Se eu soubesse escrever, escrever mais do que sei (e fosse parente ou amigo de um livreiro, desses que ainda não faliram ... ) não escreveria, transcrever-me-ia dos livros grossos em que teria escrito à minha neta e ao mundo, tanto mais que acho que é muito o que está a "ficar por dizer"... Não sendo assim e restando pouco do que posso ... fico-me, bastas vezes, pelo que outros puderam ... Vendo em tudo, apesar de ..., uma espécie de parto em segunda mão no regalo do sublinhado ... que me sublinhou ideias que tive também, mas que não ousei dizer assim ... Se é que era capaz.
Volto, por isso, à beleza da palavra de Ruy Belo e, com o atrevimento de nele me imaginar, do lado de fora da sua visão nem sempre serena ...
"Setembro é o teu mês, homem da tarde
anunciada em folhas como uma ameaça
Ninguém morreu ainda e tudo treme já
Ventos e chuvas rondam pelos côncavos dos céus
e brilhas como quem no próprio brilho se consome
Tens retiradas hábeis, sabes como
a maça se arredonda e se rebola à volta do que a rói
Há uvas há o trigo e o búzio da azeitona asperge em leque o som inabalável
nos leves ondulados e restritos renques das mais longínquas oliveiras conhecidas
Poisas sólidos pés sobre tantas traições e no entanto foste jovem
e tinhas quem sinceramente acreditasse em ti (...)"
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