Cerca de três centenas de pessoas assinalaram ontem, no Largo do Senado, o 26.º aniversário do protesto na Praça de Tiananmen. A adesão foi menor do que no ano passado, mas a intenção mantém-se: eternizar a memória das vítimas do 4 de Junho de 1989.
Catarina Mesquita
"Cerca de 300 pessoas concentraram-se ontem no Largo do Senado para assinalar o 26.º aniversário da repressão estudantil na Praça de Tiananmen.
Com menor adesão face à vigília de há um ano, a iniciativa levou jovens e menos jovens ao coração da cidade.
O Largo de Senado voltou a encher-se de velas, música e pregões democráticos. A União pelo Desenvolvimento Democrático de Macau (UDDM) liderada pelos deputados Ng Kwok Cheong e Au Kam Sam, reproduziu ainda imagens alusivas à repressão dos protestos da Praça da Paz Celestial e distribuiu pelos presentes informação relativa ao massacre.
No minuto de silêncio em memória das vítimas mortais dos fatídicos acontecimentos de 4 de Junho de 1989 estiveram sobretudo adultos, mas a adesão dos jovens também foi significativa: “O ano passado viam-se mais jovens, este ano há uma mistura entre pessoas de gerações mais velhas e estudantes. É um momento importante para todos”, avalia o politólogo Eric Sautedé, também presente na vigília.
O número significativamente inferior de participantes este ano era, na opinião de Ng Kuok Cheong, “previsível, uma vez que não é uma data redonda e o ano passado as pessoas saíram à rua em sinal de protesto pela tentativa de aprovação do Regime de Garantias para os Titulares dos principais cargos públicos”.
O deputado pró-democrata considera que, apesar de já terem decorrido 26 anos, o massacre de Tiananmen “ainda não foi justamente dignificado”. Ng Kuok Cheong considera que as pessoas em Macau sabem o que realmente aconteceu em Tiananmen e se não sabem “estamos aqui precisamente para lhes contar a verdade”.
Entre os participantes da vigília estava Crystal, uma jovem estudante local que tomou conhecimento dos sanguinários acontecimentos do 4 de Junho através de familiares: “Sei que este é um assunto proibido nas casas chinesas do Continente mas em minha casa conheci esta história à mesa, contada pelos meus tios”, explica.
Para Alex Lao, residente de Macau, o número inferior de pessoas a participar justifica-se pelo facto de “ninguém se querer lembrar das coisas más e em Macau não se darem ao trabalho de fazer nada”. Apesar de reconhecer que há mais “massa critica entre as gerações mais jovens”, Alex Lao considera que ainda “não há pessoas suficientes na rua, de forma a provar que Macau é um lugar que luta pelas suas causas”.
“O ano passado foi uma excepção à regra”, lamenta Lao, lembrando os cerca de dois milhares que se juntaram à vigília do 25.º aniversário do massacre de Tiananmen, evento no qual também marcou presença.
Annie Su Long é de uma geração mais antiga e confessa estar desapontada pelo facto dos jovens que “mostraram sangue na guelra” no ano passado não terem continuado a sair á rua: “Esta vigília, por exemplo, são apenas uns minutos e Macau só tem a ganhar com isso”.
“O que aconteceu é uma memória que ficará para sempre, passem os anos que passarem. Tenham ou não vivido de perto o que aconteceu, todas as gerações vão ser sempre marcadas por este evento”, lembra Annie.
Este ano não houve constrangimentos à realização da vigília, facto que a organização considera notável. Á vigília juntaram-se várias outras associações do território, entre as quais a Associação Novo Macau.
#Hashtag Tiananmen
Uma senhora pede a um grupo de jovens que faça silêncio pedindo respeito pela causa. Os jovens acedem ao pedido e pegam nos telemóveis, enquanto ao fundo do Largo do Senado passam imagens dos protestos de 1989 aos quais parecem não ligar.
Com o reflexo da luz do ecrã do seu dispositivo móvel, Lee tira uma fotografia à vela que carrega e ao folheto que diz “não importa de que forma a tempestade chega, a flor da liberdade renascerá”. Em breves segundos posta a fotografia com um hashtag seguido do título Tiananmen.
Para Lee esta é uma outra forma de mostrar ao mundo “um lado da história que vem brevemente referido nos livros mas que não deve ser esquecido”.
Tal como Lee, milhares de pessoas, nos quatro cantos do mundo, publicaram nas redes sociais fotografias alusivas ao protesto de Tiananmen .
utilizadores da rede social Instagram. Para Lee a icónica fotografia pouco lhe diz para além “de que o homem que se aproximou do tanque era alguém com muita coragem” mas é mais importante para o jovem que saibam que ele “esteve nas ruas de Macau a usar o passado para um futuro melhor”.
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