos de "experiência feitos". Se se quiser, houve Festival, festival bem vestido, elegante, cheiroso, com, por exemplo, o Grande Auditório praticamente esgotado, a preços iguais para novos e velhos, com bilhetes pagos a que chamaram convites (se calhar, fugas ao fisco ...).
Quiçá, comete-se aqui uma injustiça (paciência!...) se, do total de jovens músicos presente, se salientar o nome do clarinete laureado, Horácio Ferreira, e do jovem do oboé, ex-laureado, Guilherme Sousa, "que arrasaram" o Zé, em fim de tarde no Auditório Um da Fundação Gulbenkian, sob a direcção do maestro Pedro Carneiro, que teve o olhar e o gesto próprios em todos os momentos da música que encheu os ouvidos de quem esgotou a Sala Maior da festa que, durante três dias, foi arca de sons. Arca de sons 2014 - aberta nos dias 24, 25 e 26 deste Setembro chuvoso, mas morno, prestes a terminar.
Os da ruadojardim, apesar de tudo, habituados ao Coreto que, de vez em quando, lhes anima o estar, apareceram lá - e "misturaram-se" com os da festa.
Foi um encontro de e para a juventude de todas as idades. Com gente cheirosa e de ouvidos lavados, creio, na sua maioria.
Houve música de clarinete, de trompa, de violino, de piano e de guitarra. E, novidade, de harpa e acordeão. E deram-se prémios e falou-se, debateu-se o que havia a debater, um pouco como no Jardim, mas com mais saberes, para além dos de "experiência feitos". Se se quiser, houve Festival, festival bem vestido, elegante, cheiroso, com, por exemplo, o Grande Auditório praticamente esgotado, a preços iguais para novos e velhos, com bilhetes pagos a que chamaram convites (se calhar, fugas ao fisco ...).
Quiçá, comete-se aqui uma injustiça (paciência!...) se, do total de jovens músicos presente, se salientar o nome do clarinete laureado, Horácio Ferreira, e do jovem do oboé, ex-laureado, Guilherme Sousa, "que arrasaram" o Zé, em fim de tarde no Auditório Um da Fundação Gulbenkian, sob a direcção do maestro Pedro Carneiro, que teve o olhar e o gesto próprios em todos os momentos da música que encheu os ouvidos de quem esgotou a Sala Maior da festa que, durante três dias, foi arca de sons. Arca de sons 2014 - aberta nos dias 24, 25 e 26 deste Setembro chuvoso, mas morno, prestes a terminar.
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Herman José - como se fosse one man show
Herman José nunca me foi apresentado.
Não me conhece. Eu também não conheço ninguém que seja da sua intimidade. Sei que é, naturalmente, um cidadão influente e informado. Sei que é um grande humorista. Mas o que passei a saber, agora que o revejo na RTP, é que ele é o programa, ele é uma tarde inteira de programação televisiva. Pelo estar, pela natural capacidade de improviso. Pela CULTURA, pelo saber - que é muito mais do que de "experiência feito".
Se o presente apontamento fosse subscrito pelo falecido Castrim, que se dedicava, nas horas vagas, às críticas diárias aos programas televisivos, este era, de certeza, para si, um momento de grande dificuldade ... Com efeito, Hermano faz quase tudo muito bem. E a RTP, esperta, apostou nele - preenchendo uma tarde com, praticamente, ONE MAN SHOW. Coragem é fazer com ele parceria - durante horas, à vista de toda a gente. Parabéns, menina (?) ! Desculpe a omissão. Mas, com H.J. ao lado, não há parceria que consiga ir para além de ... de parceria ... O que, no caso, vale 19.
Bravo, RTP!
Antologia da gente que passa ( 7 ) - Este Setembro, meu Amigo
Lembrar Augusto de Castro, na esperança de não afastar da rua os dos males da pressa de que se morre - em Portugal e ... e um pouco por toda a parte ...
"Este Setembro é maravilhoso.Por essas estradas fora, o verão despede-se lentamente, com uma volúpia que demora uma carícia em cada olhar, um longo e palpitante beijo de luz em cada sombra, uma nostalgia, redobrada e viva, no cálido abandono do partir.
Há invisíveis lenços brancos que dizem "até à vista" pela esparsa claridade deste declinar do ano, sobre as encostas e vinhedos, entumecidos ainda de cor. No azul desbotado do céu, sob um sol sem fogo, apenas por esses campos o verde tem frescuras de água e, aqui e além, nos milharais tardios e nas parreiras, viúvas dos últimos cachos, a fronde das folhas tomou reflexos avermelhados dos de cobre.
Os olivais dir-se-iam polvilhados, muito ao de leve, de pequeninos reflexos de prata. A folhagem dos pinheirais vestiu-se de esmeralda. A Natureza depois do noivado do estio, repousa o corpo úbero, esgotado pelo esforço dionisíaco das seivas. A terra despiu o seu manto de flores, vestiu-se de frutos - os frutos rasteiros que doiram o solo, a fulva e ardente ondulação das searas, as árvores carregadas de sumos nupciais.
As tardes então têm doçuras de écloga. A sinfonia sonora de Agosto perdeu-se, a pouco e pouco, na distância. Substituiu-a uma orquestra nova, espécie de música de câmara que, em surdina, envolve, de violinos misteriosos, de acordes suspensos e incompletos o tablado imenso das cores, o melodioso aconchegar das coisas, a canção doce e desgarrada das águas e dos ninhos.
Respiram melhor as bouças. As fontes começam nos cômoros e nas várzeas o seu diálogo de outono com o crepúsculo. A própria lua, em certos diáfanos poentes, tem pressa de vir saudar o sol e chega mais cedo, fugida da noite, mais branca do que nunca, bola de prata suspensa no azul do espaço, como uma cerâmica de Lucca della Robia.
Setembro é o mais belo paisagista. Ei-lo que, com a sua paleta de oiro, começa a pôr tudo em ordem, a desenhar o que ontem ainda, sob a máscara rubra do verão, era azáfama e mancha e a dar-lhe pormenor, leveza, aguarela. Aqui era uma curva da estrada que a poeira de Agosto encobria - e volta agora, entre castanheiros e olmeiros, a debroar dum colar cinzento, na planície calma, aqueles choupos que marcam, ao longe, a verde palpitação dum rio.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
E depois há o mar. Há as praias em que a areia se tornou mais fina, a água mais lisa e o pôr do Sol ganhou em doçura o que perdeu em lentidão e em cor. Desde que a luz começa a esbater-se e a avermelhar-se sobre a água, vem de longe o arrepio salino da brisa e das marés. A faina das redes e das barcas povoa as ondas, picadas de espuma, que sacodem sobre o dorso azul-cinzento a sua cabeleira de pérolas. Uma inquietação precoce rejuvenesce a distância, torna o ar mais fino, mais áspero, mais do largo.
E, por essas manhãs, todas de oiro, é ver a quermesse dos últimos banhistas sobre esses areais, despedindo-se da graça mitológica que encheu de tritões e de náiades, durante o verão, a orla colorida da beira-mar. O banho mais curto, na água - mais longa e envolvente a carícia do repouso ao sol que queima menos, mas que veste de oiro mais puro a pele das ninfas e a nudez em flor das crianças.
Setembro caminha por essas praias, com seus cabelos ao vento, seus pés ligeiros que bailam, entre rochedos - e seu manto de prata e púrpura estendido sobre as vagas, sobre o céu, arrastando no ar o cheiro das algas e iris triunfal da luz."
"Este Setembro é maravilhoso.Por essas estradas fora, o verão despede-se lentamente, com uma volúpia que demora uma carícia em cada olhar, um longo e palpitante beijo de luz em cada sombra, uma nostalgia, redobrada e viva, no cálido abandono do partir.
Há invisíveis lenços brancos que dizem "até à vista" pela esparsa claridade deste declinar do ano, sobre as encostas e vinhedos, entumecidos ainda de cor. No azul desbotado do céu, sob um sol sem fogo, apenas por esses campos o verde tem frescuras de água e, aqui e além, nos milharais tardios e nas parreiras, viúvas dos últimos cachos, a fronde das folhas tomou reflexos avermelhados dos de cobre.
Os olivais dir-se-iam polvilhados, muito ao de leve, de pequeninos reflexos de prata. A folhagem dos pinheirais vestiu-se de esmeralda. A Natureza depois do noivado do estio, repousa o corpo úbero, esgotado pelo esforço dionisíaco das seivas. A terra despiu o seu manto de flores, vestiu-se de frutos - os frutos rasteiros que doiram o solo, a fulva e ardente ondulação das searas, as árvores carregadas de sumos nupciais.
As tardes então têm doçuras de écloga. A sinfonia sonora de Agosto perdeu-se, a pouco e pouco, na distância. Substituiu-a uma orquestra nova, espécie de música de câmara que, em surdina, envolve, de violinos misteriosos, de acordes suspensos e incompletos o tablado imenso das cores, o melodioso aconchegar das coisas, a canção doce e desgarrada das águas e dos ninhos.
Respiram melhor as bouças. As fontes começam nos cômoros e nas várzeas o seu diálogo de outono com o crepúsculo. A própria lua, em certos diáfanos poentes, tem pressa de vir saudar o sol e chega mais cedo, fugida da noite, mais branca do que nunca, bola de prata suspensa no azul do espaço, como uma cerâmica de Lucca della Robia.
Setembro é o mais belo paisagista. Ei-lo que, com a sua paleta de oiro, começa a pôr tudo em ordem, a desenhar o que ontem ainda, sob a máscara rubra do verão, era azáfama e mancha e a dar-lhe pormenor, leveza, aguarela. Aqui era uma curva da estrada que a poeira de Agosto encobria - e volta agora, entre castanheiros e olmeiros, a debroar dum colar cinzento, na planície calma, aqueles choupos que marcam, ao longe, a verde palpitação dum rio.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
E depois há o mar. Há as praias em que a areia se tornou mais fina, a água mais lisa e o pôr do Sol ganhou em doçura o que perdeu em lentidão e em cor. Desde que a luz começa a esbater-se e a avermelhar-se sobre a água, vem de longe o arrepio salino da brisa e das marés. A faina das redes e das barcas povoa as ondas, picadas de espuma, que sacodem sobre o dorso azul-cinzento a sua cabeleira de pérolas. Uma inquietação precoce rejuvenesce a distância, torna o ar mais fino, mais áspero, mais do largo.
E, por essas manhãs, todas de oiro, é ver a quermesse dos últimos banhistas sobre esses areais, despedindo-se da graça mitológica que encheu de tritões e de náiades, durante o verão, a orla colorida da beira-mar. O banho mais curto, na água - mais longa e envolvente a carícia do repouso ao sol que queima menos, mas que veste de oiro mais puro a pele das ninfas e a nudez em flor das crianças.
Setembro caminha por essas praias, com seus cabelos ao vento, seus pés ligeiros que bailam, entre rochedos - e seu manto de prata e púrpura estendido sobre as vagas, sobre o céu, arrastando no ar o cheiro das algas e iris triunfal da luz."
Possibilidade de uma Faculdade de Medicina em Macau
Chan Wai Sin, subdirector dos Serviços de Saúde de Macau e director do Centro Hospitalar Conde São Januário (CHCSJ), disse ontem no programa Fórum Macau da Rádio da TDM chinesa que a Universidade de Macau (UM) fará um estudo preliminar sobre a possibilidade de criação de uma Faculdade de Medicina.
O responsável acredita que mais informação virá a ser divulgada mais tarde. “Quanto à criação de uma instituição médica vamos estudar com a UM, por isso, precisamos de mais tempo para que possamos dar mais informações”, disse citado pela TDM.
Chan Wai Sin sublinhou também que a RAEM vai estabelecer uma comissão médica para efeitos de certificação no futuro, e que todos os estudantes de medicina que regressem ao território necessitam de passar por um exame para integrar o sistema local de estágio. No entanto, frisou que é difícil regular o mercado de recursos humanos nesta área, e mesmo países como o Reino Unido e os Estados Unidos encontram dificuldades em intervir através do poder administrativo.
No programa falou também sobre as carências de pessoal médico, adiantando que “actualmente a proporção da população de enfermeiros em Macau é de 3,1 a 3,3 por mil pessoas, enquanto o rácio médio a nível mundial é de 3,3 enfermeiros por mil pessoas”.
Questionado sobre a possibilidade dos estudantes do Interior da China que concluam o curso de enfermagem no território possam ficar a trabalhar no território, Chan Wai Sin afirmou que não é essa a intenção original do programa.
O director admitiu que alguns serviços ou unidades de acção médica apresentam uma procura mais intensa de recursos humanos, mas que isso se deve à grande mobilidade no mercado de trabalho, dando como exemplo o Serviço de Obstetrícia e Ginecologia.
Falou também no tempo de espera. Os dados estatísticos disponíveis indicam que o número médio de consultas foi de 9,4 vezes por residente no ano de 2013, valores considerados elevados atendendo ao facto de serem consultas diferenciadas, sejam externas ou de urgência, e quando comparados com os números das regiões vizinhas e dos países desenvolvidos.
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quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Anosognosia *
* ver Wikipédia, por exemplo.
O que é engraçado é que, pela primeira vez, e com um intervalo de cinco, dez minutos, dois ex-colegas e actuais generosos amigos, nomeadamente, nestas trocas de correspondência electrónica, lembraram-se me enviar o mesmo texto acerca de ANOSOGNOSIA.
Ainda bem que ambos se lembraram, porque a sociedade, ao contrário do que foi o vosso cuidado, o que faz é tentar inconsciencializar-nos - e isso é chato...
Bem-hajam! Um consciente, septuagenário e cordial abraço.
O que é engraçado é que, pela primeira vez, e com um intervalo de cinco, dez minutos, dois ex-colegas e actuais generosos amigos, nomeadamente, nestas trocas de correspondência electrónica, lembraram-se me enviar o mesmo texto acerca de ANOSOGNOSIA.
Ainda bem que ambos se lembraram, porque a sociedade, ao contrário do que foi o vosso cuidado, o que faz é tentar inconsciencializar-nos - e isso é chato...
Bem-hajam! Um consciente, septuagenário e cordial abraço.
"De pé, como as árvores..."
Ontem, divulgada no Facebook, hoje, com humildade, mas solidariedade, aqui, neste recanto de jardim
- "de pé, como as árvores ..."
Senhores Ministros
Tenho 86 anos, e modéstia à parte, sempre honrei o meu país pela forma como o representei em todos os palcos, portugueses e estrangeiros, sem pedir nada em troca senão respeito, consideração, abertura – sobretudo aos novos talentos – e seriedade na forma como o Estado encara o meu papel como cidadão e como artista.Vivi a guerra de 38/45 com o mesmo cinto com que todos os portugueses apertaram as ilhargas. Sofri a mordaça de um regime que durante 48 anos reprimiu tudo o que era cultura e liberdade de um povo para o qual sempre tive o maior orgulho em trabalhar. Sofri como todos, os condicionamentos da descolonização. Vivi o 25 de Abril com uma esperança renovada, e alegrei-me pela conquista do voto, como se isso fosse um epítome libertador.Subi aos palcos centenas, senão milhares de vezes, da forma que melhor sei, porque para tal muito trabalhei.Continuei a votar, a despeito das mentiras que os políticos utilizaram para me afastar do Teatro Nacional. Contudo, voltei a esse teatro pelo respeito que o meu público me merece, muito embora já coxo pelo desencanto das políticas culturais de todos os partidos, sem excepção, porque todos vós sois cúmplices da acrescida miséria com que se tem pintado o panorama cultural português.Hoje, para o Fisco, deixei de ser Actor… e comigo, todos os meus colegas Actores e restantes Artistas deste país – colegas que muito prezo e gostava de poder defender.Tudo isto ao fim de setenta anos de carreira! É fascinante. Francamente, não sei para que servem as comendas, as medalhas e as Ordens, que de vez em quando me penduram ao peito?Tenho 86 anos, volto a dizer, para que ninguém esqueça o meu direito a não ser incomodado pela raiva miudinha de um Ministério das Finanças, que insiste em afirmar, perante o silêncio do Primeiro-Ministro e os olhos baixos do Presidente da República, de que eu não sou actor, que não tenho direito aos benefícios fiscais, que estão consagrados na lei, e que o meu trabalho não pode ser considerado como propriedade intelectual.Tenho pena de ter chegado a esta idade para assistir angustiado à rapina com que o fisco está a executar o músculo da cultura portuguesa. Estamos a reduzir tudo a zero… a zeros, dando cobertura a uma gigantesca transferência dos rendimentos de quem nada tem para os que têm cada vez mais.É lamentável e vergonhoso que não haja um único político com honestidade suficiente para se demarcar desta estúpida cumplicidade entre a incompetência e a maldade de quem foi eleito com toda a boa vontade, para conscientemente delapidar a esperança e o arbítrio de quem, afinal de contas, já nem nas anedotas é o verdadeiro dono de Portugal: nós todos!É infame que o Direito e a Jurisprudência Comunitárias sirvam só para sustentar pontualmente as mentiras e os joguinhos de poder dos responsáveis governamentais, cujo curriculum, até hoje, tem manifestamente dado pouca relevância ao contexto da evolução sociocultural do nosso povo. A cegueira dos senhores do poder afasta-me do voto, da confiança política, e mais grave ainda, da vontade de conviver com quem não me respeita e tem de mim a imagem de mais um velho, de alguém que se pode abusiva e irresponsavelmente tirar direitos e aumentar deveres.É lamentável que a senhora Ministra das Finanças, não saiba o que são Direitos Conexos, e não queiram entender que um actor é sempre autor das suas interpretações – com direitos conexos, e que um intérprete e/ou executante não rege a vida dos outros por normas de "excel" ou por ordens “superiores”, nem se esconde atrás de discursos catitas ou tiradas eleitoralistas para justificar o injustificável, institucionalizando o roubo, a falta de respeito como prática dos governos, de todos os governos, que, ao invés de procurarem a cumplicidade dos cidadãos, se servem da frieza tributária para fragilizar as esperanças e a honestidade de quem trabalha, de quem verdadeiramente trabalha.Acima de tudo, Senhores Ministros, o que mais me agride nem é o facto dos senhores prometerem resolver a coisa, e nada fazer, porque isso já é característica dos governos: o anunciar medidas e depois voltar atrás. Também não é o facto de pôr em dúvida a minha honestidade intelectual, embora isso me magoe de sobremaneira. É sobretudo o nojo pela forma como os seus serviços se dirigem aos contribuintes, tratando-nos como criminosos, ou potenciais delinquentes, sem olharem para trás, com uma arrogância autista que os leva a não verem que há um tempo para tudo, particularmente para serem educados com quem gera riqueza neste país, e naquilo que mais me toca em especial, que já é tempo de serem respeitadores da importância dos artistas, e que devem sê-lo sem medos e invejas desta nossa capacidade de combinar verdade cénica com artifício, que é no fundo esse nosso dom de criar, de ser co-autores, na forma, dos textos que representamos.Permitam-me do alto dos meus 86 anos deixar-lhes um conselho: aproveitem e aprendam rapidamente, porque não tem muito tempo já.Aprendam que quando um povo se sacrifica pelo seu país, essa gente, é digna do maior respeito… porque quem não consegue respeitar, jamais será merecedor de respeito!
RUY DE CARVALHO
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