quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Portugal entre gente remota (8) - Austrália
O trabalho proposto à então Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, "assustou" os meus interlocutores pela soma de euros que obrigaria a gastar, mas, sobretudo, pela ideia de que, por muito amplo que fosse o alvo a atingir, apesar de não existir NADA, seria um esforço sem consequências palpáveis ... Não foi assim que disseram, como é óbvio, mas ...
Ora bem, ladeadas as conversas dos que gostam de ovos, mas não são capazes de os abrir, a viagem fêz-se, o livro está aí e ...
e acabou por contar com o patrocínio das COMUNIDADES PORTUGUESAS, das COMEMORAÇÕES DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES, da CÂMARA MUNICIPAL DE LOURES, do MONTEPIO GERAL, da FUNDAÇÂO ORIENTE e do BANCO COMERCIAL PORTUGUÊS,
e constituir, por honrosa deferência, parte da bagagem do Presidente Jorge Sampaio, na sua visita oficial à Austrália.
É o ENTRE VISTAS nos arredores das Montanhas Azuis, de Agosto de 2001, apresentado pelo então Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Lello.
São mais de 400 páginas A5, onde, abusando, da capacidade óptica dos leitores, se procura fazer uma AMOSTRAGEM do que somos do outro lado do mundo, onde "ninguém nos vê ..."
De uma entrevista, em Sydney, com a médica Benvinda Xabregas (houve a preocupação de entrevistar, sobretudo, portugueses com profissões ou histórias de vida reconhecidamente significativas para uma amostragem global de quem somos ... obviamente, na Austrália.)
Das muitas perguntas formuladas, esta:
Tem razões de queixa do Portugal distante?
"Tive razões para ficar um pouco amuada ... Ninguém pode verdadeiramente queixar-se quando vai de viagem apenas uma seis ou sete semanas... Contudo, pareceu-me que as pessoas ainda não reconhecem que, basicamente, todos somos iguais. Senti uma distinção de classes muito grande. Repare: eu nunca digo que sou médica e, uma das vezes que fui lá de férias, tive necessidade de telefonar para aqui, para os meus pais. Acontece que os meus avós não tinham telefone em casa e eu vi-me obrigada a ir telefonar aos Correios. Cheguei, todavia, quando faltava cerca de meia hora para fecharem e fiquei pendurada, pelo menos, 30 a 45 minutos, enquanto a respectiva empregada falava ao balcão com outra senhora ... Quando chegou a minha vez, essa empregada, ao saber o que eu pretendia, disse-me com toda a tranquilidade: "ah, um telefonema para a Austrália?!... Agora estamos na hora do almoço, volte às três ..." Fiquei bastante chateada com a cena, e, à tarde, depois de ter sido ultrapassada por enorme massa de gente - os conhecidos e não conhecidos, acabei por forçar: "olhe, o meu nome é doutora Xabregas e preciso de fazer um telefonema para a Austrália ..."
Foi em dois segundos ... Fiquei amuada comigo própria."
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