quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Palavras cruzadas (XVI) - Sexo ilustre
José Régio
Junho de 1953
"A sexualidade continua em mim poderosa e violenta. Por isso é meritória a castidade (relativa) em que vivo, e que muitas vezes me desequilibra fisiologicamente. A imaginação vinga-se-me dessa castidade forçada atingindo, por vezes, extremos de obsessão e até perversão."
in Páginas do Diário Intimo
M. Teixeira-Gomes
Março de 1934
"(...) O Tchikachoff lança ferro. Já os criados trouxeram do tombadilho a bagagem dos passageiros que vão desembarcar e estão pegados à amuradas, embevecidos no maravilhoso espectáculo. Eu vou ao meu camarote, mais para me despedir do que para verificar se lá me ficou alguma coisa esquecida. Volto com as lágrimas nos olhos.
Mas ao chegar à escada, que é de dois lanços e forma uma espécie de gruta imersa em trevas, enxergo o seu vulto. Vem sozinha. Como um louco, desvairado, vou para ela, tomo-a nos braços, deito-a sobre o divã; as minhas mãos sôfregas percorrem-lhe o corpo, os meus lábios ardentes desalteram-se na fonte clara dos seus cabelos, no perfume dos seus olhos, no sumo da sua boca, e param um instante no seu pescoço com um violento beijo de vampiro que ela recua e parece querer fugir. Mas eu tenho-a bem presa nos braços que são de ferro. Mordo-a na boca que se abre e cede como um fruto maduro; mordo-a brutalmente e chupo-lhe os dentes como se fossem bagos de laranja. Ela solta um profundíssimo suspiro, beija-me e ... desmaia."
in Novelas Eróticas
Vergílio Ferreira
"Porque é que "tudo o que é bom ou faz mal me está proíbido"? É a moral da natureza e dos homens. A primeira é a mais razoável mas a segunda às vezes acompanha. Beber demais, comer demais (...) Mas quando um Casanova, aliás, um bom escritor, nos diz algumas vezes ter fornicado até deitar sangue, a natureza só aí dá aviso depois das orelhas mocas ao aviso da moral."
in Escrever
Fernando Pessoa
Março de 1920, à 4 da madrugada
"Meu amorzinho, meu Bebé querido
(...) Ai meu amor, meu Bebé, minha bonequinha, que te tivesse aqui! Muitos, muitos, muitos, muitos beijos do teu, sempre teu Fernando."
in Escritos Íntimos, cartas
Miguel Torga
Julho de 1957
"Com as mesmas palavras do passado,
Digo que te desejo, vida!
E como um namorado
Que desmede a paixão, já desmedida,
Prometo
Ser-te fiel sem esperança.
Fiel à consciente
Temeridade
De amar intensamente
Sem mocidade ..."
Madrigal dos Cinquenta Anos
in Antologia Poética
Sem comentários:
Enviar um comentário