O Coliseu de Roma *


 * Desabafo: adeus, photografias que me roubaram...

Cale a bárbara Mênfis o prodígio das suas pirâmides,
não mais o labor assírio se ufane da Babilónia;
o templo de Trívia glória não procure aos requintados lónios,
ofusque-se em Delos o altar de múltiplos cornos; 
nem, suspenso no vazio do ar, o Mausoléu,
com louvores desmedidos, os Cários aos céus elevem.
Todo o labor ao anfiteatro de César o posto cede:
a única obra que, pelas outras juntas, a fama há-de celebrar.

Marcial  (c. 40-104)

Trad.: Delfim Leão, para "Rosa do Mundo"

Actualidade 3

 1. "A empresa portuguesa NG quer gravar o 5-0 do Real na t-shirt do Barça."

Sugestão: t-shirt para jovens no desemprego com os seguintes dizeres nas costas:

"Estou desempregado (a). Procuro emprego".

Seria um êxito, acredito.

2. "Moody's chega hoje a Portugal para avaliar as contas públicas."

Um pedido: já agora, fique mais uns dias e, por amostragem, avalie outras contas...

3. "A população da China atingiu 1341 milhões de pessoas no final de 2010. Mais seis milhões do que um ano antes."

A  pergunta: será que contaram com os chineses que vivem em Portugal?...

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Museu Municipal de Loures (Quinta do Conventinho)



Museu Municipal de Loures (Quinta do Conventinho), hoje, casas e muros rodeados de mato com museu ao meio. O que é pena! Trata-se (este último) de um espaço premiado, que já foi bonito - mesmo por fora, mas que, pelos modos, terá parado - por falta de dinheiro? por falta de iniciativa? por falta de ambas as coisas?...

Não seria, entretanto, qualquer que seja a razão do que se observa, uma espécie de Parque dos Poetas que, pelo que fica dito,  proporia para aquele lugar, mas talvez, porque não? uma quinta saloia, salpicada das esculturas (de inspiração saloia) que, por exemplo, anualmente, fossem distinguidas pela Cultura da Câmara. Com prémios, eventualmente patrocinados, se a necessidade, ou outro motivo, o justificasse, digo eu.

Fica a sugestão. De quem vive à sua ilharga.

Só critica quem ama, diz-se. E só não ignora quem está nas mesmas circunstâncias...

Evolução - para falatar...

Chegado ao escritório (1951), fresco de escola, que, aliás, continuei a frequentar à noite, a primeira pergunta que me fizeram, depois das apresentações, foi: sabes somar? Lembro-me muito bem da surpresa com que recebi a pergunta, mas também não me esqueço da "prudência" com que não respondi à duvida do meu novo colega. Fiz bem. Ele pretendia saber se eu estava, ou não, habilitado a somar à máquina... Claro que não estava. Mas fiquei de pé no ar para a diversão que se adivinhava... Dias depois, puseram-me, então, frente a uma calculadora que teria de comprimento mais de meio metro e fazia as operações elementares todas graças ao manuseamento adequado de uma manivela que tinha à direita e que, rodada com destreza, dava rapidamente, por exemplo, quantos eram 9 x 9 - e outras "habilidades"... "Que maravilha!"..., pensei eu, que vinha da velha ardósia e da necessidade de saber o essencial de cor e salteado...



Depois, depois o progresso tomou conta de mim: se queria aumento, no fundo, tinha que revelar desembaraço na calculadora comprida e ... e noutras (recordo, por exemplo, uma FACIT, mais pequena do que uma caixa de sapatos de criança...). Os grandes heróis, contudo, nessa altura, eram os que conseguiam somar, sem máquina, colunas de números de três e quatro algarismos em colunas manuscritas de um metro de altura e/ou de largura, que haviam de conferir com o total mensal (lateral e vertical)  do expedido para os diferentes agentes em todo o país.

Entretanto, os anos passaram, apareceu a IBM a alugar os seus computadores e lá fui eu, de bata branca, para a chamada Mecanografia. Foi a época do cartão perfurado.


 Com efeito, havia uma perfuradora, uma separadora e uma tabuladora. Três máquinas a requerer curso fora de portas. Fui mau aluno... 60 e poucos por cento foi a média obtida depois de semanas de lições externas. Fiquei por aí: orelhas de burro, ao lado de um colega que, não dormindo para rentabilizar o equipamento (alugado. A IBM não vendia), trabalhava dia e noite e ... e assim morreu esquelético, tuberculoso...

Nunca mais quis saber destas gerigonças... Nem mesmo, quando, "por amabilidade", disse sim a um curso básico sobre computadores. Novo falhanço!...

Mas, então, agora - aqui?... Claro, AGORA e AQUI - sim! Porque ninguém me "obrigou". E porque o saber é feito como, nomeadamente, ensinava o Prof. Agostinho da Silva. Isto é, correspondendo a perguntas. A necessidades sentidas. Não há manuseamento de máquinas a 400$00 de salário por mês, nem tabuladoras ao cronómetro. Há computador portátil aprendido, no essencial, para brincar... E isso fá-lo, bastas vezes, divertido, digo eu, que nasci a comer giz...E hoje me acho aqui a folhear a história dos computadores electrónicos. Que me fascinam - como os tigres no Jardim Zoológico, de que me aproximo... Cautelosamente. Para escrever estas coisas que, se não divertem, me divertem. E, acho eu, fazem excelente companhia quando manuseados num banco de jardim, como é o caso, sobretudo, num dia lindo como o de hoje, em que, como diria Vergílio Ferreira, apetece falatar.

Arte - sempre!

A ditadura das religiões (Arte Lisboa 2010, ainda a Feira de Arte Contemporânea )

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Falemos de desassossego


Fernando Pessoa não é para aqui chamado. O desassossego dele era outro, talvez por definir completamente, mas sem ter a ver com golpes bolsistas...Pelo menos, nos moldes em que os conhecemos agora. Vejamos, de listas várias, alguns temas anotados (para abordar?) pelo poeta desassossegado:


. Na Floresta do Alheamento
. Viagem nunca feita
. Intervalo doloroso
. Epílogo na Sombra
. Nossa Senhora do Silêncio
. Chuva de Oiro (Bailado. O Último Cisne. Hora Trémula.)
. Litania da Desesperança
. Ética do Silêncio
. Idílio Ilógico
. Peristilo
. Apoteose do Absurdo
. Paisagem de Chuva
. Glorificação dos Estéreis
. As três Graças (A Coroada de Rosas. A Coroada de Mirtos. A Coroada de Espinhos)


Portanto, aparentemente, pelo menos, nada de "golpes bolsistas"... Hoje, porém, o desassossego é geral. E mexe com o pãozinho. Mais do que nunca, dizem os entendidos. Recuemos, apesar de tudo, a 1776. Sim, a mil setecentos e setenta e seis, à Declaração da Independência norte-americana. Está lá o essencial - ou quase (os batoteiros, esses, confirmou-se mais tarde, vivem num mundo à parte, entre os selvagens do capital e os outros agarrados às massas, que se alimentam do disfarce...). Daí o contemporâneo desassossego. Que, se a União Soviética fosse viva, servia de desculpa ("cerco ao Ocidente", etc), mas não é - e, disfarçando como pode as suas dificuldades, está também à rasca.

Por outras palavras, que o espaço aqui, para ser lido, tem que tentar ser breve na gramática: para além de termos que resolver o problema dos loucos que fomos consentindo (os maiorais sabiam. Não me digam que foram apanhados de surpresa ...), temos agora que aceitar a luta intestina dos do petróleo que, nesta altura, estão a chegar a... a 1776.O que é, de facto, um desassossego.

Da Declaração de Independência norte-americana:

"Cremos que todos os homens foram criados iguais; que o Criador lhes conferiu certos direitos inalienáveis, entre os quais o de vida e felicidade e o de procurarem a própria felicidade;

que, para assegurar esses direitos, se constituiram entre os homens governos cujos justos poderes emanam do consentimento dos governados;


que, sempre quando qualquer forma de governo tentar destruir esses fins, assistirá ao povo o direito de mudá-lo ou aboli-lo, instituindo um novo governo, cujos princípios básicos e organizações de poderes obedeçam às normas que lhe parecerem mais próprias a promover segurança e felicidade gerais."

E nisto estamos. Um desassossego... Que há-de uma pessoa fazer?!...

Alheamento? Impossível! Estamos cada vez mais perto uns dos outros.

Viagem nunca feita? Como? A NET só não chega a parte da China e arredores...

Intervalo doloroso? Paciência!... O importante é que o aproveite para satisfazer as necessidades inadiáveis, pelo menos...

Epílogo na sombra? Isso, não. Só nos países tropicais.

Nossa Senhora do Silêncio? Gosto mais da Cova de Iria, onde podem cantar todos.

Chuva de oiro? Venha ela, sobretudo onde faça mais falta.

Litania da Desesperança? Nunca!

Ética do silêncio? Só onde ele for de ouro...

Idilio Ilógico? Alguém pensou no casamento do Capital com o Trabalho?...

Peristilo? Para  eventuais voluntários do bem. Mas dispensável.

Apoteose do Absurdo? Podia ainda ser pior, mas esperamos que, no mínimo, não surjam mais golpistas financeiros...

Paisagem de chuva? Deus nos livre...

Glorificação dos Estéreis? Mais primeiros-ministros a armar ao social?...

As Três Graças? A de Espinhos, não. Já temos e é uma des graça...

Canteiro de palavras ( VII ) - A verdade





"... É a sensação mais horrorosa que possa imaginar-se aparecer de repente a verdade a uma pessoa que faz por iludir-se. O Antunes desejava que a festa tivesse ainda mais brilho, mais artifício, mais música, mais barulho, mais fantasia, mais vertigem. Ele queria a verdadeira mentira, essa que vale tanto de noite como a verdade de dia. Mas por mais que fizesse não conseguia deixar de ver diante de si em todos os homens e em todas as mulheres caricaturas grotescas, estrangeiras, tortas, incompreensíveis, inúteis, vivas em carne e osso, como gente, hediondas, malditas, metamorfoses que não prosseguem, que ficam informes, aos pedaços, mal feitas, mal fabricadas, erradas, empecilhos, envenenadores da memória, mascarados, oiro de cenografia vista ao pé, papelão a fingir carne, barato e sem ilusão. Eles tinham esgotada a imaginação: incapazes da ironia e de optimismo, esmagados pela realidade, esborrachados pela vida, impossibilitados, estampados, inválidos, parados. A imaginação reduzida à fantasia, o artifício limitado à mecânica. Nem verdade nem mentira, nada! Nem desequilíbrio nem erro, nada! Bonecos, fantoches, sem saída, corpos sem alma, almas que morreram primeiro do que os corpos! Gente ali de passagem e ali ficou para sempre. Copiam, repetem, imitam, representam, mas de repente a sina escurece outra vez. Ficam os foles em vez da respiração."


in "Nome de Guerra", de José Almada Negreiros

Actualidade 3


1 - Na Madeira: "duas ou três avezinhas não fazem a Primavera" - ironizou João Jardim, referindo-se ao PSD Madeira. A pergunta: e, chegada a altura, eles que se reproduzem facilmente, dois ou três coelhos o que é que podem fazer?...


2 - "José Sócrates elege estabilidade política como tema de moção". Pede-se especial atenção, já agora, lá, no Rato, para a estabilidade diária do Zé...


3 - Na próxima semana, o "jackpot" no Euromilhões é de 59 milhões de euros, disse-se. Se o banco me emprestar o pilim, vou jogar em grande, prometo. Tenho na familia gente com salários em atraso...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Chovia...



 "Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso
E as vidraças da igreja vistas por fora são o som da chuva ouvida por dentro"

Fernando Pessoa


Subsídios para a nossa história contemporânea *

 Austrália 1998 - De uma entrevista com Luís José Abreu, ex-deportado em Timor, ex-vendedor de estatuetas, ex-calceteiro, ex-profissional de tudo um pouco, pintor "naif", em Sydney


"... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...


Fui para Timor como deportado social, com os primeiros proscritos da Ditadura Militar. Comigo foram intelectuais, operários manuais, cultos e não cultos, e até mesmo, creio, alguns monárquicos que eram contra a Ditadura.


Qual era a sua profissão quando o deportaram para Timor?


Antes de ir, exerci diversas profissões, entre as quais as de estucador e vendedor, por conta própria, de estatuetas... Por conta própria, repito, que eu nunca dei a ganhar nada a patrão nenhum... Preferi trabalhar sem intermediários!...


Porque é que a Ditadura o achou um cidadão incómodo?


É muito fácil de explicar: era operário comunista. Naquele tempo existia a Confederação Geral do Trabalho, que foi criada em Coimbra, depois da União Operária Nacional...


Em que ano?...


Nos anos 19/20...


Quem é que estava no poder?


Os primeiros repúblicanos. Assisti ao 5 de Outubro de 1910. Meu pai morreu pela República!...


O que representou para si o 5 de Outubro?


Quando se deu o 5de Outubro eu ainda andava na escola primária, era novo... Contudo, acho que o 5 de Outubro se traduziu numa realidade inevitável, porque a monarquia estava em decadência e o país perto da bancarrota. O Estado não tinha dinheiro e enquanto os políticos monárquicos não se entendiam, o Partido Republicano Português - primeiro partido republicano criado em Portugal congregava personalidades de alta
grandeza cultural, como o Dr. Afonso Costa, António José de Almeida, e tantos outros intelectuais.


Em que ano o deportaram para Timor?


Logo a seguir à vitória da Ditadura, em 1927.


Quanto tempo esteve deportado?


15 anos!!!


Fale-me um pouco desse período...


A Ditadura matou alguns deportados. Foi a minha habilidade que me salvou. Eles precisavam de mim, porque pouco ou nada havia em Timor.


Timor era uma terra abandonada?


Sim, naquele tempo, Timor não tinha nada, absolutamente nada. Quando lá chegámos, fomos levados para uma prisão militar, mas era como se estivessemos livres... O governador (esquece-me o nome) era um sidonista...


Quantos anos tem, senhor Abreu?


Noventa e tal... A caminho dos 100!... Nasci em 1899, mas oficialmente consta 1902. Fui baptizado na igreja de S. Domingos, em Lisboa. Meu pai esperava o advento da República para me "baptizar ... civilmente", mas a República perdeu o 31 de Janeiro, e por aí fora, perderam-se outros momentos republicanos. Então o meu pai resolveu baptizar-me em 1902.


É natural de ...


De Lisboa. Sou alfacinha de gema, nascido na rua da Palma e criado na rua dos Douradores.


Continue, senhor Abreu, a falar-me da deportação em Timor...


Fomos para Timor para morrer!... O governador de Timor era o Teófilo Duarte, que, como político, estava a soldo da Ditadura, mas que nos tratou correctamente. Quando chegámos tínhamos roupa, tínhamos um colchão, tínhamos cama... Tivemos todo o auxílio. Não podemos negá-lo.


O que era Timor nessa época?


Timor era uma coisa muito estapafúrdia... Uma coisa que, realmente, causava uma certa dor àqueles que amavam, de facto, a liberdade. Não existia a consciência de povo. Os homens, na sua maioria, viviam nús, quase só com um langotim a tapar as partes... Eram levados para o trabalho nas estradas sem ganhar qualquer vencimento e, muitas vezes, ainda tinham que oferecer um porco ou uma galinha aos capatazes, europeus ou maiorais do território.


Quando é que terminou a sua deportação e o que é que fez a seguir?


A deportação manteve-se, como disse, durante 15 anos e terminou quando as Nações Unidas, depois da Guerra, impuseram ao governo de Salazar o respectivo fim e o de prisões como a do Tarrafal.


Para onde é que foram?


Alguns partiram para Portugal. Eu estava na Austrália, porque fiz parte dos comandos contra os japoneses.


Veio para a Austrália?...


Vim para a Austrália num barco de guerra... Estive em Darwin, em Melbourne e em Sydney, uns quatro para cinco anos. A Austrália nesse tempo, dominada pelos ingleses, era racista até à medula dos ossos... A certa altura, tentei ficar aqui, mas eles disseram-me: you stop in Austrália, all right, but your wife black, not stop in Austrália...

???

A minha mulher é timorense. Resolvi partir e fui de novo, ainda durante a Ditadura em Portugal, para Timor, mas como deportado...

Fazer o quê?...

Trabalhar nas Obras Públicas, que me requisitaram para restaurar e fazer uma certas igrejas... Um paradoxo, realmente: eu, que nunca segui religião nenhuma, a fazer igrejas... Embora, como disse um velho democrata meu amigo, "não faz mal, é mais uma casa que fica em Timor.."

E, em serviço, esteve depois quantos anos no território?

Fui para lá em 1949 e estive até 1974...

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ..."

in "ENTRE VISTAS nos Arredores das Montanhas Azuis", de M.A.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Intimidades - ou nem tanto...

Eu que, como sabem (está no Acerca de Mim), sou o Marcial, quando, catorze anos feitos, comecei a trabalhar por conta alheia, trataram logo de me dizer: "aqui dentro, és o Alves". Chateei-me. Não se muda assim o nome a uma pessoa sem mais nem menos... Alves?!... "Alves é o meu pai... Não, o meu pai é o sr. José..." A coisa incomodou-me, confesso.

Mas cá ando com o nome todo às costas...

O Marcial, porque, como já expliquei noutra oportunidade, o padrinho era galego e tinha esse nome próprio... Hoje sinto prazer que assim tenha sido (o Marcial, carvoeiro, era um homem generoso - e a generosidade faz-nos falta no combate diário com a avareza).

Lopes, da parte da mãe, é apelido de uma das famílias mais numerosas, entre as respeitadas, da aldeia, algures nas Traseiras do Litoral (no compêndio da Primária antiga, Beira Baixa).

Alves, da banda do meu pai, a representar a força física e anímica de um velho manipulador de rijas madeiras (como ele gostava da sicupira...) e de tudo o que na Imagem histórica, remonta, se quiserem, ao Presépio e à figura de um pai, no meu caso, não virtual.

E é só. Vejam a fotografia e leiam-lhe a legenda. Está lá tudo...

Mas aquela mudança do menino Marcial para o senhor Alves é que ainda hoje me dói...


 
A fotografia ilustra tudo: o Marcial, em cima do cavalete; o Lopes, na paisagem que entra pela janela; o Alves, nas ferramentas que o recordam e na minha mulher (a cuidar do "património"), ao fundo, em cima de um banco (de cozinha, claro...Que eu não casei rico...)


Conceitos e frases

De um e-mail recebido que não foi com as fotografias pessoais que o diabo amassou "nesta geringonça"...



Hardware

"Parte do computador que recebe as pancadas quando o software não funciona"

Programador

"O que te resolve um problema que não sabias que tinhas, de uma maneira que não compreendes"

Pessimista

"Optimista com experiência"

Psicólogo

"O que olha para todos os demais quando uma mulher atraente entra na sala"

Amor

"Palavra de quatro letras, duas vogais, duas consoantes e dois idiotas"

Lamentável

"Homem com uma erecção que caminha para uma parede e a primeira coisa que toca é o nariz"

Dançar

"Frustração vertical de um desejo horizontal"

Diplomata

"É quem te diz que vás à merda de um modo tal que te sentes ansioso de que comece a viagem"

Arquitecto

"Tipo que não foi suficientemente macho para ser engenheiro, nem suficientemente maricas para ser decorador"

Inflação

"É ter que viver pagando os preços do ano que vem com o salário do ano passado"

Banqueiro

"É um tipo que te empresta o guarda-chuva quando há um sol radioso e o reclama quando começa a chover"

Economista

"Perito que saberá amanhã porque é que aquilo que ele previu ontem não aconteceu hoje"

Consultor

"Alguém que tira o relógio do teu pulso, te diz as horas e te cobra por isso"

Auditor

"O que chega depois da batalha e dá pontapés aos feridos"

Rostos


O Tó Zé, simpático e trabalhador, algures numa aldeia das Traseiras do Litoral


Dos "e-mails" recebidos...

Ausente deste banco de jardim durante uns dias, foi com agradável surpresa que verifiquei que os meus Amigos me tinham enviado dezenas de "e-mails". Os mais diversos. Com o devido respeito, no entanto, há um que me apetece transcrever aqui por razões ... Vamos ver (sem o colorido das fotografias, que, no caso...), vamos ler:

"A diferença entre os países pobres e os ricos não é a idade desses países.Isto está demonstrado por países como a India ou o Egipto, que têm mais de 5000 anos, e são pobres.


Por outro lado, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia, que há 150 anos eram inexpressivos, hoje são países.


A diferença entre países pobres e ricos também não reside nos recursos naturais disponíveis. O Japão possui um território limitado, 80% montanhoso, inadequado para a agricultura e para a criação de gado, mas é a segunda economia mundial.


O Japão é uma imensa fábrica flutuante, que importa matéria-prima do mundo inteiro e exporta produtos manufacturados.


Outro exemplo é a Suiça, que não planta cacau, mas tem o melhor chocolate do mundo. No seu pequeno território, cria animais e cultiva o solo apenas durante quatro meses ao ano. No entanto, fabrica lacticínios da melhor qualidade. É um país pequeno que passa uma imagem de segurança, ordem e trabalho, pelo que se transformou no cofre-forte do mundo.


No relacionamento entre gestores dos países ricos e os seus homólogos dos países pobres, fica demonstrado que não há qualquer diferença intelectual. A raça, ou a cor da pele, também não são importantes: os imigrantes rotulados como preguiçosos nos seus países de origem, são força produtiva nos países europeus ricos.


Onde está, então, a diferença? Está no nível de consciência do povo, no seu espírito. A evolução da consciência deve constituir o objectivo primordial do Estado, em todos os níveis do poder. Os bens e os serviços, são apenas meios... A educação (para a vida) e a cultura ao longo dos anos, deve plasmar consciências colectivas, estruturadas nos valores eternos da sociedade: a moralidade, espiritualidade e ética.


Solução-síntese: transformar a consciência do Português. O processo deve começar na comunidade onde vive e convive o cidadão. A comunidade, quando está politicamente organizada em Associação de Moradores, Clube de Mães, Clube de Idosos, etc, torna-se num micro-estado.


Ao analisarmos a conduta das pessoas nos países ricos e desenvolvidos, constatamos que a grande maioria segue o paradigma quântico, isto é, a prevalência do espírito sobre a matéria, ao adoptarem os seguintes princípios de vida:




1. A ética, como base;
2. A integridade;
3. A responsabilidade;
4. O respeito às leis e aos regulamentos;
5. O respeito pelos direitos dos outros cidadãos;
6. O amor ao trabalho;
7. O esforço pela poupança e pelo investimento;
8. O desejo de superação;
9. A pontualidade.
















Somos como somos, porque vemos os erros e só encolhemos os ombros e dizemos: "não interessa!..." A preocupação de todos deve ser com a sociedade, que é a causa, e não classe política, que é o triste efeito. Só assim conseguiremos mudar o Portugal de hoje.


Vamos agir! Reflictamos sobre o que disse Martin Luther King: O que é mais preocupante, não é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos ou dos sem ética. O que é mais preocupante é o silêncio dos que são bons..."

Breve "post" para Muammar Al Qhatafi


Caro Al Qhatafi, escrevo-te da Lisbia, onde, sentado num banco verde, folheio o teu LIVRO mais conhecido - o da cor do que de melhor há para coelhos. E estou para aqui, cidadão que veio do povo e é povo, isto é (tu não conheces este pormenor...), descendente, em linha recta do Po vinho, um tanto baralhado com as palavras que disseste - ou disseram que tu disseste.
Ajuda-me. Poderemos,eventualmente, colaborar.

"Se a situação não for normalizada, liderarei um movimento com o apoio de milhões de habitantes do deserto que limpará a Líbia casa por casa."

Serei breve. A pergunta é a seguinte (falaremos mais tarde na gasolina para o isqueiro da gente...):

- És homem para, com apoio dos habitantes do deserto, limpar a Líbia - casa por casa? A sério? Tomo-te à letra. Fica sabendo, mano Qha, que, na minha Lisbia, limpeza, em desespero, é trabalho, à falta de melhor, para estudantes no desemprego...E temos muitos. A sorte, Caríssimo, está do lado dos camelos, que têm energias para muito tempo, como sabes. Aí, aliás, deve haver muitos. Talvez até mais do que aqui.Digo eu, que sei pouco dessas estatísticas.

Diz-me qualquer coisa. Se precisares de gente, apita. Temos malta nova à brava e pronta a limpar o que quer que seja...Menos gente, claro (desculpa a graça de mau gosto). É pessoal com estudos.

Quanto à disponibilidade de camelos, não te garanto nada... Embora os que temos possuam reservas, não sei o que lhes deu que não largam a gamela ... Estuda, no entanto, a hipótese de trocar alguns (que, aqui, de duas, passaram a uma bossa) por gasolina. Sem chumbo, de preferência.Com chumbo temos ainda um resto - numa reserva, na refinaria de Belém.Conheces?

Um chi.








P.S.: desculpa o PS, mas, à margem, sem protocolo, não quero deixar de te convidar para um copo numa Tendinha que temos cá. Aparece. Se puderes, atesta-me aí, entretanto, o isqueiro que segue amanhã, pelos canais habituais.Ok?
Teu, M.A.

Memórias para combater a Crise: "Hair" - Londres, Páscoa 1971

Foi a Halina, que tinha vivido em Londres, me fez, a pedido, um roteiro para a estada de uma semana na capital inglesa. Lembro-a aqui, sentado num banco de jardim, em Lisboa, para lhe dizer, onde quer que esteja, que não esqueci, em particular, os seus cuidados ao recomendar-nos, a mim e à minha mulher, a ida ao teatro londrino onde se representava o HAIR, que "continha cenas eventualmente chocantes..." Fomos, claro.

Minha querida Halina, julgo ter percebido, mas percebo agora muito melhor: "hippies-anos 60: apologia da liberação das drogas, música, paz, amor..." American Love-Rock Musical. Tudo para reflectir.Na altura e agora.

Acabamos por ser o que vemos... Ficou, ficou-nos, digo eu, a esta distância, a paz (interior), o amor, a música - e uma vacina contra o que é hoje mal de populações na demanda de si próprias. Retenho as belas imagens dos corpos nús em palco, claro, mas revejo-os, à distância, como um certo apelo à pureza. E, por isso, com encanto. Mas com absoluta rejeição desse amor alimentado a narcóticos, que são a negação dos desafios da vida - que ajudam a viver. Sobretudo, os que gostam do azul do céu, de flores, de sorrisos, de livros... E de falar, de falar, minha querida. E de escrever, porque não?!... Às vezes ultrajados, roubados, incompreendidos, invejados, atraiçoados, mas "de pé, como as árvores" - se possível.

De resto, Londres foi "dose" repetida e repetida... Que se recomenda. Embora...embora Paris... Folies Bergère... Bom!...

Bem-hajas, Halina! Agora que já conheço várias Londres, percebo melhor a importância do que me recomendaste. Sobretudo, aqui sentado - a pensar... Chefe de nada. E a escrever como se não viesse ninguém ler-me. Ou apenas tu, silenciosa, por cima do meu ombro.
Foto M.A.P.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

"SHARE OU NÃO SHARE" - "TGV" - PACO BANDEIRA - 2010



A minha simpatia e o abraço renovado, que já foi ao vivo em viagem que nem um, nem outro,sei, esquecemos: Brasil-150 anos de Independência.Concordando ou não com todas as letras do que canta, a LIBERDADE reforça laços. E fica.O resto é conversa, às vezes, para disfarçá... 

A batalha de Mont-Saint-Jean

Chega a gente a Bruxelas, vista a Praça do Mercado (Grand Place, já agora...) e o essencial do mais que se anuncia por aí, nem mesmo o eventual trabalho que haja que cumprir impede que se pense num saltinho, guiado de preferência, a terras de Waterloo para ver onde a "coisa" aconteceu e Victor Hugo se inspirou.

Não é importante, mas talvez valha a pena reflectir: "o que é que ficaste a saber que não sabias?..." Nada, ou quase nada. Está tudo contado e recontado. Excepto...excepto o ponto forte da tese do guia: "a batalha não foi em Waterloo, foi aqui, no Mont-Saint-Jean!"

E pronto, Waterloo é nome de "recuerdo", mas Saint-Jean é que merece o lugar na História. E não se aprende "rien"... Porque ao turista comum mais nada é dito. Cheira-se a paisagem, ouvem-se cavalos e homens, se se tiverem sentidos apurados - e é tudo... Depois, depois chega-se a casa, vai-se à enciclopédia  (agora à Internet) e está feita a viagem à guerra que, afinal, foi em Saint-Jean... E eu que tanto gostava de ter podido dizer aos amigos que tinha estado em Waterloo... Resta-me a caneca da imagem (que foi cara...) e nela todo o gozo de, por exemplo, um coelho: "ai que bom vai ser... Não foi?..."

À memória de Stuart Carvalhais

Há alturas em que meia dúzia de boas caricaturas, no mínimo, valem por outros tantos saborosos manguitos. São épocas... Eu sou do tempo do Stuart Carvalhais, que conheci pessoalmente, com e sem "grão na asa", no "Diário de Notícias". E lembro-me da sua Lisboa, em particular. E de alguns manguitos que deixou por aí... Sem data... Que sejam, pois, em sua homenagem quatro faces interiores dos muitos cadernos que a C.M. de Oeiras, oportunamente, mandou imprimir - "para memória futura". 











E, por favor, queridos historiadores do avesso, não me cobrem direitos de autor, que a coisa está tão triste que o vosso trabalho (o de todos os mágicos do traço crítico), se não é, sabe-me a pão... E vale manifes de Avenida cheia...

Achados arqueológicos - Padrão de São Jorge

Especialmente,
para a Mónica Alves Ponce, aluna de Mestrado em Arqueologia, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa














"Padrão de S. Jorge, erigido na ponta da margem sul do Zaire (Congo) que se ficou chamando de Padrão, desastradamente chrismado na moderna cartographia inglesa em - Shark's Point.

Foi o primeiro padrão de pedra collocado por Diogo Cão na sua primeira viagem de descoberta (1482).

Segundo a tradição local foi derrubado pelas balas de um vapor inglez que o tomou para alvo dos exercícios ou diversão da sua artilharia.

Alguns fragmentos foram recolhidos por gente d'esse navio, mas perderam-se por se afundar o escaler que os conduzia para bordo. Outros fragmentos foram levados para o interior da Ponta, pelos indígenas, que os enfeitaram e guardaram ciosamente n'uma cova, como feitiço de branco. Em 1859 o governo portuguez mandou, por um navio de guerra, collocar outro padrão commemorativo na Ponta, que em 1864 desapareceu, destruído segundo a tradição official por uma grande cheia ou maré.

Quando em 1892 o governador de Angola mandou erigir novo padrão commemorativo do primitivo, foram procurados e obtidos os fragmentos d'este que os indígenas conservavam, e são esses fragmentos, em número de dois, que existem no Museu."



(Enviados, os fragmentos citados, por ordem do Governador Geral Guilherme Capello e do seu successor).

Direcção-Geral do Inacabado *

Pouco seguro, embora, da sua aceitação, já aqui sugeri a listagem pública das dívidas do Estado à iniciativa privada portuguesa a que, em momentos de aperto, se chama motor da economia, mas em período eleitoral, bastas vezes, se dá a entender que nacionalizada (apesar da recente reviravolta cubana...) é que seria bestial...

Regressado da província, a sugestão de hoje é outra, dá algum trabalho, mas concretizada, por exemplo, com as autarquias locais, poderá revelar-nos as sinfonias incompletas de que, ou muito me engano, ou somos pródigos: uma exaustiva listagem, incluindo comos e porquês, de todas as obras


1. Formalmente acabadas e/ou inauguradas, mas fechadas (há quanto tempo e porquê);

2. Com projectos aprovado "por quem de direito", mas inacabadas, às vezes, nomeadamente, não por falta de tijolos, mas de papéis ou de merdelhices locais...

3. Por fim (também poderá ser "interessante") as prometidas pública e solenemente às populações "por quem de direito", mas que nunca avançaram, vamos lá saber porquê...

Em suma, tratar-se-ía de levar por diante um levantamento das nacionais ou locais mentiras, das nacionais ou locais preguiças, das locais ou nacionais incompetências - que nos roubam todos os dias impostos e paciência.

Mais se sugere, a criação de uam Alta Autoridade para o nacional "deixa andar" - a ocupar por um dos actuais directores-gerais que, na prática, não tenha mais que fazer do coçar o... coçar-se...

* na dependência do Primeiro-Ministro e em articulação permanente com a Assembleia da República.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Saramago via "e-mail"

"Toda a gente me diz que tenho que fazer exercício físico. Que é bom para a minha saúde. No entanto, nunca ouvi ninguém dizer a um desportista: tens que ler."

Algures, nas Traseiras do Litoral, um sinal de mudança?

Na aldeia, o padre é, há décadas, o mesmo. Por isso, difícil foi, durante larguíssimos anos, ensaiar, o simples ensaiar, de qualquer gesto que, mesmo não atraiçoando a Santa Madre Igreja, fosse grito d'alma de uma população, quase unanimemente, habituada à sua voz, a um tempo "detentora da Verdade" e, a outro, senhora de terrenos poderes vários na região.

Até que ... até que, num dia destes, as circunstâncias ditaram uma leve, muito leve diferença. Coisa simples. Na ausência ocasional do velho prior, verificou-se a exigência de um funeral. E veio, por isso, um jovem padre substituir o "titular" da paróquia, não na doutrina, claro, mas no modo de a cumprir...

Foi o caso que, sendo hábito, da igreja ao cemitério local (uns 300 metros), o coche funerário seguir à frente e a população acompanhar, em cortejo quase pagão, o féretro, naquele dia ter sido ao contrário, isto é, não em grupo mais ou menos anárquico, mas em duas filas indianas, à direita e à esquerda, a rezar, a rezar o terço, enquanto cá para trás, o carro, com o padre à frente, reduzia a sua marcha para o ritmo dos acompanhantes que lhe seguiam à frente e, chegados ao cemitério, ficavam (ficaram) a fazer como que guarda de honra ao falecido.

Em poucas palavras, fica o registo. Está dado o mote para a mudança. Envolvente e comunitária. Sobretudo para os católicos.

E que assim venha a ser - sempre.

Desenho de Isabel Alves
O povo gostou, diz-se. Embora se saiba que nem tudo muda assim...

2011 - Centro de Dia do Dominguizo (Traseiras do Litoral)

"O mundo só pode ser
melhor do que até aqui
- quando consigas fazer
mais p´los outros que por ti!"

António Aleixo

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Ladaínha para doze rosas da Galileia

 LISBOA, ruadojardim, junto ao coreto ...

Se uma rosa por aqui nascesse,
Eu me sentiria perder
Como se minh'alma morresse
No Outono, ao entardecer.


Se uma rosa por aqui nascesse,
Em qualquer sábado a haver,
Dava-lhe o cravo que viesse
A seu lado, a acontecer


Se uma rosa por aqui nascesse,
Nesta Praia, à beira rio,
Talvez as mágoas sofresse
Sem queixumes, mesmo ao frio.


Se uma rosa por aqui nascesse,
Toque mágico, minha mão,
Fugia p'ra que não ouvisse
Quem lhe apontasse um senão


Se uma rosa por aqui nascesse,
Foita, bela, livre, vivaz
Voltava a viver, se quisesse
Que o mundo não volta p´ra trás


Se uma rosa por aqui nascesse,
E de orvalho se regasse,
Talvez Cupido acontecesse
E em botão a libertasse


Se uma rosa por aqui nascesse.
E certo beijo a acordasse,
Talvez p'la manhã a colhesse
E, p'la noite, recitasse


Se uma rosa por aqui nascesse,
Formosa como as d'Isabel
Talvez de Coimbra viesse
Qualquer milagre em papel

Se um rosa por aqui nascesse
P'ra marca de livro à espera,
Plantava mais, p'ra que houvesse
Sempre, sempre uma quimera

Se uma rosa por aqui nascesse,
Pão e vinho de Cardeais
Talvez Gonzaga não vivesse
Neste Portugal do Jamais.











Se uma rosa por aqui nascesse,
Vermelho-veludo, ou não
Cortava-a rente, bem cerce,
Bem junto do teu coração.

Se uma rosa por aqui nascesse,
Poema da terra a cantar
Talvez a palmeira morressse
Na floresta, olhando o mar.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Human Flowers



Bem-vindos ao meu jardim! Não é permitido colher flores...

Egipto - entre 3100 e 500 a.C. ( II )

Regresso à História que os papéis velhos têm a mania de assumir, mesmo quando os ambientes onde se lêem são jardins - como este, que não é de Inverno, macio e temperado como muitos, quase faraónicos...

EGIPTO

1900 - É suprimida a nobreza heriditária (nota: não estamos em 2011 d.C....).São construídos canais de irrigação.

1800/1700 - Em 1788 surge a 13ª dinastia. Os hicsos, entretanto aparecidos, dominam o Egipto e introduzem o cavalo e os carros de guerra.

1600 - Os hicsos são rechaçados. É a 18ª dinastia. O faraó Amenófis I estende o seu domínio até ao Eufrates.

1500 - Tutmósis III pacífica as suas conquistas. Por volta de 1480, dá-se uma biblica batalha, perto de Meguido.

1400/1200 - Amenófis IV abandona Tebas e a religião em Amon, a favor do deus Aton. Mas a revolta fracassa. Tutankâmon sucede-lhe. Ramsés I funda a 19ª dinastia em 1320. Os descendentes de Ramsés I não conseguem manter a unidade do país. E a partir de 1080 começa a anarquia.

1100 - O Egipto vive em permanente inssurreição e decadência. Os faraós da 20ª dinastia revelam-se ineptos para reinar no país.

1000 - Em 1054 é restabelecida a unidade egípcia.

900/700 - Os líbios fundam a 21ª dinastia. Os egípcios invadem Canaã e pilham Jerusalém no ano 930.
Entretanto, as desordens na Palestina reforçam a influência do Egipto. Mas os assírios derrotam-nos. Assurbanipal conquista o Delta. Dá-se a destruição de Tebas.

600/500 - Estabelecem-se na costa egipcia os primeiros colonos gregos. Verifica-se a abertura do canal entre o Mediterrâneo e o Mar Vermelho. E o Egipto volta a dominar a Judeia. Mas Nabucodonosor conquista e destrói Jerusalém e os judeus refugiam-se no Egipto, que, em 525, é conquistado pelos persas.


Os séculos passam e o Egipto, fértil de História, riquíssimo de Cultura, tendo dado a beber tudo o que tinha, culturalmente falando, chega ao século XXI à procura de si próprio... Como foi possível?...



Parênteses final, quase a propósito, quase filosófico: como é possível também, já agora, noutro plano, bem entendido, que Portugal, que descobriu Mundos, não seja capaz de se encontrar consigo próprio? Dificil, pelos modos, é construir em cima do construído... O progresso, quando o há, é coisa de museu. Isso! Isso! Aí, sim! Aí estão os povos. Para a gente ver... Fora deles, dos museus, há a guerra - e pedintes que nos mostram o mundo de há séculos ... Os pedintes que são, em última estância e pelos modos, a história viva que os povos teimam em continuar -  para que se saiba como foi...

Ao Nilo (2000 a.C.)

Glória a ti, pai da vida!
Deus secreto saído das trevas secretas,
Inundas os campos criados pelo Sol.
Matas a sede aos rebanhos,
Regas a terra.
Estrada celeste, descida das alturas.
Amigo dos trigos,  por ti crescem os grãos
Deus que revela, ilumina as nossas casas!

... ... ... ... ... ... ... ... ...

Ó Nilo, suplicamos-te.
Ouve o vibrar os nossos alaúdes!
Cantamos-te com as nossas mãos.
Encheste de alegria os teus fiéis.
Claridade radiosa, és o nosso escudo.
Reanimas os corações.
Comprazes-te com os múltiplos nascimentos.

Ó Nilo transbordante, são para ti as oferendas,
A ti são dedicados os bois que se degolam,
E é a ti que os hinos celebram.
Imolámos-te pássaros,
Acendemos a fogueira do sacrifício,
Ó tu cujo nome o céu esconde
E cujo aspecto nenhuma imagem deve fixar.

Ó Nilo que dás a alegria aos homens,
Os deuses receosos prestam homenagem ao deus,
Ergue-te, Nilo, que a tua voz ecoe,
Ó Nilo, ergue-te, faz-nos ouvir a tua voz!

in Rosa do Mundo (tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo)
Foto M.A.P.

Egipto - entre 3100 e 500 a.C. ( I )

Curiosidade aguçada pelos acontecimentos recentes que agitam o Egipto, fui aos "papéis velhos" cá de casa e, sem preocupações de rigor histórico, trouxe aqui para o jardim uma vintena de dados básicos da história daquele país que, a meu ver, não adiantam muito, mas, por força da síntese que constituem, podem incentivar pesquisas de mortais comuns parecidos comigo ...

 Cada um dá o que tem e...e eu tenho à mão a sintese que se segue. Deram-ma. Dou-a. Confiram-na, por favor. Para já, pode ter o valor do papaguear de um guia, mais ou menos improvisado, lá, junto às Pirâmides, onde quase tudo aconteceu... Com uma diferença importante:  não estou à espera de gorgeta... E, já agora, não me pretendo fazer passar por aquilo que não sou... Arqueóloga é a M.A.P.. Essa, sim. Mas...mas parentesco não é habilitação...

EGIPTO

Por volta de 3100, começa a reinar no Egipto a primeira dinastia historicamente comprovada de faraós.

3000 - É fundada a primeira cidade real de Mênfis. Um dos primeiros monarcas é Narmer Manes.

2900 - Por esta altura (2890?), o rei Smerkhet anexa ao Egípto a península do Sinai e surge pouco depois a segunda disnastia.

2800 - O Egipto estabelece relações comerciais com a fenícia Biblos. Constrói a primeira pirâmide.

2700 - Reina o faraó Queops, que manda construir as grandes em Gizeh. É neste período que outro faraó, Quefren, se supõe ter ordenado a construção da Esfinge.

2600 - Após revolta dos sacerdotes do deus sol, Userkaf é elevado ao trono e surge a quarta dinastia de faraós.

2500 - Com fundação da sexta dinastia por Teti I, chegam ao deserto da Núbia os primeiros viajantes egípcios, que anexam as regiões exploradas.

2400 - Este século marca a instituição da nobreza hereditária, mas com a invasão dos beduínos, rompe-se, pela primeira vez, a unidade do Egipto.

2300 - A oitava dinastia não consegue reunir o país: no Alto Egipto passam a reinar os etíopes da Abissínia e no Egipto Médio o poder passa a ser de Kheti I.

2200 - Em 2160, um nobre de Tebas, nomeia-se faraó. É Kheti II. E existem agora dois grupos sacerdotais em luta.

2100 - Depois de várias guerras internas, os tebanos conseguem reunificar o poder.

2000 - É construído um muro contra as invasões beduínas. O Egipto submete a Líbia, conquista a Núbia e procura dominar Canaã, sob o faraó Sesóstris I.

Documentação consultada: Abril Cultural.

Foto M.A.P.

Carnaval carioca 2011 - um abraço a Maitê, como se fosse a todos os foliões


Caríssma Maitê Proença,

aqui Portugal!

Tenho imagens suas de 2007. E de gente que a acusa de nos ter ridicularizado...
Quero dizer-lhe que nunca acreditei nessas versões ignorantes.
Tanto, que  fiquei agora duplamente feliz ao encontrar a fotografia que lhe tirei em pleno Sambódromo,
em Março de ... de 1985!

É com ela que, em hora da enorme dificuldade, que tanto vos/nos dói, que, em si, Maitê,
de que tenho este registo pessoal,
 deixo o fortíssimo abraço de solidariedade que me sai da alma a todos os foliões do Carnaval carioca,
tão desastrosamente atingido.

Espero, entretanto, voltar a este espaço NET com mais imagens do vosso/nosso Carnaval de 1985
 - que jamais esquecerei!

E, já agora, o meu pedido ao povo Irmão do Brasil, para que, mal lhe chegue este "post" ao computador,
 faça tudo o que estiver ao seu alcance para reencaminhar a minha SOLIDARIEDADE e AMOR para quantos fazem do Carnaval carioca, na verdade, o maior espectáculo do Mundo.

Sofro convosco!

Rio, canto (e choro), pulo convosco nestes dias/noites inolvidáveis! De sofrimento, de escape e força de viver.

Deus vos ajude!


Canteiro de palavras ( VI ) - Ruas do Cairo

Eça de Queirós 1926 - "O Egipto, notas de viagem"

"Aqueles que nunca sairam das ruas direitas e monótonas das cidades da Europa, não podem conceber a colorida e luminosa originalidade das cidades do Oriente.

Aí, as ruas são direitas, ladeadas de largas fachadas, caiadas, inexpressivas como rostos idiotas. As figuras são triviais; as fisionomias vulgares, esbatidas, uniformizadas pelo tédio e as dificuldades da vida; os vestuários são escuros, estreitos, económicos. O gás, à noite, perfila a sua linha bocejante; o rodar das carraugens e das carroças abala o chão com uma brutalidade ruidosa.

Tudo é correcto, alinhado, perfilado, medido e policiado.

É decerto excelente para a segurança, para a justiça, para a propriedade, para a ordem: é mesmo indispensável. A algibeira aplaude; a epiderme, protegida, dilata-se de alegria; o espírito de lucro, garantido e patrulhado, desenvolve-se com segurança, e as gavetas podem bocejar sem risco. Tudo está contente no animal policiado - excepto a imaginação.

(...) Porém, para a imaginação do europeu, há ainda uma região livre, abundante e cheia, nas ruas duma cidade do Oriente: o Cairo.

(...) O Cairo é o centro do Egipto e a sua maravilha. A corte do Paxá chama o comércio e as caravanas. A mesquita de Al-Azhar congrega os estudantes. O Vale do Nilo atrai o mundo. E as ruínas que o cercam, convidam os pássaros para ali fazerem ninhos.

Todas as raças, todos os vestuários, todos os costumes, todos os idiomas, todas as religiões, todas as crenças, todas as superstições, ali se encontram, naquelas ruas estreitas. Em qualquer pequeno café do bairro copta ou de um bairro muçulmano, vêem-se, sentados nas esteiras ou encruzados sobre as altas grades de pau de sicômoro, um árabe, um turco, um núbio, um homem da Samaria, um persa, um albanês, um búlgaro, um judeu, um índio, um abissínio, um arménio, um árabe do Maghreb... Um grego faz o café, um beduíno canta no meio da casa, um francês fotografa os grupos, um inglês observa, um americano toma notas...

(...) A população que vem, compra, fuma, reza e volta no seu dormedário e nas suas caravanas (...) Quase um milhão de homens se move naquelas ruas estreitas, apertadas e confusas.

Uma rua do Cairo é uma fenda esguia, tortuosa, e enlameada, apertada entre duas fileiras de casas, que adiantam os seus moucharabiehs como as árvores duma avenida adiantam e encostam as suas mãos de folhagem. Quando a rua é um pouco mais larga, põem-lhe, por causa do sol, toldos de lã, às riscas, ou velhas sedas abandonadas pelos vendedores do bairro.

Quem caminhar numa rua isolada, sob o calor do dia, na proximidade dos bazares e examinar bem as casas, tem a revelação duma imaginação arquitectural, como decerto não voltará a haver na história da civilização (...)."
Foto M.A.P.



segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Cerejas? Não, conversas: a montra e a inflação

Brasil. S. Paulo. Numa das ruas mais concorridas do centro da cidade, a montra de uma loja de venda de tudo. Objectos pequenos, os mais diversos, à mistura com outros maiores, sem a mínima arrumação: a desordem em madeira, plástico, loiça, vidro, papel, tecidos.And so on, and so on...Com forma definida, em monos à espera de baptismo, em...sei lá... mas, "graças a Deus", tudo às cavalitas de tudo. Pó com fartura. Preços, nem vê-los... A MONTRA: dois por dois, a meia altura do passante, que na rua quase se atropela. Uma metrópole a ferver, em hora de ponta.

Passo. Passo, mas... o que é isto?... Que raio de montra!..., gagajo de mim para mim. Uma estatueta de madeira... S. Francisco de Assis?...

Lembro-me da Feira da Ladra, em Lisboa e...

- Ó, você aí, por favô... Quanto custa o boneco de madeira que está ali na montra? Aquele... - e aponto.

- Qual?...

- Aquele que tem os braços partidos, partidos ou levantados... Cheios de pó... - desvalorizo.

- É o S. Francisco de Assis ... De boa madeira...

- Mas está tão...

- É assim!... São...

Lá me disse o valor. Não me lembro, mas, para a história se perceber, vou usar a unidade 100. Discuto um pouco...

- Está bem! Vou num instante buscar  dinheiro...  Já volto...

- Faça favô...

E, sem lhe tirar o pó, foi pôr "a coisa" de novo na montra.

Não disse onde ia buscar o dinheiro (hotel faria subir o preço...) e ... e, passadas cerca de duas horas, voltei para concretizar a compra.

- É o boneco de madeira, fá favô... Quanto é?...

- 150!

- 150?... Mas ainda agora me pediu 100...

A minha "demora" revelou-lhe eventual procura. E procura faz subir...

- 100?...

- Sim!...

- Tá bem. Não me lembro, mas... mas pode levá-lo.

Fiquei a pensar na consequências das leis da oferta e da procura e aqui têm o S. Francisco de Assis, das andorinhas (ver "post" anterior), por mim libertado do lixo de uma montra caótica do centro de uma das cidades do mundo que mais cresce - ou  crescia, que isto deu-se há um bom par de anos.