"Dezanove “talentos”, oriundos de Macau e a viverem no exterior, estão no território para uma visita que pretende reforçar a sua relação com a cidade, os seus serviços e empresas, e quiçá atraí-los para regressarem à Região.
Os convidados actuam nas áreas da medicina, tecnologia da informação e artes, entre outros. O programa inclui visitas a departamentos e instituições públicas e a empreendimentos infra-estruturais em Macau e Hengquin, encontros com associações locais e palestras com grupos académicos.
A actividade é patrocinada pela Comissão de Desenvolvimento de Talentos, no âmbito de um programa lançado no ano passado que pretende devolver a Macau “talentos” que deixaram a região. Cerca de 100 pessoas candidataram-se a participar da semana de visitas, mas apenas 19 foram seleccionadas, informou o Gabinete de Comunicação Social (GCS)."
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"A ausência de políticas públicas e de recursos põe em risco o património, o presente e o passado.
Rodrigo de Matos
As obras de arte são um elo de ligação entre o presente e o passado, com um significado que ultrapassa em muito o seu valor artístico e que são vestígios de uma riqueza identitária incalculável. Infelizmente, não são eternas, têm um fim. Cabe à conservação e restauro adiar esse fim o mais possível. mantendo viva essa ligação ao passado e à identidade. Em Macau, a recuperação de obras antigas - aquando da candidatura da cidade a Património Mundial da UNESCO, em meados da primeira década do século XXI - extraiu às cinzas do esquecimento obras de arte de um valor histórico notável. De lá para cá, muito ficou por fazer na opinião de especialistas que falaram ao Ponto Final.
Mas afinal, quem conserva e restaura em Macau? Essencialmente, os proprietários, alguns artesãos ou técnicos estrangeiros em empreitadas pontuais, “mas nem sempre com garantia de qualidade ou a melhor chancela”, considera Vitor Teixeira, professor da Escola de Artes da Universidade Católica Portuguesa. Até a transição de poderes para a China, era a administração portuguesa que ia garantindo, através dos seus organismos nacionais na área do Património e das suas extensões em Macau, a conservação e algum restauro, embora, segundo o especialista em restauro, “nem sempre segundo os melhores padrões ou critérios técnicos e opções”. Hoje em dia, “são os museus, a Igreja e o Instituto Cultural, entre outras iniciativas governamentais, e os particulares que vão fazendo algo”, explica.
Mas a situação actual está longe de ser a ideal. “Não há uma política de conservação e restauro do Património em Macau. Não há, nem parece que virá a existir”, observa Teixeira. “Não há técnicos, não há meios, não há formação, não há sensibilidade até. O edificado, património valioso em Macau, fica a cargo do Governo, das Obras Públicas. Sim, tem-se preservado e reconstruído, intervencionado aqui e ali. Sim, a Igreja também, como disse, e até será a que mais aposta e pressiona neste sentido. Mas falta tudo: formação, política, intenção, programação, empreendedorismo, sensibilização”.
Levantamento do Património
O Centro Histórico de Macau reúne uma colecção de mais de duas dezenas de locais que são testemunhos de séculos de co-existência entre as culturas chinesa e portuguesa, os quais têm uma importância histórica que lhes valeu, em 2005, a sua inscrição pela UNESCO na lista do Património Mundial, tornando-se assim o 31º. local na China a figurar neste rol. As obras e locais classificados passaram a contar com um cuidado especial que parece garantir a sua sobrevivência pelos próximos tempos. O problema está na quantidade de edifícios e obras de arte com valor histórico que ficaram de fora dessa classificação. Em Macau há muitos e a sua situação é preocupante (veja “Obras em perigo: os casos mais preocupantes”).
“Ainda há muito trabalho para fazer”, considera a arquitecta Maria José de Freitas, que participou na recuperação das ruínas de São Paulo e esteve à frente da renovação do Teatro Dom Pedro V, entre outros. “Devia haver um levantamento geo-referenciado de todo o património de Macau, mas que fosse bastante exaustivo, não só do ambiente físico mas também social. Isto é um trabalho que provavelmente está a ser feito. Se não está, deveria”, explicou ao Ponto Final.
Património móvel
Mas a conservação e o restauro têm um papel decisivo não só nos edifícios em si (o chamado património imóvel), mas também em toda a arte que eles abrigam. De pinturas e esculturas aos livros, passando por relógios, alfaias litúrgicas, vestuário, objectos decorativos e jóias – é do património móvel que falamos. Também nesse capítulo, há muita coisa em Macau a necessitar de intervenção urgente, conforme explicou ao Ponto Final a pintora Cristina Mio U Kit, uma autoridade em restauro em Macau (ver “Pinturas em risco”). “O Governo de Macau percebe o valor das coisas. Tem vindo, com o tempo a demonstrar muito mais preocupação”, considera. “Mas ainda há muito a ser feito, principalmente na mudança de mentalidades”, explicou.
Entretanto, há ...
escreve-se também nesta edição do PONTO FINAL
"Muitas obras de pintura e escultura que se encontravam no interior dos edifícios que viriam a ser classificados pela UNESCO em 2005 foram alvo, por essa ocasião, de um trabalho intensivo de recuperação. Cristina Mio U Kit está entre os profissionais mais qualificados de Macau na área da conservação e restauro e foi uma figura de proa nesses trabalhos. “Hoje não sei como as coisas estão, mas as peças em que trabalhámos necessitam cuidados de manutenção a cada cinco anos para que não voltem a degradar-se”, observou a pintora, que também é actualmente editora do MacauArt.net, o site do Governo de Macau dedicado às artes. “Por esta altura, já deviam ter começado os trabalhos de conservação, e espero sinceramente que eles estejam a ser feitos”, afirmou, em conversa com o Ponto Final.
Actualmente a trabalhar no restauro de uma série de obras do seu pai, o pintor Mio Pang Fei, que irá representar Macau este ano na Bienal de Artes de Veneza, Cristina Mio assinala ainda haver outros casos, eventualmente mais preocupantes. “Há outros sítios em Macau, certamente, cheios de obras com valor histórico a precisar de um restauro urgente, sob pena de ficarem a longo prazo irrecuperáveis. O que acontece no Templo de Kun Yam é emblemático dos obstáculos que a conservação enfrenta em Macau. O espaço contém uma série de pinturas de grande valor que necessitam de uma intervenção urgente. O Governo até já se mostrou interessado em investir na sua recuperação, mas há um impasse nas conversações com os monges responsáveis pelo templo, que querem contrapartidas para autorizar a intervenção. Entretanto, o tempo vai passando, e as pinturas vão caindo aos bocados. Estamos a falar de obras com mais de 200 anos! Os padres católicos são, nesse aspecto, muito mais cooperantes”, considera."
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