quinta-feira, 24 de setembro de 2015

MACAU: Os 150 anos da luz que guiava os navegantes









by Ponto Final
Século e meio após a sua entrada em funcionamento, o Farol da Guia é hoje uma atracção turística, mas o seu potencial patrimonial está subaproveitado, devido a uma antena de comunicações.
Rodrigo de Matos
"Chegou a ser uma bênção para os marinheiros que passavam por Macau a luz que, do cimo da colina, guiava as embarcações e ajudava a evitar naufrágios quando o céu encoberto impedia que as estrelas servissem de orientação. O tempo passou e o Farol da Guia transformou-se numa atracção turística, incluída juntamente com a Capela no conjunto da Fortaleza da Guia, monumento classificado como Património Mundial pela UNESCO. Faz hoje 150 anos que o seu facho começou a rodar no alto da colina.
A importância histórica do farol é inegável, até porque foi o primeiro que luziu nas costas da China. Construído sob a direcção do governador José Rodrigues Coelho do Amaral, entrou em funcionamento pela primeira vez a 24 de Setembro de 1865. “Desde a noute de 24 do mez passado se começou a acender um novo pharol construido na fortaleza de Nossa Senhora da Guia, da Cidade de Macau”, anunciava José Eduardo Scarnichia, então capitão do Porto de Macau, num aviso aos navegantes datado de 2 de Outubro de 1865.
Custeado pela comunidade estrangeira de Macau liderada pelo comerciante H. D. Margesson, o projecto contou com o engenho do macaense Carlos Vicente da Rocha, que concebeu um original mecanismo que funcionava com um candeeiro a petróleo. O modelo do farol era tão curioso, que o seu autor o enviou para Lisboa, onde esteve exposto na Sala do Risco do Ministério da Marinha até ser devorado por um incêndio.
Desenho simples mas eficaz
Com uma torre octogonal de 13,5 metros de altura da base até à cúpula, o farol contava com uma lanterna que emitia, a partir de um ponto situado 101,5 metros acima do nível do mar, uma luz branca e rotatória que perfazia um giro completo em 64 segundos e que podia ser avistada até 20 milhas. O suficiente para evitar muitos acidentes marítimos, que eram frequentes por estas águas, num tempo muito anterior aos aterros e em que quem chegava a Macau pelo mar encontrava na colina da Guia um imponente paredão.
“O farol tem uma estrutura muito simples e vale pelo conjunto que forma com a capela e o resto da fortaleza”, considera Francisco Vizeu Pinheiro, professor de arquitectura na Universidade de São José. “O interesse do Farol da Guia começa logo pelo nome, que se refere à Nossa Senhora da Guia, ou seja, reflecte uma ligação mariana maternal muito forte que tem Macau, e que encontramos aliás noutros monumentos como a Igreja da Madre de Deus ou a Capela de Nossa Senhora da Penha”, refere, em conversa com o PONTO FINAL. “Representa ainda hoje a memória de uma relação com o mar que Macau sempre teve e que infelizmente se está a perder, com todos estes edifícios altos que se estão a construir e que formam um paredão que destrói a vista da paisagem”, lamenta o arquitecto.
Património a meio gás
O conjunto da Fortaleza, que integra o Farol e a Capela da Guia, foi um dos monumentos seleccionados para fazerem parte da listagem do património mundial da UNESCO, de forma inteiramente merecida na opinião do arquitecto. No entanto, o estado actual do monumento encerra uma contradição difícil de explicar: o pátio por trás do farol e da capela apresenta uma área vedada ao público “apenas para manter uma antena de comunicações que podia muito bem ser deslocada para o topo de uma das altas torres que há em Macau”, observa o arquitecto.
“O pátio em causa tem uma das melhores vistas da cidade a partir da fortaleza. Ora, isto num monumento do Património da UNESCO não faz qualquer espécie de sentido”, explica, sugerindo ainda outras ideias para valorizar o potencial turístico da zona: “O projecto do teleférico da Guia podia ser estendido até à zona do porto, junto ao terminal marítimo, o que seria bom para o turismo”.
Da Guia, com amor
Estreou nos cinemas há precisamente uma semana o filme “Guia in Love” (Guia Apaixonada), que tem o Farol da Guia como cenário de fundo. Realizada por Sam Leong, a película conta o drama de dois rapazes e uma rapariga que sempre foram amigos desde muito novos e que cresceram a brincar perto do farol. Os dois moços eram apaixonados pela menina, até que ela acaba por escolher um deles, com quem vive uma vida feliz durante 45 anos até morrer. O outro é agora, passados todos esses anos, um homem de negócios rico e bem sucedido, dono de um hotel de luxo que gere com a ajuda da filha. Certo dia, o amigo agora viúvo pede-lhe para se encontrarem no topo da colina, junto ao farol, para recordarem os tempos felizes que viveram no passado, na companhia da amiga.
Falado em cantonês, o filme de 97 minutos conta com as actuações de Stephy Tang, Wong You Nam, Wilson Lam e Vincent Wan nos papéis principais."

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