Eu, simples agricultor de palavras e semeador de vírgulas, gostava de, nesta época de sorrisos natalícios, vos oferecer alguma coisa que se comesse, mas como não sei poesia (essa, sim, segundo Natália Correia, é para comer ...), lembrei-me, à falta de melhor, reproduzir aqui a espécie de prefácio que escrevi para o meu primeiro livrinho, há 33 anos, dando-vos assim o que tenho ... (mentira: já tenho, não muitos, mas alguns com muitas páginas ...).
Absentista não quero ser.
Para latifundiário não sei se tenho vocação.
Fico-me, por isso, pelo minifúndio - que é coisa, modéstia à parte, ao meu alcance. Aqui, à sombra da minha latada, o concebo.
As palavras que aí vão aparecem, assim, como frutos e nasceram das sementes que, fundamentalmente, o tempo estrumou. Tentei cortar-lhes as ervas daninhas que à sua volta se formaram, mas não posso prometer, apesar disso, que o produto venha a ser a ser de boa qualidade. É, isso sim, o melhor que, sem ajuda de ninguém, me foi possível, de momento, aprontar.
Crónicas como árvores, palavras como pêras. Algumas doces. Mas nem todas. Enfim, o que se pôde arranjar - sem subsídios, sem reformas agrárias complicadas, sem alfaias agrícolas do vizinho. Um minifúndio de vontade, feito de palavras nossas - ou nacionalizadas. Uma iniciativa privada. Por vezes, privada de iniciativa. Sobretudo, no que toca aos extremos da propriedade - onde tive que deixar crescer urtigas, que até dizem que dão um bom chá contra algumas maleitas ...
"... Cada um dá o que tem, conforme a sua pessoa".
Eu dou um minifúndio.
Nem todos são Ramalhais Figuras.
Isto de latifúndios de letras é para quem sabe e pode e eu apenas faço parte, por direito próprio, penso, da Associação dos Pequenos e Médios Agricultores das Palavras.
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