O alerta é importante e deve ser transmitido a todos os responsáveis autárquicos em cujos concelhos ou freguesias haja prédios construídos com painéis pré-fabricados. Lembro Santo António dos Cavaleiros, Vialonga, Carcavelos e outros, em que, parte das habitações, com quatro ou onze pisos, creio, foram produzidos em fábrica e depois montados, para ficar, nos locais onde ainda hoje é possível encontrá-los.
Com uma diferença em relação aos demais, construídos pelos métodos tradicionais: é que os pré-fabricados têm em todos nas suas diferentes parcelas uma estrutura armada (com ferro), isto é, uma estrutura...estruturante. Que não pode ser alterada. Para continuar a ser anti-sísmica, como é. Esta é a grande vantagem.
Mas, numa altura em que tanto de fala de sismos, melhor será pensar, e actuar no dia-a-dia, de forma a não contribuir para o ERRO, fazendo modificações na estrutura, em casa de cada um, que tudo exponham mais facilmente ao risco.
Aos "engenheiros" e "arquitectos" de trazer por casa que possam aparecer, melhor será dizer-lhes para lerem, por exemplo, um documento da Ordem dos Engenheiros intitulado "Colóquio sobre Pré-Fabricação" - volume 1 - Lisboa 1968. E consultarem o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, que dirá de sua justiça.
Não deixando isentas de responsabilidades as Câmaras e as Juntas de Freguesia. Para não falar nas administrações dos prédios onde haja quem não saiba que a segurança acrescida em que vive, tem um preço: não mexer na estrutura a título nenhum. Para resistir melhor a sismos, os prédios em causa estão preparados. É preciso que o desconhecimento os não estrague. Depois não se queixem.
Quem souber de casos de desrespeito pelas regras em causa, deve cumprir o dever cívico de avisar os (às vezes, inocentes) transgressores e a autarquia em que viva, e que, às vezes, pode parecer não querer ver... Até que surge o indesejado sismo... e...
Passem a palavra.
sexta-feira, 26 de março de 2010
Momentos...
Confissão: tenho com a China, além do que diz a sua história milenar, e a sua imensidão, dois momentos em que, se fosse outro, tinha razões para me sentir mais insignificante do que sou...
A saber: quando passei a ter que exibir passaporte para entrar em Macau e quando, no Rio de Janeiro, há um bom par de anos, fui obrigado, no Copacabana Palace Hotel (em serviço, meus amigos... Claro!), a mudar de quarto e de piso para instalar uma comitiva oficial...chinesa.
Com um pormenor que tenho mantido secreto: o quarto para que me mudaram no Rio tinha sobre a paisagem (imaginem!...) uma vista melhor do que a que foi oferecida aos chinas...
Na foto, um dos lados do postal que, do Rio, enviei à família...
quinta-feira, 25 de março de 2010
Actualidade 3
1. Ensino do Português já chega a 9 (nove!) cidades chinesas a)
2. Exército está a testar defesa antiaérea na zona de Vieira de Leiria
3. Chavez decreta feriados para poupar energia.
a) Macau incluído, espero. E já agora, como vão os negócios da China com o Brasil?
2. Exército está a testar defesa antiaérea na zona de Vieira de Leiria
3. Chavez decreta feriados para poupar energia.
a) Macau incluído, espero. E já agora, como vão os negócios da China com o Brasil?
Subsídios para a História - Macau 95 (XXXVII)
ENTREVISTA com o Dr. Rogério Fidalgo (cont.)
Como é que vê o crescimento chinês?... À luz dos conceitos que nós temos em Portugal, de vez em quando, acode-nos, chama-nos a atenção, um crescimento, eventualmente suportado pelos sacrifício social de multidões... O que é que se passa, na sua perspectiva, com o crescimento chinês?
Faço uma diferença entre duas coisas: uma coisa é crescimento, outra coisa é desenvolvimento. Penso que na China, neste momento, estamos a assistir ao primeiro passo, ou seja, estamos a assistir a um grande crescimento com algum desenvolvimento, mas o desenvolvimento implica harmonização de vários aspectos, designadamente, o desenvolvimento económico, com o desenvolvimento e as preocupações sociais, individuais e humanas que são legítimas e que nós vimos mais patentes naquilo que designamos por civilização ocidental, com mais incidência nas democracias ocidentais.
Portanto, aqui assistimos a um grande crescimento, com valores que são impensáveis neste momento no Ocidente. É claro que isso deve-se ao espírito e ao sacrifício dos trabalhadores chineses, da sua vontade e da sua capacidade de trabalhar.
É o que se verifica nas duas zonas económicas exclusivas chinesas mais desenvolvidas: zona económica exclusiva de Zuhai e zona económica exclusiva de Zuzengue (?) em que é patente, que está a nascer uma economia aberta, com as regras de mercado a funcionar. Portanto, a procura e a oferta. Penso que, a médio prazo, ver-se-á a tal compatibilização entre crescimento e desenvolvimento.
Acabei de ler, num jornal local, que Cantão está com dificuldades financeiras e admite a possibilidade de exploração do seu metropolitano por entidades privadas. Este é um conceito hoje em voga, isto é, quem constrói explora até resolver o seu problema? Acha que vamos por aí?...
No presente, tendo em conta o tipo de desenvolvimento económico que "atinge" a nossa aldeia global, cada vez mais pequena devido à evolução permanente das tecnologias, isso não espanta, não surpreende e, portanto, é natural a formação de "joint ventures", ou seja, a cooperação entre as empresas locais e as companhias do exterior.
Portanto, esse tipo de posições não espanta, não surpreende...
Mesmo que a ideologia seja outra?...
Mesmo que a ideologia seja diferente. Há, no presente, a grande vantagem do económico ultrapassar algumas "dificuldades" de natureza política.
Embora seja um recém-chegado a este território, quais são, a seu ver, as expectativas dos macaenses pós-1999?
Os macaenses, no presente, não revelam grande ansiedade, nem grande expectativa em relação a 1999. Confiam que Macau, depois de 99, terá o seu estatuto, devidamente definido ao longo do processo negocial com a China, nesta fase de transição. Portanto, a maioria deles optará pela continuidade da sua permanência em Macau. Entendo que não devem ter receios em relação ao futuro porque a sua identidade e o seu passado estão devidamente acautelados.
Com os católicos a conviveram com os budistas e estes com os outros...
O exemplo disso é que, actualmente, em Macau, há várias religiões, há pessoas que seguem, por opção, essas religiões e há uma sã convivência, não há nenhuma agressão, nem há nenhum contencioso. Aliás, é visível, neste pequeno território, a existência de várias igrejas, igrejas que têm a presença de católicos que defendem a sua prática e praticam de acordo com a sua fé. Não há qualquer contencioso.
Aeroporto de Macau: num contexto em que num raio relativamente pequeno existem outros aeroportos, que perspectivas? Concorrência, complementaridade, expectativas fundadas em estudos populacionais efectuados...
Nesta área, no futuro, existirão seis aeroportos.
Numa área com...
Com cerca de 170 quilómetros. Mas temos que ter em conta que o desenvolvimento e o crescimento nesta área são enormes. Obviamente que o aeroporto de Macau existe para concorrer e é para ganhar... Todos os estudos que foram realizados, tendo em conta aquilo que temos feito até ao presente, indicam que o aeroporto de Macau vai ter a sua ocupação.
É um aeroporto que vai ser rentável, é um aeroporto que pratica preços altamente concorrenciais e, portanto, o facto de existirem aqui à volta vários aeroportos, designadamente, o aeroporto de Zuhai, o actual aeroporto de Hong-Kong, o futuro aeroporto de Hong-Kong, isso não assusta o território, nem assusta a Companhia do Aeroporto de Macau. Isto porque nós vamos ter, seguramente, o nosso mercado, vamos ter, seguramente, muitas companhias a voar para aqui e, portanto, a rentabilização do nosso aeroporto, em relação ao futuro, está, na nossa perspectiva, perfeitamente assegurada e garantida.
Vamos continuar a ter jogo em Macau?...
Penso que o jogo vai continuar em Macau.
E as casas de penhores também?
E as casas de penhores também, porque jogo e casas de penhores coabitam.
Imagine agora um auditório. Acabou de chegar ao território, tem a frescura de quem está nessas circunstâncias, mas, apesar de tudo, porque é licenciado em História, tem das coisas uma visão certamente importante para os jovens...
Fale aos jovens portugueses que tem na sua frente... Estamos no "dia anterior" à passagem de Macau para a administração chinesa...
Começaria por dizer que Macau é um caso único no mundo e um exemplo no contexto asiático. Porque Macau é um território chinês sob administração portuguesa.
Nós, portugueses, país ocidental, potência que, à partida, poderia ser estranha, não é, devido à sua presença secular aqui, é um caso único na Ásia. Não há mais nenhum país no mundo que tenha mantido durante tantos séculos a sua presença nesta zona do globo, como nós.
Criámos aqui, de facto, uma relação cultural muito estreita.
Sendo um caso específico, acho que Portugal deve continuar a aproveitar essa particularidade para dizer ao mundo que Macau é um sítio diferente e que merece ser visitado, porque a convivência, o relacionamento entre duas culturas vai continuar. Entendo que não serão os anos que facilmente apagarão isso.
Não ficaremos uma Malaca, após os 50 anos da transição?...
Penso que não, até porque os macaenses saberão evitar isso. Portugal terá todo o interesse em continuar a manter relações muito estreitas com esta zona do mundo e precisamente o aeroporto será a via mais directa para que isso continue, designadamente, através dos voos que a TAP irá iniciar, como está previsto, a partir de Janeiro de 1996.
Agora no auditório em que acabou de falar entrou um grupo de jovens chineses. Muda o discurso?...
Não mudaria o discurso. O futuro é para os jovens e o único apelo que faria é que os jovens chineses e os jovens portugueses continuassem o excelente relacionamento que os seus antepassados souberam manter até aqui.
Uma das características da cultura portuguesa é o espírito universalista. Nós sempre tivemos facillidade no relacionamento com os outros povos e seria excelente que esse relacionamento se mantivesse como exemplo em Macau, daqui por muitas décadas, daqui por muitos séculos.
O que é que acha que o chinês médio pensa do português médio? Hoje.
Não é fácil responder, porque o pensamento, se não é expresso, se não há nenhuma corrente de pensamento divulgada, é uma coisa íntima e, se assim é, é difícil de penetrar... Mas entendo que os portugueses sempre tiveram uma excelente aceitação em Macau. A prova disso é que temos por cá ficado ao longo de séculos. Se o nosso relacionamento não fosse bom, não fosse um relacionamento franco e aberto, nunca conseguiriamos continuar aqui até 1999.
Próximo entrevistado: José Moreno.
quarta-feira, 24 de março de 2010
Estátuas e pombas
Quando, ontem, em Algés, hesitava em fotografar uma escultura centrada na maternidade ( mulher jovem com um bebé ao colo), chega-se uma pomba e, tranquilamente, poisa na cabeça da rapariga.
"Boa!...", disse de mim para mim. Disparei: foto 6456!
Cheguei a casa, fui aos arquivos do computador e... e, afinal, já lá tinha a mesma estátua, menos poluída, naturalmente...mas, surpresa!, com "a mesma" pomba ... Foto 2694 (Dezembro de 2009)...
Cumprimento?... Ou esta coisa de ser reformado e amar estátuas e pombas?...
"Boa!...", disse de mim para mim. Disparei: foto 6456!
Cheguei a casa, fui aos arquivos do computador e... e, afinal, já lá tinha a mesma estátua, menos poluída, naturalmente...mas, surpresa!, com "a mesma" pomba ... Foto 2694 (Dezembro de 2009)...
Cumprimento?... Ou esta coisa de ser reformado e amar estátuas e pombas?...
in CARTAS À MINHA NETA *
"(...) A primeira vez que andaste ao colo, eu estava lá... Mas também depois... (deixa-me rejuvenescer...) depois, a caminho da infantil, no autocarro; depois em Lisboa, no eléctrico (em que nunca tinhas andado...) sentada a meu lado; depois no barco, (Lisboa - Trafaria. Novidade!), de pé no assento, a meu lado, a ver as ondas; depois no cinema, na tua primeira ida ao cinema, sentada entre mim e a tua mãe; depois a primeira "aventura" de avião, o teu baptismo de voo (Lisboa - Paris); depois a alegria de, comigo e a mãe, vivermos, três miúdos, as emoções da Eurodisney; depois...depois a enciclopédia londrina...
E tudo ... e tudo: as idas a Cáceres, a Mérida, a Salamanca, a Sevilha. E a Lamego e ao Porto, e a Braga, e a Ponte de Lima, e a Valença, e a Évora, e a Portalegre, e à Serra da Estrela, à neve, e ao Dominguiso, onde, por ser aldeia e haver casa a descobrir, tens, como nós, igualmente, um berço rodeado de primos, a descobrir também. Para que nada se perca, no mundo onde cada vez mais é preciso não ignorar a memória. De tudo: dos caminhos, das fontes, dos rios, das árvores, dos afectos - em forma de gente, de livros, de quadros, de fotos, de DVD's, de objectos que contem histórias das meninas e meninos que andaram (ou não) ao colo e não gostariam de soçobrar às mãos do não-te-rales... Ou do sim-talvez-amanhã milhentas vezes reciclado que chateia: quem estuda. E quer. E sabe. E volta a estudar. Para saber. (...)"
M.A.
Hoje, disseram-me os da televisão, é Dia do Estudante. Se não te importas, mostro-lhes esta "intimidade"...
* a publicar ("Cartas do meu avô") quando houver um editor que não esteja falido e tenha netos.
Situações ... negativas...
Responsável pela regular publicação da revista do Centro de Aprendizagem, era certo e sabido que, sempre que houvesse relatório especial a escrever ou fotografia institucional, chamado, lá estava eu...
Umas tarefas mais conseguidas do que outras, a coisa funcionou, sempre ou quase. Bastas vezes, com resultados azedados e/ou ampliados pela presidente do conselho de administração que, pressionada pelos "amigos" ou seus superiores noutras instâncias, levava a vida a "desconfortar" quem acabava por, de algum modo, lhe "cobrir a rectaguarda" - no texto e na imagem.
Acontece que, anos passados "neste mundo de sombras", um dia, de manhã, bem cedo, chegou ao Centro um grupo de técnicos angolanos para ver "o espaço" e falar acerca das nacionais preocupações internas da estrutura.
Estou para saber, nem interessa ao caso, se a visita era daquelas que têm retribuição posterior garantida (no caso, em Angola), o que sei é que, tudo preparado pelos lusos anfitriões, aconteceu à hora prevista...
"Fotógrafo convidado": o signatário deste blogue.
Esforcei-me por fazer o melhor. Pus-me em cima de cadeiras, foquei de frente, de lado, em cima de bancadas, agachei-me... Apanhei a comotiva em grupo, em conversas a dois, de todas as maneiras: os rostos, os gestos, os risos, mãos a assinar, gargalhadas, ares compenetrados, tudo... Em todas as salas.
"Cacei" gente surpreendida com a visita, captei anfitriões e convidados. Não esqueci imposições, penumbras, das fluorescentes e as caras escuras dos angolanos, que constituiam o grosso, difícil, da "massa humana" da comitiva.
Fixei a assinatura de papéis à luz artificial de algumas salas. Em suma, esforcei-me para fazer o melhor...
Uma coisa era não gostar da senhora presidente que assumia o papel de anfitriã, outra os cuidados que o trabalho impunha...O Dever.
Entretanto,tudo isto, acontece de manhã.
À tarde, angolanos ausentes, revelação pronta...
Não acreditei: tinha ficado tudo, mas tudo, PRETO.
Foi doloroso. E não foi vingança. Juro! Foi o destino...
Nunca mais, naquele Centro, se ouviu falar em Angola. Não deve ter havido, portanto, retribuição da visita... Não soube mais nada acerca de nada... E a notícia que dei na Revista, prevista para usar e abusar das imagens - ficou escura... Mas teve direito a algumas linhas de cortesia.
Foi assim. Como se mostra na imagem que "ilustra" este "post".
Umas tarefas mais conseguidas do que outras, a coisa funcionou, sempre ou quase. Bastas vezes, com resultados azedados e/ou ampliados pela presidente do conselho de administração que, pressionada pelos "amigos" ou seus superiores noutras instâncias, levava a vida a "desconfortar" quem acabava por, de algum modo, lhe "cobrir a rectaguarda" - no texto e na imagem.
Acontece que, anos passados "neste mundo de sombras", um dia, de manhã, bem cedo, chegou ao Centro um grupo de técnicos angolanos para ver "o espaço" e falar acerca das nacionais preocupações internas da estrutura.
Estou para saber, nem interessa ao caso, se a visita era daquelas que têm retribuição posterior garantida (no caso, em Angola), o que sei é que, tudo preparado pelos lusos anfitriões, aconteceu à hora prevista...
"Fotógrafo convidado": o signatário deste blogue.
Esforcei-me por fazer o melhor. Pus-me em cima de cadeiras, foquei de frente, de lado, em cima de bancadas, agachei-me... Apanhei a comotiva em grupo, em conversas a dois, de todas as maneiras: os rostos, os gestos, os risos, mãos a assinar, gargalhadas, ares compenetrados, tudo... Em todas as salas.
"Cacei" gente surpreendida com a visita, captei anfitriões e convidados. Não esqueci imposições, penumbras, das fluorescentes e as caras escuras dos angolanos, que constituiam o grosso, difícil, da "massa humana" da comitiva.
Fixei a assinatura de papéis à luz artificial de algumas salas. Em suma, esforcei-me para fazer o melhor...
Uma coisa era não gostar da senhora presidente que assumia o papel de anfitriã, outra os cuidados que o trabalho impunha...O Dever.
Entretanto,tudo isto, acontece de manhã.
À tarde, angolanos ausentes, revelação pronta...
Não acreditei: tinha ficado tudo, mas tudo, PRETO.
Foi doloroso. E não foi vingança. Juro! Foi o destino...
Nunca mais, naquele Centro, se ouviu falar em Angola. Não deve ter havido, portanto, retribuição da visita... Não soube mais nada acerca de nada... E a notícia que dei na Revista, prevista para usar e abusar das imagens - ficou escura... Mas teve direito a algumas linhas de cortesia.
Foi assim. Como se mostra na imagem que "ilustra" este "post".
terça-feira, 23 de março de 2010
Nascer/viver em Moura
Sessenta anos depois, um amigo meu, nascido em Moura, quis rever a casa em que, pela primeira vez, olhara o mundo.
Bateu à porta e, ansioso, ficou à espera. Apareceu-lhe uma senhora que não o conheceu... O meu amigo verbalizou, então ( para ver o que dava...) meia dúzia de palavras, das poucas que, convalescente, lhe haviam "sobrado" da doença que lhas transformara...
De repente, alguém, lá de dentro, de ouvido à escuta, quebrou o silêncio: - é o Álvaro!... É o Álvaro!!!
- Sou!!!
Sessenta anos depois...
Subsídios para a História - Macau 95 (XXXVI)
ENTREVISTA com o Dr. Rogério Fidalgo
Agradeço que tenha a amabilidade de se apresentar...
O meu nome é Rogério Fidalgo, trabalho na CAM - Companhia do Aeroporto de Macau, na área comercial. A minha função fundamental é o contacto com as companhias aéreas na perspectiva de as atrair para o aeroporto de Macau, na medida em que são aquelas que, obviamente, trazem os passageiros, a carga e o correio e, portanto, movimentarão os fundamentos do negócio do aeroporto.
Agradeço que tenha a amabilidade de se apresentar...
O meu nome é Rogério Fidalgo, trabalho na CAM - Companhia do Aeroporto de Macau, na área comercial. A minha função fundamental é o contacto com as companhias aéreas na perspectiva de as atrair para o aeroporto de Macau, na medida em que são aquelas que, obviamente, trazem os passageiros, a carga e o correio e, portanto, movimentarão os fundamentos do negócio do aeroporto.
Em termos de formação académica, é licenciado em...
Sou licenciado em História e tenho o curso de Gestão de Recursos Humanos, do Instituto Superior de Gestão, de Lisboa.
Ao licenciado em História, a viver agora em Macau, a pergunta: o que é que, em seu entender, singulariza este território das regiões vizinhas?
Macau, na minha perspectiva, é um sítio único no mundo. E, na Ásia é, de facto um local perfeitamente diferente. Isto por que, em Macau sente-se, vive-se, respira-se uma mistura de culturas. No fundamental, uma mistura de duas culturas, a cultura ocidental, protagonizada pelos portugueses, e a cultura oriental que tem como protagonistas os chineses.
Decorridos estes séculos de convivência racial, a seu ver, o que é vai permanecer?
Penso que o que vai permanecer, no fundamental, são questões de ordem cultural, designadamente, hábitos, costumes, tradições, marcas que nós vamos deixar aqui.
Com alguma pena, lamento que a propagação da língua não seja aquela que, no meu entender, seria a desejável, mas também se compreende que neste sítio do mundo, perante a língua chinesa, o mandarim, o cantonense e face a uma população que representa, em termos mundiais, um quarto da população do globo, tenha sido difícil implementar, de forma categórica, a língua portuguesa.
De qualquer maneira, penso que, nos séculos futuros, a nossa presença continuará aqui. Até porque não de podem eliminar facilmente quatro séculos de história, quatro séculos de convivência, em que nós tivemos um papel, pelo menos, de relacionamento, que é visível e que é marcante para quem vive e quem visita Macau.
Portugal tem sido aqui missão, pimenta, aventura, o quê? Ou, pura e simplesmente, Fernão Mendes Pinto?
A gesta da expansão, obviamente, que teve algum espírito de aventura. Claro que, no meu entender, por trás, havia uma visão económica. Os homens que partiram para as descobertas, designadamente, esse rei memorável que foi D. João II, teve a visão de que Portugal tinha que se expandir para se cimentar, consolidar como potência europeia e mundial.
Portanto, admito que, no início, tenha havido aventura e também interesse económico.
Agora, não obstante a distância, apesar da distância, nós marcámos uma presença neste ponto do mundo, tão distante de Portugal. Não só aqui, como nesta área da Ásia. Basta, por exemplo, sabermos que há cerca de quatrocentas palavras portuguesas na língua que os japoneses falam...
Isto é enorme, é tremendo e é grandioso para um país tão pequeno, em termos de área geográfica, mas tão grande em termos de riqueza e dimensão histórica.
Acha que, a título póstumo, Camões virá a ser nomeado embaixador honorário de Portugal nesta área?...
Era uma homenagem que todos devíamos prestar a Camões.
Camões é, indiscutivelmente, um baluarte da nossa história, da nossa cultura, da nossa influência e presença no mundo. É uma referência curiosa, aliás. A pergunta é bem feita, bem elaborada, e com grande sentido. Espero que alguém tenha a capacidade de conseguir "impô-la".
Uma coisa que me preocupa é este gigantismo urbano. O património da Praia Ocidental, é um património de "rés-do-chão", ou quase...Alimento algum receio, mas gostava de conhecer a sua perspectiva acerca desta ânsia de construir prédios gigantes, à maneira de Hong-Kong, no que isso possa vir a querer dizer destruição do património, digamos, colonial... Será que a Declaração Conjunta vai tão longe?...
Penso que nos acordos que foram rubricados e em relação a muitas discussões que ainda continuam, e continuarão, em relação ao futuro de Macau, isso está devidamente acautelado. O que posso dizer, e digo-o com propriedade, porque vejo, é que tem havido da parte do governo de Macau uma preocupação de preservar, de conservar todo o património histórico-cultural.
Aliás, isso é bem visível nas obras de recuperação que há, um pouco por todo o lado, em Macau, precisamente com esse objectivo. Penso que, qualquer país, designadamente, Macau, este pequeno território, também deve fazer preservar toda a sua história, porque isso é que é a verdadeira riqueza que atrai as pessoas.
Hoje em dia, se nós vamos para uma cidade e essa cidade não tem mais do que cimento armado, é uma cidade igual a muitas outras, direi mesmo que é uma cidade que não tem identidade, que não tem característica, não tem a diferença... E a diferença, no meu entender, faz-se tendo como base a história e depois a conservação ao longo de décadas.
Vê-se, contudo, com mágoa que, junto às ruínas de S. Paulo, está a nascer um centro comercial... Isto numa zona que é densamente histórica...
Admito que, em relação a algumas situações, que quero classificar de pontuais, não terá havido o devido cuidado. Mas uma andorinha não faz a Primavera e parece que essa situação está perfeitamente localizada e não a tenho visto repetir-se noutros pontos de Macau.
Bom seria, talvez, que se criasse um movimento de opinião pública que, sem agressividade em relação à China, defendesse o que há para defender num território com tradições históricas, evitando a especulação imobiliária... No fundo, um movimento de opinião pública conjunto, tal como a Declaração...
Penso que sim, mas talvez o ponto de partida seja o mais difícil, que é criar esse movimento de opinião pública conjunto... Tem havido, ao longo destes séculos, um excelemte relacionamento com a comunidade chinesa residente em Macau, que, penso, contunará e deverá existir. Agora, entendo que, talvez, a iniciativa desse movimento deva partir de qualquer secretário-adjunto, que tenha o pelouro da questão cultural, da questão ligada ao património.
Isto porque a opinião pública, não obstante poder estar sensibilizada para essa questão, se não tiver uma ajuda e se não for despertada, só por si, não tem capacidade, nem tem força, nem galvanização para iniciar esse processo. Mas alguém ligado a uma Secretaria do governo, tomando essa iniciativa, poderia ser um ponto de partida...
Já tinha estado em Macau anteriormente?...
No ano de 94... Pela primeira vez, em Outubro de 94.
E de 94 para 95, já notou mexida?...
Mais construções, designadamente. O exemplo mais importante, na ilha da Taipa. Há um conjunto de construções de grande volume, de grande dimensão que pode ser preocupante, porque a Taipa é uma ilha com verde, é uma ilha que, nalguns aspectos, devia ser conservada. Mas também tenho notado a preocupação de manter o tal património histórico-cultural que será um dos símbolos marcantes que vamos deixar...
O facto de se verem prédios de 20/30 andares desocupados parece uma explosão fora de controlo...
Neste momento, nesse campo, há, de facto, um excesso de oferta em relação à procura, mas também entendo que essas construções, amanhã, vão estar realmente ocupadas por pessoas. Não faria sentido construir-se da maneira como está a construir-se em Macau, com a dimensão que está a construir-se em Macau, se amanhã não houvesse ocupação...
(cont.)
segunda-feira, 22 de março de 2010
in CARTAS À MINHA NETA *
Quem sonha, alumia-se.
Quem acredita, resolve-se.
Quem respeita, digna-se.
Quem obedece, vinga.
Quem ri, está aceso.
Quem se subalimenta, adoece.
Quem não lê, engasga-se.
Quem não quer ver, tem cataratas.
Quem não sabe ouvir, foge.
Quem se afirma versado, não é poeta...
Quem ignora, estranha.
Quem não sabe falar, não entra em cena.
Quem não pratica, esvai-se
Quem é burro, não consegue ser cavalo.
Quem não vive deixa murchar flores.
"Quem não sabe arte não a estima."
Até amanhã!
* A publicar ("Cartas do meu avô") quando houver um editor que não esteja falido e tenha netos.
Quem acredita, resolve-se.
Quem respeita, digna-se.
Quem obedece, vinga.
Quem ri, está aceso.
Quem se subalimenta, adoece.
Quem não lê, engasga-se.
Quem não quer ver, tem cataratas.
Quem não sabe ouvir, foge.
Quem se afirma versado, não é poeta...
Quem ignora, estranha.
Quem não sabe falar, não entra em cena.
Quem não pratica, esvai-se
Quem é burro, não consegue ser cavalo.
Quem não vive deixa murchar flores.
"Quem não sabe arte não a estima."
Até amanhã!
* A publicar ("Cartas do meu avô") quando houver um editor que não esteja falido e tenha netos.
domingo, 21 de março de 2010
Dia Mundial da Poesia
Ao Conde de Villa-Verde andando o autor na pretensão de ser Oficial da Secretaria de Estado
Senhor, venho perguntar
Senhor, venho perguntar
Quando ides ficar no paço:
Para que à força de braço
Lanceis esta nau ao mar.
Sabe montes aplanar
Vossa discreta porfia:
E pinta-me a fantasia,
A qual nem sempre me engana
Que só na vossa semana
Me há-de chegar o meu dia
Nicolau Tolentino de Almeida (c/c para S. Bento)
Subsídios para a História - Macau 95 (XXXV)
ENTREVISTA com o Dr. Leonel Miranda (cont.)
Antes de prosseguir, a síntese, até à data, da sequência destes Subsídios para a História:
Drª Celina Veiga de Oliveira, VII a XII
Dr. Senna Fernandes, XIII a XV
António Conceição Jr., XVI a XVIII
Arq. Manuel Vicente, XIX a XXIII
Drª Margarida Rato, XXIV a XXVI
Carlos Morais José, XXVII a XXX
Comandante Sá Vaz, XXXI a XXXIII
Sem minimizar o que acaba de dizer, que significado tem um prédio de 20/30 andares sem
ninguém ou vários predios nas mesmas condições?...
Quer dizer, por um lado, a grande capacidade em criar, em produzir, em construir, e, por outro, quer dizer uma coisa muito importante: é a grande confiança no futuro de Macau. Os empresários de Macau não são loucos e quando construiram esses edifícios, que continuam a construir, sabem que vão ser vendidos, que vão ser ocupados.
Simplesmente, como em todas as economias capitalistas, há ciclos mais positivos , há ciclos menos positivos, e Macau, nos últimos tempos, registou um ligeiro abrandamento económico. Mas esses edifícios por habitar significam uma grande confiança no futuro e serão habitados proximamente.
Afasta, portanto, a prazo, uma Macau/Malaca?
Acho que a língua e a cultura portuguesas vão perdurar em Macau muito tempo.
O seu optimismo vai para além de 50 anos?...
Vai, vai. Mas já agora, acerca de Malaca, deixe-me dizer-lhe uma coisa que me provocou imensa satisfação: li, numa das mais influentes revistas da Ásia, que a sobrevivência de uma certa forma de estar e falar português em Malaca era uma coisa extraordinária, de séculos. Eles próprios revelam-se surpreendidos como é que isto tudo ainda é possível...
Em Macau, estou convencido de que tudo irá muito para além dos 50 anos...O esforço que se tem feito na recuperação do património é uma coisa extraordinária e há, como se pode ver em Macau, edifícios de traça portuguesa lindíssimos e que, de certeza, administração chinesa vai preservar. Percebe-se-lhes cada vez mais maior interesse por isso e cada vez mais interesse econónico nestas construções e nesta maneira de ser português em Macau. E, finalmente, do que representa a cultura portuguesa e ocidental.
Os próprios chineses sentem valor económico nisso, valor económico para o turismo. Eles próprios, nas cidades deles, de resto, estão a tentar preservar o que ficou do antigo. Cada vez mais atribuem importância ao tradicional, ao património e estou convencido de que o vão preservar em Macau.
Em 1994, havia aqui, aproximadamente, dez mil pessoas a aprender português, fora dos estabelecimentos oficiais de ensino. A presença da cultura portuguesa em Macau irá, portanto, para além dos 50 anos...
Dir-se-ia, então, que, a título póstumo, Camões "corre o risco" de ser nomeado embaixador honorário de Portugal...
"Corre o risco" de não ser esquecido em Macau.
O jardim Luís de Camões não corre o risco de, em vez do busto do Poeta, ter em seu lugar um crisântemo?
Penso que não... Será sempre o Jardim de Camões.
O que diria a um grupo de macaenses dispostos a ficar para além de 1999?
Chamava-lhes a atenção para a necessidade de não menosprezarem a sua formação, porque é a base da inovação e da criatividade. Sem inovação não há progresso. E depois que aprendessem esta realidade envolvente de Macau e que vissem os fenómenos económicos que se estão a passar na Europa, e mesmo nos Estados Unidos, e os que estão a passar-se na Ásia...
Não os aconselhava a partir, porque o que é um facto é que, desde que tenham preparação, desde que tenham vontade e visão de futuro, o local mais exaltante para trabalhar é a Ásia, porque aqui, como costumamos dizer, é possível fazer coisas... É um continente com grande pujança económica, é um continente com um passo muito acelerado de desenvolvimento, e é um continente onde as oportunidades são vastas.
Portanto, o que eu lhes aconselharia era formação. Estudarem e agarrarem as oportunidades que não deixam de se cruzar na vida de todos, numa região de um crescimento tão rápido como é a região da Ásia e como é Macau e toda a área adjacente.
Agora juntou-se ao grupo de macaenses um grupo de chineses. Muda o discurso? O que é que lhes vai dizer?
Não seria diferente do anterior, porque todos os jovens têm as mesmas ambições e todos a mesma trajectória a percorrer. As condições para o sucesso dos jovens europeus não são diferentes das dos asiáticos ou dos portugueses ou chineses. São todas iguais. Hoje quem não tiver uma boa formação, quem não tiver uma grande vontade de vencer, quem não tiver uma grande dedicação e um grande entusiasmo naquilo que faz, dificilmente terá futuro.
Todos os presentes estão conscientes de que vão ter que conviver. O discurso mantém-se?...
Vão ter que conviver, mas na competição...
Independentemente da cor...
Independentemente da cor.
Próximo entrevistado: Dr. Rogério Fidalgo.
Antes de prosseguir, a síntese, até à data, da sequência destes Subsídios para a História:
Monsenhor Manuel Teixeira, I a VI
Drª Celina Veiga de Oliveira, VII a XII
Dr. Senna Fernandes, XIII a XV
António Conceição Jr., XVI a XVIII
Arq. Manuel Vicente, XIX a XXIII
Drª Margarida Rato, XXIV a XXVI
Carlos Morais José, XXVII a XXX
Comandante Sá Vaz, XXXI a XXXIII
Sem minimizar o que acaba de dizer, que significado tem um prédio de 20/30 andares sem
ninguém ou vários predios nas mesmas condições?...
Quer dizer, por um lado, a grande capacidade em criar, em produzir, em construir, e, por outro, quer dizer uma coisa muito importante: é a grande confiança no futuro de Macau. Os empresários de Macau não são loucos e quando construiram esses edifícios, que continuam a construir, sabem que vão ser vendidos, que vão ser ocupados.
Simplesmente, como em todas as economias capitalistas, há ciclos mais positivos , há ciclos menos positivos, e Macau, nos últimos tempos, registou um ligeiro abrandamento económico. Mas esses edifícios por habitar significam uma grande confiança no futuro e serão habitados proximamente.
Afasta, portanto, a prazo, uma Macau/Malaca?
Acho que a língua e a cultura portuguesas vão perdurar em Macau muito tempo.
O seu optimismo vai para além de 50 anos?...
Vai, vai. Mas já agora, acerca de Malaca, deixe-me dizer-lhe uma coisa que me provocou imensa satisfação: li, numa das mais influentes revistas da Ásia, que a sobrevivência de uma certa forma de estar e falar português em Malaca era uma coisa extraordinária, de séculos. Eles próprios revelam-se surpreendidos como é que isto tudo ainda é possível...
Em Macau, estou convencido de que tudo irá muito para além dos 50 anos...O esforço que se tem feito na recuperação do património é uma coisa extraordinária e há, como se pode ver em Macau, edifícios de traça portuguesa lindíssimos e que, de certeza, administração chinesa vai preservar. Percebe-se-lhes cada vez mais maior interesse por isso e cada vez mais interesse econónico nestas construções e nesta maneira de ser português em Macau. E, finalmente, do que representa a cultura portuguesa e ocidental.
Os próprios chineses sentem valor económico nisso, valor económico para o turismo. Eles próprios, nas cidades deles, de resto, estão a tentar preservar o que ficou do antigo. Cada vez mais atribuem importância ao tradicional, ao património e estou convencido de que o vão preservar em Macau.
Em 1994, havia aqui, aproximadamente, dez mil pessoas a aprender português, fora dos estabelecimentos oficiais de ensino. A presença da cultura portuguesa em Macau irá, portanto, para além dos 50 anos...
Dir-se-ia, então, que, a título póstumo, Camões "corre o risco" de ser nomeado embaixador honorário de Portugal...
"Corre o risco" de não ser esquecido em Macau.
O jardim Luís de Camões não corre o risco de, em vez do busto do Poeta, ter em seu lugar um crisântemo?
Penso que não... Será sempre o Jardim de Camões.
O que diria a um grupo de macaenses dispostos a ficar para além de 1999?
Chamava-lhes a atenção para a necessidade de não menosprezarem a sua formação, porque é a base da inovação e da criatividade. Sem inovação não há progresso. E depois que aprendessem esta realidade envolvente de Macau e que vissem os fenómenos económicos que se estão a passar na Europa, e mesmo nos Estados Unidos, e os que estão a passar-se na Ásia...
Não os aconselhava a partir, porque o que é um facto é que, desde que tenham preparação, desde que tenham vontade e visão de futuro, o local mais exaltante para trabalhar é a Ásia, porque aqui, como costumamos dizer, é possível fazer coisas... É um continente com grande pujança económica, é um continente com um passo muito acelerado de desenvolvimento, e é um continente onde as oportunidades são vastas.
Portanto, o que eu lhes aconselharia era formação. Estudarem e agarrarem as oportunidades que não deixam de se cruzar na vida de todos, numa região de um crescimento tão rápido como é a região da Ásia e como é Macau e toda a área adjacente.
Agora juntou-se ao grupo de macaenses um grupo de chineses. Muda o discurso? O que é que lhes vai dizer?
Não seria diferente do anterior, porque todos os jovens têm as mesmas ambições e todos a mesma trajectória a percorrer. As condições para o sucesso dos jovens europeus não são diferentes das dos asiáticos ou dos portugueses ou chineses. São todas iguais. Hoje quem não tiver uma boa formação, quem não tiver uma grande vontade de vencer, quem não tiver uma grande dedicação e um grande entusiasmo naquilo que faz, dificilmente terá futuro.
Todos os presentes estão conscientes de que vão ter que conviver. O discurso mantém-se?...
Vão ter que conviver, mas na competição...
Independentemente da cor...
Independentemente da cor.
Próximo entrevistado: Dr. Rogério Fidalgo.
Gente
"A Cultura é o que fica depois de se ter esquecido o que se aprendeu", parece-me que foi assim ... que "aprendi"...
Ara Güler, no C.C.B.,com as suas fotografias dos anos 50-60, do século passado, levou-me à cidade de Istambul que vi, também nalgumas traseiras, mas, pelos modos, já baralhei... O que ficou, sei que, em parte, ainda lá está...mas perdi-me... Será que me perdi no que era a paisagem humana?...
Tenho comigo, essa sim, a emoção do encontro Oriente - Ocidente e, do exterior, os minaretes das mesquitas - e gente, muita gente - sem idade... No Bazar e fora dele, quase aos encontrões, misturada com odores, os mais diversos.
Quiçá igual à que Ara Güler fixou no tempo em que, algures a dois passos do Cais do Sodré, a família da foto (hoje, europeia...) se quis mandar fotografar "à la minute", como que "para ilustrar este apontamento..." Mais arrumadinha, digo eu, do que a que agora se vê por lá, em Istambul.
Recupero assim, de algum modo, o retrato da cidade. E, para falar verdade, um não sei quê, onde a paisagem humana não terá mudado muito... Como Bruxelas finge não saber...
Excelente a exposição patente no C.C.B..
sábado, 20 de março de 2010
Palavras cruzadas
DIÁRIO
Miguel Torga:
"Um Diário não é isto. Diário é o daquele inglês que, para que ninguém o lesse, até uma cifra inventou.
O que eu diria se soubesse escrever em cifra."Vergílio Ferreira:
"O meu "diário" está nas centenas de cartas aos amigos (...). Em todo o caso, essas mesmas, falsas. Excepto talvez quando sobre questões "sérias". E ainda aí há quase sempre um disfarce ou tempero do gracejo."
José Régio:
"A dificuldade quase invencível que tenho em manter um diário - é que gostando muito de falar de mim, gostando demasiado, me não interessa, todavia, falar directamente de mim, senão através duma obra literária. Mas um Diário não é uma obra literária; ou os Diários que o são deixam de ser Diários."
Ainda Vergílio Ferreira, autor de"Conta Corrente" (3532 páginas, formato A5...).
Diário para V.F. é:
Conversa de bláblá - falatório - coisa enfadonha e viscosa e insensata e mostruosa - recurso
diarístico - loucura ou insensatez - fundo inesgotável - aventura - infindável paleio - manta rota -
hemorragia comadreira e avinagrada - trambolhos - estupidez palreira - parlapatice - lixo orgânico,
quase tão inqualificável como o lixo atómico - diarismo pegou como é próprio da tolice "que pega
sempre" - "fala barato" - caixote - miudezas de entretém - ninharias com pompa de coisas profundas
e originais - condenação - um diário é a última coisa escrevível num tempo em que nada há que se
escreva - coisas marginais do anedotário quotidiano ou pessoal - assinar o ponto - minhoquices -
suplemento diarístico - escorralhas intervalares - confesso (venho ao) - ideias - cedência ao anedótico
e à ninharia - prosa improdutiva - festa (desabafo) - praticar a pilhéria - coisa raquítica - diarizar -
quinquilharia diarística - calhamaço da C.C. "nova série" ("desdobrada por isso em quatro volumes
mais maneiros") - facilidade (desta escrita) - merdicula salpicada neste escrito - memória/evocação -
conta-corrente - diário - salvados - aparas de escrita - merdelhices - bugigangas - minhoquices
diarísticas - ninharias - caixote do lixo - escorralhas - garatujas - isto... - escrito fútil e devastador -
"... este em que me vou derramando..." - escrita deslassada - prosa merceeira - apontamentos
diarísticos - manta rota - lixarada - "o mais legível" - reflexão - nota (esta nota...) - rebotalho
clandestino - diarismo - cavaqueira inconsequente - cacaria - entretenimento - carrego -
monstrozinho - merda - animais de tracção (para o romance, por ex.) - confessionalismo - bagatelas
diarísticas - futilidades diarísticas - porcaria amediocralhada (citada em dois livros de V.F.) - escrita
diarística - merdículas diarísticas - diarice - futilidade - frivolidade de garatujas - linhas chilras -
cartase de velho - onanismo literário - paralipomena (suplemento a qualquer obra literária) -
merdilhice diarística - passatempo do género da epistografia - saco - ferro-velho - "escrevo na pressa
de tudo fixar" - mistura do macambúzio com o laracheiro - ligeireza e literatura de consumo - reler a
habilidade - este escrito dá-me tédio - nada a fazer, este escrito é-me remédio - fixo o que
acidentalmente me venha a calhar meter - escrita avulsa e sem consequências - migalhas -
desemprego - necessidade desnecessária de escrever - os diaristas "inventam"... - o facto tratado
literariamente entra na dimensão da criatividade - o C.C. não é da família do Diário da República -
desabafo - entretenimento de palavras, marginalidade e espuma - "o resto é ligeiro passatempo como
uma conversa de nada" - "... o sítio onde me irmanava ao objecto do meu mal-dizer" - "posso
transferir a "profundeza" para o domínio de um diário" - autógrafo no diário, não! - um diário tem
uma "dimensão" menor que um romance - esta ridicularia - alface (como adorno de um novo
romance) - escorralhas diarísticas - perigo de inflação - meu fadário - isto não são memórias, mas
acasos ou caprichos - (escrever) é um modo de nos sangramos. De tomarmos um clister - livro de
deve-e-haver - ensaio partido em bocadinhos - registo, anotações - escrito desenfadado - escrita
distractiva, "desopilante"- num diário o autor tempera a sua confissão - coisas comestíveis - tineta -
ressentimentos mal disfarçados, confidências, indiscrições, má-língua, falta de sentido das
conveniências, ridicularias, infantilidades, chalaças - falsificação inteiramente consciente e
deliberada. E a semiconsciente que resulta de um arranjo que nos acompanha - necessidade de me
produzir em palavras escritas - descolar uma frase - registar a pegada a passagem de mim - um
diário às vezes escreve-se em mangas de camisa e às vezes em cuecas - enrodilhado em mediocralhice
- menor, ridículo, maledicente e mesquinho e vulgar - discorrer - a propósito das C.C.: "vou ter
"posteridade" - leitura digestiva, relembrança de uma experiência colectiva, prazer comadreiro de
maledicência - estou-me razoavelmente nas tintas para o livro - restos (de ensaios ou romances...) - A
cultura só funciona ao nível do fragmento - escreve. Escreve ao menos que não és capaz de escrever
e terás escrito já qualquer coisa que te apazigue o desalento de já não seres capaz de escrever. É o
que faço. - se eu pudesse escrever um bom romance com a "facilidade" com que se escreve um
diário. Talvez devesse ficar-me servicinhos leves... - livro marginal - o diário é capaz de ser um
desperdício. Excepto quando se abeira do ensaio ou do romance - servicinhos ligeiros - se tudo o mais
falhar... - o que importa num "diário" não é aquilo que acontece mas a maneira como se
faz acontecer - restos de mim - vício do Diário - o que me apetece são estes nadas do Diário - sê
humilde no teu provisório - fidelidade (ao compromisso que assumi. Escreve no volume 2 do C.C.) -
nada tens a dizer, mas escreve - ando a ler o Diário de Virgínia Woolf - o meu "diário" está nas
centenas de cartas aos amigos - satisfazer a curiosidade dos outros (escreveu-o no 1º diário, com 53
anos) - decididamente, um diário não (na 2ª quinzena do 2º mês, após ter começado...) -sou
absolutamente incapaz de me "confessar" seja a quem for (1º diário) - não tenho queda para o
"confesso" (pg. 57 do 1º Diário). Implica abjeccionismo. - subtil ridículo - a palavra diário deve ser
do género feminino - contar o que aconteceu é mentir. Insinua-se, enfim, no arranjo necessário, fatal,
do que se conta - assinar o ponto - devo estar a perder a crença neste escrito - notas em bruto, menos
exercício de escrita que trabalho manual - coisa menor - não é excitante a experiência - é um modo
de se ser pequeno com álibi.
"ESCREVO PORQUE SIM."
sexta-feira, 19 de março de 2010
Volta ao Mundo em 90 dias - Macau
Breves passagens de uma entrevista com o Governador Melo Egídio (1980) *
"Sentimos aqui o nosso portuguesismo exarcebado, na medida em que o território nos fala de tradições e da nossa história."
"Assisti com uma lágrima no olho às (...) comemorações do 10 de Junho, a que esteve presente o Secretário de Estado da Cultura de então, Doutor David Mourão-Ferreira."
Com o Governador Melo Egídio (1979 e 1980)
"Sentimos aqui o nosso portuguesismo exarcebado, na medida em que o território nos fala de tradições e da nossa história."
"As minhas perspectivas acerca das relações com a República Popular da China são francamente optimistas (...). Nota-se a cada passo, muito significativamente, um estreitamento de relações, uma cordialidade, uma confiança e um desejo de colaboração que considero excepcionais."
"Assisti com uma lágrima no olho às (...) comemorações do 10 de Junho, a que esteve presente o Secretário de Estado da Cultura de então, Doutor David Mourão-Ferreira."
Com o Governador Melo Egídio (1979 e 1980)
* in "Os Portugueses no Mundo", de M.A.
Governadores de Macau
- 1623 - D. Francisco Mascarenhas
- 1626 - D. Filipe Lobo e D. Jerónimo da Silveira
- 1631 - Manuel da Câmara de Noronha
- 1636 - Domingos da Câmara de Noronha
- 1638 - D. Sebastião Lobo da Silveira
- 1645 - Luís de Carvalho e Sousa
- 1646 - D. Diogo Coutinho Docem
- 1647 - D. João Pereira
- 1650 - João de Sousa Pereira
- 1654 - Manuel Tavares Bocarro
- 1664 - Manuel Coelho da Silva
- 1667 - D. Álvaro da Silva
- 1670 - Manuel Borges da Silva
- 1672 - António Barbosa Lobo
- 1678 - António de Castro Sande
- 1679 - Luís de Melo Sampaio
- 1682 - Belchior do Amaral de Meneses
- 1685 - António da Mesquita Pimentel
- 1688 - André Coelho Vieira
- 1691 - D. Francisco da Costa
- 1693 - António da Silva e Melo
- 1694 - Gil Vaz Lobo Freire
- 1697 - Cosme Rodrigues de Carvalho e Sousa e Leal Senado da Câmara
- 1698 - Pedro Vaz de Siqueira
Subsídios para a História - Macau 95 (XXXIV)
ENTREVISTA com o Dr. Leonel Miranda
Peço-lhe uma sumaríssima apresentação de si próprio...
Falar-lhe de mim... Sou um português como todos os outros. Nasci numa terra da Beira Alta, mais propriamente, Vila Pouca da Beira, no concelho de Oliveira do Hospital.
Tive a infância que, mais ou menos, as pessoas de todas aquelas aldeias onde não havia grandes condições de estudo e progresso tinham.
Estudei, fiz a tropa, depois empreguei-me nos CTT. Mais tarde, fui para o Banco Fonsecas & Burnay. Daqui saí para, durante algum tempo, exercer funções de director financeiro da Radiotelevisão Portuguesa. E agora cá estou em Macau.
Encontro-me aqui vai para nove anos. Tenho desempenhado várias funções e, actualmente, sou coordenador do Gabinete de Planeamento e Cooperação do Governo de Macau e, por nomeação deste, presidente da comissão executiva da AIR MACAU, que é a companhia aérea do território, que vai operar, a partir de Novembro, no aeroporto internacional.
Entremos, então, em Macau. O que é que singulariza o território das regiões vizinhas?
O que singulariza Macau das regiões vizinhas é, desde sempre, em termos económicos, ser um entreposto comercial entre o imenso continente chinês e outras regiões asiáticas e, nos anos mais recentes, sobretudo, já na década de 70, um grande entreposto comercial nas relações da China com a Europa e os Estados Unidos.
É este papel comercial, este papel económico, que distingue Macau das outras regiões chinesas adjacentes, porque Macau é uma cidade aberta, foi sempre uma cidade de comércio, e, como tal, teve sempre uma posição liberal, uma posição de liberdade, aberta.
De resto, Macau foi sempre uma cidade liberal, onde, por força do comércio e da economia, se cruzaram civilizações, povos, culturas, formas de pensamento diferentes. Aliás, cada vez mais essa vertente e essa posição se acentuam, sobretudo, a partir do momento em que a República Popular da China inicia as reformas do seu sistema económico, no fim da década de 70.
Sobretudo a partir dessa data, o papel de Macau, de abertura ao mundo e de ponte entre o continente chinês, a Europa, os Estados Unidos, em suma, entre o continente chinês e todo o mundo exterior, tem-se acentuado cada vez mais. E estou convencido de que vai continuar a acentuar-se e que o território vai continuar a ser a grande porta de entrada dos europeus na China e a grande porta dos chineses para a Europa e o mundo exterior.
Estamos a falar apenas do período pós-Guerra do Pacífico ou estamos a falar da história de Macau?
Macau foi sempre um porto aberto, um porto franco, um local de comércio, um local de transacções comerciais. Macau teve durante longos, longos anos, uma economia essencialmente mercantilista. Desde, praticamente, o início da chegada dos portugueses.
Hoje é já uma economia de produção, mas não deixa de ter essa vertente mercantilista, que também não é só em transacção de produtos, mas de serviços.
Com efeito, a economia de Macau é uma economia que se acentua cada vez mais na sua vertente de serviços e essa também é uma área que põe toda esta população em contacto com o exterior.
Acha que Portugal em Macau tem sido missão, pimenta, aventura, o quê?...
Tem sido um pouco de tudo isso. Aliás, os portugueses têm um pouco de tudo isso. Os nossos emigrantes têm uma atitude de um pouco de aventura, um pouco de missão, depois de estarem aqui ou noutras regiões...Vai, por certo, encontrar agora o mesmo na Austrália, como noutros países, noutras comunidades com que terá contactado.
Os portugueses em Macau têm tido um papel enorme, nem sempre devidamente avaliado, mesmo em Portugal, mas têm tido um papel extraordinário, porque este espaço, com os seus, actualmente, cerca de 22 km2, é um milagre económico no mundo, como há pouco tempo lhe chamava a revista americana "Fortune".
Não se conhece outra experiência onde, numa área de 22 km2, se produza tanto como em Macau. E isso deve-se, evidentemente, à comunidade chinesa, que é maioritária, trabalhadora e dedicada. Mas deve-se também, e muito, à acção dos portugueses que estão aqui numa postura de progresso, numa postura de trabalho e imagem positiva do que foram os seus antepassados e do que são hoje os portugueses.
Há, entretanto, quem considere que, os últimos dez anos, têm sido uma espécie de caldo verde, que reconforta, mas não alimenta...
Essas palavras têm uma deficiência de avaliação do que está feito e do seu significado. Hoje, a nível económico, vivemos um período de grandes transformações. O problema é que - e eu noto que, em Portugal, é enorme - muita gente ainda não percebeu as transformações brutais que se deram no mundo desde o fim da década de 80.
Desde essa altura, toda a economia mundial evoluiu de uma forma descontínua, o que quer dizer que houve quebras, que houve pontes que se quebraram para se criarem outra novas.
Como sabemos, tivemos o desmoronamento da ex-União Soviética, a queda do Muro de Berlim, as transformações tecnológicas no domínio das tecnologias de informação, num mundo agora completamente diferente do que existia no início dos anos 80, em termos económicos e até de gestão...
O mundo hoje é global, a economia é global... O comércio, as empresas globalizaram-se.
O que está a ser feito em Macau, o que foi feito em Macau nos últimos dez anos, é de uma valia extraordinária para preparar o território para o futuro.
Com a Declaração Conjunta, que é um documento assinado por Portugal e a República Popular da China, ficou estabelecido o quadro futuro do território.O quadro político e o quadro institucional que estabelece que, durante 50 anos, para além de 1999, Macau manterá, além do mais, o sistema económico e social, que tem actualmente.
Entretanto, a República Popular da China, com o início das reformas, transformou-se de uma forma bastante acentuada.
Conheço a RPC há quase 9 anos. Actualmente, a China é completamente diferente. O que tem estado a ser feito nos últimos anos em Macau é precisamente preparar o território para esse mundo económico global e para uma economia que será, sem dúvida, a grande economia mundial do próximo século. Acima da europeia, da dos Estados Unidos ou do Japão.
O que foi feito em Macau, o que está a ser feito, é preparar o território para sobreviver num mundo em transformação, quer na China, quer no contexto global da evolução social, política e económica.
Todos estes instrumentos, a nível do ensino, da saúde, das infra-estruturas, dos transportes, do ambiente, do "hardware", do "software"... Tudo o que tem sido feito tem uma valia enorme, é uma alavanca poderosa para o progresso de Macau.
(cont.)
Peço-lhe uma sumaríssima apresentação de si próprio...
Falar-lhe de mim... Sou um português como todos os outros. Nasci numa terra da Beira Alta, mais propriamente, Vila Pouca da Beira, no concelho de Oliveira do Hospital.
Tive a infância que, mais ou menos, as pessoas de todas aquelas aldeias onde não havia grandes condições de estudo e progresso tinham.
Estudei, fiz a tropa, depois empreguei-me nos CTT. Mais tarde, fui para o Banco Fonsecas & Burnay. Daqui saí para, durante algum tempo, exercer funções de director financeiro da Radiotelevisão Portuguesa. E agora cá estou em Macau.
Encontro-me aqui vai para nove anos. Tenho desempenhado várias funções e, actualmente, sou coordenador do Gabinete de Planeamento e Cooperação do Governo de Macau e, por nomeação deste, presidente da comissão executiva da AIR MACAU, que é a companhia aérea do território, que vai operar, a partir de Novembro, no aeroporto internacional.
Entremos, então, em Macau. O que é que singulariza o território das regiões vizinhas?
O que singulariza Macau das regiões vizinhas é, desde sempre, em termos económicos, ser um entreposto comercial entre o imenso continente chinês e outras regiões asiáticas e, nos anos mais recentes, sobretudo, já na década de 70, um grande entreposto comercial nas relações da China com a Europa e os Estados Unidos.
É este papel comercial, este papel económico, que distingue Macau das outras regiões chinesas adjacentes, porque Macau é uma cidade aberta, foi sempre uma cidade de comércio, e, como tal, teve sempre uma posição liberal, uma posição de liberdade, aberta.
De resto, Macau foi sempre uma cidade liberal, onde, por força do comércio e da economia, se cruzaram civilizações, povos, culturas, formas de pensamento diferentes. Aliás, cada vez mais essa vertente e essa posição se acentuam, sobretudo, a partir do momento em que a República Popular da China inicia as reformas do seu sistema económico, no fim da década de 70.
Sobretudo a partir dessa data, o papel de Macau, de abertura ao mundo e de ponte entre o continente chinês, a Europa, os Estados Unidos, em suma, entre o continente chinês e todo o mundo exterior, tem-se acentuado cada vez mais. E estou convencido de que vai continuar a acentuar-se e que o território vai continuar a ser a grande porta de entrada dos europeus na China e a grande porta dos chineses para a Europa e o mundo exterior.
Estamos a falar apenas do período pós-Guerra do Pacífico ou estamos a falar da história de Macau?
Macau foi sempre um porto aberto, um porto franco, um local de comércio, um local de transacções comerciais. Macau teve durante longos, longos anos, uma economia essencialmente mercantilista. Desde, praticamente, o início da chegada dos portugueses.
Hoje é já uma economia de produção, mas não deixa de ter essa vertente mercantilista, que também não é só em transacção de produtos, mas de serviços.
Com efeito, a economia de Macau é uma economia que se acentua cada vez mais na sua vertente de serviços e essa também é uma área que põe toda esta população em contacto com o exterior.
Acha que Portugal em Macau tem sido missão, pimenta, aventura, o quê?...
Tem sido um pouco de tudo isso. Aliás, os portugueses têm um pouco de tudo isso. Os nossos emigrantes têm uma atitude de um pouco de aventura, um pouco de missão, depois de estarem aqui ou noutras regiões...Vai, por certo, encontrar agora o mesmo na Austrália, como noutros países, noutras comunidades com que terá contactado.
Os portugueses em Macau têm tido um papel enorme, nem sempre devidamente avaliado, mesmo em Portugal, mas têm tido um papel extraordinário, porque este espaço, com os seus, actualmente, cerca de 22 km2, é um milagre económico no mundo, como há pouco tempo lhe chamava a revista americana "Fortune".
Não se conhece outra experiência onde, numa área de 22 km2, se produza tanto como em Macau. E isso deve-se, evidentemente, à comunidade chinesa, que é maioritária, trabalhadora e dedicada. Mas deve-se também, e muito, à acção dos portugueses que estão aqui numa postura de progresso, numa postura de trabalho e imagem positiva do que foram os seus antepassados e do que são hoje os portugueses.
Há, entretanto, quem considere que, os últimos dez anos, têm sido uma espécie de caldo verde, que reconforta, mas não alimenta...
Essas palavras têm uma deficiência de avaliação do que está feito e do seu significado. Hoje, a nível económico, vivemos um período de grandes transformações. O problema é que - e eu noto que, em Portugal, é enorme - muita gente ainda não percebeu as transformações brutais que se deram no mundo desde o fim da década de 80.
Desde essa altura, toda a economia mundial evoluiu de uma forma descontínua, o que quer dizer que houve quebras, que houve pontes que se quebraram para se criarem outra novas.
Como sabemos, tivemos o desmoronamento da ex-União Soviética, a queda do Muro de Berlim, as transformações tecnológicas no domínio das tecnologias de informação, num mundo agora completamente diferente do que existia no início dos anos 80, em termos económicos e até de gestão...
O mundo hoje é global, a economia é global... O comércio, as empresas globalizaram-se.
O que está a ser feito em Macau, o que foi feito em Macau nos últimos dez anos, é de uma valia extraordinária para preparar o território para o futuro.
Com a Declaração Conjunta, que é um documento assinado por Portugal e a República Popular da China, ficou estabelecido o quadro futuro do território.O quadro político e o quadro institucional que estabelece que, durante 50 anos, para além de 1999, Macau manterá, além do mais, o sistema económico e social, que tem actualmente.
Entretanto, a República Popular da China, com o início das reformas, transformou-se de uma forma bastante acentuada.
Conheço a RPC há quase 9 anos. Actualmente, a China é completamente diferente. O que tem estado a ser feito nos últimos anos em Macau é precisamente preparar o território para esse mundo económico global e para uma economia que será, sem dúvida, a grande economia mundial do próximo século. Acima da europeia, da dos Estados Unidos ou do Japão.
O que foi feito em Macau, o que está a ser feito, é preparar o território para sobreviver num mundo em transformação, quer na China, quer no contexto global da evolução social, política e económica.
Todos estes instrumentos, a nível do ensino, da saúde, das infra-estruturas, dos transportes, do ambiente, do "hardware", do "software"... Tudo o que tem sido feito tem uma valia enorme, é uma alavanca poderosa para o progresso de Macau.
(cont.)