sábado, 16 de março de 2013

Imagens faladas (6)












Antes de aqui ser fotografia fui óleo e expuseram-me na Sociedade Nacional de Belas Artes, de Lisboa. É a minha actualidade: jovem e triste, triste porque quando a minha mãe me deu à luz, ao que me dizem, o mundo não estava assim, havia, não muita, mas um pouco mais de confiança. Estou com medo. Tenho medo destes silêncios quase decretados, mas, para falar verdade, arrepiam-me as vozes que oiço aos microfones da China, as vozes militarizadas que nos chegam da Coreia, por exemplo. Mas também me assustam certos sorrisos dos representantes do Capital. Numa palavra, vivo assustada, como se a todo o instante tivesse para rebentar qualquer coisa que nos faça desaparecer, ou ficar autómato. Dizem-me que devo ir às manifestações onde se defendam direitos humanos, mas quando penso ir acodem-me as imagens de outros tempos em que não era preciso dizerem-me para eu ir ... Ir de cara lavada, sorriso nos lábios até ... até ao engano que acabava por chegar. Hoje, sinto-me coagida e o que me vai dando algum alento são as palavras de minha mãe que me falavam de liberdade, da liberdade que, nas palavras das mães, têm sentido. Talvez tenham sido, aliás, as únicas que me falaram verdade.

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