O deputado Chan Chak Mo reage a apelo a boicote aos restaurantes do grupo Future Bright do qual é accionista. A campanha faz parte da contestação ao regime de garantias para ex-titulares de altos cargos.
Sónia Nunes
A campanha contra a proposta da Administração de garantir imunidade ao Chefe do Executivo e criar um regime de compensações para os titulares dos principais cargos públicos está também a ser feita na rede social Facebook. Além da partilha de fotografias e vídeos das manifestações, estão a ser enviadas mensagens contestatárias para as páginas dos deputados pró-Governo e circula desde a noite de terça-feira um apelo ao boicote aos restaurantes da Future Bright Holdings, detida em 45,4 por cento por Chan Chak Mo – o presidente da 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) que deu a cara pela proposta de lei.
“Não há nada a lamentar. Não adianta chorar sobre o leite de derramado. [A crítica] é algo que tenho de aguentar e com o qual tenho de viver”, reage Chan Chak Mo, que faz no entanto questão de separar as águas. “Tomei uma decisão enquanto deputado. Não estava a representar a minha empresa. Não esperava que as minhas decisões políticas tivessem impacto nos meus negócios”, diz.
A entrega da proposta de lei, aprovada na generalidade em Dezembro do ano passado, à 2ª Comissão Permanente foi uma decisão do presidente da AL, Ho Iat Seng, vinca o deputado. “Tinha de continuar o trabalho e desempenhar as minhas funções, como me é pedido. Não forcei ninguém a concordar comigo: conduzi as reuniões, ouvi as diferentes opiniões e falei com o Governo”. “Eu não tenho influência na AL. Sou um entre 33 deputados”, destaca.
A maioria opôs-se à queda em definitivo da proposta de lei (apenas quatro deputados votaram a favor) e a decisão de atender ao pedido do Chefe do Executivo, Chui Sai On, de suspender a votação na especialidade foi aceite por unanimidade. Os manifestantes pedem a retirada completa do regime de garantias. “As pessoas deviam ter uma mentalidade mais aberta no sentido de não dizerem que se alguém faz isto ou aquilo é má pessoa. Se não gostam das minhas opiniões não vejo porque tenham de envolver os meus negócios”, afirma Chan Chak Mo.
O deputado entende que o apelo ao boicote é “injusto”, mas diz que não há nada a fazer. “Não vou mudar a opinião de ninguém. Se votasse contra o Governo iria ter mais negócios? Não”, conclui.
Alerta ao regime político
Gabriel Tong, vice-director da Faculdade de Direito da Universidade de Macau e um dos sete homens que Chui Sai On nomeou para a Assembleia Legislativa, é um dos deputados que continua a receber mensagens no Facebook de opositores ao regime de garantias. “Uns dizem que não gostam dos deputados nomeados, outros estão contra a proposta de lei e há quem escreva palavras sujas. Mas também há quem manifeste apoio e quem promova uma discussão racional e com urbanidade”, resume. Gabriel Tong responde a todos.
“Em nenhum dos casos me deixei levar pelas emoções. Falo de uma forma racional e respondo com fraqueza e toda a humildade. Estou aberto a todas as sugestões”, diz. Os protestos contra a proposta de lei mudaram a posição de Gabriel Tong? “Defendo o que é razoável”, começa por dizer. Ou seja: “Já ouvimos as opiniões de quem se manifestou. Se a nova versão da proposta responder a esta vontade, podemos avançar [para votação]. Se não, não é aconselhável”.
Gabriel Tong não tem dúvidas que “entramos numa nova página de Macau”. “O Governo e toda a sociedade precisam de olhar para este evento com muita atenção. Temos que ver que a sociedade está a mudar. Isto não é uma brincadeira. É uma nova maneira de viver em Macau”, observa. É o início de algo maior? “Não sei. Ninguém sabia que isto ia acontecer”, hesita.
Já o activista Jason Chao, um dos promotores dos protestos, diz que a posição da AL em relação à proposta alertou a população para os “problemas” do actual regime político. “As acções esta semana têm muito potencial. Muitos cidadãos começaram a ver como o sufrágio indirecto e a existência de deputados nomeados afectam a representatividade na AL”. “Julgo que conseguimos mais apoiantes para a nossa campanha pelo sufrágio universal. O momento para fazer pressão para uma mudança está a crescer”, antecipa.