Atrás das grades, das grades da minha varanda, em dias de calor como o de hoje, sento-me a ver gente passar. E passam crianças aos pulos, e passa gente "de todas as cores" nas lajes que esmaltam o verde fresco da relva. Passam os atletas para o ginásio que lhe fica perto. Passam avós e netos. E gatos fugidios e cães atrelados ou não. Ao longe, uma cascata apressa águas para, mais além, o lago e o banho das aves que chegam sabe-se lá donde ... É fácil, da minha varanda, imaginar o paraíso, digo eu, apesar de tudo, um pouco hesitante, confesso. Hesitante porque ... porque não há dia que, no meio da verdejante paisagem, não apareça, qual resto de eventual bela refeição em casa plena de mimos, uma bela (na forma), castanha (na cor) cagada de cão, eventualmente, por lapso, ou por falta de tempo, deixada esquecida por quem, inebriado com o meio envolvente, se esquece de a recolher.
Mas gosto deste "estar atrás das grades" da minha varanda e, para ser verdadeiro, cumpre-me deixar aqui expresso, por isso mesmo, um fundada esperança: a merda na rua, a merda vista da minha varanda é cada vez menos ... Há uma educação que, como a cascata que daqui vejo, tende a levar tudo à frente... A caca também. Com o apoio do pessoal da jardinagem e de quem o orienta, sem dúvida.
Apesar de tudo, é bom viver neste atrás das grades que o Verão consente - enquanto a população canina não aumenta. Eu que trabalhei tantos anos em jornais, já me lembrei, confesso, de, na varanda, ter sempre à mão uma porção de exemplares antigos para oferecer aos donos distraídos, mas, confesso, tenho receio de que a respectiva tinta de impressão faça mal aos rabinhos dos cachorros, não vão os respectivos donos, apressados, impedir que a merda caia na verdejante relva.
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