“Coimbra, 25 de Abril de 1975 – Eleições a sérias, finalmente.
E foi nestes cinquenta anos de exílio na pátria a maior consolação cívica que tive.
Era comovedor ver a convicção, a compostura, o aprumo, a dignidade assumida pela multidão de eleitores a caminhar para as urnas, cada qual compenetrado de ser portador de uma riqueza preciosa e vulnerável: o seu voto, a sua opinião, a sua determinação. Parecia um povo transfigurado (…).
Assim os nossos corifeus saibam tirar do facto as devidas conclusões. Mas duvido.
Nunca aqui os dirigentes respeitaram a vontade popular, mesmo quando aparentam promovê-la.
No fundo, não querem governar uma sociedade de homens livres, mas uma sociedade de cúmplices que não desminta a degradação deles.”
"Coimbra, 29 de Abril de 1975
Meu dito, meu feito. depois do amuo, a reacção raivosa dos vencidos. Vencidos menos pelo significado numérico dos votos do que pela maneira ressentida como vivem a sua condição minoritária. O que devia ser um íntimo contentamento colectivo - cada português a felicitar-se de pertencer a um agregado humano que depois de um cativeiro de meio século, acrescido de um inesperado surto de medo que parecia não ter fim, foi capaz de uma atitude cívica exemplar -, é motivo de desespero para todos os derrotados. Não sabemos perder nem ganhar. Se perdemos, odiamos o vencedor, e fazemos tudo para lhe tirar da cabeça a coroa de louros; se ganhamos, ninguém nos atura, porque falseamos a dimensão da vitória na expressão empolada do triunfalismo."
Vem aí nova oportunidade de Portugal mostrar que já é crescido ... VEREMOS!
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