A propósito do "post" anterior ("... morte de Salazar e o 25 de Abril de 1974") uma generosa Amiga e leitora assídua do que aqui se escreve, enviou para a ruadojardim7 uma mensagem/testemunho que muito me sensibilizou e que a seguir tomo a liberdade de transcrever enquanto documento inequívoco de uma época e de uma sensibilidade.
BEM-HAJA!
"Lembro-me de ter tomado conhecimento da morte de Salazar, no momento em que abracei o meu pai que não via há mais de um mês. Meu pai e minha mãe saltavam de obra para obra e eu ficava a estudar em colégios, hospedada em casas particulares. Meu pai e minha mãe, sempre juntos, deslocavam-se do Minho ao Algarve, Trás-os-Montes...
A partir dos meus 12 anos, foi assim...
Meu pai era um homem esclarecido, foi ele quem me ensinou a ler quando tinha 5 anos, aos domingos de manhã,em Silves, mas aparentemente conformado. Não lamentou nem se alegrou com a morte do ditador. Tinha trabalho, eu era e fui a única filha, e acabara de comprar um Volkswagen carocha de cor branca cuja matrícula (ainda me lembro) era LC-29-19. Não sei a matrícula do meu carro atual...
A atitude do meu pai foi completamente diferente quando aconteceu o 25 de abril!! Estava a trabalhar em Arraiolos, sem minha mãe e no dia 26, entrou em casa e disse esfuziante de alegria: " há dois dias que não durmo, finalmente a liberdade está aí e quem trabalha vai ser compensado de forma justa...". Filiou-se no partido comunista, mas faleceu a 11 de outubro de 1984. Na cama do hospital dizia: "comprem sempre o Diário, para "os" ajudar.
Não viu, felizmente para ele, que a sociedade utópica que defendia com toda a generosidade é utópica mesmo e que tinha razão quando não se alegrou com a morte de Salazar..."
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