O jornal METRO, graciosamente distribuído em Lisboa, "diz" hoje, em título, na sua página 5-Nacional:
"Em Portugal, são elas as grandes leitoras de blogs". sic e acrescenta Quanto às idades de quem lê, a faixa etária mais representativa vai dos 25 aos 34 anos (31% das respostas)"
Ora bem, aqui, na ruadojardim7.blogspot.com, não se conhecia tal "conclusão", que, aliás, por cá, vai continuar a ignorar-se,
isto é, continuará a falar-se, a escrever-se, sem distinção de sexo, idade, credo, preferência partidária ou qualificação, baseado num princípio elementar: não discriminação, embora, de vez em quando, as estatísticas possíveis, registem ... registem alguns "afastamentos" ditados pela eventual simpatia ou amizade pessoal.
Seja como for, um pedido:
respeite-se a igualdade de género e continue-se - na circunstância, AQUI, fiel ao ontem prometido: reprodução de passagens do livro (esse, sim, datado) que, publicado em Lisboa, em 1980, continua, aproveitando a liberdade conquistada, a ser verdade (agora bastante mais discreta e "civilizada" convenhamos).
Lá vai então enquanto a censura não regressa, ou não se expressa:
1976
"Abril em Portugal. Mais do que uma canção: uma revolução. Com flores, letra e música. Marchas e cravos. Espingardas para decorar e flores para atirar. Eram vermelhos sem ninguém saber porquê. Nem importava. Há pormenores que não se discutem em dias festivos. O povo veio para a rua e depois de ter sido madrugada hesitante, foi manhã de festa sucessivamente mais rija até ao 1º de Maio em que cantou, bailou, comeu e bebeu à grande. No dia seguinte, foi trabalhar, e trabalhar e depois ainda trabalhou. A seguir, desistiu enquanto não repartiram consigo parte da riqueza acumulada.
Repartiram do que havia e do que deveria haver.
Dançara na rua, Dançava agora na "boite". De dia, reclamava - à noite, dançava. E de tanto dançar ficou tonto. E começou a perturbar-se. É agora novo-rico. Ou melhor: foi novo-rico. De momento, já receia ser de novo-pobre. Tinha pouco dinheiro, teve pouco dinheiro, hoje paga por letras. Ao merceeiro ainda não. Mas quase. Entretanto, passa cheques sem cobertura. Inadvertidamente. Contudo, algumas lojas fazem questão em só lhos aceitarem visados pelo banco.
Dançou para festejar. Dançou para gozar. Entonteceu a dançar. Dança para esquecer, Liamba-se para sonhar. Sonha para se divertir. E a sonhar vive. Mas sem notas nem moedas.
Tem automóvel à porta e a letra no protesto. Tudo foram cravos. Quase tudo são cravas. Deixou-se envolver na primeira. Envolveu-se na segunda.
Portugal em Abril foi, antes de mais, uma canção: letra e música. Hoje é só letra. Todos os dias protestada.
Foi cravo. Alguns querem-no crava. Estamos, a pouco e pouco, em plena "revolução" dos cravas, em que a terra já nem sempre é para quem a trabalha mas para quem a baralha.
A música ... foi-se. Perderam-se as notas."
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