quarta-feira, 31 de agosto de 2011
Espreitar antes de abrir ...
Vamos ao politicamente incorrecto: como, por certo, toda a gente que navega "neste universo" está roxa de saber, que abunda por aqui o mais fantástico universo amical de que há memória ... Apetece-me dizer que não há mês, para não dizer que não há semana, ou dia, mesmo, que não se receba no computador uma proposta para se "ser amigo de", ou para nos "ligarmos à iniciativa x ou y", ou para ... ou para ... Ele é o Skype, ele é o Messenger, ele é o Twitter, ele é o Facebook, ele é o ..., ele é o ... é um nunca mais acabar de sugestões vindas de todas as bandas.
Tudo bem, dir-se-á - em teses de mestrado e outras, aquém e além fronteiras. Mas, porra, chegado à idade que ultrapassou a da reforma, sugiro que se faça a seguinte reflexão: porque é que a Humanidade vive actualmente, com tanta amizade electrónica, talvez um dos períodos mais complicados dos últimos, diria, cinquenta anos?
Quando se verificam, por exemplo, pedidos de adesão a "novas amizades" por parte de individuos que, na prática, longe da electrónica (todos conhecemos casos ...) tiveram, têm, comportamentos socialmente censuráveis à luz do mais elementar bom-senso, que pensar de algumas das sugestões, "ditas amigas" que nos são feitas?
O meu apelo é, eventualmente, banal:
sendo imparáveis os movimentos criados, pensemos duas vezes antes de aderir ao que quer que seja. Para que serve o óculo que a maior parte de nós tem na sua porta de entrada de casa?... Espreitemos, pois, antes de abrir ...
Tudo bem, dir-se-á - em teses de mestrado e outras, aquém e além fronteiras. Mas, porra, chegado à idade que ultrapassou a da reforma, sugiro que se faça a seguinte reflexão: porque é que a Humanidade vive actualmente, com tanta amizade electrónica, talvez um dos períodos mais complicados dos últimos, diria, cinquenta anos?
Quando se verificam, por exemplo, pedidos de adesão a "novas amizades" por parte de individuos que, na prática, longe da electrónica (todos conhecemos casos ...) tiveram, têm, comportamentos socialmente censuráveis à luz do mais elementar bom-senso, que pensar de algumas das sugestões, "ditas amigas" que nos são feitas?
O meu apelo é, eventualmente, banal:
sendo imparáveis os movimentos criados, pensemos duas vezes antes de aderir ao que quer que seja. Para que serve o óculo que a maior parte de nós tem na sua porta de entrada de casa?... Espreitemos, pois, antes de abrir ...
Esta senhora, pelos modos, não comprou sem ler com atenção o rótulo - e muito bem!... |
(Re) descobrir Lisboa ( XVII )
Há quem diga que, lá em cima, não é D.Pedro, mas, pouco importa: cá em baixo são os pombos de Lisboa os reis da Praça. Ali comem, ali fazem a digestão, ali ... tudo ... E assim animam o Rossio.
"Conversas Diferentes" ( I )
Em Dezembro de 2008 a CERCI Lisboa, com o patrocínio do Presidente da República e o apoio, nomeadamente, da Junta de Freguesia de Carnide, publicou o livro Conversas Diferentes, que é a transcrição integral de 30 entrevistas a outros tantos deficientes intelectuais, que convivem diariamente no pólo cerciano da Luz, em Lisboa.
Com receita integral, como é óbvio, para a CERCI, é só ligar: está à venda e, migalha que é, É. Cada um dá o que pode conforme a sua pessoa ...
Entretanto, talvez seja interessante trazer para este blogue uma ou outra resposta das muitas obtidas ao longo de saborosas horas de alegres e descontraídas conversas (diferentes) com os jovens do Espaço da Luz.
Comecemos.
Por exemplo:
Imagina-te na praia. A areia está falar com o mar. O que é estão a dizer?
Helena:
Ó mar, anda cá!... E o mar responde: já vou!...
José Braga:
Triste sina a tua que apareces e desapareces ...
Susana:
Deixa-me enrolar contigo! O mar não se enrola na areia?... Então!...
Ana Lucas:
Vêm aí cheias de água ... Vêm cheias ...
Paulo:
Ó areia estás muito suja ... Precisavas de ser limpa...
Tânia:
Ó areia sai daí ... Porque é que vens meter-te comigo? Vai para a tua casa!...
Rui:
Senhor mar, se engoles a areia ... podes ficar rocha ...
Pedro Espanhol:
Ó areia, o que é que estás aqui a fazer ... Vai para outro sítio, senão molho-te ...
Eduardo Galhardo:
O mar não fala com a areia.
Com receita integral, como é óbvio, para a CERCI, é só ligar: está à venda e, migalha que é, É. Cada um dá o que pode conforme a sua pessoa ...
Entretanto, talvez seja interessante trazer para este blogue uma ou outra resposta das muitas obtidas ao longo de saborosas horas de alegres e descontraídas conversas (diferentes) com os jovens do Espaço da Luz.
Comecemos.
Por exemplo:
Imagina-te na praia. A areia está falar com o mar. O que é estão a dizer?
Helena:
Ó mar, anda cá!... E o mar responde: já vou!...
José Braga:
Triste sina a tua que apareces e desapareces ...
Susana:
Deixa-me enrolar contigo! O mar não se enrola na areia?... Então!...
Ana Lucas:
Vêm aí cheias de água ... Vêm cheias ...
Paulo:
Ó areia estás muito suja ... Precisavas de ser limpa...
Tânia:
Ó areia sai daí ... Porque é que vens meter-te comigo? Vai para a tua casa!...
Rui:
Senhor mar, se engoles a areia ... podes ficar rocha ...
Pedro Espanhol:
Ó areia, o que é que estás aqui a fazer ... Vai para outro sítio, senão molho-te ...
Eduardo Galhardo:
O mar não fala com a areia.
terça-feira, 30 de agosto de 2011
Ainda o JORNAL NOVO
Pretendia-se e verificara-se adesão unânime e graciosa dos artistas de uma revista, então em cena, para darem um pouco do seu bom humor num espectáculo-oferta organizado pelo Jornal Novo, no velho Teatro Monumental, então disponibilizado para o efeito por Laura Alves.
Era empresário, no Parque Mayer, lembro-me bem, um simpático que ainda por lá anda, e no silêncio dos bastidores, sem testemunhas, sem conhecimento da direcção do velho Teatro Maria Vitória, aconteceu o insólito: a figura principal da companhia em cena, sabendo já da adesão dos seus colegas ao solicitado, despiu-se da graça que lhe conheciamos no palco e ...
- Ou põe o meu nome e fotografia destacados na primeira página do jornal ou, nem eu, nem a minha companhia, colaboramos (disse-o muito sério ...) ...
- Mas, é óbvio, que temos o maior gosto em fazer uma chamada na primeira página da vossa ...
- Não, não é isso: quero aí o meu nome e a minha fotografia bem destacados - ou daqui não sai ninguém ...
Fez-se-lhe a vontade. Mas a nódoa negra ficou. Entretanto, o que também aqui se recorda é que o público, na data aprazada, não terá sido da actuação de que mais gostou ... Valeu de pouco a "chantagem" ... Talento é outra coisa. O fulano "ganhou", quiçá, mais dois centímetros quadrados de jornal do que os colegas mas ...
Obviamente.
Era empresário, no Parque Mayer, lembro-me bem, um simpático que ainda por lá anda, e no silêncio dos bastidores, sem testemunhas, sem conhecimento da direcção do velho Teatro Maria Vitória, aconteceu o insólito: a figura principal da companhia em cena, sabendo já da adesão dos seus colegas ao solicitado, despiu-se da graça que lhe conheciamos no palco e ...
- Ou põe o meu nome e fotografia destacados na primeira página do jornal ou, nem eu, nem a minha companhia, colaboramos (disse-o muito sério ...) ...
- Mas, é óbvio, que temos o maior gosto em fazer uma chamada na primeira página da vossa ...
- Não, não é isso: quero aí o meu nome e a minha fotografia bem destacados - ou daqui não sai ninguém ...
Fez-se-lhe a vontade. Mas a nódoa negra ficou. Entretanto, o que também aqui se recorda é que o público, na data aprazada, não terá sido da actuação de que mais gostou ... Valeu de pouco a "chantagem" ... Talento é outra coisa. O fulano "ganhou", quiçá, mais dois centímetros quadrados de jornal do que os colegas mas ...
Obviamente.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Coisa que (me) acontecem ...
Habituado a, no meu tempo de assíduo do "Diário de Notícias", ler o jornal mesmo quando acompanhado das mais respeitosas criaturas, dei comigo baralhado (deve ser da idade ...), no pleno e bom uso da liberdade, a tentar reconstituir o texto de um anúncio que vi um dia destes numa das páginas que, salvo erro, me queria vender um automóvel. Automóvel? já não sei. Sei é que era aliciante. Estava num espaço idêntico a um dos dois que aqui deixo. Do que não me lembro mesmo, entretanto, é do contacto indicado. Recordo-me que as duas páginas estavam ao lado uma da outra... Isso!!! No caderno dos anúncios.
Tento reconstituir o texto:
Mercedes. Muito estimada. Como nova.
Vários extras. Pouca quilometragem.
Livro de revisões em dia.
Mas aproveito, já agora, para pedir ao meu Diário de Notícias e a todos os outros jornais para tentarem ser mais claros.
Mercedes pode ser carro ou nome de mulher.
Muito estimada pode ser carrinha ou senhora.
Vários extras não se percebe bem o que é ...
Pouca quilometragem: num carro é o que é, mas, às vezes, também se aplica, em sentido figurado, a sexo, por exemplo.
Livro de revisões completo: no que respeita a automóveis, é uma coisa; mas, noutros aspectos, pode ter a ver com sida, por exemplo. Sei lá ... Já tenho muita idade para fixar ... Não é fácil a gente f ...ixar.
Tento reconstituir o texto:
Mercedes. Muito estimada. Como nova.
Vários extras. Pouca quilometragem.
Livro de revisões em dia.
Mas aproveito, já agora, para pedir ao meu Diário de Notícias e a todos os outros jornais para tentarem ser mais claros.
Mercedes pode ser carro ou nome de mulher.
Muito estimada pode ser carrinha ou senhora.
Vários extras não se percebe bem o que é ...
Pouca quilometragem: num carro é o que é, mas, às vezes, também se aplica, em sentido figurado, a sexo, por exemplo.
Livro de revisões completo: no que respeita a automóveis, é uma coisa; mas, noutros aspectos, pode ter a ver com sida, por exemplo. Sei lá ... Já tenho muita idade para fixar ... Não é fácil a gente f ...ixar.
Rostos *
* Às vezes, rostos de gente jovem, mas, em regra, não. Os velhos têm, por vezes, em cada ruga, como que aquelas estradas romanas que, quando perguntadas pela nossa sensibilidade, e eventual saber, nos contam histórias de encantar, nos dizem como era o mundo, que dificuldades venceram para persistir na aventura de continuar. Muitas vezes pisadas, calcadas, quase humilhadas pelas botas cardadas e impiedosas da vida.
E os sorrisos das rugas? E as gargalhadas que, não raro, aí se adivinham, nos extremos dos lábios, no olhar ...
E a ternura imensa que um rosto enrugado e levemente aberto no sorriso, pode transmitir ...
Um rosto velho é um livro, um livro com muitas páginas, às vezes, quase uma enciclopédia. Os rostos velhos acrescentam. São, em linguagem nova, uma NET, com face humana. Que fala de NETos, que fala de NETas. Que um dia se vai avariar - sem conserto. É por isso que eu gosto de lhe, lhes, coleccionar os olhares, as rugas - que são iguais às da minha mãe, às do meu pai - que já partiram.
E os sorrisos das rugas? E as gargalhadas que, não raro, aí se adivinham, nos extremos dos lábios, no olhar ...
E a ternura imensa que um rosto enrugado e levemente aberto no sorriso, pode transmitir ...
Um rosto velho é um livro, um livro com muitas páginas, às vezes, quase uma enciclopédia. Os rostos velhos acrescentam. São, em linguagem nova, uma NET, com face humana. Que fala de NETos, que fala de NETas. Que um dia se vai avariar - sem conserto. É por isso que eu gosto de lhe, lhes, coleccionar os olhares, as rugas - que são iguais às da minha mãe, às do meu pai - que já partiram.
Galeria Nacional de Fotomontagens ( LXIV )
Agostinho da Silva * - e o tempo presente
"(...) Numa cidadezinha americana um tipo meteu-se num táxi e de repente apercebeu-se de que se tinha esquecido da carteira, mas como estava um banco perto, ele foi lá para levantar dinheiro. Mas ouviu o seguinte, do caixa:
- Tenho muita pena mas, de seu, no banco, só há uma memória no computador. Dinheiro para você pagar o táxi não tenho. - É o que vai suceder na América. Já faliu aquele banco no Illinois, tiveram os outros bancos que ir à pressa socorrê-lo. Então se se pensar que vai falir todo o sistema financeiro e de trocas internacionais ...
- Há uma guerra?...
- Não é fatal que haja. Quem me parece que deu a receita para situações destas foi S. Bento, que um dia disse: - Esta coisa está mal e vai durar muito tempo. Mas eu não quero ir já para o céu ... Como em Roma não dá, vou para um lugar onde haja terra, na terra vou criar um bicho e uma couve e com isso me amanho. - Ele era um patrício romano, um homem de cultura, por isso levou uns livros que eram manuscritos, foi com uns amigos e todos entretiveram-se a copiar os livros. O resto do tempo passavam-no cantando, recitando, rezando e dizendo uns para os outros: - Aguenta-te, olha que o mundo não acaba, porque não se percebe na metafísica que acabe. Esta pode ser uma boa receita para nós ... E quando estivermos melancólicos, chegar um sujeito e dar aquele conselho que um psiquiatra de Viena tinha na parede: "Levante os cantos da boca!" - Porque não é possível a uma pessoa estar com os cantos da boca levantados e ao mesmo tempo deprimida. Tem fatalmente que rir."
* 1984/1985 in Grande Reportagem, com Joaquim Furtado.
- Tenho muita pena mas, de seu, no banco, só há uma memória no computador. Dinheiro para você pagar o táxi não tenho. - É o que vai suceder na América. Já faliu aquele banco no Illinois, tiveram os outros bancos que ir à pressa socorrê-lo. Então se se pensar que vai falir todo o sistema financeiro e de trocas internacionais ...
- Há uma guerra?...
- Não é fatal que haja. Quem me parece que deu a receita para situações destas foi S. Bento, que um dia disse: - Esta coisa está mal e vai durar muito tempo. Mas eu não quero ir já para o céu ... Como em Roma não dá, vou para um lugar onde haja terra, na terra vou criar um bicho e uma couve e com isso me amanho. - Ele era um patrício romano, um homem de cultura, por isso levou uns livros que eram manuscritos, foi com uns amigos e todos entretiveram-se a copiar os livros. O resto do tempo passavam-no cantando, recitando, rezando e dizendo uns para os outros: - Aguenta-te, olha que o mundo não acaba, porque não se percebe na metafísica que acabe. Esta pode ser uma boa receita para nós ... E quando estivermos melancólicos, chegar um sujeito e dar aquele conselho que um psiquiatra de Viena tinha na parede: "Levante os cantos da boca!" - Porque não é possível a uma pessoa estar com os cantos da boca levantados e ao mesmo tempo deprimida. Tem fatalmente que rir."
* 1984/1985 in Grande Reportagem, com Joaquim Furtado.
domingo, 28 de agosto de 2011
XXII aniversário da Freguesia de Santo António dos Cavaleiros
Eina, pá! Ainda "no outro dia" andávamos aqui a pisar mato e, consolidada a ideia de uma certa autonomia autárquica (às vezes, parece, mal digerida), já estamos no XXII ano da freguesia de Santo António dos Cavaleiros, a que os promotores comerciais quiseram chamar Santo António do Lumiar.
Bom será, isso sim, em vez de vila, dar-lhe o pelouro da Justiça e fazer-lhe a justiça de, mais cedo do que tarde, nomeá-la cidade - com os melhores cumprimentos a toda a vizinhança honradamente saloia existente.
Bom será, isso sim, em vez de vila, dar-lhe o pelouro da Justiça e fazer-lhe a justiça de, mais cedo do que tarde, nomeá-la cidade - com os melhores cumprimentos a toda a vizinhança honradamente saloia existente.
Viva Santo António dos Cavaleiros! |
"Deus lhe pague"
1947: Lisboa, a primeira vez que fui ao teatro ...
DEUS LHE PAGUE. Procópio Ferreira.
A actualidade do que se tornou inesquecível. Dois mendigos à porta de uma igreja.
"... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Mendigo
... como é que o senhor pede uma esmola?
Outro
Como todos: "uma esmola pelo amor de Deus!..."
Mendigo
Isso é passadismo!... Ninguém mais ouve esse pedido. Deus é uma palavra sem expressão. Quando se diz: "Ai, meu Deus!" - é como se se estivesse dizendo: "Ora bolas!" O senhor nunca ouviu um ateu dizer: Graças a Deus, sou ateu"?
Outro
Já.
Mendigo
Pois então? Hoje, poucos compreendem o valor dessa expressão. Fale em fome. Fome é mais impressionante. Há mais de 30 000 000 de famintos no mundo! Mas fale em fome, sempre onde não haja pão ou comida.
Outro
Para quê?
Mendigo
Para que eles lhe dêem dinheiro. O senhor, com certeza tem mendigado a domicílio ...
Outro
Realmente, sempre vivi percorrendo casas de família.
Mendigo
É um mal. Quem mendiga a domícilio não faz carreira. Só dão pratos de comida e restos de pão. Adopte o meu sistema. Especializei-me em transeuntes e portas de igreja em dia de missa de defunto rico. Leia jornais. Pelos anúncios, calculo a féria do dia.
Outro
E hoje, por que está aqui, a esta hora?
Mendigo
O senhor não sabe? Bem se vê que o senhor não tem vocação para mendigo. E falta-lhe prática. Hoje é o dia do encerramento do mês de Maria. A igreja está repleta. (Retirando um papel do bolso e lendo-o) Aqui está a lista que o meu secretário apresentou: "Lotação completa: oitocentas e cinquenta pessoas".
Outro
O senhor tem secretário?
Mendigo
Contratei um rapaz esperto, que percorre a cidade, lê jornais e lembra-me as datas. Às vezes, estou tranquilamente em casa, na minha biblioteca, metido num dos meus lindos "robes-de-chambre", lendo Upton Sinclair, Karl Marx ... quando recebo um telefonema urgente. É o meu secretário, avisando sobre uma boa missa, um excelente casamento, uma festa popular, onde há maior número de generosos, segundo a sua psicologia.
Outro
O senhor tem uma organização perfeita!
Mendigo
O serviço está bem organizado. Aqui nesta igreja, por exemplo (Lê) "234 pessoas de luto, sendo 183 senhoras". Nota: "a maioria é de luto recente". (Falando) Luto recente é um grande sinal de generosidade. (Lendo) "86 solteironas". (Falando) A solteirona é um grande amigo do mendigo. Quando a gente diz: "Deus lhe pague", ela vê logo um lindo rapaz caindo do céu por descuido ... Mas é preciso que, ao pedir, a gente tenha um certo sorriso de bondade e malícia nos lábios ... É a esperança de casamento ...
Outro
Vamos ao resto! Sinto que vou melhorar a minha vida!
Mendigo
Vá por mim ... (Lendo) "Os comerciantes com cara de falência próxima, 18. Noivos e namorados com as respectivas, 96. O resto é gente "chic", além de pecadores arrependidos. (Falando) O meu secretário é um grande psicólogo.
Outro
Está-se vendo!,,,
Mendigo
Como vê, a féria vai ser grande. Comerciante falido dá pouco, mas não deixa de dar: tem medo da miséria. Namorado dá dois mil réis, Noivo dá dez tostões. Já tem mais intimidade com a pequena ... Pecadores, em geral, dão níqueis ...
Outro
O senhor nasceu mendigo.
Mendigo
Não. Nasci trabalhador! Lutei muito pela vida! Luta desigual Eu era um pobre operário, com a cabeça cheia de sonhos (...)"
DEUS LHE PAGUE. Procópio Ferreira.
A actualidade do que se tornou inesquecível. Dois mendigos à porta de uma igreja.
"... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Mendigo
... como é que o senhor pede uma esmola?
Outro
Como todos: "uma esmola pelo amor de Deus!..."
Mendigo
Isso é passadismo!... Ninguém mais ouve esse pedido. Deus é uma palavra sem expressão. Quando se diz: "Ai, meu Deus!" - é como se se estivesse dizendo: "Ora bolas!" O senhor nunca ouviu um ateu dizer: Graças a Deus, sou ateu"?
Outro
Já.
Mendigo
Pois então? Hoje, poucos compreendem o valor dessa expressão. Fale em fome. Fome é mais impressionante. Há mais de 30 000 000 de famintos no mundo! Mas fale em fome, sempre onde não haja pão ou comida.
Outro
Para quê?
Mendigo
Para que eles lhe dêem dinheiro. O senhor, com certeza tem mendigado a domicílio ...
Outro
Realmente, sempre vivi percorrendo casas de família.
Mendigo
É um mal. Quem mendiga a domícilio não faz carreira. Só dão pratos de comida e restos de pão. Adopte o meu sistema. Especializei-me em transeuntes e portas de igreja em dia de missa de defunto rico. Leia jornais. Pelos anúncios, calculo a féria do dia.
Outro
E hoje, por que está aqui, a esta hora?
Mendigo
O senhor não sabe? Bem se vê que o senhor não tem vocação para mendigo. E falta-lhe prática. Hoje é o dia do encerramento do mês de Maria. A igreja está repleta. (Retirando um papel do bolso e lendo-o) Aqui está a lista que o meu secretário apresentou: "Lotação completa: oitocentas e cinquenta pessoas".
Outro
O senhor tem secretário?
Mendigo
Contratei um rapaz esperto, que percorre a cidade, lê jornais e lembra-me as datas. Às vezes, estou tranquilamente em casa, na minha biblioteca, metido num dos meus lindos "robes-de-chambre", lendo Upton Sinclair, Karl Marx ... quando recebo um telefonema urgente. É o meu secretário, avisando sobre uma boa missa, um excelente casamento, uma festa popular, onde há maior número de generosos, segundo a sua psicologia.
Outro
O senhor tem uma organização perfeita!
Mendigo
O serviço está bem organizado. Aqui nesta igreja, por exemplo (Lê) "234 pessoas de luto, sendo 183 senhoras". Nota: "a maioria é de luto recente". (Falando) Luto recente é um grande sinal de generosidade. (Lendo) "86 solteironas". (Falando) A solteirona é um grande amigo do mendigo. Quando a gente diz: "Deus lhe pague", ela vê logo um lindo rapaz caindo do céu por descuido ... Mas é preciso que, ao pedir, a gente tenha um certo sorriso de bondade e malícia nos lábios ... É a esperança de casamento ...
Outro
Vamos ao resto! Sinto que vou melhorar a minha vida!
Mendigo
Vá por mim ... (Lendo) "Os comerciantes com cara de falência próxima, 18. Noivos e namorados com as respectivas, 96. O resto é gente "chic", além de pecadores arrependidos. (Falando) O meu secretário é um grande psicólogo.
Outro
Está-se vendo!,,,
Mendigo
Como vê, a féria vai ser grande. Comerciante falido dá pouco, mas não deixa de dar: tem medo da miséria. Namorado dá dois mil réis, Noivo dá dez tostões. Já tem mais intimidade com a pequena ... Pecadores, em geral, dão níqueis ...
Outro
O senhor nasceu mendigo.
Mendigo
Não. Nasci trabalhador! Lutei muito pela vida! Luta desigual Eu era um pobre operário, com a cabeça cheia de sonhos (...)"
Galeria Nacional de Fotomontagens ( LXIII )
Os antigos pátios lisboetas e as modernas propriedades horizontais
Diz-se pesquisar quando se anda aqui à procura de qualquer coisa, não é? Pois andava eu a p e s q u i s a r na NET e eis senão quando me "salta de lá" o Celestino, em 1945 (imagino-o, claro), a cantar, teatral, na linha do seu falecido irmão, o actor Varela Silva, a cantiga de que me lembrava apenas de algumas palavras seguidas, ouvidas no recreio da Primeira Classe, em Lisboa. Descobri-a agora completa. Era assim, se o tempo não lhe alterou pormenores:
No meu bairro toda agente faz barulho e barafusta,
falam mal, são insolentes
quanto tudo muito custa
É o Manel Sapateiro, mais a Chica do Lugar,
é o António Marceneiro, mais a Micas do Gaspar,
é a Zefa do Carriço, o Zé barbeiro e o filho
é tamanho o rebuliço q'anda tudo num sarilho
Foi ontem ca Dona Rosa que se fez passar por senhora,
teve zanga ca vaidosa que a filha era bordadora
a questão de modos era que uma tal Dona Marmiça
que a gritar era a fera e foi chamar a polícia.
E veio o Manel Sapateiro, mais a Chica do lugar
o António Marceneiro, mais a Micas do Gaspar,
a Zefa do Carriço, o Zé barbeiro e o filho,
foi tamanho o rebuliço q'andou tudo num sarilho.
Quando tudo tava em paz e já ninguém se lembrava,
entrou no pátio um rapaz a vender castanha assada,
eu não sei o que ele fez, viu-se o cesto pelo ar,
e catrapuz outra vez começou tudo a berrar.
E veio o Manel Sapateiro, mais a Chica do lugar,
o António Marceneiro, mais a Micas do Gaspar,
a Zefa do Carriço, o Zé barbeiro e o filho,
foi tamanho o rebuliço q'andou tudo num sarilho.
- Que andavas tu a pesquisar quando te apareceu esta versalhada? - perguntar-se-á.
- Pesquisava relações interpessoais ... no moderno regime de propriedade horizontal.
- Então e encontrás-te lá "isto"?
- Sim! Em 1945, havia muitos pátios em Lisboa e uns dois ou três na zona da escola ... Logo ... Olha, lembrei-me do Celestino e da ... da Zefa do Carriço e do Zé Barbeiro... de que conheço agora vários nessa coisa "nova", levada ao cinema pelo cómico italiano Totó e vivida, hoje, por muitos, que é a propriedade horizontal, onde o existir em grupo é ... É posto à prova. Com domínios ...
- Tá bem!...
No meu bairro toda agente faz barulho e barafusta,
falam mal, são insolentes
quanto tudo muito custa
É o Manel Sapateiro, mais a Chica do Lugar,
é o António Marceneiro, mais a Micas do Gaspar,
é a Zefa do Carriço, o Zé barbeiro e o filho
é tamanho o rebuliço q'anda tudo num sarilho
Foi ontem ca Dona Rosa que se fez passar por senhora,
teve zanga ca vaidosa que a filha era bordadora
a questão de modos era que uma tal Dona Marmiça
que a gritar era a fera e foi chamar a polícia.
E veio o Manel Sapateiro, mais a Chica do lugar
o António Marceneiro, mais a Micas do Gaspar,
a Zefa do Carriço, o Zé barbeiro e o filho,
foi tamanho o rebuliço q'andou tudo num sarilho.
Quando tudo tava em paz e já ninguém se lembrava,
entrou no pátio um rapaz a vender castanha assada,
eu não sei o que ele fez, viu-se o cesto pelo ar,
e catrapuz outra vez começou tudo a berrar.
E veio o Manel Sapateiro, mais a Chica do lugar,
o António Marceneiro, mais a Micas do Gaspar,
a Zefa do Carriço, o Zé barbeiro e o filho,
foi tamanho o rebuliço q'andou tudo num sarilho.
- Que andavas tu a pesquisar quando te apareceu esta versalhada? - perguntar-se-á.
- Pesquisava relações interpessoais ... no moderno regime de propriedade horizontal.
- Então e encontrás-te lá "isto"?
- Sim! Em 1945, havia muitos pátios em Lisboa e uns dois ou três na zona da escola ... Logo ... Olha, lembrei-me do Celestino e da ... da Zefa do Carriço e do Zé Barbeiro... de que conheço agora vários nessa coisa "nova", levada ao cinema pelo cómico italiano Totó e vivida, hoje, por muitos, que é a propriedade horizontal, onde o existir em grupo é ... É posto à prova. Com domínios ...
- Tá bem!...
sábado, 27 de agosto de 2011
Estação de S.Bento, no Porto
Eu sei que, não obstante as dificuldades de ordem económica que vivemos, o Zé não faz contas nem às quinze contratações de jogadores de futebol que o Sporting diz ter concretizado, nem, por exemplo, ao facto de a equipa do Benfica na modalidade estar a jogar com onze estrangeiros que custaram, diz-se, "uma pipa de massa" ... Não falemos disso, para já. Ou outra vez... Falemos numa coisa mais "pataqueira" que é hoje, hoje mesmo, a ... a (desculpem!...) Estação de S. Bento, no Porto, ter sido considerada uma das mais bonitas do mundo.
Isto não anima ninguém? Talvez não anime, mas sempre é melhor que o dia de ontem da equipa de futebol do F. C. do Porto (que não terá custado dez mil réis...) que perdeu ... perdeu uma oportunidade de ser "bonita" no resultado ...
S. Bento, S. Bento, S. Bento!...
Isto não anima ninguém? Talvez não anime, mas sempre é melhor que o dia de ontem da equipa de futebol do F. C. do Porto (que não terá custado dez mil réis...) que perdeu ... perdeu uma oportunidade de ser "bonita" no resultado ...
S. Bento, S. Bento, S. Bento!...
A propósito de alguns "mails" recebidos ...
"Não invocar o Santo Nome de Deus em vão"
Amáveis, generosas, católicas, digo eu, algumas pessoas que, frequentemente, me enviam "mails", dão preferência aos que, às boas imagens, juntam uma certa dose religiosa ... E eu fico, na maior parte das vezes, depois de apreciar "os fundos", a pensar nos ... nos fundamentos ... Acontece que, havendo horas para tudo, nem sempre, para quem recebe esses simpáticos (sim, em regra, são simpáticos) "mails" é hora de reflexão. Donde ...
Vejam (os que por aí visam, indirectamente, boas graças ...) as voltas que, por exemplo, José Régio, teve que dar ao seu próprio texto:
"Portalegre, 3 de Março de 1950
O problema de Deus seria, afinal, o único. Pois, se Deus existe pessoalmente, todos os problemas estariam resolvidos n'Ele, e por Ele. Todas as nossas aspirações se limitariam, então, a procurar conhecer - pelos mais diversos meios - como os resolve Ele; ou como é que n'Ele todos desaparecem.
Tentativa (de José Régio) duma redacção melhor:
O problema de Deus não será, afinal, o único? Se Deus pessoalmente existe, quaisquer problemas estão resolvidos n'Ele, por Ele. Todas as nossas aspirações se limitarão, assim, a procurar conhecer como é que Ele os resolve; ou como todos se resolvem n'Ele."
Transcritas aqui estas linhas das Páginas do Diário Íntimo de Régio, nada a dizer ...
PS (apesar de tudo): guardo nos meus arquivos "desta coisa", como muita e muita gente, imagens (e pensamentos) que revejo, naturalmente, muita, muita vez com grande, grande simpatia.
Amáveis, generosas, católicas, digo eu, algumas pessoas que, frequentemente, me enviam "mails", dão preferência aos que, às boas imagens, juntam uma certa dose religiosa ... E eu fico, na maior parte das vezes, depois de apreciar "os fundos", a pensar nos ... nos fundamentos ... Acontece que, havendo horas para tudo, nem sempre, para quem recebe esses simpáticos (sim, em regra, são simpáticos) "mails" é hora de reflexão. Donde ...
Vejam (os que por aí visam, indirectamente, boas graças ...) as voltas que, por exemplo, José Régio, teve que dar ao seu próprio texto:
"Portalegre, 3 de Março de 1950
O problema de Deus seria, afinal, o único. Pois, se Deus existe pessoalmente, todos os problemas estariam resolvidos n'Ele, e por Ele. Todas as nossas aspirações se limitariam, então, a procurar conhecer - pelos mais diversos meios - como os resolve Ele; ou como é que n'Ele todos desaparecem.
Tentativa (de José Régio) duma redacção melhor:
O problema de Deus não será, afinal, o único? Se Deus pessoalmente existe, quaisquer problemas estão resolvidos n'Ele, por Ele. Todas as nossas aspirações se limitarão, assim, a procurar conhecer como é que Ele os resolve; ou como todos se resolvem n'Ele."
Transcritas aqui estas linhas das Páginas do Diário Íntimo de Régio, nada a dizer ...
PS (apesar de tudo): guardo nos meus arquivos "desta coisa", como muita e muita gente, imagens (e pensamentos) que revejo, naturalmente, muita, muita vez com grande, grande simpatia.
Galeria Nacional de Fotomontagens ( LXII )
1973 - "Oposição Democrática" ( II )
"Reforma
O que é a reforma? Uma escola? Uma liberalidade do Governo? ou um direito que o trabalhador pagou enquanto trabalhou?
A maior parte das reformas que se pagam em Portugal não dão para os trabalhadores viver. Na altura em que precisa de descansar e distrair-se sem preocupações pelo dia de amanhã dão-lhe uma esmola, ou melhor, uma côdea em constante desvalorização devido ao aumento do custo de vida.
O lar de um filho mais generoso ou o biscato são a degradante solução final de milhares de homens e mulheres que por esse país fora, foram os produtores de riquezas, quantas delas fabulosas, das quais nunca beneficiaram nada.
Assim impõe-se:
- que a pensão de reforma seja igual ao ordenado do trabalhador quando activo;
- o seu aumento de acordo com as revisões salariais;
- que a idade de reforma seja efectiva aos 63 anos;
- que esse limite seja inferior nos seguintes casos: mulheres, padeiros, mineiros, pescadores, e outros trabalhadores, que pelas características das suas actividades estejam sujeitos a tarefas mais penosas ou desgastantes;
- a concessão de facilidades nos transportes e diversões;
- porque é uma necessidade de sobrevivência para muitos milhares de trabalhadores, devido ao aumento do custo de vida, é imperioso que se faça imediato aumento das pensões de reforma que estão a ser pagas."
O que é a reforma? Uma escola? Uma liberalidade do Governo? ou um direito que o trabalhador pagou enquanto trabalhou?
A maior parte das reformas que se pagam em Portugal não dão para os trabalhadores viver. Na altura em que precisa de descansar e distrair-se sem preocupações pelo dia de amanhã dão-lhe uma esmola, ou melhor, uma côdea em constante desvalorização devido ao aumento do custo de vida.
O lar de um filho mais generoso ou o biscato são a degradante solução final de milhares de homens e mulheres que por esse país fora, foram os produtores de riquezas, quantas delas fabulosas, das quais nunca beneficiaram nada.
Assim impõe-se:
- que a pensão de reforma seja igual ao ordenado do trabalhador quando activo;
- o seu aumento de acordo com as revisões salariais;
- que a idade de reforma seja efectiva aos 63 anos;
- que esse limite seja inferior nos seguintes casos: mulheres, padeiros, mineiros, pescadores, e outros trabalhadores, que pelas características das suas actividades estejam sujeitos a tarefas mais penosas ou desgastantes;
- a concessão de facilidades nos transportes e diversões;
- porque é uma necessidade de sobrevivência para muitos milhares de trabalhadores, devido ao aumento do custo de vida, é imperioso que se faça imediato aumento das pensões de reforma que estão a ser pagas."
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Kadafi falou aos Portugueses (registo histórico)
Oportunidade para recordar um depoimento histórico, que teve honras de Youtube e que, por certo já é do conhecimento da maioria.
Lembremos, entretanto, o seu também histórico Livro Verde: "Nada mais resta às massas do que lutar para derrubar todas as formas ditatoriais de Governo que dominam actualmente o Universo e que são falsamente baptizadas de democracias - do Parlamento à seita, da tribo à classe, do partido único ao bipartidarismo ou ao multipartidarismo."
Quadras baratas p'ra gente cara
Tanta rolha pr'a quê,
A riqueza faz-lhe mal ...
Amorim, então não vê
Como vive o Marcial?...
Tem um banco no jardim
E outro na casa qu'é sua
Mas nenhum tem pilim
Muito menos, falcatrua ...
Vá, diga que sim,
Há tanta gente a pedir ...
Alguma está no jardim,
Outra na rua - a dormir ...
A riqueza faz-lhe mal ...
Amorim, então não vê
Como vive o Marcial?...
Tem um banco no jardim
E outro na casa qu'é sua
Mas nenhum tem pilim
Muito menos, falcatrua ...
Vá, diga que sim,
Há tanta gente a pedir ...
Alguma está no jardim,
Outra na rua - a dormir ...
1973 - "Oposição Democrática" ( I )
Cá ando eu no meio do "papéis velhos" ...
3º Congresso da Oposição Democrática (Aveiro 1973) - TESES
Das Teses, um ou dois apontamentos, sem comentários actuais:
Transportes públicos
Reivindicações
As nossas reivindicações mais importantes são:
- Salários entre 5 000$00 e 6 000$00.
- Passagem a mensal e 13º mês.
- 1 mês de férias com os respectivos subsídios de férias.
- Horas extraordinárias não obrigatórias e pagas a 50 e 100 por cento.
- Horários de trabalho compatíveis com as horas de refeição e descanso.
- Fardamentos que não prejudiquem a saúde nem ofendam a nossa dignidade. *
- Direito à greve.
- Feriado do 1º de Maio.
* reivindicação esquecida nas Conclusões - na página seguinte das Teses.
Das Conclusões:
1. O problema dos transportes públicos, só poderá ser resolvido no contexto de um regime representativo da vontade das massas trabalhadoras e das alargadas camadas da população, cujos interesses estão em directa oposição à ganância e prepotência dos grupos monopolistas nacionais e estrangeiros, aliados na exploração do Povo Português.
2. Tal resolução implica a nacionalização prévia da propriedade urbana, no sentido da sua colocação às necessidades da população, e não da sua entrega à rapina e ganância dos especuladores.
3. Só através de uma planificação urbana, ao serviço da colectividade, se poderá elaborar uma política de transportes eficazes, rápidos, económicos, pressupondo uma adequada política habitacional e económico-social, em geral.
4. Os transportes deveriam ser baratos, gratuitos a médio prazo (...)."
3º Congresso da Oposição Democrática (Aveiro 1973) - TESES
Das Teses, um ou dois apontamentos, sem comentários actuais:
Transportes públicos
Reivindicações
As nossas reivindicações mais importantes são:
- Salários entre 5 000$00 e 6 000$00.
- Passagem a mensal e 13º mês.
- 1 mês de férias com os respectivos subsídios de férias.
- Horas extraordinárias não obrigatórias e pagas a 50 e 100 por cento.
- Horários de trabalho compatíveis com as horas de refeição e descanso.
- Fardamentos que não prejudiquem a saúde nem ofendam a nossa dignidade. *
- Direito à greve.
- Feriado do 1º de Maio.
* reivindicação esquecida nas Conclusões - na página seguinte das Teses.
Das Conclusões:
1. O problema dos transportes públicos, só poderá ser resolvido no contexto de um regime representativo da vontade das massas trabalhadoras e das alargadas camadas da população, cujos interesses estão em directa oposição à ganância e prepotência dos grupos monopolistas nacionais e estrangeiros, aliados na exploração do Povo Português.
2. Tal resolução implica a nacionalização prévia da propriedade urbana, no sentido da sua colocação às necessidades da população, e não da sua entrega à rapina e ganância dos especuladores.
3. Só através de uma planificação urbana, ao serviço da colectividade, se poderá elaborar uma política de transportes eficazes, rápidos, económicos, pressupondo uma adequada política habitacional e económico-social, em geral.
4. Os transportes deveriam ser baratos, gratuitos a médio prazo (...)."
Freguesias
Segundo as estatísticas consultadas, temos cada vez mais dificuldades económicas, aumentou de forma muito significativa a capacidade individual de deslocação das populações, mas continuamos a ter 4200 e tantas freguesias "há séculos"... Fala-se agora em reformar este estado de coisas. Óptimo! Já não é sem tempo. O que eu quero ver é, em termos de civismo, em termos de aceitação de uma natural nova racionalidade administrativa, em termos de lógicas partidárias, quantos vão, estudadas com profundidade as situações, nomeadamente, a mobilidade actualmente existente, aceitar a evolução/revolução que venha a ser proposta ...
Estamos para observar. O tempo urge. O desafio é capaz de andar já por aí nos bastidores com "toda a gente" a ver "quem ganha e quem perde" nos mais diferentes estádios políticos regionais ... É mesmo possível que já existam "em armazém" cartazes preparados para eventuais manifs ...
Veremos.Talvez a ajuda dos srs. Priores de nova vaga não fosse despicienda ... Há-os?...
Estamos para observar. O tempo urge. O desafio é capaz de andar já por aí nos bastidores com "toda a gente" a ver "quem ganha e quem perde" nos mais diferentes estádios políticos regionais ... É mesmo possível que já existam "em armazém" cartazes preparados para eventuais manifs ...
Veremos.Talvez a ajuda dos srs. Priores de nova vaga não fosse despicienda ... Há-os?...
Longe, muito longe destes tempos, que mapa aí vem? |
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Distâncias
O Portugal que levamos connosco para onde quer que nos desloquemos tem, obviamente, os quilómetros que tem ... Aumentamo-lo quando o medimos do Minho ao Algarve, mas não é essa a distância que consideramos quando o avaliamos a partir da nossa elegantezinha cintura ... Tão elegante, tão elegante que, quando, como a certa altura foi o caso, a levamos connosco para uma Austrália alambazada da cabeça aos pés e ... e, mesmo do português lá residente, estando, ocasionalmente, em Melbourne...
... conversa (de cônsul):
- Então não vai a Perth? Temos lá uma comunidade muito importante ...
Gaguejo:
- Se ... se ... se... - e não saio disto ...
Quando vi o senhor pelas costas, eu, quase incrédulo, dando a entender que ... não posso, não tenho ... bom, ninguém me ... não foi possível, fui-me aos guias turísticos disponíveis e verifiquei que ... que, de avião, estávamos a quase seis horas, e...e uma pipa de dólares de ... de Perth, onde era cônsul o simpático (algarvio, no caso) da conversa que, criado ou não em Sagres, donde se vê o mundo, se naturalizara australiano ...
Entrevistei-o ali. Não foi a mesma coisa, mas ... As minhas desculpas ... O dinheiro também não dava p´ra mais...
... conversa (de cônsul):
- Então não vai a Perth? Temos lá uma comunidade muito importante ...
Gaguejo:
- Se ... se ... se... - e não saio disto ...
Quando vi o senhor pelas costas, eu, quase incrédulo, dando a entender que ... não posso, não tenho ... bom, ninguém me ... não foi possível, fui-me aos guias turísticos disponíveis e verifiquei que ... que, de avião, estávamos a quase seis horas, e...e uma pipa de dólares de ... de Perth, onde era cônsul o simpático (algarvio, no caso) da conversa que, criado ou não em Sagres, donde se vê o mundo, se naturalizara australiano ...
Entrevistei-o ali. Não foi a mesma coisa, mas ... As minhas desculpas ... O dinheiro também não dava p´ra mais...
Como espilico? ...
Como é que, sendo português e não sabendo nem mandarim, nem cantonês, se pode comprar um disco de ópera chinesa em Macau, numa loja apenas com pessoal chinês? Vá, perguntem-me ...
Eu "espilico": aproximamo-nos do balcão e...e "cantamos", por exemplo, quinze segundos de uma ópera de Verdi ...
Chinês percebe logo. Sorri. Mostra-nos o catálogo que ilustra este "post" e ... e é só "escolher"...
Deve ter sido assim, aliás, que Portugal "conquistou" o Mundo: cantando * ...
* "Cantando espalharei por toda a parte ..." Ora aí está.
Eu "espilico": aproximamo-nos do balcão e...e "cantamos", por exemplo, quinze segundos de uma ópera de Verdi ...
Chinês percebe logo. Sorri. Mostra-nos o catálogo que ilustra este "post" e ... e é só "escolher"...
Deve ter sido assim, aliás, que Portugal "conquistou" o Mundo: cantando * ...
* "Cantando espalharei por toda a parte ..." Ora aí está.
Escrever - porquê?
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Joanesburgo
Das dezenas de cartas que, estando, às vezes, do outro lado do mundo, se escrevem, o que sobra são, em regra, lamechices datadas. Estamos, no caso, em 1980. Dei agora volta ao escrito de lá para cá, e de cá para lá e ... e "está tudo a correr bem" é, naturalmente a frase mais repetida. Mas ... mas há uma carta datada, exactamente, de 11 de Abril de 1980 (aqui só o ano pode ter algum significado), que, escrita a partir de Joanesburgo, sublinha a dado momento, o seguinte:
"(...) Encontro-me no 25º andar, no quarto 2519, com bela vista para as minas de ouro. A cidade em si é lavada, tem edifícios altos, mas predominam os rasteirinhos. (...) Depois das cinco da tarde não se vê ninguém na rua e há um clima de medo em relação aos negros. O racismo aqui é um facto. Não raro se encontram, por exemplo, retretes para brancos e retretes para pretos. Quando se pergunta quantos empregados tem determinada firma, na resposta só são indicados os brancos. Para os portugueses isto é chocante. Ou melhor: para os que, como eu, vêm de Portugal. Mas é assim. Há um clima de extrema-direita que receio, mais tarde ou mais cedo, venha a dar bronca ..."
"(...) Encontro-me no 25º andar, no quarto 2519, com bela vista para as minas de ouro. A cidade em si é lavada, tem edifícios altos, mas predominam os rasteirinhos. (...) Depois das cinco da tarde não se vê ninguém na rua e há um clima de medo em relação aos negros. O racismo aqui é um facto. Não raro se encontram, por exemplo, retretes para brancos e retretes para pretos. Quando se pergunta quantos empregados tem determinada firma, na resposta só são indicados os brancos. Para os portugueses isto é chocante. Ou melhor: para os que, como eu, vêm de Portugal. Mas é assim. Há um clima de extrema-direita que receio, mais tarde ou mais cedo, venha a dar bronca ..."
Geração à rasca - Por culpa de quem?
Assobio Rebelde: Geração à Rasca - A Nossa Culpa: Um dia, isto tinha de acontecer. Existe uma geração à rasca? Existe mais do que uma! Certamente! Está à rasca a geração dos pais que educ...
Uns dizem que quem escreveu o texto em causa foi Mia Couto, outros negam essa autoria. Quanto ao conteúdo, importa lê-lo com serenidade e, sem guerras, confrontando o quotidiano, se possível (depende, nomeadamente, da idade do leitor), e fazendo esta coisa simples: PENSAR, como, certamente, recomendaria Vergílio Ferreira que, além de escritor, era, como se sabe, professor do Ensino Secundário, onde, por certo, terá conhecido muitos jovens, mas também muitos pais e avós. E depois ... depois tentar perceber quem é que anda por aí à rasca ... e porquê ... O resto pode ser, estar a, eventualmente sem querer, tapar o sol com uma peneira ... A verdade, verdadinha, é que há quem esteja à brocha ... M.A.
Obrigado, "Assobio".
Uns dizem que quem escreveu o texto em causa foi Mia Couto, outros negam essa autoria. Quanto ao conteúdo, importa lê-lo com serenidade e, sem guerras, confrontando o quotidiano, se possível (depende, nomeadamente, da idade do leitor), e fazendo esta coisa simples: PENSAR, como, certamente, recomendaria Vergílio Ferreira que, além de escritor, era, como se sabe, professor do Ensino Secundário, onde, por certo, terá conhecido muitos jovens, mas também muitos pais e avós. E depois ... depois tentar perceber quem é que anda por aí à rasca ... e porquê ... O resto pode ser, estar a, eventualmente sem querer, tapar o sol com uma peneira ... A verdade, verdadinha, é que há quem esteja à brocha ... M.A.
Obrigado, "Assobio".
Comunidade de Leitores ausentes
Para Helena de Vasconcelos, a quem "invejo" saberes e paciência e desejo uma participada, e renovada, Comunidade de Leitores, na CULTURGEST - a dedicar ao Riso e ao Esquecimento
Pelos ausentes, de Guerra Junqueiro:
Como hei-de ser um Petrarca,
Cantar como um rouxinol,
Se o meu termómetro marca
Quarenta e dois graus ao sol!
A musa foi-se-me embora;
Para onde já não me lembro;
Só a torno a ver agora
Lá para os fins de Setembro.
Deixá-la andar lá dois meses
Colhendo imagens e flores,
Para espanto dos burgueses
E ruína dos editores.
Não peças mais versos, não!
Não faças que eu me zangue;
A teta da inspiração
Ordenho-a ... e já bota sangue.
Deixa-me estar sossegado;
Eu a luta abandonei-a;
Tive baixa de soldado,
E vim viver para a aldeia.
Tenho a existência pacata
Dos grandes bonacheirões;
e arrumei a um canto a lata
Com que eu fabrico os trovões.
E, farto de ver abrolhos,
E de ter desassossegos,
Deixo pastar os meus olhos
No azul - como dois borregos.
Pelos ausentes, de Guerra Junqueiro:
Como hei-de ser um Petrarca,
Cantar como um rouxinol,
Se o meu termómetro marca
Quarenta e dois graus ao sol!
A musa foi-se-me embora;
Para onde já não me lembro;
Só a torno a ver agora
Lá para os fins de Setembro.
Deixá-la andar lá dois meses
Colhendo imagens e flores,
Para espanto dos burgueses
E ruína dos editores.
Não peças mais versos, não!
Não faças que eu me zangue;
A teta da inspiração
Ordenho-a ... e já bota sangue.
Deixa-me estar sossegado;
Eu a luta abandonei-a;
Tive baixa de soldado,
E vim viver para a aldeia.
Tenho a existência pacata
Dos grandes bonacheirões;
e arrumei a um canto a lata
Com que eu fabrico os trovões.
E, farto de ver abrolhos,
E de ter desassossegos,
Deixo pastar os meus olhos
No azul - como dois borregos.
Os gémeos
Acabo de a receber. Obrigado! Aí vai, pela primeira vez neste "blogue", a anedota:
"Uma senhora teve dois bebés: um rapaz e uma rapariga.
Em homenagem à sua terra, chamou à menina Madeira e ao menino João Jardim.
O Dr. João Jardim, ao saber, resolveu visitar a mãe e os bebés.
Ao chegar, a senhora estava a dar o peito ao menino e, espalhafatoso, o Sr. Jardim tenta agradecer a linda ideia dos nomes ...
A senhora interrompe-o e diz baixinho: chiiiuuuuu!!! Se a Madeira acorda, o João Jardim não mama mais ..."
"Uma senhora teve dois bebés: um rapaz e uma rapariga.
Em homenagem à sua terra, chamou à menina Madeira e ao menino João Jardim.
O Dr. João Jardim, ao saber, resolveu visitar a mãe e os bebés.
Ao chegar, a senhora estava a dar o peito ao menino e, espalhafatoso, o Sr. Jardim tenta agradecer a linda ideia dos nomes ...
A senhora interrompe-o e diz baixinho: chiiiuuuuu!!! Se a Madeira acorda, o João Jardim não mama mais ..."