domingo, 19 de maio de 2013

Escrever ou não escrever, eis a questão

Já escrevi para comer. Já escrevi para responder por responder. Já escrevi para não esquecer. Já escrevi para lembrar. Já escrevi por gostar de ler. Já escrevi por amor. Já escrevi zangado. Já escrevi discursos alheios. Já escrevi por não me deixarem falar.Já escrevi por ser voluntário da escrita. Já escrevi cartas de amor. Já escrevi para não ter que falar. Já escrevi para mandar à merda, sem merda que se visse. Já escrevi requerimentos (pessoais e alheios). Já escrevi para pedir ... que não me pedissem. Já escrevi para desejar Boas Festas. Nunca escrevi expressamente para não desejar Boas Festas. Nunca escrevi  para satisfazer clientelas políticas. Nunca escrevi para conquistar leitores. Nunca escrevi para que me escrevam. Mas adoro muito do que muitos dos outros escrevem também para mim. E fico feliz quando sei que têm paciência para me ler AQUI. Sem que eu tenha que, obrigatoriamente, dizer mal do Sócrates, ou do Cavaco, ou do Álvaro Cunhal, ou do Passos Coelho. Não quer dizer que goste do ... ou do ... Não quer dizer que admirei Salazar ou Lenine (que vi morto num mausoléu de Moscovo). Não quer dizer que seja de direita ou de esquerda - ou do conforto do centro.

Escrevo porque me disseram como é. E já escrevi a pedido de quem sabia mais do que eu. Mas chego aqui, a esta coisa, depois de ter detestado esta coisa, o quer dizer que não garanto escrever aqui, mais tarde ou mais cedo, apenas para ver as letras que penso a saltar para aqui ... Feitas tolas, brincando às frases ... Como no tempo é que já havia livros, mas eu não os tinha e copiava os que bibliotecas alheias me emprestavam porque sabiam que eu gostava de palavras, gostava de palavras que, conforme as circunstâncias, queriam dizer, por vezes, coisas diferentes ... É verdade: cheguei a ser coleccionador de palavras. Não tinha livros e ia aos livros alheios, de caderno em punho, copiar palavras ... A certa altura, só as palavras que achava bonitas, quase sempre ligadas a outras que pouco significavam. Melhor: lembro-me de juntar palavras para as querer mais ... 


E assim cheguei às crónicas que quase ninguém leu, mas que, juro, estão nos Arquivos oficiais e noutros. No meu, por exemplo. E algumas até estão em livros - à espera de leitores. Como, aliás, estas que aqui tenho deixado depois de ter aprendido a encher o "espaço" com elas. 


Já participei numa comunidade de leitores para ouvir palavras...antes de o vento as levar.


Alguma coisa há-de eternizar o que escrevo. Ou durar, pelo menos, enquanto eu duro, para que possa morrer com a sensação de que escrevi e de que alguém acabará por me ler - sem ter que me dizer nada. Nem bem, nem mal.



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