segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Pobrete, alegrete ( 2 )











António Feijó

Fábula

Encontram-se um dia dois lagartos
Na curva sinuosa duma estrada;
Ambos tranquilos e de ventre fartos,
Na digestão pesada.

Perto, mas sem se verem, o primeiro
Diz, terminada a saudação do estilo:
"Eu cá sou um mansíssimo cordeiro
Que passeia tranquilo ..."

E dando curso à pérfida loquela
Fala o segundo com subtil recato:
"Pois eu sou uma tímida gazela
Que procura o regato"

Mas apenas se viram, frente a frente,
E um instante se olharam, espantados,
Um do outro fugiram de repente,
Ambos horrorizados!

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