terça-feira, 17 de maio de 2016

"À Sombra da Minha Latada" (2)











NEUTROS E NEUTRÕES

"Vivemos num mundo de pândegos. Pândegos neutros e neutrões. Por cá e lá fora. Todos uns anjinhos. Todos lutando por causas justas, todos a favor da paz. Mas todos congeminando, permanentemente, a forma de tramar o próximo com o ar mais neutro possível, que é como quem diz, com um ar neutrão.

Agita-se a opinião pública dizendo que a bomba não se deve fabricar (a de neutrões, está bem de ver), fazem-se manifestações anti, reúnem-se gabinetes, assembleias, comités e ... cafés e discute-se o assunto com teatral calor. Põe-se toda a gente a falar no mesmo tema através de uma gigantesca manipulação. E ninguém diz que tudo não passa de uma brincadeira de meninos crescidos que se estão divertindo à nossa custa, enquanto por toda a parte a fome é coisa séria e, portanto, altamente preocupante. Mas isto já foi dito milhões de vezes e não  é só por se dizer que se resolve. As coisas resolvem-se - fazendo, trabalhando. E os neutros que brincam aos neutrões esquecem-se de que há quem não acredite que, independentemente das suas palavras, dos seus tratados, em caso de conflito, todos os compromissos seriam esquecidos. O que tinha sido uma arma política, mais ou menos inofensiva, tornar-se-ia, em presença de um logo apregoada "legalidade revolucionária", na mais mortífera das armas de guerra. Adeus neutralidade, adeus conversas na ONU e outras. É caso para dizer que nessa altura é que ficaria tudo Ó NÚ. Mas já seria tarde. O mal é o homem inventar a receita da destruição. Depois, se esta for indigesta, pode não a mandar confeccionar porque lhe revolta os fígados mas, em dia de necessidade, de grande apetite, vai mesmo ao livrinho das proibições, saca da iguaria censurada e esquece as recomendações dos "books" que é, como quem diz, dos tratados e papeladas do estilo. E rebenta a bomba. Os neutrões (gente) arranjam novos nomes para neutrões (bombas) e morre-se calmamente sem que os compromissos tenham sido rasgados, mantendo-se assim, todo o pessoal dentro da mais pura neutralidade. É uma morte santa - sempre por uma causa justa, sempre sem quebra da palavra dada, sempre a favor da paz. O que importa é que o povo se tenha divertido enquanto cá andou assistindo ao jogo de pingue-pongue da nata das "massas" que os pândegos políticos aspiram ser. E não me venham  dizer que o Costa é, entre nós, o único brincalhão. Há mais. Com experiência em "legalidades revolucionárias" temos vários cómicos - todos hoje muito neutros. Uns perfeitos neutrões, salvo seja."

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