domingo, 30 de novembro de 2014

Traseiras do Litoral - Dominguizo (3): o magusto
























































































Traseiras do Litoral - Dominguizo (2)

CANTARES ESTOFADOS

O povo, que quase esgotou o espaço informal onde o fado encheu sensibilidades, quando lhe apresentaram, dias depois, no estofado e acolhedor auditório da terra, um grupo de cantares regionais, ido da sede do concelho, fingiu que não sabia e pouco faltou para deixar a sala às moscas.

A reflectir.















sábado, 29 de novembro de 2014

Fotomontagem CXXIV (10.3.2012)


          Galeria Nacional de Fotomontagens 
in ruadojardim7.blogspot.com

Rostos


Traseiras do Litoral - Dominguizo (1)

À beira do fado


Namorar o Fado, namorar o Interior, à beira do Fado. Conviver Fado. Como ali fosse, por uma noite, Alfama ou Bairro Alto.

Sala cheia, mesas completas, luzes q.b., silêncio - para que se interiorize Fado.

Solta-se a guitarra, acorda a viola, ouve-se a voz para que se "vejam" as palavras que chegam da penumbra. Estamos na Beira Interior e assim chegámos ao interior de quem, no silêncio, também é FADO. Numa aldeia redescoberta para, numa noite, ser CASA, casa de fado. À luz das velas, quase em recolhimento.



                   



                   Estou contente por te ver
                   E triste por te deixar
                   Choram-me os olhos da dor
                   Que sinto de tanto olhar

                   Sentir a dor que eles sentem
                   De tanto olhar sem razão
                   É sentir dentro do peito
                   O meu triste coração

                   Batendo tã velozmente
                   Em busca da liberdade
                   Que os meus olhos com razão
                  Já dizem sentir saudade

                  Saudade de que está perto
                  E p'ra quem os meus olhos olham
                  Sentem o perto tão longe
                  E é por ti que se molham


                      Juvenal


Dominguizo - SLA

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Novas Oportunidades

             NOVAS QUALIFICAÇÕES 
(CENTROS NOVAS OPORTUNIDADES)

Ø     Especialista de Fluxos de Distribuição - (paquete)
Ø     Supervisora Geral de Bem-Estar, Higiene e Saúde - (mulher da limpeza)
Ø     Coordenador de Fluxos de Entradas e Saídas - (porteiro)
Ø     Coordenador de Movimentações e Vigilância Nocturna - (segurança)
Ø     Distribuidor de Recursos Humanos - (motorista de autocarro)
Ø     Especialista em Logística de Combustíveis - (empregado da bomba de gasolina)
Ø     Assessor de Engenharia Civil - (trolha)
Ø     Consultor Especialista em Logística Alimentar - (empregado de mesa)
Ø     Técnico de Limpeza e Saneamento de Vias Públicas - (varredor)
Ø     Técnica Conselheira de Assuntos Gerais - (cartomante/taróloga)
Ø     Técnica em Terapia Masculina - (prostituta)
Ø     Técnica Especialista em Terapia Masculina - (prostituta de luxo)
Ø     Especialista em Logística de Produtos Químico-Farmacêuticos - (traficante de droga)
Ø     Técnico de Marketing Direccionado - (vigarista)
Ø     Coordenador de Fluxos de Artigos - (receptador de objectos roubados)
Ø     Técnico Superior de Recolha de Artigos Pessoais - (carteirista)
Ø     Técnico de Redistribuição de Rendimentos - (ladrão)
Ø     Técnico Superior Especialista de Assuntos Específicos Não Especializados - (político)

Obrigado, CM! Boa!!!

 

APONTAMENTOS: Semana Cultural no interior da lusa Beira

Não sei se, antes do século XVIII, há registos acerca do Dominguizo ("abundância de castanhas, pan e azeitte, milho, feijões, nabais, trigos"). O que sei é que, até onde os factos revelam, é à figura simples do farrapeiro que se deve a sobrevivência da terra, hoje freguesia. Por que caminhos, ignoro, mas os do trabalho, com certeza. Os do trabalho duro e difícil de procurar restos para os dar a transformar a quem neles poderia ver indústria.

E se a agricultura, se o "chão", foi, para tudo, apoio sucessivamente alargado, não é difícil concluir que isso se ficou a dever, em boa parte dos casos, à determinação, à errância interna dos que, aproveitando conjunturas, desse tudo fizeram pão e do pão "deram à luz" gerações que vingaram e, encurtando a "conversa", são hoje a juventude que se pode ver e sentir - no discurso e na acção. A Universidade da Beira Interior, por exemplo, não terá nascido da realidade farrapeira, mas a sua necessidade, apetece escrever, ter-se-á feito sentir lá perto ...

Seja como for, vontade/necessidade, necessidade/vontade, há nos Estudos Superiores da região qualquer coisa de farrapeiro, não diria na prática, mas numa certa maneira de, no Interior, sobreviver e, nessa luta, vingar e iniciar as transformações em curso. Sem lutas? Não, com lutas. As naturais - entre as compreensíveis inseguranças de alguns e a força do Saber de, hoje, muitos.

A Semana Cultural do Dominguizo, de que se dá testemunho fotográfico ("porque é que tiras tantas fotografias?...") foi, para tudo, a medalha na oportunidade devida - a repetir sempre que possível e venha ao caso.






















Macau: população activa 401 300 e empregada 394 400


Desemprego manteve-se nos 1,7 por cento entre Agosto e Outubro

 by Ponto Final
A taxa de desemprego de Macau caiu duas décimas entre Agosto e Outubro deste ano, em comparação com o mesmo período de 2013, fixando-se nos 1,7 por cento - o valor é idêntico ao registado entre Julho e Setembro deste ano.
De acordo com dados oficiais divulgados ontem, a população activa atingiu 401.300 pessoas durante esse período. A população empregada totalizou 394.400, observando-se uma subida de 2300 pessoas em comparação com os três meses anteriores.
Em termos de ramos de actividade económica, o número de empregados das lotarias e outros jogos de aposta foi de 84.600, mais 3100 indivíduos que no período anterior.
A população desempregada era composta por 6900 pessoas, tendo-se elevado em 300 pessoas, face ao período anterior. O número de pessoas à procura do primeiro emprego representou 26 por cento do total da população desempregada.
Ponto Final | Novembro 28, 2014 às 1:16 pm | Categorias: Uncategorized | URL:http://wp.me/pu3KH-9cc

Comment

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Banda fotografada


Sócrates e os cortinados


Dominguizo: o CAFÉ CENTRAL do Leiria

Na aldeia, temos a "câmara alta", que é a paragem central dos autocarros onde, passada a carreira, muitos se "reúnem"; temos a "câmara baixa", que é o clube que fica situado no rodapé do casario, onde, nomeadamente, se lêem as últimas. E temos como que os "Passos Perdidos", que é o Café Central, onde o povo se encontra informalmente, e a toda a hora, para trocar ideias e matar sedes.

Sete ofícios - uma possibilidade. Nem uma palavra de desagrado, nem uma palavra de revolta, nem uma palavra de maledicência, nem uma palavra agressiva, nem uma palavra de incompreensão. África na saudade. Simplicidade no trato. Sorriso sem relógio. Disponibilidade sempre. O abraço na recepção e na despedida. Saber viver. Orgulho no estar: JOSÉ LEIRIA.

A entrevista tranquila - no CAFÉ CENTRAL. 
                             A José Leiria.

- Meu caro, eu tinha aqui anotado: "chamo-me..." Diga o seu BI.

- José de Jesus Gaspar, mais conhecido por José de Leiria.

- Leiria porquê?

- Porque nasci em Monte Redondo, concelho de Leiria e depois vim trabalhar para a Covilhã, em 1969, mais propriamente, no dia 29 de Novembro de 1969.

- Leiria por essa razão ...

- Leiria por isso. Fiquei a ser o Zé de Leiria. Talvez até morrer.

- Há quantos anos está no Dominguizo?

- Estou aqui desde 1971.

- Fale-me de dois ou três episódios marcantes na sua presença na aldeia ...

- Uma vez não fui a Leiria, não tinha transporte e vim com um rapaz do Tortosendo aqui ao Dominguizo, onde, na altura, se faziam uns bailaricos ... Ao domingo, passeava-se  muito estrada abaixo, estrada acima, conheci a minha esposa ... E palavra aqui, palavra além ... Cá casei com ela. E cá fiquei.

- Como é que o senhor aparece à frente do Café Central?

- Porque foi sempre minha ideia estar à frente de um estabelecimento. Aliás, já antes de vir para cá, de pequenito (com 11/12 anos), de vez em quando, ía até S. Pedro de Moel e havia lá um restaurante (chamavam-lhe o Bambi) onde, quando precisavam de alguém para ajudar, eu ...

- Mas, na aldeia, fala-me de dois ou três episódios que marquem a sua presença ...

- Não estou a ver ...

- Mas há quantos anos está aqui?...

- Há uns 35 anos ...

- Oh!... Duas ou três coisas que lhe tenham enchido a cabeça ...

- ... sei lá ... Às vezes, por meia dúzia de tostões, gerava-se um lavarinto do caraças, mas a gente, com a nossa educação e maneira de ser, conseguia levar a água ao moinho para que não houvesse mais espalhafatos. E eu, como fui sempre um indivíduo diferente, talvez até maior do que alguns com estudos, nunca gostei de refilar com ninguém. Tenho tido uma vida mais ou menos pacífica. Tanto que julgo ser, assim, dos rapazes de fora, um dos mais estimados na aldeia.

- Onde está há ...

- Cerca de 40 anos ...

- Sempre neste estabelecimento?

- Estive no Sport Lisboa e Águias do Dominguizo uns 20 anos, ou mais ... A fazer o mesmo que faço aqui. 

- Ao longo deste tempo todo, duas ou três pessoas inesquecíveis?...

- O sr. Eduardo Ramos, muito meu amigo, que era tecelão e barbeiro cá na terra. Outro: o tio Zé Cebola, que era farrapeiro. Hoje é difícil fazer amizades assim ...

- A situação mais embaraçosa vivida por si ...

- Nesta função, a gente querer dinheiro para pagar rendas e impostos e termo-nos que esfarrapar por aqui e por além para resolver ...

- Sobretudo, nos últimos anos, ou não?..

- Sim, nos últimos sete, oito anos ...

- A partir do momento em que a sede do clube deixou de ser aqui ao lado da sua casa, sentiu alguma diferença?

- Diferença há ... Eu tinha aí muitos rapazes novos, amigos, que agora vão mais lá para baixo, ao clube. Mas não deixaram de me visitar.

- O que é que, neste tempo, lhe proporcionou maior satisfação?

- No aspecto geral, é a família que tenho.

- O que é que, no seu entender, neste ponto de encontro popular que é a loja que tem, é a reclamação que mais ouve?

- Por exemplo, o Dominguizo não tinha um lar. Agora já tem. Mas mesmo assim (é uma boa obra), não se sentem satisfeitos ... Está a pensar-se (já há terreno)  fazer a casa mortuária, que é uma coisa que faz cá muita falta. E vamos lá ver se se concretiza, que os dinheiros agora ...

- Independentemente da sua opinião, qual é a maior preocupação que o senhor ouve ao povo?...

- São as que referi ... Também tivemos aí um presidente da Junta, que foi na altura dele que se fez o cemitério novo. Tivemos o senhor António Simões, que era também uma boa pessoa e uma figura carismática na aldeia. 

Peço desculpa se me esqueci de alguém ...

- Qual é o maior orgulho do povo do Dominguizo?

- As pessoas são muito orgulhosas da terra que têm ... Mas desejam que no Dominguizo houvessse isto, houvesse aquilo, mas quando são pessoalmente abordadas, voltam as costas ou dizem que não têm vagar. Gostam de criticar, mas não ajudam a construir. É complicado. E cada vez vai ser mais ... Hoje em dia ninguém quer responsabilidades.

- E se o senhor mandasse?...

- Se eu mandasse estava sujeito às críticas que fazem aos outros. Muito embora saiba que talvez seja um bocadito diferente de alguns que aí há ... Não é desprezá-los, nem dizer mal deles, mas, se calhar, se eu fosse junto de certas pessoas pedir isto ou aquilo, talvez fosse melhor aceite do que algumas pessoas que cá nasceram. Penso eu.

- Mas qual é, na sua opinião, a grande lacuna que ainda existe na aldeia?

- É a casa mortuária, que é um bem para a terra. Mas as escolas também precisam de ser apoiadas ...

- E o sucesso que seria uma via rápida ...

- Sim ... mas o Dominguizo perderia este movimento, este contacto permanente com quem passa ... De algum modo, ficaria mais morto ... Por exemplo, no Tortosendo, a falta de grande parte da actividade económica que tinha, deu o que se sabe ...

- De quantos presidentes da Junta, aqui no Dominguizo, se lembra?

- De uns cinco ou seis ...

- O que é que não lhe perguntei e gostaria de dizer?

- Que fui massagista durante uns 25 anos e que a minha vida militar em África "foi um espectáculo" (de 1972 a 1975).Sempre benquisto dos meus comandantes. Em Moçambique. De 1972 a 1975. Tenho 64 anos e vivo no Dominguizo desde os 18, sem nunca ter esquecido África. Fui um "militar do caraças!..."










Macau: Cooperação com Santa Casa da Misericórdia

  Santa Casa da Misericórdia assina protocolos para cooperar

 by Ponto Final
A Santa Casa da Misericórdia de Macau assina hoje protocolos de cooperação com a União das Misericórdias Portuguesas (UMP) e com a Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP), por ocasião de uma deslocação de cinco dias dos provedores de ambas as instituições à região – respectivamente, Manuel de Lemos e António Manuel Tavares.
A agenda da visita vai integrar reuniões de trabalho e também uma palestra subordinada ao tema “Globalização e Solidariedade”, a acontecer sexta-feira, às 17h, no salão nobre da Santa Casa da Misericórdia.
A União das Misericórdias Portuguesas, também promotora da Misericórdia local, coordena 400 instituições portuguesas e apoia casas também nos países de língua portuguesa. A Irmandade de Macau aderiu à UMP em 2012.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

"Crónicas das minhas teclas"

Regista-se, com um forte abraço, o lançamento, hoje, em Lisboa, no Palácio da Independência, do livro, do jornalista Antunes Ferreira, o da Travessa do Ferreira, "aqui ao lado", CRÓNICAS DAS MINHAS TECLAS. 

                              Sala cheia, sobretudo, de amizade e simpatia.

                                              ruadojardim7 presente!




Pensionistas em duodécimos

Macau: "O futuro não é apenas o digital"

Na era digital “a revolução já não é comunitária, é individual”  

 by Ponto Final

Heitor Alvelos alerta para a actual compulsão pelo digital e defende uma sintonia com o analógico. Perante a “volubilidade” dos conteúdos online diz: a revolução é “individual” e passa por “criar filtros”. A palestra é hoje, na Livraria Portuguesa.
Cláudia Aranda
Heitor Alvelos, professor e investigador da Universidade do Porto, contesta a ideia de que “o futuro é todo digital”. Aconselha a que se evite uma total delegação das competências humanas na tecnologia e convida a uma mudança na tendência para o consumo de conteúdos “fluffy”, ou seja, “gastos, banais ou desinteressantes”. O anti-fluffy surge como uma crítica à cultura digital actual e dá corpo à convicção de que é preciso ir mais longe. Heitor Alvelos é também director do FuturePlaces, um media lab especializado em meios digitais e na sua relação com os cidadãos, estabelecido em 2008, em parceria com a Universidade do Texas, em Austin (UT Austin). O professor vai estar hoje, a partir das 18h30, na Livraria Portuguesa, para uma palestra intitulada: “Antifluffy: ghost of analogue, guardian of instrospection”.
- O que quer dizer “anti-fluffy”? É o equivalente a anti-fofinho?
Heitor Alvelos (H.A.) – Na língua inglesa o termo “fluff” é mais ambivalente. Tanto quer dizer fofinho como pode querer dizer algo que está gasto, que é banal, é espuma, que não interessa. Esta figura do anti-fluffy que criámos como mascote do FuturePlaces explora a ambivalência desse termo, considerando que social e culturalmente há muita coisa a acontecer ao nível dos media, considerando que muitas das propostas, inclusivamente das redes sociais - pese embora a sua grande promessa e a sua grande capacidade de transformação do indivíduo -, acabam perversamente e em grande parte por se cingir a repertórios bastante redutores, bastante “fluffy”. Portanto o anti-fluffy é uma espécie de ideia de dar corpo à convicção de que temos que ir um bocadinho mais longe. O anti-fluffy é uma metáfora, um símbolo dessa importância de harmonizar o analógico e o digital, mas também é espaço de incógnita. Ninguém sabe o que é, só sabemos que não é fluffy.
- “Ghost of analogue”, ou o fantasma do analógico, significa que temos de voltar ao analógico, ou seja, ao passado?
H.A. – Não, não, além do mais isso é uma impossibilidade. Mas temos que harmonizar esse passado com o presente. O anti-fluffy é também uma forma de declarar que esta visão determinista dos novos media pode ser um equívoco. A ideia de que o futuro é todo digital, que pressupõe a obsolescência ditada de uma experiência não mediada é passível de contestação. Portanto, não se trata de observar a história numa perspectiva linear, mas de observar a história numa perspectiva, simultaneamente, cíclica e multidimensional. As dimensões analógica e digital devem estar profundamente interligadas. Quando falamos de dimensão analógica, não falamos apenas da utilização de meios analógicos, mas da experiência não mediada da realidade. Vemos por exemplo que nos dias que correm começam a surgir sinais preocupantes de grande compulsão relativamente aos meios digitais. Onde quer que estejamos, olhamos à nossa volta e a maioria das pessoas não está a olhar à volta. Está fixada no pequeno rectângulo que tem nas mãos. O anti-fluffy é também uma forma de dizer que não nos vamos esquecer dessas dimensões, que não são passadas, são ontológicas, são humanas, são intemporais e há que cuidar delas. Isto não é uma declaração anti-digital, eu próprio sou um utilizador muito frequente de plataformas digitais, mas tento harmonizá-las com outros aspectos da comunicação e da existência, que me parecem igualmente determinantes e que não podem ser esquecidos, nem substituídos.
- Quais são essas outras dimensões humanas e intemporais?
H.A. – O sentido de orientação por exemplo e a forma como é substituído pelo GPS. Gosto de chegar a uma cidade que não conheço e de começar a estabelecer o meu repertório visual. É um processo que em termos de capacitação do indivíduo é mais interessante do que ouvir uma voz digital a dizer “turn left, turn right”. Para além do mais é um processo de manutenção da minha memória visual. Refiro-me a este tipo de situações em que há uma espécie de delegação das competências humanas na tecnologia. Não há nada de intrinsecamente errado, mas há uma necessidade de harmonização.
- Quais são os benefícios e perdas nesta adição à cultura digital? Há uma perda de produtividade?
H.A. – Penso que a grande vantagem continua a ser a promessa mais do que a concretização, ou seja, as vantagens estão ainda por se cumprir em grande parte. Os novos media como potenciadores de um reequacionamento das expectativas sociais, do tecido social, da própria geometria da relação entre as pessoas e viabilizadores de consciências pan-geográficas. Posso partilhar interesses com uma comunidade que está para além da geografia, que se estende a nível mundial, aí há um potencial muito grande de congregação de pessoas à volta de interesses e de emancipação das suas circunstâncias. Penso que há também uma grande vantagem nos media digitais em termos patrimoniais. Voltando à dualidade do analógico e digital, vejo comunidades online a dedicarem-se à digitalização de artefactos e de registos que têm em seu poder e que, desta forma, ficam registados para a posteridade. Ou seja, a ideia de museu passa também a pertencer aos cidadãos. O registo do quotidiano que as pessoas fazem em vídeo, também é interessante. Se o ponderarmos não como um conjunto avulso de pequenas derivações, mas como uma espécie de retrato colectivo de uma era ganha também um sentido patrimonial. Acho que é muito por aí que os media digitais podem cumprir o seu potencial, pela dimensão patrimonial, por um lado, e também pelo desafio a que nós nos repensemos enquanto estrutura social.
- Quais são os aspectos negativos?
H.A. – O lado menos positivo de tudo isto, curiosamente, era capaz de argumentar que é uma espécie de obsessão com a produtividade. Os media digitais têm progressivamente, nos últimos anos, vindo a consolidar uma eficiência algorítmica na tradução da realidade. Tudo é passível de estatística, de desdobramento numérico, de previsão. De repente esse meio parece tornar-se num fim em si mesmo, começamos a falar de todo o tipo de estatísticas possíveis para além daquilo que pode ser a sua real aplicabilidade ou o seu real valor para o modelo de sociedade e cultura que queremos construir. Começa a existir uma obsessão com a eficiência.
- A era digital, o imediatismo da publicação nas redes sociais, está a fazer as pessoas pensarem menos sobre as consequências das suas acções? Isso é perigoso?
H.A. – Tenho vindo a escrever e a pensar sobre a ideia de paradoxo como um conceito chave da contemporaneidade. Vivemos um tempo em que uma evidência e o seu oposto são igualmente verdade e deixaram de ser contraditórios, portanto, se pensarmos nesta ideia – que as pessoas estão a reflectir com maior profundidade ou, pelo contrário, que há uma leviandade – parece indiciar-se uma espécie de consciência que faz convergir essas duas características. Há uma nova forma de pensar. Ou pelo menos um convite a uma nova forma de pensar. Por um lado, esta grande volatilidade – não lhe chamaria imediatismo, porque é um termo que nos remete para media – esta aparente incapacidade de concentração, curiosamente, é também por causa deste acesso exponencialmente acrescido a conteúdos de todo o mundo que também se está a registar um enorme crescimento intelectual. E há pessoas que estão a aceitar esse desafio de forma maravilhosa. Vejo isso com os meus estudantes. O campo de possibilidades hoje é infinitamente mais vasto. O que nos levanta outros problemas, nomeadamente, o de estabelecimento de sistemas de navegação para esse repertório potencialmente infinito. O que é que eu individualmente decido que faz sentido perante esse campo infinito de possibilidades, o que é que me é relevante, em que é que vale a pena investir o meu tempo e a minha atenção. Esse é o desafio da contemporaneidade. Costumo dizer que, nos dias que correm, a revolução já não é comunitária, é individual. Cabe a cada um de nós manter a sua integridade e depois irradiá-la, fazer com que ela inspire e seja pedagógica para os restantes. Perante esta vastidão e esta tal volubilidade de possibilidades online o que cada um de nós tem de fazer é estabelecer os seus próprios filtros e a sua própria coerência de leitura, que não é intermutável, é sua, e é legítima.
- Esta experiência é verdadeiramente global? Ou é mais global de um lado do mundo do que do outro?
H.A. – Permanecem grandes assimetrias, como sabemos.
- A experiência é idêntica em zonas do mundo onde há menos acesso a ferramentas digitais, em lugares onde há populações com menos acesso ou a vida não está tão ligada ao mundo digital? Há pessoas que estão a ficar de fora ou o processo é tão poderoso que está a incluir toda a gente?
H.A. – Só poderei comentar numa perspectiva macroscópica. O meu repertório, a minha experiência são antes de mais ocidentais, muito marcados pela evidência de ser europeu, tenho também trabalhado nos Estados Unidos. É esse essencialmente o meu universo e no qual sinto legitimidade para comentar. Ainda assim, macroscopicamente, a uma escala global, podemos observar determinado tipo de síndromas. Acho que há um fenómeno que tem tendência a ditar as suas premissas mesmo em sectores da população que não estariam originalmente vocacionadas para elas. Mas, para além da ideia de paradoxo, penso que o que marca a contemporaneidade é esta ideia de infinita complexidade. O que é que fazemos quando vemos a evidência da tecnologia a tornar-se progressivamente mais acessível, em termos de preços, ao mesmo tempo que vemos uma espécie de obsolescência compulsiva na qual inclusivamente muito dessa tecnologia obsoleta é despejada em partes incertas. Esta cultura do consumo desenfreado, que obviamente há-de ter os seus cemitérios algures. Não estou certo de nada disto, mas seguramente o impacto desta cultura é um impacto global. Agora pode é ter este tipo de formas muito pouco utópicas. O impacto desta tecnologia em determinados contextos pode ser o pior, pode ser o despejo de materiais tóxicos em zonas que não têm leis que o proíbam. A questão fundamental é que isto pode e deve ser discutido e muitas vezes não é, porque estamos bastante seduzidos, entretidos com esta visão determinista segundo a qual este delegar de competências humanas em sensores digitais é supostamente um melhoramento - que o é às vezes - mas terá a sua medida.
- Deu uma conferência em Hong Kong e um curso a alunos universitários aqui em Macau, em que ponto está esta discussão aqui na região?
H.A. – Não vejo diferenças fundamentais à superfície entre esta breve experiência [na região] e a minha experiência na Europa no que diz respeito à utilização destes novos media. Volto a fazer uma ressalva, porque é uma experiência muito recente e muito breve, mas vejo possivelmente uma adesão acrescida a propostas de cariz mais analógico que temos vindo a propor aos estudantes. Penso que esta ideia do determinismo digital aqui não está tão presente, ironicamente, porque ao mesmo tempo dá-me a sensação de que há aqui uma adesão acrescida, pelo menos, aos repertórios e às estéticas desse universo digital. Por outras palavras e tentando formular uma hipótese: Será que uma possível adesão acrescida dos estudantes a meios de criação analógicos deriva de uma eventual saturação dos repertórios digitais que os rodeiam e que são possivelmente mais intensos aqui do que na Europa?
- Quando diz que há uma adesão a materiais de cariz analógico está a referir-se a quê?
H.A. – A colagens por exemplo. Estamos a estudar o manifesto imediatista de Hakim Bey [Imediatismo, Hakim Bey, 1992] e estamos a estudar a cultura “punk”. Ontem um dos exercícios que fizemos em 30 minutos com os alunos passou por pegar na imprensa do dia e fazer colagens. A adesão a este tipo de linguagens de repente é uma espécie de epifania, pareceu-me, a descoberta de que isto é possível. O nosso argumento é que não só é possível como seria supostamente evidente. Basta papel, tesoura, cola, por oposição a Photoshop, “copy”, “paste”. É neste tipo de simplicidade criativa que reside a nossa obrigação de manter uma certa clareza quanto aos processos criativos. Porque os processos criativos digitais tornaram-se de tal forma codificados que estão totalmente reféns daquilo que são as próprias opções dos menus em causa. O Instagram permite-nos tirar uma fotografia e escolher no menu qual é o efeito que queremos aplicar. O que estamos a exemplificar com este exercício de colagens é que o leque de opções é muitíssimo maior do que qualquer menu digital. Não tem limites. Esta ideia de pegar na imprensa do dia e reinventar, pegar nas figuras mediáticas, nos anúncios e recriar novas possibilidades de reconfiguração, é de uma extrema simplicidade, mas reabre portas semânticas e criativas que, se calhar, uma geração mais nova nunca tinha considerado, porque nunca lhes tinha sido dada essa oportunidade, não estava no seu radar, porque o iPhone 6 não perdoa. Penso que este é um exemplo da ideia de convergência de que falava há pouco. É um convite a que o digital seja harmonizado com a nossa vocação e experiência tangível da realidade.
Ponto Final | Novembro 26, 2014 às 12:52 pm | Categorias: Uncategorized | URL:http://wp.me/pu3KH-9aX

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Revista à portuguesa: Os Furtos do Trabalho


Cante alentejano a Património da Humanidade














             AGORA!

25 de Novembro

"Este ano, as não-comemorações do 25 de Novembro são assombradas pelo fim anunciado do Partido Socrista, uma infeliz coincidência de datas, logo agora que assumia um renovado alento conquistador do desespero do povo Português, através das suas exímias capacidades como vendedor profissional de ilusões.

Ler mais: http://expresso.sapo.pt/o-ps-partido-socrista-tambem-leva-sera-do-25-de-novembro=f899623#ixzz3K6eSW2Q6"

Mudam-se os tempos ... *

* de um e-mail recebido.Obrigado!


Situação: O fim das férias.

Ano 1964:Depois de passar 15 dias com a família atrelada numa caravana puxada por um Fiat 600 pela costa de Portugal, ou passar esses 15 dias na praia do Castelo do Queijo, terminam as férias. No dia seguinte vai-se trabalhar.

Ano 201
2:
Depois de voltar de Cancún de uma viagem com tudo pago, terminam
 as férias. As pessoas sofrem de distúrbios de sono, depressão, seborreia e caganeira.


Situação: Chega o dia de mudança de horário de Verão para Inverno.

Ano 1964:
Não se passa nada.

Ano 201
2:
As pessoas sofrem de distúrbios de sono, depressão e caganeira.




Situação: O Pedro está a pensar ir até ao monte depois das aulas, assim que entra no colégio mostra uma navalha ao João, com a qual espera poder fazer uma fisga.

Ano 1964:
O director da escola vê, pergunta-lhe onde se vendem, mostra-lhe a
 sua, que é mais antiga, mas que também é boa.

Ano 201
2:
A escola é encerrada, chamam a Polícia Judiciária e levam o Pedro
 para um reformatório. A SIC e a TVI apresentam os telejornais desde a porta da escola.



Situação: O Carlos e o Quim trocam uns socos no fim das aulas.
Ano 1964:
Os companheiros animam a luta, o Carlos ganha. Dão as mãos e
 acabam por ir juntos jogar matrecos.

Ano 201
2:
A escola é encerrada. A SIC proclama o mês anti-violência escolar.
 O Jornal de Notícias faz uma capa inteira dedicada ao tema, e a TVI insiste em colocar uma equipe de reportagem à porta da escola a apresentar o telejornal, mesmo debaixo de chuva.



Situação: O Jaime não pára quieto nas aulas, interrompe e incomoda os colegas.

Ano 1964:
Mandam o Jaime ir falar com o Director, e este dá-lhe uma bronca
 de todo o tamanho. O Jaime volta à aula, senta-se em silêncio e não interrompe mais.

Ano 201
2:
Administram ao Jaime umas valentes doses de Ritalin. O Jaime
 parece um Zombie. A escola recebe um apoio financeiro por terem um aluno incapacitado.



Situação: O Luis parte o vidro dum carro do bairro dele. O pai caça um cinto e espeta-lhe umas chicotadas com este.

Ano 1964:
O Luis tem mais cuidado da próxima vez. Cresce normalmente, vai à
 universidade e converte-se num homem de negócios bem-sucedido.

Ano 201
2:
Prendem o pai do Luís por maus-tratos a menores. Sem a figura
 paterna, o Luís junta-se a um gang de rua. Os psicólogos convencem a sua irmã que o pai abusava dela e metem-no na cadeia para sempre. A mãe do Luíscomeça a namorar com o psicólogo. O programa da Fátima Lopes mantém durante meses o caso em estudo, bem como o Você na TV do Manuel Luís Goucha.



Situação: O Zézinho cai enquanto praticava atletismo, arranha um joelho. A sua professora Maria encontra-o sentado na berma da pista a chorar. Maria abraça-o para o consolar.

Ano 1964:
Passado pouco tempo, o Zézinho sente-se melhor e continua a correr.

Ano 201
2:
A Maria é acusada de perversão de menores e vai para o desemprego.
 Confronta-se com 3 anos de prisão. O Zézinho passa 5 anos de terapia em terapia. Os seus pais processam a escola por negligência e a Maria portrauma emocional, ganhando ambos os processos. Maria, no desemprego e cheia de dívidas suicida-se atirando-se de um prédio. Ao aterrar, cai em cima de um carro, mas antes ainda parte com o corpo uma varanda. O dono do carro e do apartamento processam os familiares da Maria por destruição de propriedade. Ganham. A SIC e a TVI produzem um filme baseado neste caso.



Situação: Um menino branco e um menino negro andam à batatada por um ter chamado 'chocolate' ao outro.

Ano 1964:
Depois de uns socos esquivos, levantam-se e cada um para sua casa.
 Amanhã são colegas.

Ano 201
2:
A TVI envia os seus melhores correspondentes. A SIC prepara uma
 grande reportagem dessas com investigadores que passaram dias no colégio a averiguar factos. Emitem-se programas documentários sobre jovens problemáticos e ódio racial. A juventude Skinhead finge revolucionar-se a respeito disto. O governo oferece um apartamento à família do miúdo negro.


Situação: Fazias uma asneira na sala de aula.

Ano 1964:
O professor espetava duas valentes lostras bem merecidas. Ao
 chegar a casa o teu pai dava-te mais duas porque 'alguma deves ter feito'

Ano 201
2:
Fazes uma asneira. O professor pede-te desculpa. O teu pai pede-te
 desculpa e compra-te uma Playstation 3.


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