* in Pensar, de Vergílio Ferreira
"Que é que querem os jovens de hoje? As pessoas ficam perplexas perante o enigma como diante do "branco é galinha o põe". Extraordinário não é? Os que tinham motivos do querer, não entendem que a juventude não queira nada. Ou ser apenas pragmática, querer só o imediato e útil para esse querer. Mas em nome de que hão-de os jovens querer outra coisa acima dessa? Não há mais acima para quererem e o poderem comer, fornicar (mas já nem muito), esgotar o que num corpo se esgota é comprovadamente vantajoso como a pia porcina.
Que é que os que se espantam têm para lhes dar? Onde se funda o que julgam que têm? Onde mesmo o inimigo a combater? Estas coisas devem explicar-se pelo princípio. Mas nenhum princípio se explica, para poder ser princípio. Assim o único princípio inexplicável é que o jovem é um ser humano. E a menos que ele pense que o melhor de tudo é como a calva lua, o saber que é um homem é já um bom começo para começar. Porque imediatamente ele distingue um homem de um suíno. E estabelecida a diferença, talvez seja possivel, a partir de aí, adiantar algumas conclusões. Que conclusões? É arriscado adiantá-las já. De todo o modo, os directores de consciência, os que pensam que os jovens pela juventude que foi sua, não devem ir do fim para o princípio. E o melhor é estarem calados."
"Nós temos a idade do nosso olhar. Não dos olhos - do olhar, que é consabido "espelho da alma", ou seja da fonte da vida, ou seja da forma de estar no mundo. Assim há velhos com uma alma reactiva de juventude, portanto com um olhar dentro dela.
Para sabermos a idade do seu corpo, ou seja dos olhos e não do olhar, basta decerto vê-los dormir. Porque então o olhar tem a idade que tem. Ou morto, que ainda se sabe melhor."
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